Brilhante nas suas asserções e avisos, ALBERTO
GONÇALVES. Convinha escutá-lo e desatender um partido cuja chefia é
protagonizada por uma figura aparentemente segura de si, no seu ar de
competência em acusações tranquilas e drásticas, diferente dos anteriores líderes
- mais exaltado o Louçã, mais sorridentemente popularucha a Catarina,
– esta nova figura - com saber definitivo descrita por AG
- compenetrada e perfurante nas suas acusações tranquilamente drásticas e
sussurrantes – (todos eles, de resto, parecidos nas intenções falsamente
virtuosas de defesa dos oprimidos, na realidade de ataque permanente aos “opressores”
de uma direita a abater). Sim, o problema é a neta, são estes netos e estas
netas untuosos perante cuja saliência a sociedade, não sei por que carga de
água, se baixa e rebaixa, sem sequer lembrar os casos de familiares até
demonstrativos de irregularidade na virtude, o que deveria tapar discretamente a
boca à descendente de um desses - falsamente virtuosa, ou apenas vingativa - actualmente em
destaque.
O problema não é a avó Mortágua: é a neta
Não há nada de espantoso aqui. As
patranhas estão na natureza do Bloco de Esquerda. Aliás, logo ao lado do
ressentimento, as patranhas são a essência do bando. A novidade é o escrutínio.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 24
fev. 2024, 00:5310
Pelos vistos, segundo a Sábado, a
senhora tinha bem mais do que 65 anos quando recebeu a carta, inventada, de um
senhorio capitalista e pérfido, que afinal era uma Instituição Particular de
Solidariedade Social, a ameaçá-la com o despejo, legalmente impossível, de uma
casa arrendada na Avenida de Roma por 400 euros. O assunto tem alimentado farta
galhofa, incluindo a procura simulada por apartamentos na mesma rua que cobrem
renda similar. Eu dispenso: nunca me ocorreu residir em Lisboa e muito menos na
vizinhança da família em questão. Este, porém, não é o ponto.
O ponto é que toda a gente sabe que a dra. Mortágua mentiu na
história da avó. Sobretudo a
própria dra. Mortágua, que anda há dias a chorar os ataques da inevitável
“extrema-direita” e a alinhavar mentiras atrás de mentiras para legitimar,
anedoticamente e em vão, a mentira inicial. Não há nada de espantoso aqui. As
patranhas estão na natureza do Bloco de Esquerda. Aliás, logo ao lado do
ressentimento, as patranhas são a essência do bando, que sem elas estaria
limitado a soprar apitos em arruadas tristes em prol da marijuana ou da
“Palestina”.
A novidade é o escrutínio. Por regra tácita, consagrada há duas
décadas entre boa parte dos “media” caseiros, a rapaziada do BE está autorizada a mentir no que quiser, quanto
quiser e como quiser sem ser incomodada por vestígios de contraditório.
É até compreensível o desnorte da dra. Mortágua, que após uma carreira
dedicada à tortura dos factos se vê agora humilhada em público por causa de uma
falsidade comparativamente menor. Claro que é cómico. E que, assentada a
poeira, é trágico.
É que a chacota em volta da avó Mortágua
encobriu por completo a mensagem que a neta tentou passar. Imagine-se, por inconcebível que seja, que a dra. Mortágua tinha
sido rigorosa e séria, leia-se que a avó ficara em “sobressalto” a pretexto de
uma comunicação do proprietário do imóvel. E depois? Todos os cidadãos
experimentam sobressaltos semelhantes sempre que recebem comunicações do Estado,
com a diferença de que estas, ao contrário da outra, são reais. O pormenor é
que se desconhece grande currículo de indignações do BE perante tais sustos. Ou
abusos. Ou arbitrariedades.
Pior: se a dra. Mortágua mandasse, os
sustos, os abusos e as arbitrariedades redobrariam em dimensão e frequência. E
não apenas em matéria de habitação, sector em que a prestigiada economista da
Escola de Caracas sonha com o assalto indiscriminado aos velhinhos, à
meia-idade, aos jovens se for o caso. Há um par de semanas, a antecessora da
dra. Mortágua, Catarina Martins,
proclamou sem hesitações – nem escândalo subsequente – que “o direito à
propriedade e o mercado” não podem ser “um obstáculo ao direito à habitação”. É
escusado traduzir: em nome das perversões que os guiam, os senhores e as
senhoras do BE defendem o confisco dos bens alheios, no imobiliário e no que
calha, para que, suprimida a liberdade que resta e instituída a radical
dependência que a falta de liberdade implica, o Estado, idealmente ocupado pelo
BE, desfrute de poderes absolutos. E o povo, bom e mítico, possa desfrutar da
absoluta miséria.
Descontada
a agradável catarse suscitada pelo espectáculo de uma impostora com as calças
na mão, a ficção da avozinha acabou por disfarçar o que vai na cabeça verídica
da dra. Mortágua. Nessa prodigiosa cabeça, o senhorio, plausivelmente
com chifres e cauda, é mau porque é “privado”, porque é um cidadão, porque é
alguém que consegue ganhar a vida para lá das garras do Estado e, em última e
intolerável instância, com um conforto e uma decência que o Estado que o BE
concebe não admite. Enquanto nos distraímos com a mentira, esquecemo-nos
da verdade. E a verdade é uma coisa assustadora.
Apesar de a ortodoxia vigente, da
esquerda à obediente “direita”, reduzir a actualidade à discussão dos acordos
que o PSD fará ou não fará com o Chega, o PS assumiu sem problemas nem
escrúpulos a aliança com o BE, para não falar nos demais partidos comunistas,
que hoje, valha a fartura, são três ou quatro. E não se trata da aliança
oportunista do dr. Costa em 2015, que tantos maravilhas legou ao país, mas de
um casamento apaixonado entre duas almas gémeas, o neto do “sapateiro” que
tinha uma fábrica e a neta da inquilina que tinha 78 anos em 2012.
O
dr. Pedro Nuno não precisa de tolerar a influência de radicais no governo: o
dr. Pedro Nuno é um radical do calibre da dra. Mortágua. Como ela,
também ele deseja “fazer o que nunca foi feito”, ou precisamente o que não se
concluiu no PREC devido a interrupção “reaccionária”. O que se cozinha por aí não é uma mera frente de esquerda, mas uma
frente de extrema-esquerda, totalitária e opressora conforme convém. A confirmar-se o pesadelo, e a propósito
disto e daquilo, começarão a entrar nos CTT, entretanto nacionalizados, cartas
autênticas que farão a carta forjada pela dra. Mortágua parecer um cartão do
Dia dos Namorados. Antes que essa gente nos desaloje a nós, é capaz de ser
vital desalojar essa gente. E não pelos correios: pelas urnas.
COMENTÁRIOS (de 10)
F. Mendes: Excelente artigo. Para levar a sério, nomeadamente
no tocante ao parágrafo final. Infelizmente, é bem possível que caso as
eleições corram mal a 10 de Março, aquelas sejam as últimas razoavelmente
livres, por muito tempo neste país. Não acredito muito em sondagens. As que
saíram recentemente, aparentemente favoráveis à direita, acabam por condicionar
o voto útil à esquerda, neste sentido: concentrar o voto no PS, para evitar a
vitória da coligação de "direita" (ou seja, da AD), que não governaria
em versão Montenegro. E claro, para travar o crescimento do
"perigosíssimo" fascismo do CH, mantendo a possibilidade de uma
maioria de esquerda no parlamento. Inversamente, à "direita", cria-se
uma falsa sensação de conforto, que poderá conduzir a um elevado número de
votos inúteis em círculos eleitorais de pequena dimensão.
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