domingo, 4 de fevereiro de 2024

Malandragem generalizada


Do Chega, naturalmente, mas igualmente dos editores do Expresso, como bem demonstra PAULO TRIGO PEREIRA, Professor Catedrático do ISEG e Presidente do Institute of Public Policy. Colunista do Observador, para abrir os olhos, caso o leiam, a muitos adeptos desse CHEGA, que, não obstante parecer corajoso, não passa de mais um caso de oportunismo, nessa demagogia arruaceira de criancelho ambicioso de André Ventura. Ao dar-lhe destaque, como bem demonstra PTP, o Expresso visa sub-repticiamente engordar o PS, como foi sempre desígnio desde o fundador P. Balsemão. Eu própria me lembro de um texto que escrevi em LUSOS 74 do meu CRAVOS ROXOS, em artigo com data de Setembro de 74, estava eu ainda em África a tratar das papeladas para o meu retorno com a família para a Pátria-Mãe. Chamei-lhe PRESTÍGIO ao meu artigo, que começa deste modo, que exponho aqui para demonstrar o quanto nos era familiar a referência ao EXPRESSO nessas terras, assim patenteando a nossa cultura jornalística nesse Ultramar renegado. Começava assim o meu “PRESTÍGIO”: “O Ministro Almeida Santos disse que dantes éramos uma nação grande mas sem prestígio nenhum, ao passo que agora somos um povo pequeno mas passámos a ter um prestígio enorme. Disse isto expressamente para o «EXPRESSO» que gosta de arrecadar frases célebres dos homens que vão ficar na História. …” É só um pedacinho de texto, destinado a comprovar um bem antigo relacionamento meu com esse Expresso da orientação socialista, embora se admitam outras suas vertentes políticas, desde que não firam os ideais democráticos de uma bonomia mais ou menos utópica.

Mas o texto do Professor Catedrático PTP esclarece a questão, a que os seus comentadores acrescentam de rigor elucidativo sobre a actuação do Expresso, afinal movedor dos seus cordéis, como todos esses de quem se fala por cá, e tantos que são…

O “Expresso” e a difícil neutralidade editorial

O tratamento jornalístico (incluindo a imagética) da sondagem do Expresso não me parece ter assegurado a desejada neutralidade editorial.

PAULO TRIGO PEREIRA, Professor Catedrático do ISEG e Presidente do Institute of Public Policy. Colunista do Observador

OBSERVADOR, 04 fev. 2024, 00:142

A última edição do Expresso divulgando os resultados da sondagem SIC-Expresso tem como título a letras grandes:só o Chega sobe e pode atingir 21%” e como sub-título “Empate técnico entre PS e AD”.  Na realidade só há dois candidatos a primeiro-ministro nas eleições de 10 de Março que são Pedro Nuno Santos (PNS) e Luis Montenegro (LM). Mas qualquer que seja o vencedor (e quem ganhar as eleições é o vencedor, convém recordar), não há dúvidas que haverá outro vencedor na noite de 10 de Março. Para além da manchete de primeira página, nas páginas centrais com os resultados da sondagem surge uma foto de quarto de página de um único político — André Ventura (AV) – omitindo todos os outros, inclusive PNS e LM. Uma boa foto vale por mil palavras e esta foto, de AV com os punhos fechados e ar de vencedor, não tenho dúvidas que terá sido de grande agrado do próprio, de muitos que votam Chega, e influenciará outros. Tudo isto são legítimas opções editoriais que não me parecem violar nem o regime jurídico das sondagens nem o da cobertura jornalística em período eleitoral. Parece, porém, que passámos da normalização de um partido para a sua promoção ainda que involuntária.

É importante recordar os problemas de que enferma o Chega. O primeiro é o de ter sido até agora um partido de um homem só, agora também de uma mulher (Rita Matias), com a consequente ausência de quadros para que possa materializar qualquer programa político credível e consistente seja no combate à corrupção, no aumento das pensões ou noutro qualquer tópico programático. Outro é o de vários dirigentes defenderem ideias racistas, xenófobas e do partido ter defendido propostas inconstitucionais (como a castração de pedófilos ou a prisão perpétua, agora convenientemente omitidas). Mas o problema mais grave do Chega está na forma. O seu ataque à “classe política”, como se dela não fizesse parte, e sobretudo o seu comportamento parlamentar são inaceitáveis em democracia. A democracia baseia-se na pluralidade e mesmo diversidade de opiniões e ideias, mas em considerar que todas elas, que tenham enquadramento constitucional, podem e devem ser livremente debatidas no espaço público no respeito pelas instituições e pelas pessoas. Fazer do plenário da Assembleia da República (AR) um local arruaceiro em que os deputados levam cartazes, fazem barulho, “pateando” com as mãos, quando se recebe um chefe de estado estrangeiro, como fez o Chega, é abalar os alicerces da democracia que reside na dignidade das suas instituições. O objectivo, claro, foi ter um bom vídeo para passar nas redes sociais e assim ganhar mais uns votos. Mas, vale a pena recordar o que disse o então Presidente da AR, Augusto Santos Silva, interpretando o regimento “os senhores deputados que querem permanecer na sessão plenária têm de se portar com a urbanidade, a cortesia e a educação que é exigida a qualquer representante do povo português.” É tão simples quanto isto.

O tratamento jornalístico (incluindo a imagética) da sondagem do Expresso não me parece ter assegurado a desejada neutralidade editorial. Isto apesar do Expresso genericamente, e à semelhança de outros jornais portugueses, não ter posicionamento editorial partidário e assegurar uma pluralidade ideológica nos seus cronistas. A questão mais de fundo que este caso suscita e que tem sido debatida e objecto de investigação académica é o da neutralidade e imparcialidade do trabalho jornalístico sem prejuízo da sua liberdade editorial. É sabido que os media dificilmente conseguem ser neutrais, e que enviesam as escolhas políticas, pois influenciam a percepção que os eleitores têm dos partidos e candidatos através dos temas a que dão relevância e saliência e da informação que fazem chegar  aos eleitores.  Existe também evidência empírica que sugere que a confiança dos eleitores nos media depende em grande medida da percepção que aqueles têm da neutralidade do trabalho jornalístico. Numa altura em que estamos a iniciar em força a pré-campanha eleitoral para as legislativas com os debates entre candidatos talvez não seja de deixar de relembrar, sobretudo junto da imprensa de referência, o princípio do “equilíbrio, representatividade e equidade no tratamento de notícias”. Apesar de ser muito difícil, a neutralidade editorial jornalística deve ser ambicionada.

PS1: Para o leitor que queira aprofundar este tema sugere-se entre muitas outras referências possíveis:  Markus Ojala (2021) Is the Age of Impartial Journalism Over? The Neutrality Principle and Audience (Dis)trust in Mainstream News, Journalism Studies, 22:15, 2042-2060, DOI: 10.1080/1461670X.2021.1942150 ou Killian J. McCarthy & Wilfred Dolfsma (2014) Neutral Media? Evidence of Media Bias and its Economic Impact, Review of Social Economy, 72:1, 42-54, DOI: 10.1080/00346764.2013.806110
PS2: Por curiosidade fui ver quanto custa a publicidade no Expresso de um quarto de página par antes das páginas centrais: 5600€.

ELEIÇÕES     POLÍTICA    SONDAGENS    SOCIEDADE    JORNALISMO    MEDIA

COMENTÁRIOS:

José B Dias: Alguém que explique ao cronista que nas eleições de 10 de Março não se elegem primeiros-ministros alguns ...  Verdade que na Democracia eleitoral portuguesa também não se elegem deputados representantes da região onde neles votam, mas apenas em partidos e coligações para que estes coloquem na Assembleia da República os seus militantes e simpatizantes que antecipadamente ordenaram em listas ...

F. Mendes: Parabéns ao autor. Percebeu que a SIC (Sociedade Irmãos Costa) e o Expresso (acrónimo para "Exagerar propositadamente resultados socialistas), tudo fazem para promover o CH e prejudicar o PSD. Brilhante!😂😂😂😂😂😂

drumond freitas: Só não vê quem não quer. Uma ajudinha ao PS é sempre importante. Insuflar o Chega só beneficia os amigos. A recompensa virá depois.

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