Na dúvida e na apreensão. Como ALBERTO
GONÇALVES bem explica. O suspiro final não será de alívio, contudo.
O “lixo” também vai a votos
Boa parte do sucesso político de
Trump não se deve a Trump, e sim à presunção totalitária do “sistema” que se
lhe opõe.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 02 nov. 2024, 00:2276
A 8 de Novembro de 2016, depois de um
concerto de Andrew Bird no Porto, fui para casa acompanhar as “presidenciais”
americanas. Não estava excessivamente interessado. Por um lado, toda a gente
esperava a vitória da senhora Clinton. Por outro, toda a gente queria que a
senhora Clinton vencesse. Eu próprio, Deus me perdoe, desejava, embora com
intensidade mínima, que a senhora Clinton vencesse. Não recordo porquê. Recordo que, ao longo da noite, e à medida que o
triunfo de Trump passou de impossível a provável e de provável a garantido, a
estranheza da situação assustou-me um bocadinho. E a desorientação dos
jornalistas e comentadores que desfilavam nas televisões deles e nas nossas
divertiu-me muito. A partir de certa altura, a diversão impôs-se ao susto.
De manhã cedo, quase sem dormir, conduzi
bem-disposto rumo a um hotel da Foz, para tomar o pequeno-almoço com um amigo
de Boston que costuma visitar Portugal
a negócios. No percurso, negociei comigo se devia gozar com o Joshua ou
compreender-lhe o pesar. Felizmente, o Joshua, eleitor de Sanders e alérgico a
Hillary, mostrava-se pouco apreensivo. No televisor pendurado acima da mesa dos
ovos mexidos e do bacon, vimos um resumo do discurso de Trump.
Concordámos em que foi um discurso sensato, distante das anteriores
intervenções do homem. E da maioria das seguintes.
Durante quatro anos na Casa Branca, Trump continuou a ser o habitual
egocêntrico de vocabulário limitado, que profere disparates e escreve em
maiúsculas. Não foi um mau presidente. Ao contrário das previsões, não destruiu
a América nem iniciou a III Guerra Mundial. Não aboliu a democracia nem
asfixiou a liberdade. E os pretextos para expor com franqueza as debilidades da
Europa são culpa da Europa, não de Trump. Sobretudo Trump teve, e tem, um
extraordinário talento para irritar criaturas que dá gosto ver irritadas. E “irritar” é favor: dentro e fora dos
EUA, o “Trump Derangement Syndrome”, aliás sucessor reforçado do “Bush
Derangement Syndrome”, do velho “Republican Derangement Syndrome” e,
reconheça-se, do ancestral “America Derangement Syndrome”, veio para ficar.
Trata-se da incapacidade de avaliar as
acções do homem pelo valor intrínseco, substituindo
qualquer esforço de racionalidade por uma histeria próxima, e às vezes
indistinguível, de uma crise epiléptica. A maleita, cujos sinais
surgiram em 2015, consagrou-se com sintomas agravados nas multidões que, aos
guinchos, “recusaram” os resultados eleitorais, e prossegue sem parança até
hoje. Os “talk-shows” locais empregam “comediantes” (força de
expressão) que há oito anos não produzem uma “piada” (digamos) cujo sujeito não
seja Trump. Foram aqueles que, junto com inúmeros especialistas (tosse),
juravam em 2016 que Trump – “gravem as minhas palavras” – não ganharia as
eleições. O YouTube gravou as palavras deles, em vídeos que são um mimo e uma
oportunidade única de acharmos graça a Stephen Colbert, John Oliver, Jimmy
Kimmel, “celebridades” sortidas de Hollywood ou os “pivôs” e “politólogos” da
CNN e afins. É lindo assistir à
arrogância a escangalhar-se.
Convém
notar que boa parte do sucesso político de Trump não se deve a Trump, e sim à
presunção totalitária do “sistema” que se lhe opõe. Nas cabecinhas que falam
pelo “sistema” não entra a hipótese de existir vida exterior, fora dos clichés
e das crenças que unem as cabecinhas num literal lugar-comum. E
se essa vida existe, não é respeitável nem respeitada. No fundo, não é vida.
São os “amargos” e “frustrados” de que falava Obama. Ou os “deploráveis” de
Hillary. Ou o “lixo” com que Biden os despachou agora. A “inclusão” é muito bonita mas não
inclui “lixo”. Principalmente, o “lixo”, ou os habitantes das berças que os
holofotes só iluminam para efeitos de chacota, não pode – não pode, ouviram? –
decidir o futuro da mais poderosa e próspera das nações. Em 2016,
o “lixo” decidiu. Em 2020, decidiu a Covid. Em 2024, não se sabe.
Eu não sei e, desta vez, o “sistema”
também não sabe. E não finge saber. Desta vez, à cautela, o “sistema” limita-se a proclamar que
Trump é a reencarnação de Hitler e que a vitória dele abrirá as portas ao
Apocalipse, admissão de que a vitória é plausível. Desta vez,
alguns dos “media” representativos do “sistema” vão ao ponto de não apoiarem formalmente qualquer dos candidatos,
embora andem há três meses a vender uma nulidade como candidata de gabarito.
Desta vez, o “sistema” que eleva o medo a programa e bandeira, parece ter medo.
Medricas, pois.
Por sorte, resta o “Público”. Um destes
dias, o director do “Público” enviou uma carta aos leitores. E um
leitor enviou-me a carta a mim. Eis o início do primeiro parágrafo: “Por muito que os europeus desejem, não,
não vão poder votar nas eleições norte-americanas de 5 de Novembro”
(pelos vistos os consumidores do jornal estavam convencidos do contrário, e
teve de vir o director desiludi-los). Eis o início do segundo parágrafo: “É real a possibilidade de ver eleito um
criminoso condenado” (já vimos: aliás, o “Público” é o diário que, a
31 de Outubro de 2022, fez uma manchete a dizer que o “Brasil escolheu a
democracia e voltou a eleger Lula”). O segundo parágrafo prossegue com
a enumeração dos cataclismos que Trump
provocará, caso eleito (e zero referências às misérias que a administração em
vigor já provocou). Os demais parágrafos inventariam a equipa do “Público” que
assegura “uma cobertura completa, variada, com profundidade” das eleições.
Não sendo o melhor remédio, é um óptimo
placebo. O destrambelhamento mental que Trump suscita é um universal
e inevitável motivo de risota. Quem ri sem motivo é Kamala, pelo menos até
terça-feira.
DONALD
TRUMP ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO MEDIA SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 76)
F. Mendes: AG trata este assunto com uma ligeireza pouco habitual
nele. O Trump de 2024, é bem mais perigoso do que o
de 2016 (riam, se quiserem): o seu putativo Vice Presidente é do mais reaccionário
e imprevisível que a América produz (Pence, apesar de tudo foi um tipo relativamente
decente); a presente "entourage" é de fugir a sete pés; e não pode
ser reeleito, o que lhe retira alguma restrição comportamental e ao nível
decisional. Trump chega hoje às eleições ainda mais ressabiado, cadastrado, com
apoiantes fanatizados pelo próprio, e um plano económico e fiscal que
assustaria um lunático; infelizmente, dada a casmurrice de Biden, a alternativa
é muito fraca e escolhida em situação de pré-catástrofe. Como foi possível que
um país como os EUA, com mais de 300 milhões de habitantes, confronte o
eleitorado com estas duas opções intragáveis, é algo que não percebo. Rui Lima: Donald Trump foi o primeiro candidato a dirigir-se
ao "homem esquecido" no que hoje é chamado de "classe trabalhadora
branca", hoje abandonada devido ao seu " privilégios brancos"
. José B Dias
> F. Mendes: Ainda estou a rir ... José Paulo Castro: A eleição de terça-feira é sobre isso, sobre Trump e
nada mais. Até a
alternativa se define em termos de Trump, como anti-Trump. Sem Trump, não tem
definição nem sabe o que está lá a fazer. É como o José Régio... Maria
Tubucci: Concordo. Só
desejo que no dia 5/11 o sistema seja derrotado por KO. Já satura ouvir tantas doutas opiniões de
“jornalistas”, passando por celebridades ultra-ricas até “analistas” políticos,
todos afinarem pelo mesmo diapasão. Só sabem defender valores anti-ocidentais,
anti-biologia humana, anti-branco, anti-povo. Está na altura de terem um
contacto prolongado com o chão duro da realidade... Crash and burn… Alcides Longras: Mas a malta ainda acha que a disputa eleitoral nos
Estados Unidos é entre Trump e Kamala? Convinha
não confundir o iceberg com a ponta mas é assim que estão a fazer,
aparentemente. E o que este cronista está a denunciar não tem nada a ver
com estas duas figuras caricaturais mas sim a mentalidade instalada nos
"virtuosos humanistas" que até o meu filho adolescente já percebeu
que funciona por medo e exclusão escamoteada.
Tim do A: Absolutamente de acordo. Excelente artigo mais uma vez
de Alberto Gonçalves. A frase resumo diz tudo. O que importa não é a figura de
Trump, mas sim o totalitarismo elitista ou a tirania de sociedade que
representa o sistema da sua opositora. Felizmente o lixo, ou os deploráveis, ou
o povo maltratado, também votam. Por enquanto ainda os deixam... Américo Silva: É uma pena que os americanos
não desfrutem do sábio articulado do Observador, nem da CS portuguesa, a esta
hora Kamala já tinha uma retumbante vitória, talvez 90%, salva-se o AG. Ronin kaishakunin: Sobre o comunista
"Público", cá em casa o dinheiro é meu, assim determinei que nada em
casa aqui entra, comprado nas mercearias da SONAE, a hipocrisia destes
capitalistas provocam-me urticária e assim fico livre dela, não faltam
alternativas! Luis Silva > F. Mendes: O que é um reacionário? Era
daquelas palavras que os esquerdopatas tinham sempre na ponta da língua e que
de repente passou de moda, mas o assinante nem deu por isso. Rui Medeiros: Muito bom! Aqui acontece
precisamente a mesma com o CHEGA de André Ventura... manuel menezes: A nossa Comunicação Social é
quase toda tendenciosa, com falta de isenção e imparcialidade, com exceções,
como é o caso no Observador de AG, RR, JMA e poucos mais. O meu muito obrigado a esses
que "cantam a solo" e não fazem parte do "Coro Nacional" Ricardo Ribeiro: Concordo caro Alberto Gonçalves, Não gosto da personagem em
questão mas só de ver o sistema derrotado e o guilty pleasure associado a esse
evento, leva-me a ter preferência pela eleição do Trump. josé cortes > Manuel Lisboa: A resposta é simples: os
fazedores de opinião deslizaram todos na rampa para a esquerda. Agora já Woke. Francisco Almeida > Pombo Tostado: Facto - A economia nos EUA
está pior que na presidência Trump. Facto - A inflação, também e sobretudo,
deve-se às tarifas sobre importações, mais agravadas pelo "Buy
American" de Biden do que pelo MAGA de Trump. Facto - Kamala já afirmou várias vezes que o governo Federal, vai ajudar
(eufemismo para intervir) nisto, naquilo e naqueloutro. Mais Alexandra Leitão
do que Mortágua. Facto - Trump fala para
as vítimas do globalismo, para os "novos pobres" brancos, para os
operários abandonados pelos democratas. Fala a linguagem que eles percebem,
e é ouvido. Nós todos, europeus, não votamos nas eleições americanas. Carlos Real: Se fosse americano votaria
Trump sem dificuldade porque embora seja um liberal, contra as armas, a
descriminação das minorias e a favor da liberdade individual, sei que Trump
vai acabar com a guerra na Ucrânia, os EUA vão ter menor intervenção militar no
mundo, os ilegais vão ter mais dificuldade em vegetar nos EUA, e o movimento
wokista vai ter mais dificuldades. O mundo vai melhorar com a vitória de
Trump. Os fantasmas do facismo/nazismo são as bandeiras de quem coloca pó de
talco nos crimes dos comunistas e trotskistas. No Portugal dos brandos
costumes houve mais presos políticos no pós 28 de Setembro de 1974 do que
existiam em 24 de Abril. Contudo o terror vem sempre do Chega, já que o PCP que
nem sabia que o 25 de Abril iria acontecer (chegou a ter marcado um congresso
na clandestinidade para o Outono de 1974) foi o campeão das liberdades e da
luta contra a ditadura. Por isso no PCP existe tanta diversidade. Leiam da Zita
Seabra o Foi assim. Está la tudo, ate as crenças totalitárias da Zita, e o
fascínio pelo Cunhal.
Joaquim Almeida: Está à vista do Público e do mundo a democracia do novo Lula : mais
de um milhar de presos e exilados políticos sem culpa nem processo legal,
dois tribunais do topo arbitrários, persecutórios e inquisitoriais,
prendendo inocentes e libertando ladrões e criminosos de toda espécie,
bancarrota a caminho, etc., etc. O sr. Carvalho (e o Observador) dá notícia
disso? A D:
Para a Camala
ganhar o próximo prémio Nobel da Paz, tal como ocorreu com o seu padrinho
pretinho, “basta” que os media americanos a elejam presidente dos EUA, coisa
que está longe de acontecer e mais perto de nunca acontecer. Sim, o mundo
enlouqueceu e o comité Nobel (noruegueses…) erigiu, orgulhoso, um novo critério
para esse inútil prémio (excepto para o vencedor): ser eleito presidente dos
EUA, mas, note-se bem, desde que seja preto (ou como o establishment ordena,
afro-qualquer coisa). Se fez alguma coisa ou não de relevo na vida (o preto
anterior nada tinha feito a não ser tudo eleito seis meses antes, a não ser ter
alguma - pouca - vergonha na cara pois disse não compreender a nomeação pois
nada tinha feito para isso; e eu disse pouca porque depois foi a Oslo receber o
dinheiro…). Espero não ser censurado, mas não tenho a certeza pois por aqui
começa a valer um estranho conceito de liberdade, mas enfim, veremos. Fernando ce: Votaria em Trump, apesar do
personagem não me suscitar especial simpatia. É o que defende a economia de
mercado e o único anti-woke. Não
é coisa pouca. Alfredo Freitas: O artigo de AG deve basear- se em dados, tipo programa
eleitoral ou coisa parecida de Trump, que o leitor português comum não conhece,
porque a avaliar pelo que as nossas tvs transmitem as ideias de Trump para a
sua presidência são caricatas, confrangedoramente pobres, idiotas, ridículas e
as partes das entrevistas legendadas não são diferentes. Para além de tudo, eu
vivo na Europa que desde o fim da 2° Guerra quase não pensou em armar- se e ter
o melhor exército possível tendo-se agravado de há uns 35 anos ou mais para cá,
principalmente com UE em que os políticos não são mais do que caçadores de
votos, sem um único estadista. Nestas circunstâncias tenho medo, confesso,
que Putin entre pela Europa dentro, pois a NATO sem os EUA é como manteiga
no Verão fora do frigorífico. A juventude europeia só presta para duas
coisas, viajar e a outra não digo. O meu pensamento pode não ser sustentado
como se diz agora, mas os meus estudos são pequenos, no meu tempo não se
andava na escola dos 7 aos 19 anos sem fazer um único exame, só a comer à custa
do Estado numa completa bagunça de indisciplina e boa vida. Depois acontecem os
problemas recentes de destruição, de incendiar bens alheios e quase tudo
critica o presidente da câmara que diz e muito bem que as casas sociais não são
para vândalos. Maria
Emília Santos Santos: Muitos por
aqui abaixo, odeiam Trump e estão desejosos que Camala ganhe estas
eleições, mas os americanos, que sentem na pele quem são um e outro, não pensam
assim! Camala, se
ganhar, a primeira coisa que vai fazer é deliberar o aborto até ao momento do
nascimento do bébé! Se a mãe
quiser pode matar o seu filho indefeso, porque a lei de Camala, assim lho
permite! Depois
teremos muitas outras leis promovidas pela demoníaca agenda da ONU, ou 2030,
que ela levará a cabo o mais breve possível para agradar aos promotores do mal! Mas, esta é a candidata da moda! Apoia a cultura Woke
e tudo o que destruir a antiga civilização cristã, que tanto incomoda Satanás!
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