sábado, 10 de fevereiro de 2024

Extraordinário

 

O que aqui se conta, pela “voz” atenta de Alberto Gonçalves, num país, ao que parece, de bacocos, que somos nós, os respeitadores dessas marianas aprumadinhas debitando dados… O que nos vale, é o escrutínio esclarecedor de AG – infelizmente não mediático, limitado que é ao espaço inteligente do “OBSERVADOR” - acessível, pois, apenas a quem pretenda ser esclarecido dentro de noções que em princípio seriam as clássicas…

A Imaculada Concepção da avó Mortágua

O sucesso das intrujices do BE também depende muito da falta de escrutínio “mediático” (perdão) a que são sujeitas, ou do escrutínio a que não são sujeitas. 

ALBERTO GONÇALVES

OBSERVADOR, 10 fev. 2024, 00:22

E a avó da dra. Mortágua, coitadinha? Em 2012, alterações na legislação do arrendamento deixaram a senhora num “sobressalto” [sic], com medo de ser expulsa de casa. Claro que bastava a neta, ou algum familiar com compaixão, tê-la informado de que a dita lei apenas dizia respeito a pessoas com menos de 65 anos. Porque é que a dra. Mortágua não se apressou a descansar a pobre velhinha? Porque a extrema-esquerda vive da criação de medos infundados, ou fundados em alucinações. E, a pretexto de alucinações, porque a avó, aquela avó, com aquelas características e naquelas circunstâncias, não existe. A criatura veio ao mundo apenas para figurar brevemente no debate da dra. Mortágua com Luís Montenegro. Se o outro arranjou um avô sapateiro, a chefe do Bloco de Esquerda não poderia ficar atrás em matéria de antepassados com existências penosas. Vai daí, inventou um.

As contas são simples. O pai da dra. Mortágua – que Deus proteja esse patriota – tem 90 anos. Há 12, se não me falham os cálculos, tinha 78, pelo que a sua progenitora dificilmente teria menos de 98. Ou 95, se houvesse sido precoce. Quanto ao lado da mãe, hoje com 70 anos, é tirar 20 e concluir que, em 2012, nem a avó materna teria menos de 78. Ou 75, pronto. Ambas, portanto, estavam protegidíssimas por larga margem da sanha da “direita”, que mancomunada com os senhorios sonhava em desalojar idosos. Instada, no debate televisivo seguinte, a esclarecer as discrepâncias, a dra. Mortágua dispensou a oportunidade. Inchada de ética e amnésia, proclamou: “Não faz muito sentido discutir situações particulares”. Pois não, principalmente quando as situações em causa, que ela própria invocou sem que alguém lho pedisse, são fruto da imaginação, para não dizer da vontade de aldrabar o próximo.

Parece então razoavelmente inequívoco que a dra. Mortágua mentiu. E depois? A dra. Mortágua mente constantemente. Aliás, na fossa ideológica em que foi criada, a mentira é a única forma conhecida de comunicação. Só no referido debate em que encarnou o espírito da avó, a dra. Mortágua mentiu desde que abriu a boca até, enfim, a fechar. Mentiu, por exemplo, acerca das PPP na Saúde, ao afirmar que “todos os relatórios do Tribunal de Contas dizem que as PPP tinham uma performance pior ou igual ao sistema público, com muito mais custo”. Ora o relatório mais recente do TdC a propósito, de 2021 e que reúne dados de diversas auditorias, informa que as PPP pouparam centenas de milhões de euros ao Estado e demonstraram, cito, “níveis de excelência clínica”. Ou seja, nesta e em todas as matérias, os factos são sempre o exacto oposto das falcatruas que a dra. Mariana regurgita. De um certo ponto de vista, é extraordinário.

Igualmente extraordinária é a maneira como a dra. Mortágua e o BE em geral sobrevivem a este, digamos, estilo. Mesmo para os padrões da política, em que a impostura e o descaramento beneficiam de razoável tolerância, e mesmo para os padrões da política caseira, em que essa tolerância atinge limites insondáveis, a imunidade da seita é assombrosa. Uma parte dos embustes explica-se através do público do BE. Talvez paire por ali uma combinação letal de inteligências deficitárias, lacunas educativas, vieses de confirmação, propensão ao culto e psicose partilhada, não sei. Sei que o sucesso das intrujices do BE também depende muito da falta de escrutínio “mediático” (perdão) a que são sujeitas, ou do escrutínio a que não são sujeitas.

Voltemos à sobressaltada, além de mitológica, avó da dra. Mortágua. Toda a gente percebeu de imediato que a história era uma desavergonhada patranha. Toda a gente, excepto a maioria de comentadores que, nas televisões e imprensa, declarou a dra. Mortágua vitoriosa no confronto com o líder do PSD. Ou seja, uma “argumentação” baseada em falsidades infantis dá à dra. Mortágua não apenas a legitimidade de julgar que debateu fosse o que fosse como o direito a “ganhar” o pretenso debate. Ridículo? Vocês não leram o “Polígrafo”.

O “Polígrafo”, uma coisa que ironicamente se propõe denunciar mentiras, entrou em cena para tentar convencer pasmados de que a dra. Mortágua pode não ter mentido. Entre uma névoa de considerações “técnicas”, o “Polígrafo” sentenciou o seguinte (corrigi entretanto os erros gramaticais): “Tendo em conta que Mariana Mortágua tem hoje 37 anos (25 anos em 2012), é improvável – mas não impossível – que a sua avó tivesse naquele ano (tampouco nos anos seguintes) menos de 65 anos. Não descartada a hipótese, ditava a lei que seria possibilitada a actualização das rendas anteriores a 1990, ou seja, antes da vigência do Regime de Arrendamento Urbano, a todos os menores de 65 anos.”

Tradução: embora ache “improvável”, o “Polígrafo” não acha impossível – nem descarta a hipótese – de a avó da dra. Mortágua ter dado à luz a mãe da dra. Mortágua aos seis (6) anos de idade ou menos. Ou, tratando-se da avó paterna, presume-se que o “Polígrafo” não ache impossível – nem descarte a hipótese – que o sr. Camilo Mortágua viesse ao mundo catorze (14) anos antes (antes) de a mãe dele sequer ter nascido. A confirmar-se, esqueçam as minudências da política: a família Mortágua é da ordem do divino. A não se confirmar, reparem no lema do “Polígrafo”: “Um projecto jornalístico online que tem como principal objectivo apurar a verdade”.

Desatei a rir logo em “projecto jornalístico”. O “Polígrafo” passa nas televisões, a dra. Mariana passa no “Polígrafo”, o absurdo passa por normalidade. Quem leva o país a sério deve estar a brincar.

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COMENTÁRIOS (de 33)´

André Ondine: Sinceramente, no mundo esotérico em que os guerrilheiros do BE vivem, não me parece estapafúrdio que a precoce avó da risonha Mariana tenha sido mãe aos seis anos. Eram outros tempos. Por outro lado, também julgo ser perfeitamente plausível que o ternurento pai da Mariana, outrora um romântico assaltante de navios e com um gosto inato pelo saudável desvio de aviões, Camilo, tenha nascido alguns anos antes da sua própria mãe nascer. Sempre foi um visionário. E, Lá está, eram outros tempos. São acontecimentos invulgares, mas que no universo peculiar do BE, se aceitam como normais e até salutares. Mariana Mortágua, com aquele sorriso cínico com mais de cinquenta dentes, não mentiu. Apenas nos tentou introduzir ao saudável universo freak do seu Bloco de Esquerda. Que, não tarda, é o universo de todos nós.               José Paulo C Castro: As contas nunca foram o forte daquela gente, jornalistas incluídos. As 'ciências' sociais, antes humanidades, sempre foram, também, uma forma de escapar à matemática. O problema é quando também esquecem aquele ramo da filosofia que se chama lógica. Dá nisto... Há, no entanto, algo que um jurista me disse uma vez e que eu recordo sempre: "Os factos não existem. Os factos são criados em tribunal." Em política, é igual...                F. Mendes: Pessoalmente, faço o seguinte: julgo falso tudo o que é afirmado pela esquerda, até prova em contrário. A falta de escrutínio só existe à esquerda do PSD; facto que permite actuar da seguinte maneira: mente-se; se se provar ser mentira, volta-se a mentir, na esperança de que a aldrabice em curso seja tapada pela seguinte. Se não der resultado, a mentira é "contextualizada". Se, ainda assim, não chegar, reduz-se a coisa a um caso ou "casinho". E podia continuar, sendo que teremos sempre Passos Coelho para arcar com as culpas. Dou um exemplo, mais chocante do que este da Mortágua, porque muito mais grave: vejam o Paulo Cafôfo, capo do PS Madeira. Saiu do governo central há pouco mais de um ano, por fortes suspeitas de viciação de concursos de obras públicas. Hoje, exige a demissão imediata do governo da Madeira, e eleições antecipadas, porque recaem suspeitas sobre Miguel Albuquerque; o dito foi criticado por ter demorado uns dias a dizer que saía. Sócrates, comprovadamente corrupto, está há mais de 9 anos para ser julgado. Ninguém se indigna, e vota-se PS Estas situações são tão escandalosas, que chega a ser errado falar de duplicidade de critérios. Porque, simplesmente, não há critério digno dessa designação!               F. Mendes: Já agora, acrescento que nesta história da avó, existe também o lobo mau  (Ventura), o Capuchinho Vermelho (Mortágua) e algum público infantil que ainda acredita nestas tretas. Para nossa desgraça.                Miguel Sanches: O linha editorial da maioria dos media é pura manipulação social. Talvez seja por isso que a maioria dos media impressos estejam falidos. As TV's andam perto, e sobrevivem com o lixo que entornam em casa das pessoas, e que estas vão consumindo. Muitas, pela solidão terrível em que vivem.

Cupid Stunt: Muito bom!! Desmascarar a intrujice grosseira em que a esquerda em geral, e o BE em particular, assentam é que é serviço público. Mas pior, ou tão má, do que essa intrujice é a impunidade de que há anos goza essa gente... 🤮🤮                    Antonio Serrano: Mais um texto de grande qualidade a desmascarar uma mentirosa compulsiva. A avozinha!!! Que raio de ideia!                Fernando Cascais: Os analistas, comentadores, especialistas e jornalistas que nas televisões e nos jornais online interpretam os debates sofrem do Síndrome de Estocolmo. Raptados que estão pelos princípios do politicamente correcto das esquerdas e também pelos subsídios de António Costa e ainda para não colocarem em causa o tacho que arranjaram, fazem o frete, alguns com grande paixão, de andarem com a esquerda ao colo. Até o novo grande arauto da direita, Sebastião Bugalho, ficou com o beicinho a tremer com a história da Mariana Mortágua e deu um empate no debate. Cada um soube passar bem a sua mensagem, justificou o jornalista que também foi criado pelo avô. Não interessa a mentira, o que interessa é que a mentira seja séria e tenha a força da verdade Bem, mas se o Sebastião Bugalho começou a ser puxado pela gravidade da lista negra já a Helena Matos mergulhou de cabeça para dentro dela. O que se terá passado pela cabeça da mulher para no último contra-corrente se ter mandado com unhas e dentes ao Rui Rocha e à Iniciativa Liberal? O José Manuel Fernandes ainda tentou dar-lhe um puxão para baixo para a mulher aterrar mas a raiva era tanta que nada a conseguia impedir de esvoaçar pelo estúdio. Mais uma enorme desilusão. Já dei por mim a pensar se uma vitória da direita será o mais conveniente para os órgãos de comunicação social mais encostados ao pensamento de direita. Com um governo de esquerda as críticas à governação entusiasmam os leitores de direita, mas, com um governo de direita os jornais de direita perdem sentido crítico e provavelmente audiência. Bem, talvez a solução seja explorar as divisões e os ódios entre as direitas. A IL será sempre uma fonte de inspiração para a Helena Matos (será que a razão deve-se à IL não se ter juntado à AD?), já o Chega continuará a alimentar a retórica crítica do dito jornalismo de direita.  Resumindo, estou completamente desiludido com o jornalismo dito de direita.                     Manuel Martins: Há muito que percebi que o que sai da boca dos políticos raramente é confiável  e que não podia recorrer aos órgãos de comunicação social e seus "jornalistas " para saber os factos,  a verdade. Também aprendi que o que muitas vezes passa por " verdadeiro " não passa de uma mentira não escrutinada e repetida muitas vezes pela comunicação social  Mesmo as instituições que produzem estatísticas e relatórios, são por vezes,  infelizmente,  também manipuladas pela ideologia e poder político. A solução para a informação verdadeira ficou assim mais difícil e dá trabalho: identificar fontes isentas, cruzar fontes,  nunca dar como verdade o que certas fontes nos impingem, etc

 

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