“Papagaio” um título bem escolhido para
a designação do grupo festivaleiro, que se deitava diariamente em estado
adiantado de embriaguez e se propunha, ao que parece, assassinar um homem que
ergueu uma nação – com sacrifícios e dificuldades, é claro – e severidade,
natural para com aqueles que geriam na sombra as suas oposições cobardes. Ainda
bem que o OBSERVADOR traz à baila o conhecimento desses factos e dessa malta
escrevinhadora provavelmente sob o efeito dos álcoois madrugadores.
"Operação Papagaio". Novo Podcast Plus do Observador revela plano
contra Salazar que passou 64 anos escondido nos arquivos da PIDE
Durante 64 anos, os detalhes do plano mais louco para
derrubar Salazar estiveram escondidos nos arquivos da PIDE. "Operação
Papagaio" é o novo Podcast Plus do Observador. E vai revelar toda a
história
MIGUEL FERASO CABRAl: Grafismo
OBSERVADPOR, 21 fev. 2024, 12:58 5
Durante os últimos 64 anos não houve uma, mas quatro
versões diferentes da Operação Papagaio. Que, para todos os efeitos, até
podia nunca ter acontecido, e não passar de uma história fabricada por artistas
surrealistas, habituados a criar personagens e inventar histórias.
Aquilo que se sabia até agora, através dessas versões, é que, algures nos
primeiros anos da década de 1960, uma série de escritores, poetas e
pintores, habitués do Café Gelo, no Rossio, teriam engendrado
uma operação louca para derrubar António de
Oliveira Salazar e pôr um ponto final no Estado Novo.
O plano
consistia em tomar de assalto os estúdios do Rádio Clube Português, então na
Parede, e substituir a emissão normal com uma bobine com incentivos à revolução
— depois era só esperar que os apelos fizessem efeito e as pessoas saíssem à
rua.
Pouco provável? Seguramente. Mas eram os anos dourados da rádio e, na
verdade, nem um ano antes até tinha acontecido algo do género, quando
o locutor José Matos Maia adaptou “A Guerra dos Mundos” de Orson Welles na
Rádio Renascença e espalhou o pânico em Portugal, à conta dos relatos de
extraterrestres acabados de aterrar em Carcavelos.
Problema: com
todos os seus cronistas e intervenientes mortos, e sem provas documentais do
plano, a da Operação Papagaio era uma história condenada ao obscurantismo. Era
impossível saber qual das quatro versões estava correta — se é que alguma, de
facto, estava.
Foram precisos meses de investigação para descobrir, nos arquivos da
PIDE, na Torre do Tombo, os primeiros registos que vieram a revelar não
apenas o plano detalhado da Operação Papagaio e todos os seus
avanços, recuos e imprevistos, mas também a identidade dos verdadeiros
participantes do golpe contra
Salazar.
Afinal,
a Operação Papagaio foi projectada ao longo de 1959, e não no início da década
seguinte. E,
afinal, por trás dela estiveram não só artistas surrealistas mas também
conhecidos militares anti-regime e revolucionários profissionais. Mais: dois
deles, escassos seis meses depois, seriam os protagonistas de um crime macabro que deu origem a uma das mais célebres
obras da literatura portuguesa, A Balada da Praia dos Cães, de José
Cardoso Pires.
Todos estes acontecimentos,
detalhes e ligações compõem a história nunca contada de luta pela liberdade e
contra a ditadura que o novo Podcast Plus do Observador vai revelar, já a
partir da próxima terça-feira, 27 de fevereiro.
Uma história de inconformismo,
idealismo, crime e muita, muita loucura
Para chegar às centenas de páginas de interrogatórios e relatórios que
reconstituem toda a história, e estavam há 64 anos escondidas nos arquivos da
PIDE, foi preciso pesquisar por um nome.
O nome de uma figura desconhecida, que não era surrealista nem tão pouco
artista, e aparecia apenas numa versão da Operação Papagaio, a menos conhecida
das quatro: Henrique
dos Santos Carvalho, primo de Luís Filipe Costa, histórico locutor do Rádio Clube
Português e uma das vozes do 25 de Abril.
Em 1978, justamente para assinalar os quatro anos da revolução, Luís
Filipe Costa escreveu um texto no extinto semanário Extra, onde, entre outras
coisas, discorreu sobre uma tentativa de afrontar Salazar a que chamou “Operação
Papagaio Desesperado”
— e em que ele próprio teria participado a convite do primo.
Só depois da consulta dos
arquivos da PIDE é que se estabeleceram todas as relações — e foi descoberta a
alcunha por que Henrique dos Santos Carvalho era conhecido nas ruas de Lisboa: “Gavroche”.
“Operação Papagaio” conta uma
história de inconformismo, idealismo, crime e muita, muita loucura — porque, convém não esquecer, Gavroche
podia não ser artista, mas com ele, na génese desta operação, estavam artistas
surrealistas, que desdenhavam de tudo e de todos, gostavam de andar à
pancada e, pior do que isso, eram péssimos a guardar segredos.
Ao longo de vários meses, o
Observador entrevistou mais de uma dezena de pessoas, incluindo dois dos filhos
de Gavroche, o revolucionário de boas famílias preso pela primeira vez aos 17
anos, que foi o principal mentor da Operação Papagaio. E também dois dos
únicos sobreviventes do chamado Grupo do Gelo, a tertúlia informal de artistas
surrealistas que, na segunda metade dos anos 50 do século passado, se começou a
juntar às mesas daquele café no Rossio.
Hoje com 86 anos, o poeta António
Barahona da Fonseca,
predileto de Mário Cesariny, recebeu o Observador na casa onde mora, no centro
de Lisboa, num quarto onde tem emoldurado, e em lugar de destaque, o retrato
que o principal nome do surrealismo português lhe desenhou, na década de
1950.
O escritor
Hélder Macedo, de 88 anos, falou por videochamada e, numa segunda ocasião, por telefone, a
partir de Londres, para onde fugiu, justamente no final dessa década, com medo
da PIDE, e onde ainda hoje continua a
viver.
Ambos recordaram os tempos em que os dias só começavam
depois de almoço, invariavelmente de ressaca, e às mesas do Café Gelo, e só
terminavam na madrugada seguinte, depois das seis da manhã, hora a que abria o Beira-Gare, o café que
ficava mesmo ao lado do Gelo e que, tal como o Gelo, ainda hoje existe. Era lá,
contou Macedo, que bebiam “os últimos bagaços” antes de finalmente cambalearem
para as respetivas casas. Dormiam e no dia seguinte começavam tudo de
novo.
Pelo meio, alguns dos membros deste grupo, revelam os arquivos da PIDE,
ainda conseguiram arranjar tempo e energia para planear o assalto ao Rádio
Clube Português com que tencionavam desencadear a queda do Estado Novo. “Era um
grupo de gente completamente à margem e todos cheios de raiva”, explicou
António Barahona da Fonseca, que na altura não estava em Lisboa e, talvez por
isso, não chegou a ser sondado para a operação.
Narrada pelo actor Miguel Guilherme e
com banda sonora original composta por Rita Redshoes, a “Operação Papagaio”
sucede a “O Encantador
de Ricos”, “Um Espião no
Kremlin”, “O Piratinha do Ar” e “O Sargento
na Cela 7”.
É o mais novo Podcast Plus do
Observador, uma série para
ouvir em seis episódios, e tem estreia marcada para o próximo dia 27 de
fevereiro.
Como habitualmente, pode ouvir um episódio novo todas as terças-feiras,
não apenas no site e nas redes sociais do Observador mas também em todas as
plataformas de podcast. O trailer já está disponível aqui:
As entrevistas e a investigação da
“Operação Papagaio” ficaram a cargo dos jornalistas João Santos Duarte e Tânia
Pereirinha. O guião é de Tânia Pereirinha, a sonoplastia é de Diogo Casinha e a
edição é de João Santos Duarte.
CULTURA ESTADO
NOVO POLÍTICA OBSERVADOR 25 DE ABRIL PAÍS SALAZAR
COMENTÁRIOS
António Dias: Centenas de milhares de portugueses
subscrevem o comentário pedagógico de Isabel Amorim . Lamentavelmente o Observador
já está contaminado pela narrativa do politicamente correcto. Grande parte dos
jornalistas que escrevem no Observador foram marxistas maoistas convictos e
somente após serem derrotados no 25 de Nov 1975 é que se travestiram de democratas,
mas o vírus ficou lá. A diabolização do Estado Novo, após o 25 de Abril, continua
a servir para esconder a mediocridade dos governantes, que nos levaram ao caos
em que nos encontramos. Sou democrata convicto , investigador de ciência
política e quanto mais aprofundo e comparo o estado novo com o regime
democrata mais visível a grandeza do antigo regime . A transição para a
democracia iria acabar por acontecer, tal como aconteceu em Espanha . Foi pena
o 25 de Abril não ter acontecido em Espanha primeiro, para Portugal fazer uma
transição pacífica . Hoje seríamos uma Suíça da UE. A descolonização foi um
dos maiores crimes contra a pátria. Os responsáveis Mário Soares e
Cunhal serão conhecidos como os traidores que entregaram o Ultramar à URSS,
abandonando centenas de milhares de portugueses à sua sorte . Lembro que
o todo poderoso Prof Salazar entrou pobre na política e no governo, saiu
paupérrimo após décadas ao serviço do povo. Não conheço ditador algum no mundo
que tenha este CV. A corrupção que grassa em Portugal é disfarçada com frases ,
tipo ...há liberdade , e quem a denúncia é logo acusado de populista fascista
racista .
Alexandre Barreira: Pois. A verdade é que a PIDE não brincava em serviço. Mesmo
quando metia "papagaios"....!!! Hugo
Sousa: Eu que
pensava que a Operação Papagaio se tinha destinado a colocar no topo da
hierarquia do estado português o outro papagaio... Isabel Amorim: O Observador a contribuir para a diabolizaçao do papão
Salazar que nos deixou obra feita de qualidade que ainda hoje nos é útil, num
tempo em que ainda havia respeito pelo povo português. Ora o que era útil
era um podcast sobre esta canalha e seus esquemas que nos roubam e abusam em
nome de uma falsa democracia todos os dias, mas os "jornalistas" do
Observador pelos vistos vergam-se a quem manda verdadeiramente neste momento,
politiqu€iros canalhas sem qualidade que viram uma porta aberta somente para
eles próprios se servirem à custa do povo português, mas isso não é nada
conveniente mostrar porque o Observador alinha com esta malta. Restrições com a
desculpa de uma pandemia mal contada, perseguição a professores, destruição das
instituições, manipulação de notícias e por aí fora até Salazar coraria com o
descaramento. Além do mau gosto da imagem do podcast com uma mira apontada à
imagem de Salazar. Tenham respeito, vergonha e enxerguem-se Pedra Nussapato
> Isabel Amorim: Havia
respeito sim senhora pela coragem e resiliência dos portugueses, mas não era de
certeza por parte de Salazar e do seu regime, o qual privou os portugueses de
direitos básicos e semeou a pobreza e o medo. Essa sua nostalgia por tempos em
que por exemplo não lhe seria permitido estar aqui a colocar comentários é
muito explicativa das suas posições. João Pimenta > Isabel Amorim: Curioso que fale de "perseguições
"actuais e defenda Salazar. Com esse não havia perseguição nenhuma, pois
não?
António Soares: Papagaio pareceu o menino dos Santos, no
debate com LM.
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