sábado, 10 de fevereiro de 2024

O dedo na ferida

 

Mas compreende-se um pouco a renitência de Luís Montenegro em aceitar o Chega nas suas fileiras, ambicioso, como este é, de protagonismo, que tudo leva de razia. O que é preciso é mesmo impor regras mais cordatas, de “salvação nacional”, e não esmerar-se em expansões mais ou menos provocatórias de atrevimento socialmente  pouco educativo, de que o Chega dá bastas provas, e é pena.

Portugal: muitos problemas, mas um grande problema

Discutem-se todos os “problemas”, os reais e os imaginários. Não se discute o único problema que poderia ser resolvido numas eleições: substituir quem manda há demasiado tempo.

RUI RAMOS Colunista do Observador

OBSERVAFOR, 09 fev. 2024, 00:2265

É da tradição, quando o carrossel dos debates eleitorais começa a rodar, que empresas de sondagens e jornalistas perguntem aos cidadãos se os “problemas” do país estão a ser discutidos. Invariavelmente, a resposta é que não. A este respeito, discordo dos meus concidadãos. Os problemas do país estão a ser discutidos. O que não está a ser discutido é – o grande problema do país: quem manda. O que é bizarro, quando se pensa que é precisamente esse, o único problema que umas eleições podem directamente resolver.

Desde 1995, há quase 30 anos, manda o Partido Socialista. Os interlúdios desse domínio consistiram em episódios de emergência financeira externa, de modo que podemos dizer que a democracia portuguesa, por si só, deixou de gerar alternância no governo. É um grande problema, e todos os outros problemas do país derivam, em grande medida, desse grande problema. Para se manter no poder, o PS, com o apoio de comunistas e neo-comunistas, criou um Estado desproporcionado, intrometido e capturado, que tolhe a economia e é cada vez menos capaz de garantir serviços públicos. O poder socialista importou ainda a cultura woke norte-americana, com a qual começou a subverter a liberdade de expressão e a coesão nacional. Desmantelar o poder socialista não é um remédio mágico para todas as agruras e dilemas: mas é um meio de mudar o contexto da vida em Portugal, fazer entrar ar e luz numa casa fechada há demasiado tempo, e obter liberdade para perceber os problemas e conceber soluções. É por isso que a dificuldade de gerar uma alternativa de governo ao PS é, neste momento, o grande problema.

Essa dificuldade não é o resultado de um destino ou de uma qualquer deficiência nacional. É um artefacto político. Foi criada e organizada pela oligarquia socialista. Primeiro, ao segmentar a sociedade portuguesa, de modo a fazer assentar o poder no medo e nos interesses imediatos dos dependentes do Estado. Segundo, ao aproveitar a recomposição da direita parlamentar para inventar uns novos anos 30, de modo a reduzir o debate político à questão do “populismo”.

Para desgraça de todos, os partidos que representam a tradição da direita reformista e pretendem, unidos numa nova AD, protagonizar a alternativa ao PS, não souberam escapar a essas armadilhas. A sua prioridade é a “reconciliação” com os pensionistas, aceitando assim a segmentação socialista da sociedade portuguesa. A sua grande promessa é não fazer acordos com o Chega nem depender do Chega, quando o estado do país exigia, em vez disso, que prometessem não fazer acordos com o PS nem depender do PS, isto é, dar garantias de que uma eventual mudança de maioria parlamentar e de governo corresponderá sempre a uma efectiva mudança de poder.

É verdade que a evolução do sistema partidário favoreceu o poder socialista. À esquerda, PCP e BE são agora pequenas redundâncias do PS, a sonhar com geringonças: todos são hoje Rui Tavares. À direita, pelo contrário, estabeleceu-se um mercado muito excitado de influência e de votos, em que, para os mais sonhadores, até o primeiro lugar do pódio estará em causa. Todos parecem convencidos de que esta é a hora de disputarem espaço entre si, e não de contribuírem para a credibilidade de uma alternativa ao poder socialista.

Temos assim estes debates, saturados de “propostas” e de “medidas” em que pouca gente acredita e de que ninguém guarda memória. Discutem-se todos os “problemas”, os reais e os imaginários. Não se discute o único problema que poderia ser resolvido numas eleições: substituir quem manda há demasiado tempo.

ELEIÇÕES    POLÍTICA    PARTIDO CHEGA    ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS    SOCIALISMO

COMENTÁRIOS (de 67)

observador censurado: Excelente artigo. "O poder socialista importou ainda a cultura woke norte-americana, com a qual começou a subverter a liberdade de expressão e a coesão nacional." Em 1995, quando o Partido Socialista Dois (PSD) deixou de ser governo, o Partido Socialista (PS) estava a apoderar-se de unidades orgânicas do ensino superior. Depois, passaram para as escolas secundárias com a ajuda da UDP/PSR (BE) e hoje já estão a doutrinar os níveis mais elementares do ensino. Onde esteve o PSD nos últimos 30 anos para combater esta doutrinação efectuada através do ensino e dos orgãos de comunicação social? Perante a fuga do PSD a este combate, será que hoje ainda seria possível "respirar" em Portugal se não tivesse aparecido o ex "extrema-direita", agora "Socialista", André Ventura? Por ter iniciado este combate, sozinho, em 2019 e por, salvo melhor opinião, a liberdade de expressão preceder a liberdade económica (uma ideia começa num cérebro livre), votarei Chega contra a doutrinação que tem sido imposta à sociedade portuguesa e contra a ausência do PSD nos últimos 30 anos.               Carlos Chaves: Obrigado Rui Ramos, por demonstrar com mestria que os socialistas não são incompetentes, sabem muito bem o que andam a fazer, e o que querem continuar a fazer, estratégia pura e dura! E mais, por pôr preto no branco que o inimigo de Portugal e dos Portugueses é o socialismo, uma grande aliança de direita é a chave para sairmos deste colete-de-forças! Discordo apenas de chamar debates à pouca vergonha a que se assiste nas televisões portuguesas! As aberrações a que assistimos são entrevistas cronometradas, conduzidas segundo os critérios das direcções dos canais, seguidas de um espaço de propaganda política com os avençados representantes, maioritariamente de esquerda! Uma autêntica vergonha!                  Ana Luís da Silva: De acordo. Mas quem lançou este anátema foi Montenegro com as linhas vermelhas ao CHEGA. Está muito mais interessado em competir pelo poder do que ter um grande desígnio nacional que livrasse Portugal do socialismo. André Ventura já esteve aberto ao diálogo antes e já disse que se ganhar vai telefonar ao PSD e à IL. O PSD e a IL o que dizem? “Sai da frente Ventura, tu e mais o milhão de portugueses que vota no CHEGA, só precisamos de vocês para assinarem um cheque em branco que nos permita governar à-vontadex”.                  Filipe Paes de Vasconcellos: O MEDÍOCRE! O SOCIALISMO. Portugal e os portugueses têm de, definitivamente, perceber que o socialismo é um luto! As cicatrizes próprias das imbecilidades do tal Pedro Nuno Santos, que o partido socialista quer pôr em primeiro ministro, estão a criar muitas “aderências” com fortes e negativos impactos nos portugueses. As asneiras que o candidato assume que  cometeu, mas que diz ele “foram sem querer!”, revelam um enorme descaramento, infantilidade e total irresponsabilidade.  O candidato tendo participado de forma preponderante e proeminente no governo do Costa + PCP e BE rebentaram com os serviços públicos e o estado social não tem mesmo vergonha na cara. O socialismo é mesmo assim! Queres SNS?, não adoeças!, quem te manda adoecer? Estás doente? cuida-te ou volta mais tarde! (lá pelas 4 da manhã) que o Estado te faz o especial favor de te alimentar essa possibilidade. Queres Educação Pública?, para quê? tens sempre a passagem de ano garantida porque aqui  não entra a exigência da direita e dos fascistas! Queres habitação. Olha vamos fazer uma lei contra os bandidos que disponibilizam as casas. Queres Justiça? nem ver! Se queres valer os teus direitos, esquece, não arranjes problemas! E já agora rouba à vontade! Queres Segurança Pública? fecha-te em casa e nem um pio. Queres Agricultura? para quê?, pergunta ao socialismo que acha que os agricultores são uns exploradores dos camponeses. Os portugueses não podem pedir tudo à ideologia, pois o Socialismo protagonizado pelo PS, por Costa e também por Pedro Nuno Santos cumpriram o seu desiderato ao criarem 4 000 000 (quatro milhões) de portugueses pobres e dependentes destes verdadeiros vendilhões do templo.* E o PS e o tal Pedro Nuno Santos ainda não estão contentes com o mal que têm feito ao país e aos portugueses? Porque não se entregam e pedem desculpa aos portugueses? Os portugueses têm de, finalmente, perceber que o socialismo é mesmo assim! O socialismo provoca a decadência das instituições e dos povos onde mete a pata. O socialismo é um luto! Acredite Rui Ramos que o socialismo vai mesmo sair por indecentíssima e péssima figura. *10 de março é época da Quaresma.               José Rego: Exactamente. As linhas vermelhas têm de ser ao ps, um partido podre, corrupto e incompetente, responsável por quase todos os problemas do país. Em relação ao chega, o psd só tem é de dizer que medidas acha tão inaceitáveis e mostrar até onde está disposto a ir numa aproximação, tal como o chega. O psd não pode é esperar que o chega seja igual ao psd. Mas, para bem do país, têm de falar, como adultos. Montenegro encurralou-se num discurso radical contra o chega e com isso encurralou o país.             Manuel Elias > observador censurado: Excelente. Um comentário ao nível da crónica.               julio Almeida: Mas o mais importante está feito. Tirar a maioria à esquerda o que foi conseguido através do Chega. Agora há que procurar entendimentos à direita. E o Chega a continuar a tentar acabar com a cultura woke, pois é o único dos 3 partidoa à direita que está à vontade para o fazer.                António Sennfelt: É óbvio que o principal problema, do qual decorrem todos os outros, é ter-se permitido que uma agremiação política de características crescentemente mafiosas se tenha gradualmente apoderado não só de todo o aparelho do Estado, como de vastos sectores da sociedade. O cancro que corrói o país está tão espalhado que, salvo milagre, talvez já não tenha cura.              maria santos: Nos Açores, Vasco Cordeiro disse que  " ... não é aceitável, porque fere de morte a possibilidade de escolher, é a ideia de que escolhido um projecto político, todos os outros se lhe devem submeter até às próximas eleições”. No Partido Socialista o pensamento político no PS evoluiu para a tirania. O que este socialista açoriano afirma é que o resultado eleitoral expresso nos votos nada significa se o projecto político escolhido não for o do Partido Socialista, só o Partido Socialista tem direito de cidadania na organização política de Portugal, a alternância política no Governo é uma inexistência in terminis. Esta gente é louca. Esta gente é perigosa.                  Jose Luis dos Santos Ferreira: Tão simples e tão poucos o percebem. Obrigado Rui Ramos              Sérgio: Soberbo! Efectivamente AV e o Chega! têm sido os únicos a afirmar categoricamente e desde sempre isso mesmo: o inimigo de Portugal é o PS e kamaradas esquerdalhados! Mas, os idiotas úteis e instalados e do politicamente correcto e do status quo preferem criar cercas sanitárias e linhas vermelhas a "direita"?!?               Jorge Tavares: Estas eleições legislativas seguem-se a 8 anos com o PS no poder. Por isso, o balanço dos 8 anos de governação PS deve ser o grande tema de debate, acima de todos os outros. Será que o PS tem medo desse tema?               Luis Figueiredo > José Rego: não há alternativa a conviver com o Chega. Entendo que Montenegro agora jogue tudo no voto útil, mas depois das eleições vai sempre ter que engolir o Chega, numa espécie de acordo parlamentar não assumido explicitamente. Porque parece claro que a maioria de direita será uma evidência e um governo do PS, no caso destes ganharem as eleições, o que duvido face à impreparação total para as funções do neto do sapateiro, cairá no dia seguinte. Uma "gerigonça" à direita surgirá e o PSD vai ter que aceitar o Chega. Inexoravelmente.              Cristina Torres: Excelente artigo! Muito bem, elucidativo e no dia certo em a  Oligarquia do PS dos Açores recusa um governo de direita. Está na hora de a direita impor-se e  recusar ser manipulada o que está em causa é a democracia de Portugal e para isso, precisamos acabar com a criada e organizada oligarquia socialista.              Carlos Quartel: A primeira prioridade é afastar o PS do governo. Nisso, Ventura tem razão. Não tem razão quando diz estar disposto a rejeitar a AD, se esta não lhe oferecer um tacho. A derrota do PS não chega para garantir uma mudança no modo de vida nacional. O PS está infiltrado na administração pública e usará todos os métodos para fazer a vida negra ao novo governo. É necessária uma verdadeira revolução, sem armas, mas com convicção e denodo. Aparecerão outra vez as manifestações de reformados, de inquilinos, de artistas e cantores dependentes de subsídios, bem como dezenas de jornalistas a bombardear-nos com as maldades do novo governo. Lembrem-se do período da troika, fizeram o mal e a caramunha           João Ramos: A razão da necessidade de substituição, não é só de ”quem manda há demasiado tempo”, mas também porque manda pessimamente e esse alguém (PS) tem desaproveitado, em detrimento do país, todas as fantásticas oportunidades que a situação internacional lhes proporcionou até há bem pouco tempo. Quanto à direita ela meteu-se estupidamente no buraco que a esquerda lhe pôs à frente, as linhas vermelhas foram as maiores asneiras em que a direita se meteu e isto por puro interesse desses partidos que não pensaram no país e agora vamos ver o resultado (complicado) de como se vai sair disto???           João Floriano: Excelente! Mais transparente e esclarecedor do que isto não pode haver. E as coisas até estão  a correr bem à direita do PS. Infelizmente não sabem aproveitar a maré favorável e em vez de elegerem o PS e a esquerda como o seu adversário natural, voltam-se para o lado errado. E se falharem no seu objectivo de formar um novo governo após o 10 de março e abrir as janelas para expulsar o bafio, o mofo, o ar pesado de tantos anos de socialismo e de esquerda, até já têm o bode expiatório. Montenegro até teve sorte com Pedro Não Sei, nitidamente mal preparado e muito cru nos debates. Hoje teremos o debate PS/Livre, certamente um debate entre amigos que não vão querer fazer sangue. Um bom debate para Rui Tavares, um mau debate para Pedro Nuno Santos, porque não será outra coisa que não uma cordial conversa de café.             bento guerra: Grande responsabilidade da imprensa, infiltrada por serventuários dos dois grandes partidos. O afundamento tem muita participação dos jornalistas                 Maria Paula Silva: Desmantelar o poder socialista, ou melhor, o polvo socialista, não é fácil. O PS actual, para além de todos os defeitos e mediocridade que o caracteriza, é um polvo gigante  com tentáculos em todos os lugares (todos), incluindo os partidos da oposição. Não é fácil desmantelá-lo mas não é impossível. Mas fica ainda mais difícil quando os outros partidos em vez de se focarem, a sério, em trabalho concreto de mudança, passam a vida a gastar tempo e dinheiro em troca de insultos e galhardetes, debates inúteis pois tudo o que dizem Antes nunca ou raramente é feito Depois.

Há 50 anos que é sempre os mesmos "discursos". Ninguém acredita e ninguém aguenta e talvez essa seja uma das causas de tanta abstenção. E, mal ou bem, passa a mensagem que se estão todos nas tintas e nenhum deles quer saber a sério do país e andam a gastar de forma muito irresponsável o dinheiro dos contribuintes nestes circos.                  João Floriano > Carlos Chaves: De acordo Carlos! Aliás chegamos facilmente à conclusão que o mais importante não é o debate em si mas depois a oportunidade de o comentar consoante os interesses dos partidos políticos. Como a esquerda leva larga vantagem nos diferentes painéis, percebemos quem sai favorecido mesmo que sejam verdadeiras nulidades.                F. Mendes: xcelente artigo. A estratégia socialista, de divisão do espaço político à sua direita, tem, de facto, resultado; os respectivos efeitos foram muito amplificados pela vergonhosa prestação de Rui Rio. Montenegro veio mudar as coisas, ainda que com algum atraso. Como as coisas estão, não me admiraria nada que daqui a 7 meses estejamos de novo com eleições antecipadas. Com o país a perder e a afundar.               José B Dias: Totalmente de acordo!                Carminda Damiao: Excelente artigo. É preciso derrotar o PS e por isso a união da direita é necessária. O Chega é o único que diz que vai lutar contra o movimento Woke e isso faz toda a diferença.               João Diogo: Excelente artigo, o papão é o chega, que come criancinhas ao pequeno almoço                        GateKeeper: Gostaria muito que o Rui analizasse "a sério " e "a fundo" os vários  problemas básicos e fundamentais, que continuam a definir , a perfilar, uma rep. das bananas em que Portugal se "transmorfou", desde os 4 [ quatro!] "consulados" xuxús do márocas, do guitarres, do fócrates e do tonyC. Na minha, nossa, opinião  foram, são,  serão sempre :

1. A malfadada "constituição  da III rep".

2. Os "nossos" malfadados Lei, Sistema e Método eleitorais, mais próprios de uma demagogocracia populista.

3. A decadência e queda rápida dos Estadistas Portugueses, servidores da 'res publica" Portuguesa, reduzidos a menos do que os dedos de uma mão.

4. A "osmose" Ibérica com a óbvia  e inexorável decadência politico-económica- social da senil e demente Europa - unida e 'desunida'.

5. A "via enquilosante" esquerdalha, woke e liberaleca [ de cordel] que gera um ciclo  contínuo de compadrio, corruptela, incompetência e impunidade; uma das consequências gritantes deste miserável  desiderato é a clara incapacidade de avaliação do "estadão" , dos "politiqueiros" e do "publicúzinho" pelos "tugas", de tão viciados que foram e são na subsidiocaína.

Até  hoje ainda não  consegui descortinar alguém que, "com os ditos no devido sítio", fale, escreva ou mesmo "tecle" com clareza as devidas soluções  para estes 5 imbróglios, verdadeiros "nós górdios" - um Alexandre que o corte a eito e de vez com a sua espada.

Têm  medinho das "ditaduras fáxistas"?! Então  porque é que as alimentam?! Porque é que "as dão  à luz"?!

Gentes fracas, fracas mentes, enfim.

Nesta actual rep. das bananas, quem tem 1/2 olho [ mesmo vesgo] é  Rei, mas vai, sempre, nu. 

E "quando assim é"... O "povão" vai mesmo merecer tudo o que "aí vier".

 

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