O texto de José Pacheco Pereira “Só
vale a pena comemorar o 25 de Abril em modo combativo” está na
minha frente, saído no Público de 13 de
Janeiro, deste ano das comemorações do cinquentenário do 25 de Abril
de 74, setenta e dois dias antes do acontecimento, para o recordar
largamente, como sempre se fez, desde então, mas especialmente no seu
cinquentenário se fará, que é um dia redondo, com o zero da metade de um
século, que serão dois daqui a outra metade de século, embora já não devamos
assistir a esses dois zeros do centenário, nem eu nem PP, com pena nossa, claro,
pena hoje, porque daqui a algum tempo, não a teremos mais, nem ele e sobretudo
nem eu, que sou bastante mais antiga. Um texto transbordante do seu entusiasmo
de sempre, como se deduz por ele, definitivamente arrumando no canto dos
marginais os não-alinhados, que se atrevam a excluir o cravo revolucionário
desses idos de 74, sempre repetido nos idos seguintes pela maioria dos Lusos 74,
idos passados, felizmente, na primavera, para que eles, os cravos, bem
vermelhos, oferecessem – e continuem a oferecer, e graças a Deus que no-los vai
oferecendo, mesmo com as mudanças ecológicas - as suas corolas resplandecentemente vermelhas de simbolismos, aos
seus usufruidores, quer estes fossem ou não cientes disso, desses simbolismos
coloridos cujo sentido hoje a maioria já enxerga melhor.
Trata, pois, o texto de Pacheco Pereira, da diferença entre os dias 24 e 25 de
Abril desses tais idos de 74, o 25 tratando-se de uma revolução, não de um golpe de Estado – PP fazendo
questão de o frisar - o 24 pertencendo ainda à designação de ditadura, embora
já governasse Marcelo Caetano, boa
pessoa, que até nos atribuiu o 13º mês de vencimento, do dinheiro então todo
nosso, (que gastei logo em bicicletas para os meus três filhos, lembro-me desse
facto com pura gratidão). Pacheco
Pereira deu bem conta desse décalage profundo entre o dia seguinte e o anterior, como se vê na sua
frase eufórica: “Pode tudo estar a correr
mal, podem os partidários do “cumprimento de Abril” dizer que este está “por
cumprir”, mas a diferença entre 24 e 25 ainda está viva e bem viva.” E até
mesmo chega a minimizar a importância do “25 de Novembro”, no paralelo
que faz com o “25 de abril”, responsável pela democracia em que agora
todos mergulhamos até à exaustão, sem mais entraves nem recriminações.
É por isso que ele resolve transpor uns ditames de “Salazar aos seus eleitores”, para que não se fiem nos tais da oposição ao Governo, de que PP fez parte, certamente, (digo como opositor) – texto, todavia, que não transcrevo, por receio de qualquer medida retaliativa do PÚBLICO pelo abuso da transcrição, mas vale a pena lê-lo e admirá-lo, como produto de uma inteligência superior, bem conhecedora dos homens. Ao colocar o texto de Salazar – com fundo verde, no PÚBLICO - o vermelho mais pertença dos visados, a que PP pertenceu com orgulho, naturalmente - pretende PP pôr a ridículo o velho “ditador” – que só o foi contra os que pretendiam impor, sim, a tal ditadura, de que Mário Soares, já “autrement” esclarecido, acusaria Álvaro Cunhal, embora PP faça por ignorar isso, pois ditador fora só o tal, do discurso aos ELEITORES, reproduzido por PP, iniciado pela interpelação “Não vos fieis nos homens da oposição ao Governo”, discurso em uns dez mandamentos, justificativo do título acerado de PP contra o ditador: “Só vale a pena comemorar o 25 de Abril em modo combativo”.
E mais uma vez o combate, com sábia sanha, cinquenta ou setenta anos depois...
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