terça-feira, 12 de novembro de 2024

LEIAMOS e MEDITEMOS


Sobre os seguintes TEXTOS - ao retardador, porque os deixei escapar, em curto-circuito distraído, com pena minha: De  HENRIQUE SALLES DA FONSECA e os respectivos COMENTÁRIOS de ADRIANO MIRANDA LIMA.

Só posso alertar para a gravidade da questão posta neste curto-circuito civilizacional de que tratam os magníficos textos. Não com a graça da ironia habitual, mas com a preocupação - em pedagógica sátira - sobre um mundo de perversão e ruína que preparamos, distraídos ou indiferentes, o texto anterior, sobre a FÉ provando uma preocupação e talvez um apelo à tal entidade de que a nossa irremediável fraqueza humana carece, como justificação do TUDO/NADA que transportamos.

I- SERENOS vs RADICAIS

Ou
CURTO CIRCUITO

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 11.11.24

Hoje dirijo-me apenas ao Ocidente e começo com uma pergunta: «O que é o Ocidente»? O Ocidente é o conjunto das Nações de base civilizacional de cariz judaico-greco-latino e inerentes de base religiosa, moral e ética revestindo necessariamente uma fórmula política, humanista, democrática, pluripartidária e, como tal, tolerante. O modelo vai da Nova Zelândia ao Canadá e da Noruega ao Chile, pelo o que não é uma questão geográfica, mas sim civilizacional. Com a elevação da liberdade de expressão ao superlativo e com os políticos ocidentais – sobretudo os europeus em ambiente kantiano de «Paz Perpétua», fomos todos conduzidos às chamadas «Lei de programação Militar», eufemismo de desarmamento e ao «politicamente correcto», ou seja, à tolerância dos intolerantes radicais que pretendiam e continuam a pretender a destruição da Civilização Ocidental. Esta destruição aponta picaretas a três pilares: à História, com a vandalização ou até a destruição de grandes símbolos (v.g. ao nível da estatuária); à Moral (v.g. nas chamadas «políticas» de género) à Ética, dando, por exemplo, louvor ao hedonismo e ao «carpe diem».

Constatado o movimento disruptivo tolerado pelo dormente «politicamente correcto», começou a surgir o descontentamento… também por secretismos negociais adivinhados. Alemanha – Alternative für Deutschland Brasil – Bolsonaro Espanha – Vox França – Le Pen … … … Portugal – Chega … e a cereja no topo do bolo, Trump nos EUA combinado com o seu amigo Putin o nosso inimigo. Sim, os extremos imperialistas tocam-se e nós, os ocidentais serenos entramos em curto circuito e ficamos fundidos.

CONCLUSÃO
Urge que os serenos socialistas-democratas, sociais-democratas, centristas-confessos, democrata-cristãos, liberais e conservadores (british style) revejam(os) com minúcia a cartilha do «politicamente correcto» sob pena de o mundo passar para o domínio dos radicais de esquerda e de direita. Oxalá ainda vamos a tempo.

Novembro de 2024

Henrique Salles da Fonseca

 COMENTÁRIO:

 De: ADRIANO MIRANDA LIMA  11.11.2024  19:43

Sr. Doutor, como desde há muito venho afirmando, é com imenso gosto que leio as suas reflexões, aliás, sempre ansiosamente aguardadas. O mesmo acontece com os textos do Seixas da Costa e do Vital Moreira, nos respectivos blogues, porque são dois estimáveis "serenos". Este último dissociou-se há muitos anos do PCP, tornando-se um social-democrata semelhante ao Seixas da Costa. Ora, devolvida a liberdade política ao povo em 1974, desde logo se me afigurou, interiorizando-o como uma certeza inabalável, que os nossos "serenos" pertenciam ao espectro em que se integravam Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral. As diferenças entre eles estavam mais na forma procedimental e em algum conteúdo programático do que na essência filosófica. Esta é que inspira e modela a cultura ocidental, usufruídora do legado "judaico-greco-latino e inerentes de base religiosa, moral e ética revestindo necessariamente uma fórmula política, humanista, democrática, pluripartidária e, como tal, tolerante", como o Senhor bem explica. Portanto, esses nossos "serenos" não só representavam a maioria esmagadora da nação como comungavam do firme propósito de integrar o nosso país na vasta comunidade da "civilização ocidental". Tiveram de se debater com "radicais" surgidos da hibernação ou recém-convertidos, mas tudo ficou definitivamente resolvido, com as contas claramente saldadas, em 25 de Novembro. Agora, nada na História pode considerar-se definitivamente encerrado ou consumado, como, aliás, no-lo demonstram os vários episódios do seu percurso. Caso contrário, não estaríamos hoje preocupados com a semelhança ou equivalência entre certos acontecimentos da actualidade e os que precederam o conflito que entre 1940 e 1945 dilaceraram o continente europeu e envolveram também o norte de África e a Ásia. No fundo, os "radicais" nunca desarmam. Mesmo que a civilização venha a garantir as mais gratas razões para o homem sonhar com um tempo de paz e progresso, os "radicais" encarregar-se-ão de lembrar aos sonhadores que têm de tirar o cavalinho da chuva. Pois, a História demonstra que o "ambiente kantiano de paz perpétua" não é uniformemente compreendido por todos os europeus, sobretudo no mundo eslavo. A eleição de Trump pode ser a gota de água que faltava para que o mundo ocidental, nomeadamente na Europa, saia do seu aparente torpor e mande às urtigas o "politicamente correcto". Não é verdade, Sr. Doutor? Peço desculpa por não ter a sua capacidade de síntese. Abraço ADRIANO LIMA

 ADRIANO MIRANDA LIMA  11.11.2024  21:48: É irresistível não prosseguir o comentário. Diz o Dr. Salles da Fonseca que "... e a cereja no topo do bolo, Trump nos EUA combinado com o seu amigo Putin o nosso inimigo. Sim, os extremos imperialistas tocam-se e nós, os ocidentais serenos entramos em curto circuito e ficamos fundidos." O novo problema com que agora se depara é, efectivamente, a possibilidade de termos nos EUA um extremo imperialista de sinal contrário ou no mínimo divergente do resto do mundo ocidental. Tal introduz um dado novo no quadro geo-político, mais que suficiente para a Europa Ocidental repensar de alto a baixo a filosofia do seu pacifismo. Deitar contas à vida para se introduzir um novo factor de cálculo na matemática da sua existência, para melhor compreender o peso dos vários antagonismos que o cercam num mundo que dá sinais de estar longe da concórdia universal que alguns prognosticaram com um triunfo da globalização. Repare-se que as ameaças não terão apenas o rosto do belicismo armado de ferro e fogo fabricados pela mão humana. Trump afirmou que se está nas tintas para a protecção do ambiente, tanto que prometeu aumentar as explorações petrolíferas. Depois de vermos a dimensão da tragédia ocorrida em Valência, penso que a inventariação e catalogação das ameaças terão de obedecer a novos conceitos. Trump não é minimamente confiável, mesmo que, do alto da sua prosápia e vaidade, prometa acabar com as guerras em 24 horas. É homem até para prometer acabar com os incêndios florestais que frequentemente devastam a Califórnia ou com os furacões que arrasam a Flórida.

Por enquanto

 

Recruta na Coreia do Norte, por via dos seus dirigentes compinchas – digo, os da Coreia do Norte. Mas deve haver mais compinchas, entre os quais os que a Rússia treinou, em Moçambique, que estão a responder bem, hoje, aos ensinamentos russos, já antigos. Mas outros mais povos não se importarão de colaborar com os soviéticos, que têm muito poder e saber, pois com estes podem sempre aprender para ganhar mais saber a combater, que a Terra precisa de se livrar de excessos populacionais, senão esgota os seus recursos, pelo menos é o que pensa Putin, apreensivo a respeito dos recursos da Terra.

Contra-ofensiva em Kursk? Exército russo reúne 50.000 soldados da Rússia e da Coreia do Norte

O exército russo reuniu uma força de 50 mil soldados, incluindo da Coreia do Norte, numa altura em que se prepara para uma incursão que tem como objectivo reclamar território controlado pela Ucrânia.

BEATRIZ FERREIRA: Texto

OBSERVADOR, 11 nov. 2024, 11:27 19 

AFP via Getty Images

O exército russo reuniu uma força de 50 mil soldados, incluindo da Coreia do Norte, numa altura em que se prepara para uma incursão que tem como objectivo reclamar território controlado pela Ucrânia na cidade russa de Kursk. A notícia é avançada este domingo pelo The New York Times, que cita fontes dos EUA e da Ucrânia.

Para tal, a Rússia não teve de retirar tropas do leste da Ucrânia, uma região vista como uma prioridade no campo de batalha. Moscovo consegue, assim, pressionar a Ucrânia em diferentes frentes.

As forças russas têm recuperado parte do território que a Ucrânia conquistou em Kursk este ano, mas ainda não iniciaram uma grande incursão. Fontes ucranianas indicaram ao jornal norte-americano que é essa operação que é agora esperada pelas forças de Kiev, com a participação de soldados da Coreia do Norte.

Para já, os soldados norte-coreanos estão a treinar com as forças da Rússia na parte ocidental de Kursk.

GUERRA NA UCRÂNIA     UCRÂNIA     EUROPA     MUNDO      COREIA DO NORTE

COMENTÁRIOS (de 19)

GateKeeper: Continua o vergonhoso "laissez faire laissez passer" do "Mundo Ocidental" vs o tratado vladimiP<->maninhos da CdoN. Serão aprox. 1/2 dos 50k. Já deviam ter "malhado" nelas e neles ANTES sequer de entrarem na Ucrânia. Agora é tarde. A "carne para canhão" já está no 'assadouro'.

António Terralisa: Uma interrogação: o grande exército russo teve de pedir ajuda à Coreia do Norte?

 

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Mais justificações


Sobre um caso decididamente arrumado, mas cuja curiosidade ainda apela ao discurso, especialmente quando bem formatado, como o de Patrícia Fernandes.

Interlúdio: sobre dissonância política

Quando Kamala, no seu discurso de concessão, fala em luta, ficamos na dúvida sobre que luta é essa – tão importante, mas que disse tão pouco à maioria dos eleitores e, em particular, à working class.

PATRÍCIA FERNANDES, Professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho

OBSERVADOR, 11 nov. 2024, 00:182

1A espiral do silêncio

Ao longo das últimas décadas temos desenvolvido competências muito apuradas para detectar e explicar todas as limitações e problemas da democracia liberal. Mas tendemos, nesse esforço, a esquecer ou menosprezar uma das suas grandes vantagens: o princípio do voto secretoque permite, mesmo quando as nossas opiniões são minoritárias ou consideradas inaceitáveis pela opinião pública dominante, que, ainda assim, possamos chegar à cabine de voto e exercer livremente a nossa escolha. Esta prerrogativa fundamental levanta, contudo, dificuldades aos politólogos que pretendem não só analisar as tendências de voto, como, acima de tudo, prever essas tendências. Foi por essa razão que a teoria apresentada por Elisabeth Noelle-Neumann, em 1974, foi recebida com tanto entusiasmo: designada como “espiral do silêncio”, esta teoria debruça-se sobre o modo como as opiniões que estamos dispostos a expressar publicamente dependem da nossa percepção da opinião pública dominante. Assim, o facto de uma ideia ser maioritariamente percepcionada como uma opinião errada ou inaceitável levaria a que as pessoas silenciassem as suas posições ou limitassem a sua expressão a grupos mais pequenos e concordantes. A conclusão tem um importante peso em contexto democrático: esse silenciamento conduziria a que opiniões dominantes na opinião pública pareçam consensuais ou maioritárias, quando, na verdade, podem coexistir com maiorias silenciosas ou várias minorias silenciosas. A teoria da espiral do silêncio enquadra-se no estudo da opinião pública e convoca contributos da psicologia social, na medida em que tenderíamos a adaptar o nosso comportamento com medo de sermos socialmente excluídos. Mas ela oferece um contributo particularmente valioso para a ciência política ao chamar a atenção para o facto de haver zonas de silêncio que não são possíveis de cobrir pela análise política da opinião pública ou pelas sondagens. E estas zonas de silêncio, voluntárias, podem dar origem a resultados eleitorais inesperados por não ter sido possível detectar essas posições.

A noção revelou-se, nessa medida, útil para compreender a surpresa com que foi recebida a vitória de Donald Trump, em 2016, e foi aplicada em França, nas últimas décadas, a propósito da Front National: perante uma sondagem cara-a-cara ou por telefone, as pessoas teriam vergonha de reconhecer o voto em Trump ou Le Pen, mas, uma vez na cabine de voto, valeria o princípio de que “what happens in the booth, stays in the booth”.

2O fracasso democrata

Foi, assim, curioso que apoiantes de Kamala Harris tivessem escolhido este princípio de discrição eleitoral para apelar ao voto no Partido Democrata nas recentes eleições. Os dois realizadores que compõem a equipa GRAiNEY Pictures trabalharam com os dinamizadores da plataforma Vote Common Good, direccionada para o voto católico e evangélico, e convidaram duas estrelas de Hollywood para gravar a voz dos anúncios: Julia Roberts, com um apelo ao voto feminino; e George Clooney, com um apelo ao voto masculino.

De acordo com os realizadores, o objectivo era chegar às comunidades evangélicas, onde a pressão social do grupo levaria os seus membros a votar no Partido Republicano, introduzindo a mensagem que a campanha de Kamala lançou desde o início: esta era uma corrida contra um candidato que ameaça as mulheres, pelo que os eleitores se deveriam mobilizar por esta causa fracturante e identitária.

Os anúncios tiveram um forte impacto mediático, mas a sua relevância encontra-se no facto de eles simbolizarem o fracasso democrata: o fracasso de as elites culturais não compreenderem como este tipo de mensagem se encontra coberto pelo paternalismo e arrogância elitistas que têm empurrado o eleitorado para Donald Trump.

Os últimos dias, novamente marcados pela incompreensão do que aconteceu, têm exemplificado de tal forma esse fracasso que levaram Bari Weiss e Oliver Wiseman a escrever directamente aos seus colegas jornalistas e “democratas”:

não se é bem-sucedido numa eleição chamando as pessoas comuns de racistas, sexistas ou estúpidas. As eleições ganham-se ouvindo-as. E a nossa elite mediática meteu a cabeça na areia. Mais uma vez. Parecem pensar que se continuarem a chamar aos norte-americanos bigots selvagens, eles acabarão por perceber a mensagem.”

Pensemos na reacção já célebre da comentadora Joy Reid que, depois de ter considerado que Kamala não foi eleita por ser mulher e negra (um argumento fácil, mas impossível de provar), afirmou que

 “esta foi realmente uma campanha histórica e sem falhas… A Queen Latifah nunca apoia ninguém e veio a público e apoiou-a. Ela tinha todas as vozes de celebridades proeminentes. (…) Não se podia ter feito uma campanha melhor em tão curto espaço de tempo.”

Sim, eu também tive de pesquisar quem era essa Queen Latifah. Mas é mais difícil encontrar resposta para a questão de saber em que mundo paralelo vivem estas pessoas.

3A dissonância política

Muito se irá dizer e escrever para justificar os resultados da recente eleição e o facto de, afinal, não ter sido especialmente renhida nem terem sido necessários vários dias para se declarar a vitória. Mas um dos factores mais relevantes é esta dissonância política das elites democratas, que levou a equipa eleitoral de Kamala a considerar que chamar, todos os dias, estrelas da música e do cinema faria a diferença – quando elas representam precisamente o afastamento do Partido Democrata face ao mundo das pessoas comuns.

Na verdade, essas pessoas, apesar de influenciarem desproporcionalmente a opinião pública norte-americana, não representam as preocupações da maioria da população: não sentem a subida dos preços com o mesmo impacto, não têm de fazer contas para gerir o salário até ao final do mês, não têm problemas com arrendamento, acesso a hospitais e boas escolas – e, acima de tudo, não sentem a ausência de esperança num futuro melhor.

A convicção democrata de que se podiam apresentar como underdogs é nesse sentido risível: os democratas têm ao seu lado as elites académicas e culturais e, em grande medida, também as elites tecnológicas e económicas. E na sua deriva de radicalismo cultural nunca poderão representar os verdadeiros underdogs. Por tudo isto, quando Kamala, no seu discurso de concessão, fala em luta, ficamos na dúvida sobre que luta é essa – tão importante, mas que disse tão pouco à maioria dos eleitores norte-americanos e, em particular, à working class.

ELEIÇÕES EUA     ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA     AMÉRICA     MUNDO

COMENTÁRIOS

José B Dias: ... em que mundo paralelo vivem estas pessoas. Vivem nos ecrãs das diversas televisões, nos canais de rádio, nos filmes de Hollywood, nos palcos e nos jornais ... 

Paulo Silva: A luta da Kabala é a guerra cultural das identidades - com classes ou sem classes, porque o proletariado já não é o que era… ou que nunca foi. Num desabafo em jeito de lamento dizia, numa aula, um académico associado à nova esquerda, que as classes trabalhadoras eram profundamente conservadoras.

Sobre um caso decididamente arrumado, mas cuja curiosidade ainda apela ao discurso, quando bem feito.


Apontamento

 

Sobre a falta de isenção na comunicação Social, nestes tempos de celeuma. Texto de JOSÉ MANUEL FERNANDES.

O jornalismo está a suicidar-se. E isso é grave para a democracia

A razão de ser do jornalismo é a formação de uma cidadania bem informada, com confiança na informação que recebe. É essa confiança que muito do actual jornalismo está a comprometer, como vimos nos EUA

JOSÉ MANUEL FERNANDES Publisher e colunista do Observador

OBSERVADOR, 11 nov. 2024, 00:2011

Aconteceu ter de coligir uns dados sobre a evolução da confiança dos cidadãos dos Estados Unidos nos órgãos de informação tradicionais exactamente no dia em que estava a decorrer a votação para a Casa Branca. Havia um dado que eu já conhecia: neste momento a imprensa norte-americana (jornais, televisões e rádios) é a instituição pública de que os cidadãos mais desconfiam. O seu prestígio bateu literalmente no fundo, desceu mesmo abaixo do Congresso, habitualmente a instituição mais mal vista. Mas havia um outro dado que eu não conhecia: só uma vez no passado tinham estes índices de confiança no jornalismo descido tão baixo, e esse ano tinha sido 2016. Numa altura em que poucos se atreviam, com seriedade, a prever o resultado da eleição, naquele dia das sondagens 50/50, interroguei-me sobre se este novo mínimo de confiança nos órgãos de informação tradicionais não seria um indicador de que poderia vir aí uma surpresa, como a de 2016.

Escuso de vos descrever o que aconteceu nas horas seguintes, e o que continua a acontecer por estes dias quando uma parte do “comentariato” e outra boa parte dos que pontuam nas redacções continuam a ter dificuldade em sequer tentar compreender porque é que Trump ganhou, sobretudo em tentar compreender porque é que há tanta gente que não só pensa de forma diferente, como vota de forma diferente. Ou sequer em imaginar que isso pode suceder, entre outros motivos, porque essa gente vive de forma diferente, tem outras inquietações e outras urgências.

Há oito anos, quando a grande comunicação social norte-americana ficou em estado de choque por não ter sequer previsto a hipótese de Trump ser eleito, escreveu-se imenso sobre a necessidade de os jornalistas saírem da sua “bolha” e de procurarem descer às realidades daquelas partes da América que tinham empobrecido e se sentiam esquecidas e marginalizadas – essa América que dera a vitória a Trump. Devo dizer que sucedeu exactamente o contrário. Quem lê, como eu leio quase diariamente, a imprensa dos Estados Unidos percebeu que em vez de procurarem sair da sua “bolha”, os jornalistas encarniçaram-se antes em tomar sempre o partido anti-Trump, fosse qual fosse o debate nacional em curso. Houve excepções, há sempre excepções, mas ainda nesta campanha eleitoral era possível tropeçar em artigos, publicados pelas elitistas revistas de Nova Iorque, onde se tratava de “explicar”, ridicularizando, a forma como os eleitores “pouco instruídos” votavam.

Infelizmente em Portugal não temos estudos que nos permitam perceber o grau de confiança nos nossos órgãos de informação, infelizmente só sabemos que a circulação dos jornais em papel continua a cair vertiginosamente e que a audiência das televisões tradicionais também está a dar trambolhões. Tal como sabemos que a maioria, eu diria mesmo quase a totalidade, das empresas de comunicação social atravessam dificuldades financeiras e que os profissionais deste sector ganham, por regra, bastante mal. Disso tudo temos conhecimento porque não faltam por aí muitas queixas (algumas legítimas) e algum choradinho (esse mais dispensável, para ser generoso no epíteto).

Em contrapartida, o que nós sabemos também dos Estados Unidos é que a confiança nos órgãos de informação não é a mesma entre democratas e republicanos: entre os democratas ainda se aguenta acima dos 50%, nos republicanos caiu para cerca de 10%. Isto é um sinal claro sobre o porquê da perda de confiança nos media tradicionais: eles são vistos como pouco ou nada objectivos, ou dito de uma forma mais dura, como sendo tendenciosos e muito, mas mesmo muito inclinados para a esquerda, para o lado dos democratas.

Uma vez que está fresca a memória de quem foi seguindo a cobertura das eleições americanas nos nossos órgãos de informação, pergunto-me que leitura farão os leitores, ouvintes, espectadores do que lhe foram dizendo nestas últimas semanas ou meses? Quantos repetiram, e repetiram, e repetiram que uma vitória de Trump seria praticamente impossível, isto desde que Biden se retirou da corrida? Quantos foram dando conta das motivações dos que iriam votar Trump e quantos só se preocuparam em repetir que a democracia estava em perigo, o principal argumento da campanha de Harris?

E já que a memória também continua fresca sobre alguns acontecimentos políticos em Portugal, quantos jornalistas se tentaram colocar nos sapatos dos habitantes dos bairros sociais de Loures, nos sapatos de uma daquelas famílias a quem incendiaram e destruíram o carro, ou que viram aquele homem a arder dentro de um autocarro, e procuraram imaginar como essas pessoas se sentem, ou sentirão, por serem obrigadas a viver em zonas onde há vandalismos contra os quais a polícia parece impotente?

O clamor um pouco por todo o lado – e neste caso também no interior do Partido Socialista – foi logo o de necessitamos de agir “com humanismo”, daí decorrendo a necessidade de condenar de imediato as declarações do autarca socialista de Loures (não fosse o homem socialista e creio que o clamor seria ainda maior).

Não vou neste texto discutir a bondade ou o acerto dessas declarações, vou apenas chamar a atenção para que uma das obrigações dos jornalistas é não serem apenas pés de microfone que andam a saltitar de protagonista político em protagonista político a colher declarações, e que, em vez disso, devem procurar perceber, e depois explicar ao seu público, o porquê de uma declaração aparentemente tão surpreendente.

Imagino que haverá muito poucos jornalistas a habitar em bairros sociais, mesmo sendo baixos os salários nesta minha profissão. Sendo assim, imaginem que não estão num bairro social, administrado por uma autarquia e subsidiado com dinheiro dos contribuintes, mas sim no vosso prédio, no vosso bairro mais ou menos pacato, no vosso espaço onde as coisas se vão resolvendo em reuniões de condóminos ou em negociações com os senhorios. E agora imaginem que um dos vossos vizinhos incendiava o carro que tinham estacionado na rua, um carro que tanto vos tinha custado comprado em segunda ou terceira mão. E que antes disso esse vizinho tinha dado cabo do elevador. Ou então danificado o sistema de recolha de lixo. O que fariam? Dar-lhe-iam uma palmadinha nas costas a próxima vez que se cruzassem com ele nas escadas, citar-lhe-iam a Constituição acrescentando que em Portugal não há penas acessórias, ou em vez disso tentariam que ele deixasse de ser vosso vizinho?

Não, nada disso. É mais fácil apanhar o comboio onde todos estão a entrar e dizer que estamos todos a ser infectados pelo discurso do Chega, sem perceber, ou sem querer perceber, que é exactamente assim que se vai fazendo o sucesso do Chega.

Eu podia continuar a multiplicar exemplos, uns mais políticos, outros mais ligados a modas culturais, outros sobre como certos estereótipos infectaram redacções inteiras e de como a ideia de que o jornalista é independente (e deve ser) tem cedido espaço ao jornalismo quase activista (nos Estados Unidos foi mesmo isso que aconteceu, com os resultados que estão à vista). Mas não vou continuar a multiplicar pequenas histórias, vou apenas sublinhar o que me parece essencial: quando enchemos a boca a dizer que as redes sociais estão a matar a democracia devíamos estar bem conscientes que aquilo que pode matar, ou pelo menos comprometer gravemente a democracia, é o suicídio do jornalismo, um suicídio a que estamos a assistir em directo e ao vivo.

Nós não fazemos jornalismo para nossa auto-satisfação ou para estarmos de bem com os nossos pares – nós fazemos jornalismo, ou devíamos fazer jornalismo, para que exista uma cidadania bem informada e com confiança na informação que recebe. É essa confiança que muito deste jornalismo enviesado está a comprometer, porventura irremediavelmente.

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COMENTÁRIOS (DE 11)

A. Samora:Não, José Manuel, não! Deixem-se de “missões” e de construir cidadanias. Passem as notícias com o mínimo de “gordura”. Escrevam também um ou outro artigo com a vossa opinião. E deixem a “cidadania” connosco. Estamos fartos de educadores.                   Maria Ribeiro: Comunicação social ACORDEM. As pessoas informadas que conseguem pensar pela própria cabeça estão fartas de wokismos histéricos, dos fretes que a CS faz à esquerdalha. Nunca imaginei ver o Editorial do Expresso tão rasca parece a voz do avante, mais polidinho. Até o Observador já vai indo na onda infelizmente parece que a 'corrente' é forte demais.           Francisco Figueiredo: Devia começar por dizer isso a alguns dos seus jornalistas.           observador censurado: Leu o jornal Observador antes das eleições legislativas de Março, há cerca de 8 meses? Não reparou que: O Observador estava a violentar os leitores ao distribuir panfletos de um partido, o Partido Socialista Dois (PSD)? O Observador "informou" os leitores que um líder partidário "perdeu" todos os debates televisivos? Quer fazer alguma coisa pelo jornalismo? Comece pela sua casa. Chame ao seu "gabinete" os srs. Miguel Pinheiro, Rui Antunes e Miguel Carrapatoso e dê-lhes o prazo dum mês para aprenderem a escrever um texto jornalístico.  Passado um mês, se eles continuarem a emitir opiniões nos textos jornalísticos, despeça-os com justa causa pois estão a contaminar os restantes colegas.        Pertinaz: Permita-me partilhar que como cidadão tenho grande dificuldade em identificar jornalistas… Aqui o que percepciono são activistas com agendas políticas próprias ou “patrocinadas” por terceiros, mais ou menos identificáveis… é uma pouca vergonha… A esperança é que paulatinamente essas empresas de comunicação social vão falindo, num processo de selecção natural…!!!

 

DE CARLOS CARRANCA


Um texto expressivo de revolta e mágoa, na sua débil condição humana de sofredor, sobre ESSE TAL que o ser humano, na sua precariedade física e espiritual - e todavia de superior criação, como a que este texto atesta - entendeu como Único Princípio ou Fonte desse Mundo físico e espiritual, Universo da nossa estranheza vã, porque condenada ao insucesso de uma busca definitivamente inútil.

Texto recebido por e mail, posto no facebook de uma Mulher admiradora e amante do seu marido, escritor de mérito, que sobre o eterno tema das origens, fabrica razões certeiras de uma argumentação irónica, talvez sarcástica, em face da inutilidade engenhosa, embora necessária, do mito.

DEUS (2)

Fiquei a meditar sobre a acusação que despudoradamente Te fiz no dia de ontem. Ser Deus talvez não seja a melhor condição porque só podes mandar, nunca obedecer, a não ser que às Tuas próprias ordens. Não ter pai nem mãe, ter nascido sem ter sido fruto de um acto de amor e ser o princípio de tudo com os poderes absolutos até de aniquilamento da Tua própria obra, deve fazer de Ti um ente fatalmente solitário. Mas como ninguém te viu nem vê, podes passear-Te por onde quiseres porque sendo Tu tudo, não és ninguém. Para se ser alguém é preciso ser gente. E gente foi Jesus que se dizia Teu filho mas com pais biológicos, um homem e uma mulher chamados José e Maria, até chegar a Cristo. Mas antes foi somente O Menino Salvador do Mundo. Tanta esperança desperdiçada! E se Jesus foi menino e se fez homem e foi condenado, torturado e crucificado, quem terá sido o verdadeiro algoz, essa massa informe de humanos que despejavam ódio, misturado na alienação religiosa e na política, ou TU que do Teu silêncio majestático, impávido e sereno assistias ao cumprimento da Tua vontade - a morte do Teu filho por terceiros, fazendo como todos os irresponsáveis, atirando a culpa para outro, o homem com seu desgraçado livre arbítrio? Pudera! Não tens pais que Te repreendam pelos Teus actos! És Tu e só Tu e os brinquedos de carne e osso que nós somos, incapazes de compreender os teus acessos moralistas de bom ou mau humor.

Que tristeza deves sentir, obrigado a ser único e eterno, sem princípio nem fim!

Lisboa (IPO - sala de espera de estomatologia/oftalmologia) 5.XI.2018

Carlos Carranca

 

domingo, 10 de novembro de 2024

O inesperado

 

Mas apalhaçado, sem a bestialidade dos outros casos de guerras imprevistas, como a do Hitler ou a do Putin, mas criando expectativas e confusões. Vamos esperando para ver. Entretanto, leiamos as lições poderosas, como mais esta, de Jaime Nogueira Pinto, que dão calor às vidas, sobretudo as que se vão sentindo arrefecer pelos pesadelos em seu redor.

O balde de água fria

A vitória de Trump foi também a confirmação de um fenómeno de reacção popular ou populista com raízes históricas, indiciando o fim de um ciclo e princípio de um outro.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 09 nov. 2024, 00:1863

Quem observasse a realidade ou o mercado das apostas eleitorais (cuja precisão se revelaria assinalável) estranharia o seu flagrante contraste com as sondagens e com as projecções da generalidade dos especialistas, comentadores e pivots. Mas, enfim, os especialistas, comentadores e pivots deviam saber do que falavam, e as empresas de sondagens, que diziam ter finalmente apurado um sistema de projecção eleitoral meticuloso e fiável, deviam estar certas – e davam um empate técnico entre os dois candidatos à presidência americana, entremeado aqui e ali pela ligeira vantagem de um dos contendores, que ora era insignificante porque estava “na margem de erro” (sobretudo se a vantagem fosse republicana) ora indiciava uma clara “dinâmica de vitória” (sobretudo se fosse democrata).

O balde de água fria

Não vale a pena olhar o coro de lamentações e agoiros sobre a manipulação de “redes sociais” e “fake news” (de um só lado, evidentemente) que vai por esse mundo de Cristo perante o que aconteceu: se temos Gengis Kahn, se Hitler, se Nero na Casa Branca, é escolher entre o leque de tiranos avançados por variadíssimos comentadores de referência. Uma coisa é certa: o que aconteceu na terça-feira, 5 de Novembro, não devia ter acontecido, não podia ter acontecido. Houve jornalistas que choraram e universidades americanas que decretaram períodos de nojo e de terapia ocupacional pós-traumática.

À medida que as assembleias de voto iam fechando na América e a onde vermelha ia chegando, ainda se esperava que a onda azul – previsivelmente mais tardia – chegasse para varrer tudo; até porque se antecipava que Estados como o Texas e a Flórida, declaradamente republicanos, resvalassem para a esperançosa categoria de “Estados oscilantes”.

Doutíssimas análises de académicos e jornalistas sobre determinantes identitárias (de resto muito pouco fluídas) que pesariam na hora da escolha, à boca da urna, encheram a noite: o voto das mulheres, novas e velhas, solteiras e casadas, com filhos ou sem filhos, brancas, latinas e afro-americanas, rurais ou urbanas; o voto dos homens, novos e velhos, rurais ou urbanos, brancos, hispânicos e negros. Todas as minorias americanas historicamente dominadas foram contempladas, até as que transitavam de dominadas a opressoras ou que acumulavam as duas valências, como os homens afro-americanos que, “por misoginia”, pudessem, eventualmente, votar Trump, ou como as mulheres latino-americanas que, “por atraso ou preconceito religioso”, reagissem negativamente à “liberdade reprodutiva” promovida pela candidata democrata. Mas, tudo somado, “sempre que as mulheres se mobilizavam, ganhava o Partido Democrata” e as mulheres haviam de acorrer em força para salvar a Democracia. E, como era sabido, a Esquerda tinha, tradicionalmente, “as minorias” na mão.

A narrativa entrava depois nalguma hesitação e a sociologia analítica também: algumas vozes marxistas mais velha-escola chamavam a atenção para a impossibilidade de ter, lado a lado, Musk e os trabalhadores brancos do Rust Belt, vítimas da deslocalização das indústrias, e os comunistas clássicos não deixavam de lamentar que a saudosa luta de classes Proletariado versus Burguesia tivesse ido para ao caixote do lixo da História, vencida pelos marxismos imaginários ou pelas preocupações ora demasiadamente umbilicais ora demasiadamente planetárias, ora muito micro ora muito macro, da nova esquerda radical, que assim ia abandonando os trabalhadores.

Raízes históricas

A verdade é que antes de a Esquerda ter abandonado os trabalhadores, já muitos trabalhadores tinham abandonado a Esquerda, a começar pelos franceses que, perante a desindustrialização acelerada pós-Guerra Fria e a glorificação dos partidos tribunícios da Esquerda da imigração desregulada e culturalmente hostil ou de difícil integração, migraram para partidos como o Front National (hoje Rassemblement National).

Era uma reacção popular ou populista com raízes históricas: no “petit peuple” encolerizado e arruinado pelo escândalo do Panamá nos finais do século XIX, que está na base dos movimentos nacionais-populistas franceses; nos blue-collars americanos que, no tempo da guerra do Vietname, votaram em massa em Nixon, e depois em Reagan, nos anos 80.

Foi a renovação deste fenómeno, indiciando o fim de um ciclo e o princípio de um outro, que surpreendeu muitos a 5 de Novembro. Porque o que se está a passar na América e no mundo euro-americano é o início de um ciclo em que valores e princípios políticos muito atacados e marginalizados pela cultura liberal e internacionalista do primeiro pós-Guerra Fria ressurgem fruto dos desequilíbrios internos e geopolíticos causados pela sua marginalização. A nação, a religião, a família, a justiça social, a liberdade de pensamento e de expressão voltaram em força pela voz e o voto “do povo”, por vezes através de excêntricos arautos.

Isto porque os “cêntricos” arautos do conservadorismo popular se deixaram impressionar e intimidar pelos anátemas e interditos de uma Esquerda que, a partir dos anos 60 do século passado, se desligou dos “socialismos reais” procurando, com base num “jovem Marx” e numa Escola de Frankfurt redescobertos e adaptados, reactivar a revolução possível.

Como observou na sua lucidez tranquila, quase reservada, Alexis de Tocqueville em L’Ancien Régime et la Révolution, a Revolução Francesa tinha criado, pela primeira vez, “uma pátria comum intelectual da qual homens de todas as nações se podiam tornar cidadãos”, uma coisa que, acrescentava, só se podia encontrar “em algumas revoluções religiosas”.

Um novo ciclo

Um mundo sem fronteiras sexuais, familiares e nacionais definidas ou permanentemente renegociáveis, reinventáveis e instrumentalizáveis num emaranhado de opressores e oprimidos e de activismos racializados, de género ou planetários foi a última tentativa à Esquerda de instaurar uma nova ideologia global com contornos religiosos e abrir um novo ciclo revolucionário. É daí que vem, nas últimas décadas, a vaga de Nova Esquerda a que os quadros dos partidos tradicionais do centro-direita foram cedendo passo, silenciosa ou entusiasticamente, por temor, táctica, respeito, desejo de “modernidade” ou adesão, dissociando-se progressivamente do seu povo.

A resistência popular ao credo imposto e ao “alheamento das elites” teria de chegar. E chegou com a vaga nacional-conservadora e a revolta popular perante a tentativa de destruição de tudo o que articula o mundo há milénios – do corpo e da vida à família, da terra à liberdade. E a reacção acabou por encontrar padrões de rejeição supra-nacionais.

Por agora, foi nuns Estados Unidos profundamente divididos, nos mesmos Estados Unidos que, com Ronald Reagan e George H. Bush, assistiram à derrota e à libertação do império comunista e da velha “ideologia global” da Esquerda, que Donald Trump e D. J. Vance alcançaram a grande vitória estadual e popular de terça-feira, 5 de Novembro, prenunciando um novo ciclo.

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COMENTÁRIOS (DE 63)

Pedro CF: Muito bem Jaime NP! Dos poucos católicos e conservadores que se mantiveram coerentes nestas eleições. Que vergonha a quantidade de outros vendidos ao wokismo, ao politicamente correcto com vontade de se mostrarem modernos mas que só mostraram falta de valores e de convicções.     Jorge Carvalho: Não fui capaz de adormecer sem ler o último artigo JNP que como sempre tem um conteúdo histórico extraordinário que nos ajuda a estruturar o presente no meio do emaranhado novelo de patranhas e armadilhas da comunicação social esquerdoida. É um óptimo serviço para a sanidade mental neste manicómio mundial do multiculturalismo e globalismo do presente. Valeu a pena, obrigado JNP         Fernando c:  Brilhante. Faz-me pensar nuns comentadores do Observador, até de origem africana, que se insurgem contra a forma como a imigração Africana é tratada pelo Estado Português - que na sua esmagadora maioria tem transportes subsidiados, casa do Estado, saúde gratuita, escolas gratuitas,  e subsídios diversos, esquecendo-se , por exemplo, do que está a acontecer em Maputo, com dezenas de mortos face à repressão policial e às péssimas se não miseráveis condições de vida do povo Moçambicano, face a uma corrupta elite política e tendencialmente proto-comunista.                Novo Assinante: Já li teorias da conspiração mais bem elaboradas. Mas a necessidade de escrever qualquer coisa para receber a avença ao fim do mês e assim poder pagar as despesas domésticas, a esta pobreza franciscana obriga.               A D: Este artigo deveria ser lido a toda a hora pelo Montenegro e seus companheiros de estrada, pois a análise, certeira, do prof Nogueira Pinto mostra não apenas o óbvio, ou seja, a derrota inexorável da esquerda woke e dos seus valores inventados e anti-naturais, o absurdo da inexistência de raças (nós olhamos para um europeu e para um africano e vemos o mesmo? Claro, nos direitos sim, mas na biologia?), da historiografia que pretende ler os movimentos sociais do pretérito como se fosse presente (a condenação dos esclavagistas de quinhentos, brancos que eacravizavam negros como se vivessem agora, mas já não os esclavagistas de 5000 pois escravos e esclavagistas eram todos brancos), etc., mas também da direita dita democrática (por oposição à populista)… enfim, se não arrepiar caminho a AD será engolida pelo decurso normal da História e será varrida para o mesmo caixote do lixo da esquerda. O que é normal, pois em verdade o que distingue o PS do PSD não justifica destino diferente.                 Tomazz Man: Pf envie ao dr Paulo Portas, com um abraço de ânimo.                     Miguel Seabra > Liberales Semper Erexitque: Bem visto! Berlusconi salvou a Itália do comunismo ganhando eleições democraticamente. E tal l como Trump foi enxovalhado pelo jornalixo porque fazia operações estéticas , pintava o cabelo e gostava de sexo mas só com mulheres… também era milionário e não foi para a política para encher os bolsos. Enfim, o demónio em pessoa.                 A D > Carlos Grosso: Está enganado, as empresas de sondagens não erraram, falsificaram, o que é diferente. De resto não estranha que há dez ou quinze anos a esta parte, quando tudo melhorou só as empresas de sondagens pioraram e passaram a nunca acertar quando a direita ganha?               Coronavirus corona: Aldous Huxley, no prefácio acrescentado em 1946 ao seu livro "Admirável Mundo Novo" escreveu o seguinte:  "não há nenhuma razão, bem entendido, para que os novos totalitarismos se pareçam com os antigos. O governo por meio de bastonadas e de pelotões de execução, de fomes artificiais, de detenções e deportações em massa não é somente desumano (...) é - pode demonstrar-se - ineficaz. E numa era de técnica avançada a ineficácia é pecado contra o Espírito Santo. Um estado totalitário verdadeiramente «eficiente» será aquele em que o todo-poderoso comité executivo dos chefes políticos e o seu exército de directores terá o controlo de uma população de escravos que será inútil constranger, pois todos eles terão amor à sua servidão. Fazer que eles a amem, tal será a tarefa, atribuída nos estados totalitários de hoje aos ministérios de propaganda, aos redactores-chefes dos jornais e aos mestres-escolas. Mas os seus métodos são ainda grosseiros e não científicos". Mais à frente diz qual ou quais os novos métodos. No fundo, sentirmo-nos mais livres com menos liberdade. E dá um exemplo muito curioso: "à medida que a liberdade económica e política diminui, a liberdade sexual tem tendência para aumentar, como compensação"               klaus muller: J. N. Pinto tem sempre publicado óptimos artigos aqui no OBS. Mas desta vez excedeu-se: está excelente.                  bento guerra: As pessoas estão fartas de estados que não funcionam e das oligarquias que os usam, em nome da liberdade e igualdade. De vez em quando, dão um murro na mesa, a que chamam "populismo" e anti democracia, mesmo que expresso em eleições                      Carlos Chaves: Excelente análise, esperemos que esta nova administração seja capaz de definitivamente arredar a esquerda do poder por longas décadas, através de políticas contrárias às que nos quiseram vender!                João Floriano > Miguel Seabra: A Meloni também ia ser a desgraça de itália. Parece que não está  acontecer nada de estranho por lá e a democracia não está em perigo.                   Maria Augusta Martins > Jorge Pereira: Óptimo para lhes arrefecer as esquentadas cabeças!                 Francisco Almeida: Depois de Mithá Ribeiro, JNP é o primeiro cronista que vê nesta eleição o fim de um ciclo e início de outro. Bem sei que são ideologicamente próximos mas ambos são analistas brilhantes e usaram metodologias e até dados diferentes. É um grande sinal de esperança, já não para mim mas para os meus filhos e netos. O que acontece nos EUA chega meia dúzia de anos depois a Inglaterra e a França e vinte a trinta anos depois a Portugal. P.S. - A crise em curso na Alemanha, poderá agilizar a mudança mas, infelizmente, também pode criar mais problemas do que os que resolve.                Carlos Grosso: Seria de preparar muito melhor as empresas de sondagens, pelo menos as exíguas que não se dispõem à militância, para um fenómeno extremamente compreensível que é o seguinte: quando existem partidos políticos muitíssimo atacados e marginalizados pela cultura mediática dominante, os potenciais votantes nesses partidos tendem a não revelar a sua tendência de voto, e isto acontece em qualquer espectro do leque partidário.  No caso dos EUA, dado que existem basicamente dois partidos, este fenómeno foi claríssimo relativamente aos eleitores de Trump.                    José Miranda > Filipe Paes de Vasconcellos: Que grande azia!                 Joana Quintela: Muito bom, verdadeiro, sério e lúcido como sempre.                  José Miranda: Grande lição! Mais tarde ou mais cedo o povo tem sempre razão.                Coxinho: O costume: nada a opor. E o brilhantismo de sempre.           Pedro Correia > Filipe Paes de Vasconcellos: Ele já esteve no topo do mundo, e que fez ele de tão terrível e assustador?!     Manuel Gonçalves: Friedrich Merz líder da CDU, um nome a fixar, falou com Zelensky e terá dito que, se for eleito Chanceler, ele terá as armas que necessitar. Bem como tem tido posições muito afirmativas quanto ao reforço político, económico, orçamental e de defesa comum da UE. A Europa precisa de determinação e políticos competentes, para sacudir rapidamente o jugo totalitário de Putin e autoritário de Trump; a Alemanha é absolutamente central e insubstituível, nessa nova fase vital. O Brexit prometia restaurar a grandeza britânica, mas traduziu-se numa mediocridade absoluta, como era previsível. O Trump e os outros populistas são a cauda do long Brexit e estão condenados: - ao insucesso, porque o nacionalismo é isolacionista e empobrece/diminui; - a converterem-se disfarçadamente na direita mais tradicional, embora por oportunismo profiram eleitoralmente proclamações de ultra direita - Meloni. Os populistas conscientes da confrangedora incapacidade dos seus lideres, amparam-se na debilidade intelectual dos wokes, para apoiar, entre outros, essa reação espúria que é o trumpismo - um fantoche de publicidade e propaganda, que logrou vender bem a sua imagem de suposto fazedor. Mas a correlação não vai ser entre direita e wokismo, pela absoluta desproporção dos termos; esta é matéria residual, que o simples bom senso resolve. A verdadeira disputa vai ser feita à direita, entre políticos competentes que percebem as sinais do futuro, sabem gerir as sociedades e políticos que reproduzem os modelos do passado, digamos, conduzem com os olhos postos no retrovisor - não vão longe..                    Filipe Paes de Vasconcellos: O meu enorme balde de água gelada foi verificar que quem vai mandar no mundo é um tipo perfeitamente execrável e pior do que tudo imprevisível o que o torna perigosíssimo. O combate ao wokismo, com que concordo!, não deveria valer tudo, inclusivé colocar no topo do mundo uma pessoa tão radical quanto perigosa. Costuma não correr bem quando os extremos se tocam e se chocam tão violentamente, porque daí não sairá nada de bom.         Liberales Semper Erexitque: se temos Gengis Kahn, se Hitler, se Nero na Casa Branca, é escolher entre o leque de tiranos avançados por variadíssimos comentadores de referência Felizmente que eu não sou "de referência"! Talvez por isso sou muito mais modesto na minha procura no mundo de um paralelo para o agora regressado Trunfas americano. A mim, mete-se pelos olhos dentro que esse paralelo, esse precedente, existe, é recente, e é bem europeu: Sílvio Berlusconi. Não tem a panache  de Gengis Cã, Hitler ou Nero, mas é muito mais útil para compreender o inquilino da Casa Branca. Donald Trump é o Berlusconi americano. Podia ser pior, é ou não é?! Não vai ser grande coisa para os americanos? Não, mas isso é problema deles!               João Floriano > Ruço Cascais: O tema pode ser o mesmo mas a apresentação do conteúdo é muito diferente. Tem  a ver com  a ironia mordaz de AG. JNP raras vezes ultrapassa uma ironia leve, muito calma e pouco agressiva. Eu gostei igualmente de ambos os artigos. A mais valia de AG é precisamente  a ironia, a de JNP é a verdade calma e irrefutável dos factos.               Carlos Real: Numa América claramente dividida e bastante cristalizada a vitória de Trump foi claríssima. Subiu a sua percentagem em todos os Estados, excepto Washington (não o DC da capital mas o de Seattle) em que ficou na mesma. Por sinal foi nestes dois Estados que Kamala subiu uns pífios 0.4 e 0.1% As grandes subidas dos republicanos foram na Califórnia + 6% na Flórida + 5% no Texas 4% e nos Estados do Leste. Maryland e New Jersey + 5% Massachusetts e Illinois com + 4% Na grande maioria dos Estados as variações face a 2020 foram mínimas ou inferiores a 3% Perante estes resultados a minha conclusão é que a vitória de Trump se deveu claramente a dois factos. A inflação que foi muito alta a meio do mandato do Biden, e a invasão dos ilegais e sem abrigo no centro das grandes cidades. Tudo o resto são peanuts. Tal como Trump, apenas perdeu a eleição de 2020 por causa da covid. Agora os comentaristas do sistema vêm com a narrativa da desgraça da vitória do Trump. Já estou a ver os russos a chegar ao Terreiro do Paço. A paragem na economia verde e os pinguins dos polos a queixarem-se do tráfego automóvel. Sim, as alterações climáticas, todos sentimos os seus efeitos. A grande questão é saber se são os humanos que as aceleram ou se são fenómenos naturais. Sempre existiram alterações climáticas, e por exemplo a Revolução Industrial em Inglaterra com imensa poluição das fábricas não trouxe nenhuma mudança climática. Felizmente a vitória de Trump vai trazer mais paz, tanto na América como no Mundo e possivelmente vai abrandar a invasão dos ilegais e, travar o movimento ditatorial do wokismo que pode acabar com a criação artística. Qualquer dia tudo seria igual como nos centros comerciais. Será que ainda posso escrever usando os carateres em negro? Ou ao utilizá-los estou a fazer descriminação positiva?               Alexandre Barreira: Pois. Caro Jaime, Ou melhor: Um balde de sapos em água fria...!!!                 Carminda Damiao: Excelente artigo. A seguir aos EUA, muitos países seguirão na mesma linha. O povo está farto do wokismo e das ideologias absurdas da esquerda. A direita fofinha também tem os dias contados.              maria santos: "o que aconteceu na terça-feira, 5 de Novembro, não devia ter acontecido. Pois não, dizem os das esquerdas. Os tumultos incendiários que aconteceram na semana de 14 a 20 de Outubro nas periferias urbanas de Lisboa, Almada, Setúbal, Loures, também não.  Dizemos nós, as pessoas que trabalham. Temos pena e temos tempo.                   Maria Nunes: Parabéns JNP, por mais um excelente artigo.                 klaus muller > Manuel Lisboa: lol, não direi que acho o Trump "viscoso e repelente", mas não o convidaria para jantar na minha casa, a não ser que trouxesse a mulher e a filha. Posso não simpatizar com ele pessoalmente, mas tudo isso é ultrapassado pelo anti wokismo que ele representa.  Ruço Cascais: É curioso como este artigo sobre vencedores e vencidos das recentes eleições norte-americanas merece o meu aplauso, enquanto que o outro mais acima, do Alberto Gonçalves, dissertando sobre o mesmo tema, obrigou-me à contestação.  Concordo com o JNP, e, acrescento que o progressismo e a tradicionalismo não são antagónicos.