É o que se pressente, neste vaivém
trapaceiro, de um povinho sem conserto, pesem embora as tentativas de uma
aliança à direita que nenhuma esquerda que se preze deixará de boicotar. E os
comentários a este trecho de LUÍS ROSA são a prova disso, uns favoráveis, de
que não descarto o meu, outros bem cientes da inutilidade de acções extremistas
como a de Montenegro, desprezando Ventura, mas também cientes de que uma aliança
com esse CHEGA irrequieto seria igualmente um cóio de disputas pedantes,
rebaixando ainda mais um país sem defesas, porque sem amor, a não ser nos
programas das alegrias cantantes.
Luís Montenegro virou o jogo
Estas eleições resumem-se a uma
ideia: vamos ter continuidade ou mudança? Montenegro tem sido fiel à sua
estratégia e ganhou pontos nos últimos 10 dias. A ideia da mudança começa a
instalar-se.
LUÍS ROSA Redactor
Principal e colunista do Observador
OBSERVADOR, 14
fev. 2024, 04:4751
1Em 10 dias tudo mudou. O PS
deixou de ter uma dinâmica de vitória. Luís
Montenegro deixou de ser o bombo da festa dos comentadores televisivos, sendo
criticado por tudo e por nada — mesmo de comentadores que se apresentam como
representando o espaço do centro-direita. E o Chega até pode consolidar-se como
terceira força política mas André Ventura arrisca-se a ficar como a carochinha
que fica solteira para sempre.
Começando pelos Açores. Luís Montenegro
arriscou, ganhou em toda a linha e credibilizou a sua estratégia do “não
é não” em relação ao Chega. Com a ajuda
preciosa de José Manuel Bolieiro, o país ficou a perceber duas coisas
essenciais:
A
AD não negoceia com o Chega e governará em minoria.
O
PS/Açores seguiu a estratégia nacional de Pedro Nuno Santos, recusou viabilizar o Governo
Regional da AD e pode ser um promotor activo de instabilidade
política.
Este último ponto é fundamental para
percebermos como as eleições regionais dos Açores tiveram mais do que nunca uma
leitura nacional.
É
certo que o PS de Pedro Nuno Santos quer repetir a estratégia de António Costa
em 2022 e assustar o eleitorado moderado com o papão de uma possível aliança do PSD (leia-se AD) com o Chega. Daí que já
tenha deixado claro há várias semanas que não viabiliza um eventual Governo
minoritário da AD no pós-10 de março.
2O primeiro problema desta estratégia
é que o contexto de 2024 pouco ou nada tem a ver com o de 2022. Por várias
razões que se resumem na seguinte chave: protagonistas + desgaste da
maioria do PS + quase impossibilidade do bloco da esquerda parlamentar ter
maioria absoluta.
Em
primeiro lugar, o líder do PSD já não se chama Rui Rio — que tinha
características autoritárias e populistas que o aproximam claramente do Chega
de André Ventura. O
líder social-democrata é Luís Montenegro e tem uma forma de fazer política
marcada pela moderação, ao contrário de Rio e também de Pedro Nuno Santos.
Por outro lado, António Costa chegou às
eleições legislativas em 2022 com a aura do vencedor da pandemia, com boa
imagem no eleitoral e claramente em posição de força. Pedro Nuno Santos é
obrigado a defender como líder do incumbente um legado de uma governação com
oito anos marcada por sucessivos escândalos que levaram à saída, no âmbito do último governo, de 13 governantes em 16 meses e
estiveram mesmo na origem da queda do Executivo.
O desgaste político da governação
socialista é tremendo e isso é claramente percecionado pelos eleitores.
Além das escolas sem professores, o
caos instalado nos hospitais, a perda de poder compra e os juros elevados, há
outro facto que muda claramente a situação face a 2022: a esquerda (PS + BE +
CDU + PAN + Livre) praticamente não tem hipótese de ter
maioria absoluta no Parlamento.
Ou
seja, o PS não consegue derrubar o Governo com uma moção de rejeição do
programa do Governo, como fez em 2015. E, se esse cenário se concretizar, os
socialistas não conseguem oferecer uma alternativa de estabilidade: a reedição
da geringonça. Por uma razão simples: provavelmente, não terão votos suficientes
para isso.
3Acresce a tudo isto o facto de a
estratégia de Pedro Nuno Santos assentar num pressuposto que os Açores deitaram
por terra: a de que a AD vai sempre
aliar-se ao Chega, caso o PS recuse a viabilização do Governo.
O
que aconteceu nos Açores credibilizou definitivamente a estratégia do “não é
não” de Luís Montenegro. Ou seja, se o PS ficou agora sem narrativa e sem
discurso.
Pior: o PS/Açores assumiu-se como um
factor de instabilidade ao anunciar sem mais que o grupo parlamentar socialista
iria chumbar o Programa de Governo de Bolieiro. Tudo porque mesmo uma abstenção
do Chega pode derrubar o Governo Regional. Só se a Iniciativa Liberal e/ou o
PAN votarem ao lado da AD é que o Executivo é viabilizado.
Mas
o mal já está feito: o PS de Vasco Cordeiro foi a primeira força política a
dizer claramente que quer derrubar o Governo Regional quando as eleições
acabaram de ocorrer. O eleitorado não costuma premiar quem é um agente activo
da instabilidade.
É
precisamente essa imagem isolada e radical que o PS de Pedro Nuno Santos também
está a passar no Continente — e isso poderá ser percecionado pelos eleitores a
10 março como algo negativo para a estabilidade do país. O que é
terrível para um partido como o PS que luta pelo eleitorado do centro.
Na prática, foi isso que tentaram dizer
Francisco Assis e Tiago Antunes, nas críticas que expressaram à posição assumida pelo
PS/Açores. Infelizmente, António Costa radicalizou o PS — como já o disse
várias vezes — e essa herança vai levar tempo a desaparecer.
4Também
André Ventura ficou de cabeça perdida com o que aconteceu nos Açores, mas acima
de tudo como o que Luís Montenegro reafirmou olhos nos olhos no debate desta
2.ª feira: “não é mesmo não”.
E aqui é importante recordar que
Ventura já prometeu em dezembro que iria
apresentar uma moção de rejeição — igual à de António Costa em
2015 — do programa de um eventual Governo da AD que saia das eleições de 10 de
março. Tudo porque o Chega não podia admitir ficar de fora de um Governo liderado
pela AD.
Da ameaça travestida de chantagem,
evoluiu para um recuo estratégico, regressou ao silêncio, insultou
o PSD como “prostituta política” e
acabou a mendigar por conversações com a AD no pós-10 de março após Luís
Montenegro ter reafirmado de que não haveria qualquer espécie de negociação com
o Chega.
Não é que seja propriamente uma
novidade, mas André Ventura não passa de um cata-vento político. Pior:
arrisca-se mesmo a não contar para o totobola a seguir às eleições.
5Luís
Montenegro conseguiu reforçar a sua credibilidade como candidato a
primeiro-ministro nos últimos 10 dias fazendo algo que muitos não consideravam
possível: arriscou nos Açores (e ganhou) e tem-se mantido totalmente fiel à sua
estratégia de recusar qualquer aliança com o Chega, esvaziando o bicho papão
que o PS e a extrema-esquerda tentaram criar.
Acresce que, tendo em conta a autêntica
barragem de escrutínio e censura que tem tido na comunicação social, as expectativas
sobre Luís Montenegro eram claramente baixas antes do início dos debates
televisivos. O líder da AD começou muito bem contra Marina Mortágua,
continuou com Paulo Raimundo e Inês Sousa Real e atingiu o seu máximo contra
André Ventura.
Foi no debate contra Ventura que a
lógica do voto útil atingiu o seu ponto máximo de eficácia, até ao momento. Não só por ter reafirmado ‘olhos nos
olhos’ o “não é não”, mas também pela demonstração do irrealismo das propostas
do Chega (que quantificou em mais de 25 mil milhões de euros) e o apelo
direto ao voto dos eleitores do PSD que fugiram para o partido de Ventura.
Estas eleições resumem-se a uma ideia:
vamos ter continuidade ou mudança? Luís Montenegro tem conseguido fazer com que
a ideia da mudança comece a instalar-se no eleitorado.
A
principal prova disso é que Pedro Nuno Santos já foi obrigado despir o fato de
candidato moderado, assumindo a sua verdadeira persona política de
radical e combatente. Mais: no debate com Rui Tavares fugiu-lhe a boca para a
verdade e admitiu mesmo que a situação é completamente diferente da de 2022
porque “há o risco da AD vencer”.
Ainda falta muita estrada até à meta de 10 de março — e, tendo em
conta os rumores que circulam nos bastidores, ainda muita roupa suja vai ser
lavada em público. Logo, nada é certo. Mas, para já, Luís Montenegro conseguiu
virar o jogo e está numa boa posição para o resto da corrida.
LEGISLATIVAS
2024 ELEIÇÕES
LEGISLATIVAS POLÍTICA
COMENTÁRIOS:
José cordeiro Cordeiro: Parece-me que a sua análise está
correcta, mas Montenegro tem uma batalha dura, que é contra a Média, infiltrada
e infectada em grande parte(e por isso em crise)pela esquerda! Joaquim Rodrigues > Carlos Chaves: Do ponto de vista do
"modelo de desenvolvimento económico" e da forma como é encarado o
"papel do Estado" nesse modelo de desenvolvimento, o André Ventura
está muito mais próximo do Pedro Nuno Santos do que do Luís Montenegro. Aliás,
por essa razão, parece-me muito mais fácil um entendimento entre o Chega e o PS
do que entre o Chega e o PSD. Ana Luís
da Silva: As eleições legislativas de 10 de março onde está em causa o futuro de
Portugal e dos portugueses são para Luís Rosa “um jogo”. Uma “corrida”, uma
disputa. Vou agarrar a metáfora, apenas para tecer alguns comentários
sobre o “jogador” Montenegro nos três primeiros minutos desta “etapa” da “sua
corrida”; ou seja, como começa o debate por humilhar o adversário,
dizendo que não terá “qualquer
entendimento (quanto mais um acordo!) político”, “por
uma questão princípio” com “alguém”
que tem “políticas / opiniões muitas vezes
xenófobas, racistas, populistas”. Ou seja: - tenta controlar o
outro jogador pela humilhação pessoal em vez de “correr” com lealdade e pela
positiva, usando as suas próprias forças; - não utiliza argumentos, que levem o
concorrente a expor-se naquilo que considera errado, mas usa rótulos, como
um bully; - revela egocentrismo: em
vez de L’Etat c’est moi” de Luis
XIV, temos “o PSD sou eu” de Montenegro; - e
sobretudo, a sua atitude demonstra arrogância e total desrespeito pelo milhão
de portugueses que, a fazer fé nas sondagens, dá o seu voto ao CHEGA e para
quem as opiniões pessoais de Montenegro sobre André Ventura são de todo
irrelevantes. Em conclusão, como “jogador”: Montenegro prima pela total
ausência de fair play… a que acrescento uma
incapacidade inata para realizar compromissos com pessoas que lhe desagradam
pessoalmente, ainda que isso seja do interesse de Portugal e dos
portugueses. Carlos
Chaves: Sempre acreditei que a “direita” devia estar unida para combater esta
esquerda que nem merece qualificação! Mas os acontecimentos dos últimos dias
são realmente como o Luís Rosa acertadamente catalogou, um virar de jogo!
Arriscado, pois muito dificilmente a AD conseguirá uma maioria absoluta. Depois
já estou como o Camilo Lourenço na cor do dinheiro, será o CHEGA um partido de
direita como se auto denomina? As propostas que tem feito nomeadamente a nível
económico, incluindo a TAP, são de mais estado, mais estado, e mais estado, que
levarão a mais carga fiscal, tal e qual o modus operandis da esquerda! Se
juntarmos a isto a rudeza e a radicalização da linguagem que tem sido utlizada,
assim fica difícil! Joaquim Almeida: Com mais ou menos erros,
foi André Ventura quem, durante anos, teve a coragem e a
persistência de fazer crescer uma significativa massa popular
contra uma esquerda comunizante-marxisante sonsa mas extremista, que já
sonha com uma Gestapo a bater à porta das famílias . - massa
popular que poderá traduzir vir a traduzir-se em 40/50
deputados, Enquanto o PSD dormiu e se enredou em linhas vermelhas. Com
tanta fé nas sondagens ainda podem dar com os burros na água. bento guerra: Mudança só com o Chega, de que
vocês não gostam(reaccionários) Domingas
Coutinho: Óptima análise.
Concordo plenamente com o que diz sobre Rui Rio que não é só um autoritário
junto dos que considera fracos como não se afirmou junto do PS quando este tudo
fez para tão injustamente denegrir o PSD na figura de Passos Coelho. A firmeza
e coerência de Luís Montenegro está muito bem demonstrada e quanto ao Chega
de André Ventura é um Partido que está cada vez mais enlameado agora também na
forma como apresenta as suas ideias. Parabéns Luís Rosa. Joaquim
Zacarias: Montenegro foi
para a guerra, para tentar vencer um inimigo muito poderoso, bem armado e
municiado. Parecia natural dever concentrar-se exclusivamente nesse combate, aliando-se
a outras forças para melhor garantir a vitória. Porém, mudou de estratégia, e
arranjou outro inimigo, colocando em causa a vitória que parecia praticamente
certa. Coisas de amador.
maria santos: Talvez, sim, são claramente reais as hipóteses de o PSD(AD) ser o vencedor a
10/Março. Mas duvido da consistência parlamentar da sustentação governativa
do centro-direita para enfrentar a destabilização social provocada pelo ódio das esquerdas apeadas capitaneado pelo PS. O PS
vai recorrer a tudo, à maneira do futebol, montras partidas, carros a arder,
cortes de estradas, etc etc e os acólitos do BE têm a experiência assassina das
FP-25 de Abril. Constituir um Governo com bons quadros
profissionais, é um factor necessário mas não suficiente. Citando
um comentário, é real a incapacidade do PSD(AD)
"para realizar compromissos com
pessoas que lhe desagradam pessoalmente, ainda que isso seja do interesse de
Portugal e dos portugueses." A meu ver, a catástrofe
que se avizinha é o centro-direita não constituir a
estabilidade governativa do bloco PSD(AD)/Chega no Parlamento. Será mais uma
Primeira República, mais um Alcácer-Quibir a juntar aos outros todos. Temos
pena e temos tempo. João Floriano
> Ana Luís da Silva: Eles andam todos a cuspir
para o ar! Deixa-os andar. Estão convencidos que vão conseguir governar em
minoria. Vamos ver como vai ser aprovar propostas no parlamento sem a
colaboração dos «descartáveis». GateKeeper: A ideia da mudança
já se instalou e já "anda". Contudo não foi nem é,
seguramente, com os pezitos do míope LM e a sua ad mini-minion que esse caminho
foi, é e será "estraçalhado". Para bons entendedores... 1/2 palavra
basta, certo?! Claro que o meu caro LRosa, sempre que sai da sua "confort/expertise
zone", se espalha, habitualmente, ao comprido.
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