Que
o pontapé sofrido em tempos pelas colónias e pelos colonos só mereceria o
silêncio - talvez envergonhado (mau grado a ingenuidade do apodo, reconheço) que
se instaurou definitivamente cá por casa, vistas as consequências pesadas desses
povos migratórios em fuga dos seus próprios países, que o mundo chamado
ocidental tem amparado, sem muitas queixas, dada a sua responsabilidade nisso. Tirante
lá o Trump - mas talvez com o mesmo comedimento futuro, satisfeito hoje com o
cargo que conquistou, com a espectacularidade da sua exuberância de ricaço que,
por tal, o mundo passa a respeitar, humildemente, como já estamos a observar. Não,
não vale a pena repor passados, quando ainda estamos vivos. Jamais esquecidos.
Moçambique, o PS e
um elogio
Não foi por acaso que António Costa -
desde sempre um político de facção - se permitiu escrever agora o que escreveu.
Fê-lo num gesto difícil de classificar em alguém prestes a tomar posse na
Europa.
MARIA JOÃO AVILLEZ
JORNALISTA, COLUNISTA DO OBSERVADOR
OBSERVADOR 13 nov.
2024, 00:2260
1É nestas ocasiões em que a diferença
entre “conhecer” e não conhecer se pode fazer sentir também no coração. Olho
para a televisão e aflijo-me com Moçambique. Fui lá pela primeira vez num
grande paquete, tinha vinte anos, com os meus pais e as minhas irmãs, voltei
depois muitas vezes. Umas com a família que formei; outras em trabalho, outras
para fazer um livro (“África
Dentro”, Texto Editora), uma
maravilhosa “encomenda” de Rui Vilar, então presidente da Gulbenkian. Testemunhei in loco o “antes” da independência,
nas décadas de sessenta e inicio de setenta e o “depois”, em diversos
regressos. Andei por muitos lados e de roda de muitas gentes, políticos,
intelectuais, académicos, escritores, Igreja, empresários. Queria contar
Moçambique. Entrevistei um presidente da Republica, dirigentes da Frelimo,
ministros, conversei longamente com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama
(entretanto falecido).Tudo isto enquanto ia podendo observar, “in loco” e ao
vivo, a “travessia” moçambicana de um país colonizado para uma pátria
independente, e olhando com curiosidade a passagem de uma cidade colonial
baptizada de Lourenço Marques para uma cidade capital, de seu nome Maputo.
Com o que isso implicou naturalmente de conquista de poder e
afirmação de uma nova legitimidade — mudanças de nomes de ruas, de símbolos, de
bandeiras — mas de mansinho e
devagar, ia também ganhando terreno algo de parecido com o desleixo. Hoje, tantas décadas e algumas viagens depois, não
duvido que o omnipresente, demencial e corrompido poder da Frelimo, foi
directamente proporcional α decadência que persistentemente fazia o seu
caminho: na magnifica capital moçambicana, desenhada pelo general do exercito
português, Araújo, com os seus bairros de invejável geometria, largas avenidas,
palmeiras e ibiscos e o Índico aos pés, muita coisa se veio a deteriorar.
Como também conheci as outras áfricas de
expressão portuguesa — e também antes, e depois das suas independências —
percebi um dia que apesar de tudo, havia uma eleita e era Moçambique. Era a eleita e era-o até ao revés do
comum dos portugueses que há muito conhecendo ou vivendo nestas áfricas — e não
apenas nesses idos de sessenta e setenta do século passado — tinham um “fraco”
fortíssimo por Angola e não trocavam Luanda por Lisboa. Eu não.
De cada vez que regressava a Maputo, α Beira, α Ilha, a Pemba, a Quelimane, a
Nampula, era a Moçambique que voltava. Celebrei-a em boas marés — quando o
país teve um rumo e o seguia aparentemente bem, com sólidos resultados e bons
algarismos, certificados internacionalmente (tão bem que um dia o Expresso, há
muito, muito tempo, me mandou a Maputo para ouvir uma apreciável quantidade de
jovens portugueses que de Portugal para lá se tinham mudado com família e
bagagem: acreditavam com empenho e fé no futuro daquela nova pátria).
E
fui em más marés, como no auge das lutas civis entre a Frelimo e a Renamo; na
“oficialização” de um poder cada vez mais absoluto, no embate com o flagrante
retrocesso no avisado caminho encetado anos antes. De
cada vez reencontrava-me de novo com políticos, no poder e na oposição,
dirigentes de instituições, académicos, comerciantes (“ah a “Casa Elefante”
frente a esse “monumento” de arquitectura que é a estação de caminho de ferro
no centro da capital”).
Um cúmulo de erros, desperdício,
malfeitorias, ocupação-usurpação do poder pela Frelimo, falsificação dos
resultados eleitorais, narcotráfico. Não sou eu que o digo: sabe-se. E tanto
desamparo, abandono, pobreza: os números são hoje aterradores. Uma miséria
nacional.
Se conto e lembro tudo isto É porque olho
agora para a televisão — ver para descrer — e percebo que talvez já não volte.
E Moçambique talvez também não volte ao que conseguiu já ser após a sua
independência.
Das coisas mais amargas que
conheço é o sabor do “nunca mais”. Este vai-me custar bebê-lo. Chora-se um
lugar como se chora uma pessoa.
2Não sei se era previsível — os espíritos dividem-se –, sei que a
pergunta se me impõe: quem é que manda no PS? Acha-se que
se sabe mas afinal não se tem a certeza. Não fora o caso de Loures e o acaso
ditar que o seu autarca fosse socialista e havia quem pensasse (não eu) que a
liderança política de Pedro Nuno Santos poderia um dia vir de facto a cimentar
o partido, unir de vez as suas tropas, ganhar eleições. É engano. É certo que
havia o antagónico sector “costista” que nunca saiu de “lá” mas agora há mais: alguns dos mais próximos de Pedro Nuno
Santos deixaram, estão a deixar e talvez venham a deixar de vez — de ser o que
ainda são oficialmente: “os próximos do líder”. Eis o que É um facto político e não
uma trivialidade de somenos. Não foi por acaso que António Costa —
desde sempre um político de facção — se permitiu escrever agora o que escreveu,
e publicar o que publicou. Fê-lo num gesto difícil de classificar em alguém
prestes a tomar posse como presidente do Conselho Europeu — mas fê-lo e não por
acaso, agora. Pedro Nuno
Santos não domina o “aparelho”, é este que o manieta a ele, o PS nem
está unido, nem fala a uma voz, nem quer o mesmo, nem rema na mesma direcção.
Dir-me-ão: “sempre foi assim, ainda bem, o PS é plural, pensa pela sua
cabeça”, etc., etc., etc. O que ocorre
não é confundível com pluralidade, são declarações de guerra ou um início de
guerrilhas. Será conforme. O
pretexto chamou-se Ricardo Leão — pertenço ao grupo, minoritário claro está, dos
que perceberam o que ele quis dizer e porque quis dizê-lo, mas das duas uma: ou
o caso Leão, “salvo” pelo próprio Pedro Nuno Santos, calhou afinal que nem
ginjas aos hoje falsos “próximos” para passaram a “afastados”, ou no subsolo
socialista há vida mais movimentada do que se suporia.
3Será que era preciso gostar de
futebol para pasmar e maravilhar com o fulgurante fim de tarde desportivo do
último domingo? Fiquei na dúvida. É que há muito não me lembro de uma
articulação tão poderosa entre os deuses, duas bolas, dois relvados e 44
jogadores. Falo no plural evidentemente porque era impossível não perceber que
ambos os jogos — Sporting de Braga/ Sporting e Benfica/Porto —
independentemente das cores respectivas, tinham que ser vistos. E depois, no
final, que cada um celebrasse consoante a camisola mas até lá toda a atenção
era pouca. Como benfiquista de gema e de sempre, segui porém todo o suspense, a
surpresa, o drama, o golpe de asa, a sorte, o texto e o entre-texto do jogo
do Sporting que o clube não podia perder: horas depois Amorim estaria longe
e noutra morada, naquele domingo era a glória ou o vexame.
Mas admito que apesar da minha
militância encarnada não fosse capaz, logo a seguir, de antecipar a minha
própria festa com “o” Benfica, que vi, frente ao Porto, altíssimo calibre. “à
Benfica”. Melhor era impossível.
Um domingo que ficara na história do nosso desporto, num fim de tarde memorável.
E só mais esta pequena nota com
importância: não será muito vulgar, não é costume — as águias da luz devem
achar mesmo que é proibido — que benfiquistas se entretenham publicamente a
elogiar os seus históricos rivais de Alvalade.
Paciência. O que me interessa aqui hoje
é sublinhar não a proeza futebolística mas a dignidade nos comportamentos.
Em dois: o de Frederico Varandas e o de Ruben Amorim. Observei ambos, ouvi-os,
segui toda a história da saída do treinador. Em momentos tão delicados, duros e
complexos como estes, onde impera quase sempre a paixão e a emoção clubísticas
e quase nunca a razão, é muito raro que seja a seriedade, o bom comportamento —
a integridade, numa palavra — que prevaleça. Sobre o resto, todo o resto que
aqui não foi pouco.
POLÍTICA PS MOÇAMBIQUE ÁFRICA MUNDO FUTEBOL DESPORTO
COMENTÁRIOS (de 61):
afonso
moreira: Moçambique, Angola... Quem
ouvir os discursos de Salazar, na década de 60, está lá tudo sobre o que
poderia vir a acontecer àquelas populações. Infelizmente, mesmo ao fim de 50
anos ainda não há liberdade suficiente para se fazer uma análise que não seja
tendenciosa da História, porque ainda há muitos donos da liberdade. O deve é
haver ainda está por fazer e o jornalismo tem muita culpa mantendo o povo
arredado da História que não lhes interessa para manter as narrativas instituídas.
O Futebol, é como Deus de décadas passadas, está em todo lado! Até
aqui!! Carlos Chaves: Foi a descolonização selvagem
do Mário Soares que esta senhora tanto bajula, e que a comunicação social
esconde debaixo do tapete, que são os principais responsáveis pelas tragédias
que se passam em Moçambique e em Angola! Antes de vir para aqui com sentimentalismos
(e futebol imaginem) talvez fosse melhor não querer transformar um criminoso
político (sim refiro-me a Mário Soares), num santo de pau oco! Uma parte do
povo Português, Moçambicano e Angolano são vítimas da criminosa descolonização
imposta pelos socialistas por Mário Soares e pela extrema esquerda!
Artigos superficiais como este a puxar ao sentimento, só contribuem para o
branqueamento da nossa história! Rui Lima: Lamento ter de o dizer mas
se fosse só Moçambique nesta tragédia, os novos donos dos países descolonizados
da Argélia a África do Sul falharam e mais não posso dizer porque há um tabu
ninguém pode dizer a verdade, em nenhum país em África houve êxito a única
saída dos seus povos é agora virem para a Europa para junto dos brancos que ele
expulsaram de África com violência . Há muitos anos alguém em fim
de vida falou-me de África tinha empresas em diversos países
tentou colocar africanos à frente dos negócios em África, quando o BES
colocou Sobrinho em Angola vi tragédia, fica para mim o que ele me disse,
depois disso houve um prémio Nobel que falou, tudo isto me deixa muito triste,
que elite deve governar África Eduardo Abreu: 1. Muito boa a sua nota sobre
Moçambique. É um desastre anunciado. 2. António Costa a desancar no PS: muitos
líderes europeus nem fazem ideia do que aí vem. Onde António Costa põe a mão, é
para estragar. Tim do A: Moçambique? Volta Salazar! SDC Cruz Moçambique, a minha segunda Terra. É triste vê-la "desaparecer".
Tenho lá amigos que sempre viveram em Maputo, na Beira e em Nampula, e alguns,
já pensam em emigrar para Portugal. Triste a história deste Pais, que foi em
tempos um maravilhoso País. JOHN MARTINS: Ao referir-se ao PS e quem manda, nada de
especial... é difícil estar na oposição, onde todos mandam e ninguém tem
razão...virando para o futebol, parabéns ao seu Benfica pela vitória, mas no
futebol quem manda é o Sporting, que ontem conseguiu somar duas vitórias uma na
Luz e outra em Braga, e que belos golos, 3 com remate de fora da área. Talvez
ontem o Sporting tenha dado um grande passo para a revalidação do título. Vamos
lá rapaziada, cantai todos comigo: vivó Sporting... Jorge
Frederico Cardoso Vieira Barbosa: Na
minha qualldade de "metropolitano" de gema tive a sorte de cumprir o
meu serviço militar em Vila Coutinho (Tete) de 1972 a 1974, prestando serviço
no Corpo de Milícias de Tete, como alferes, posto no comando de cerca de 200
milícias africanos distribuídos por 12 aldeamentos. O que me deu a oportunidade
de conhecer esta nossa maravilhosa terra de lés-a-lés, de gentes encantadoras
que não mais esqueci. Desde então, a partir da criminosa descolonização
provocada cobardemente pelos militares de Abril com a complacência dos mais
altos titulares do Estado - descolonização esta que não passou da entrega do
poder à Frelimo pro moscovita, em prejuízo dos restantes movimentos não
comunistas - Moçambique
(que durante as últimas 2 décadas estava a desenvolver- se a um ritmo assinalável
e com o maior benefício das populações negras) logo foi projectado para uma
guerra civil tremenda acabando esta por derivar para a situação de autodestruição
e estagnação que coloca o pais, agora, num Estado falhado dominado pelo
narcotráfico e pelo daesh ( a norte). Culpados da situação : Única
exclusivamente todos as gentes , civis e militares, que por acção e por inacção
se envolveram na entregara de Moçambique à Frelimo. Nota: Só
por desconhecimento da Hisóoria moderna, factual e contextualizada , por
burrice, ou por desonestidade intelectual se pode culpar o Estado Novo e a
"Primavera Marcelista" pela criminosa entrega propositada de
Moçambique e das suas gentes à Frelimo. MOCAMBIQUE NÃO FOI DESCOLONIZADO. FOI,
ISSO SIM, ENTREGUE À FRELIMO MOSCOVITA Claro
que se pode elogiar o Sporting e até o Porto. Como benfiquista, o trabalho que
mais invejo do Varandas foi a forma como tratou das claques, foi preciso
coragem, mas parece que está a dar resultados… o Benfica precisa urgentemente
de tratar dos seus marginais, não se compreende por exemplo depois de vários
episódios de desacatos no estrangeiro e respectivos prejuízos causados ao clube
(financeiros e não só) esta gente continue a obter os bilhetes para acompanhar
a equipa! Carlos
Chaves > Maria Paula Silva: Cara Maria Paula, li este artigo pela manhã cedo e
tinha decidido não o comentar, não posso estar sempre do contra, mas pela hora de almoço e
depois de ver os comentários com tanto elogio à opinião da sra. jornalista, não
resisti! Não podemos deixar que branqueiem a nossa história (e no caso desta
senhora sistematicamente), já basta a altiva estátua do Marquês de Pombal na
rotunda com o mesmo nome na nossa capital! O político que mais mal nos fez e de
que ainda sofremos as consequências das suas políticas e dos seus crimes
(literalmente), e ainda lhe erguemos uma estátua para a eternidade, como sinal
de agradecimento! Nem sei como classificar este povo, especialmente o
“pensante”, a arrogante academia Portuguesa! Fernando ce: Muito bom. Bela crónica.
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