sábado, 3 de fevereiro de 2024

FESTEJOS em maiúscula


O texto de José Pacheco Pereira Só vale a pena comemorar o 25 de Abril em modo combativo” está na minha frente, saído no Público de 13 de Janeiro, deste ano das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril de 74, setenta e dois dias antes do acontecimento, para o recordar largamente, como sempre se fez, desde então, mas especialmente no seu cinquentenário se fará, que é um dia redondo, com o zero da metade de um século, que serão dois daqui a outra metade de século, embora já não devamos assistir a esses dois zeros do centenário, nem eu nem PP, com pena nossa, claro, pena hoje, porque daqui a algum tempo, não a teremos mais, nem ele e sobretudo nem eu, que sou bastante mais antiga. Um texto transbordante do seu entusiasmo de sempre, como se deduz por ele, definitivamente arrumando no canto dos marginais os não-alinhados, que se atrevam a excluir o cravo revolucionário desses idos de 74, sempre repetido nos idos seguintes pela maioria dos Lusos 74, idos passados, felizmente, na primavera, para que eles, os cravos, bem vermelhos, oferecessem – e continuem a oferecer, e graças a Deus que no-los vai oferecendo, mesmo com as mudanças ecológicas - as suas corolas resplandecentemente vermelhas de simbolismos, aos seus usufruidores, quer estes fossem ou não cientes disso, desses simbolismos coloridos cujo sentido hoje a maioria já enxerga melhor.

Trata, pois, o texto de Pacheco Pereira, da diferença entre os dias 24 e 25 de Abril desses tais idos de 74, o 25 tratando-se de uma revolução, não de um golpe de EstadoPP fazendo questão de o frisar - o 24 pertencendo ainda à designação de ditadura, embora já governasse Marcelo Caetano, boa pessoa, que até nos atribuiu o 13º mês de vencimento, do dinheiro então todo nosso, (que gastei logo em bicicletas para os meus três filhos, lembro-me desse facto com pura gratidão). Pacheco Pereira deu bem conta desse décalage profundo entre o dia seguinte e o anterior, como se vê na sua frase eufórica: “Pode tudo estar a correr mal, podem os partidários do “cumprimento de Abril” dizer que este está “por cumprir”, mas a diferença entre 24 e 25 ainda está viva e bem viva.” E até mesmo chega a minimizar a importância do “25 de Novembro”, no paralelo que faz com o “25 de abril”, responsável pela democracia em que agora todos mergulhamos até à exaustão, sem mais entraves nem recriminações.

É por isso que ele resolve transpor uns ditames de “Salazar aos seus eleitores”, para que não se fiem nos tais da oposição ao Governo, de que PP fez parte, certamente, (digo como opositor) – texto, todavia, que não transcrevo, por receio de qualquer medida retaliativa do PÚBLICO pelo abuso da transcrição, mas vale a pena lê-lo e admirá-lo, como produto de uma inteligência superior, bem conhecedora dos homens. Ao colocar o texto de Salazar – com fundo verde, no PÚBLICO - o vermelho mais pertença dos visados, a que PP pertenceu com orgulho, naturalmente - pretende PP pôr a ridículo o velho “ditador” – que só o foi contra os que pretendiam impor, sim, a tal ditadura, de que Mário Soares, já “autrementesclarecido, acusaria Álvaro Cunhal, embora PP faça por ignorar isso, pois ditador fora só o tal, do discurso aos ELEITORES, reproduzido por PP, iniciado pela interpelação “Não vos fieis nos homens da oposição ao Governo”, discurso em uns dez mandamentos, justificativo do título acerado de PP contra o ditador: “Só vale a pena comemorar o 25 de Abril em modo combativo”.

E mais uma vez o combate, com sábia sanha, cinquenta ou setenta anos depois...


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