domingo, 24 de novembro de 2024

Mas para quê

Mais um feriado, se já tempos tantas greves?

Mas sim, Ramalho Eanes foi fundamental, trazendo novamente a esperança a quem sentia o país a afundar-se. 

Todavia, Ramalho Eanes afinal também mudaria, ao que se dizia, virado à esquerda, segundo fomos percebendo, após a alegria e gratidão sentidas inicialmente. Por isso, ele preenche a IV Parte do meu livro “CRAVOS ROXOS”, constituída apenas por duas páginas, que transcrevo:

Página 337 (não expressa, porque se trata de página inicial, com apenas um titulo, sincero e grato:

«MESSIAS

 seguido de Dedicatória:

                                                      Ao Ricardo Figuinha

                                                      Remate eterno e intemporal.

 

Página seguinte e única desta IV PARTE:
                                        
«A bem nascida segurança

                                   Da lusitana antiga liberdade»

                                                       Camões, Lus. I, 6

RAMALHO EANES?»

E assim vamos continuando, sempre esperando pela bem-nascida segurança de um “Desejado”, contentando-nos, todavia, com os textos também desejados e esclarecedores como este, de JNP e outros mais, fornecedores de bem-estar esclarecedor.

25 de Novembro nunca mais?

Diz-se que “a História é feita pelos vencedores”. Será o 25 de Novembro a excepção que confirma esta regra?

JAIME NOGUEIRA PINTO, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 23 nov. 2024, 00:1832

Quando olhamos a história do Portugal contemporâneo, a história do nosso tempo ou de um tempo ainda vivido por alguns de nós, não temos dúvidas: são os vencedores que fazem a HistóriaNo regime anterior, vivíamos, dizem-nos, numa temerosa sociedade feudal, onde sob o permanente terror da Gestapo portuguesa, as mulheres andavam todas de preto e de lenço na cabeça e os intelectuais antifascistas iam presos por falar nos cafés ou por dizer “vermelho” em vez de “encarnado”.

Será o 25 de Novembro a excepção que confirma esta regra?  É que, quanto ao 25 de Novembro, parecem ser os perdedores que fazem a História, com a narrativa oficial da esquerda radical então neutralizada a contaminar, não só os seus descendentes intelectuais e políticos, mas também o Centrão, institucionalmente dominante há quase meio século.

Os ciclos das primeiras revoluções

Desde as primeiras revoluções europeias – a Inglesa do século XVII e a Francesa do final do século XVIII – que as revoluções têm ciclos e começam com um acto simbólico para marcar o fim do antigo regime e o princípio do ciclo revolucionário, como cortar a cabeça ao Rei (um acto simbólico para todos menos para o decapitado). As cabeças que rolaram nestas primeiras revoluções, a inglesa e a francesa, foram a do voluntarioso Carlos I, Stuart, e a do resignado Luís Capeto, Bourbon, 16º na longa nomenclatura começada por Luís I, o Piedoso (778-840), filho de Carlos Magno e de Hildegarda de Suábia, rei dos Francos e imperador do Ocidente.

A Revolução Inglesa, contra os Stuart (que, argumentavam os revolucionários, queriam restaurar o absolutismo), não durou muito: Cromwell proclamou-se Lord Protector e instaurou uma ditadura punitiva que tratou muito mal os católicos irlandeses, bem como os que achavam que cortar o pescoço ao rei era o mesmo que acabar com a propriedade privada. Carlos II, filho do decapitado Carlos I, voltou em 1660, pouco mais de uma década depois da morte do pai e castigou exemplarmente uns regicidas, perdoando outros.

A Revolução Francesa foi mais sanguinária e teve efeitos mais duradouros, mas também teve o seu Tempo dos Moderados e, depois do Terror, a Acalmação ou Thermidor, quando o decapitador-mor, Robespierre, perdeu o poder e a cabeça.

De Abril a Novembro

A revolução de Abril, de que estamos a festejar o meio-século, não decapitou ninguém (limitou-se a despachar os governantes vencidos rapidamente e em força para o Brasil, via Madeira) e, até ao 28 de Setembro, prosseguiu com o Tempo dos Moderados.  Mas também teve o seu Terror, com a histeria dos antifascistas à solta, os mandatos de captura em branco, as centenas de prisões do COPCON e as nacionalizações do 11 de Março, que escaqueiraram por muitas décadas a economia portuguesa.

A resistência começou quando os socialistas do Dr. Soares, depois de se terem incomodado muito pouco ou até aplaudido as prisões dos “fascistas”, se deram conta de que eram os próximos na lista dos “suspeitos” e acordaram para os perigos da esquerda radical e do comunismo – coisa para que “o povo do Norte”, enquadrado por alguns sacerdotes, já tinha acordado.

O movimento partiu das terras do Minho e veio descendo para Sul, até Rio Maior. Ao mesmo tempo, vários antigos Comandos, coordenados por Victor Ribeiro, presidente e fundador da Associação de Comandos, começavam a percorrer o país, convocando os antigos camaradas para a resistência.

Foi daqui, de toda esta convergência de vontades e riscos, que se fez a resistência à esquerda radical e se chegou ao 25 de Novembro.

Uma frente alargada e promíscua

Na frente alargada em que acabou por se transformar essa resistência, encaixaram-se depois entidades como o Grupo dos Nove que, em Julho, já depois dos movimentos populares e dos assaltos às sedes do PCP, já depois de manifestações anticomunistas, como a da Fonte Luminosa, vieram tomar partido pela nova maioria. Jaime Gama, com a sua sibilina e inteligente reserva, veio recentemente fazer luz sobre o tema (numa conversa com Maria João Avillez para o livro Eu Estive Lá: 50 Anos de Democracia em conversas), dando a entender o que pensava de um Grupo como o dos Nove, “que colocava o combate aos governos sociais-democratas no mesmo plano que o combate aos governos comunistas de leste”.

A convergência um pouco promiscua destas forças acabou também por determinar a promiscuidade do poder instalado no pós-25 de Novembro, um Thermidor português em que Robespierre ficaria com a cabeça sobre os ombros e só uns comparsas menores, de “extrema-esquerda”, seriam exibidos como bodes expiatórios.

Talvez não pudesse ter sido de outra maneira. A partir do 25 de Abril e da perda do Império, Portugal passava a fazer parte daqueles países sem grande importância nem independência de decisão na cena internacional. Para a União Soviética de então, o que contava no pós-revolução não era instaurar uma Cuba no coração da Euro-América, mas ter, via Lisboa, influência na descolonização de Angola.

É importante lembrar o testemunho de Frank Carlucci, então embaixador norte-americano em Lisboa, sobre as garantias dadas pelo embaixador soviético de que Moscovo não queria alterar, em Portugal, o jogo de Ialta. Na sua lucidez, o Dr. Cunhal sabia que era assim e nunca iria quebrar a disciplina internacionalista. Mais, sabia que, a haver uma guerra civil em Portugal, iria perdê-la.

Por isso os fuzileiros, onde o PC tinha influência, não saíram para fazer frente aos Comandos de Jaime Neves, permitindo um 25 de Novembro (quase) pacífico, um Thermidor que decretou o fim do Terror gonçalvista-otelista, empossando, até hoje, um Centrão – que, entretanto, respeitou os vencidos de Novembro a ponto de tolerar ou até de adoptar os seus postulados culturais e a sua narrativa da História.

 PS: O PS, talvez esquecido do tempo em que esteve “ao lado do povo” na Fonte Luminosa, ou agora apagado e apegado a outras narrativas mais inclusivas das minorias radicais, votou contra a sessão de comemoração do 25 de Novembro na Assembleia da República. O PC, tal como há 50 anos, optou por não comparecer; o Bloco, em protesto, anunciou que só ia mandar um dos seus cinco deputados; e o Livre repreendeu o PSD por transpor as linhas vermelhas “encostando-se à extrema-direita” para comemorar a data.

A SEXTA COLUNA      HISTÓRIA      CULTURA      25 DE NOVEMBRO      PAÍS

COMENTÁRIOS (de 32)

Jorge Carvalho:  Excelente testemunho histórico do intrépido Jaime Nogueira Pinto. Obrigado pela sua coragem e honestidade intelectual.                Antonio Moreira: Hoje, no espaço temporal de 3 minutos, assisti a uma feliz coincidência – três bons cronistas do Observador decidiram escrever sobre o 25nov75.  Não resisto a comentar, até porque me parece imperativo que quem tenha vivido pessoalmente o tempo da História em causa (no período de 25abr74 a 25abr76 – desde o golpe de estado com fins democráticos até à aprovação da Constituição possível no contexto) tem o dever de dar o seu testemunho, visando o esclarecimento dos mais novos e corrigindo algumas versões menos fundadas que se vão ouvindo ou lendo, mesmo da parte de quem estuda e tenta concluir desse estudo o que efectivamente se passou. Três notas breves a cada um dos textos, precedem uma descrição mais geral sobre essa época, no qual o 25nov75 teve significado grande e, na minha opinião, que merece ser comemorado como o fim da revolução comunista em Portugal, iniciada em 18jul74 e terminada em 25nov75.  As notas específicas: a)    Quanto à bem-humorada crónica do Alberto Gonçalves, que me fez sorrir com gosto, mesmo sendo assunto sério e talvez por isso mesmo, apenas duas notas: uma para sublinhar o fino humor do autor e a sua oportuna temática; outra para lhe dizer que o nível pueril do raciocínio bué básico me fez lembrar alguns textos que eu li em 1975, chamados de “dinamização cultural” produzidos para as respetivas “campanhas” culturais pela V Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas visando reforçar a “Aliança Povo/ MFA”. A reacção anticomunista do povo português em 1975 começou pela expulsão de várias aldeias do Norte e Centro do País desses doutrinadores comunistas (que se chamavam a eles próprios “socialistas”). De facto, os Portugueses eram tratados nesses textos como crianças que podiam ser levados por estórias da carochinha…socialista, pois clarob)    Quanto ao historicamente rigoroso texto – como habitualmente – do Jaime Nogueira Pinto, apenas discordo dum ponto muito específico. JNP escreve: Por isso os fuzileiros, onde o PC tinha influência, não saíram para fazer frente aos Comandos de Jaime Neves. Não foi o PC de Álvaro Cunhal que, em 25nov75, evitou que os Fuzileiros saíssem em apoio ao golpe em marcha da extrema-esquerda. Pelo contrário. As unidades de FZs receberam instruções e pressão da parte dos habituais emissários do PC e do PRP/BR para saírem em apoio das forças de extrema-esquerda que lideravam o golpe (e que usavam militares da Escola de Tropas Para-quedistas de Tancos / do Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) e da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), além do Regimento da Polícia Militar e outras unidades apoiantes do golpe). Foi um grupo de oficiais em serviço nas principais unidades de Fuzileiros – quer em Almada na Base Naval do Alfeite, quer no Barreiro na Escola de Vale de Zebro – que evitou, armado e determinado, a saída de forças sem ordens directas do CEMA para tal. A quem tiver mais curiosidade sobre o papel desempenhado durante o PREC pelos oficiais democratas da Armada, recomendo a leitura do livro “O Grupo dos 80 – A resistência na Armada ao desvio totalitário pós 25 de Abril”, de António Balcão Reis (editor literário), publicado em 2023.  c)     Já que no que respeita à crónica do Miguel Pinheiro, que eu sempre aprecio ler, desta vez não posso deixar de discordar. Começa por escrever MP: Ao contrário da história da Carochinha que agora nos tentam contar, o que saiu do 25 de Novembro não foi uma democracia plena. Tem toda a razão no que escreve, neste início! Mas perde-a quando afirma que quem pretende comemorar o 25nov75 comemora a “democracia perfeita” ou os “heróis” do Grupo dos Nove. Não. Com o devido respeito pelo cronista, não se trata disso! Cada um comemorará ou não o que quiser. Mas não conheço ninguém que queira comemorar o que afirma. No que a mim respeita, reconheço que no 25nov75 acabou a revolução comunista em Portugal, que obrigou grande parte do Povo Português a tornar-se militante ou apoiante da resistência anticomunista. E terminou com a vitória dessa grande parte do Povo Português. Democracia plena? Claro que não. Ainda custou – e custa – muito para lá chegarmos. Mas demos um passo determinante e que permitiu continuarmos com a aprovação de uma Constituição em 1976 (ainda muito influenciada pelos tempos conturbados do PREC e com a tutela político militar do Conselho da Revolução, só terminada em 1982), e mais recentemente com o aparecimento de partidos de direita e do centro direita. Portanto, no 25nov75 foi recuperado para o País um pouco, importante, do que a revolução comunista tinha feito perder perder e ameaçou fazer perder ainda mais durante o PREC. Mas sobretudo, evitou-se, juntamente com a implantação de um regime comunista em Portugal, a luta armada entre militares e entre civis, todos portugueses. É pouco para Miguel Pinheiro? Para mim já é motivo de comemoração.   A Nota geral: Suponho poder ter utilidade recordar alguns pontos ou aspectos do período 1974/1975.   1.    Revolução Comunista em Portugal. Considero que, com a tomada de posse de Vasco Gonçalves como primeiro ministro do segundo governo provisório, em 18jul1974, se iniciou a revolução comunista em Portugal, primeiro de uma forma insidiosa e, depois do 28set1974, de uma forma descarada. Esta revolução comunista visava não só impedir a implantação de um regime democrático em Portugal como igualmente a entrega de Angola aos (então) comunistas do MPLA. Eram os dois objectivos principais. Outros havia. Uns atingidos outros impedidos. Quanto aos outros territórios ultramarinos, a sua entrega a forças políticas comunistas não constituía objectivo principal, mas, sobretudo Moçambique, tinha também importância estratégica. Não deixa de ser curioso que o fim da mesma revolução comunista se tenha dado em 25nov1975, só após a independência de Angola, proclamada em 11nov1975, poucos dias antes. Ou seja: o segundo objectivo principal da revolução comunista em Portugal foi integralmente atingido. Esta revolução comunista teve a primeira contrariedade com a realização das eleições para a Assembleia Constituinte, em 25abr1974 (embora não completamente livres, quer pela imposição revolucionária e anti- democrática de um Pacto MFA / Partidos quer por impossibilidade de concorrerem partidos do centro e direita, excepto do CDS, mesmo este limitado por ilegalização do PDC – Partido da Democracia Cristã do “capitão de abril” Sanches Osório, com o qual se encontrava coligado). Depois, foi combatida pelo povo português, sobretudo a Norte, durante o Verão de 1975 e foi vencida em 25nov1975, que restituiu e retomou o essencial do objectivo inicial do 25abr1974: a implantação de um regime político democrático em Portugal. Muito haveria a dizer sobre esta revolução comunista e suas consequências, algumas delas que permanecem durante dezenas de anos. Basta pensar que, só decorridos mais de 40 anos, podemos ver em normal actividade partidos oriundos do espectro político do centro-direita e direita, então impedidos de existir, destruídas as suas sedes, perseguidos e presos os seus dirigentes, como em 28set1974 e daí para diante sucedeu2.    Resistência Anticomunista (RAC) em Portugal. A RAC em Portugal foi muito mais abrangente do que o que se julga ou é publicado. Mesmo Jaime Nogueira Pinto, que tem dado destaque às várias forças – sublinhando e bem a  Igreja católica – não exprime suficientemente o que se passou. Dou alguns exemplos, dividindo-os em espontâneos, de instituições da sociedade civil, de partidos e de militares. Quem estivesse ou passasse por diversas aldeias a Norte de Rio Maior, sobretudo no interior minhoto, beirão e transmontano assistiu ou ouviu relatos da forma como eram expulsos os tais dinamizadores culturais do MFA, às vezes em episódios caricatos ou humorísticos. Os civis, antigos combatentes do Ultramar, conservavam as armas   e organizavam-se espontaneamente em grupos de preparação e, mais tarde, apoio a acções anticomunistas (contra sedes de partidos de extrema esquerda e comunistas e organizações próximas, por exemplo). As feiras semanais nas várias localidades eram locais de conspiração e incentivo a manifestações (até em baladas e outras canções com letras anticomunistas e de crítica às principais figuras revolucionárias ou actos dos governos gonçalvistas). O auto designado  "Grupo Maria da Fonte" ganhou alguma dimensão neste contexto. Ao mesmo tempo, a população organizava-se em apoio às unidades ou comandos militares não conotados com a revolução comunista. No que respeita a instituições, a Igreja Católica e a figura do Arcebispo de Braga foram o centro influenciador e mobilizador, a começar pelas homílias nas missas dominicais. Mas várias outras instituições culturais e populares se organizavam. Também  organizações, como a CAP, mostravam a sua força no terreno, como se viu com as barricadas em Rio Maior. O MDLP, do general Spínola, apareceu igualmente a tentar integrar ou organizar ou dar dimensão a vários grupos locais, visando criar verdadeiras células clandestinas aptas a levar a cabo acção psicológica e ação armada se necessário. Os partidos democráticos (PS, PPD/PSD e CDS) desenvolviam fortes grupos de segurança e em alguns casos armados (Palma Inácio no PS e Emídio Guerreiro no PPD organizavam grupos que receberiam armas de unidades militares se necessário). Importantes foram também as Câmaras Municipais de grandes manchas do território que facilitavam, com meios de diverso tipo, a preparação para  serviços de protecção de emergência e para apoio a movimentações que viessem a ser necessárias. E nos militares começou a ser sentido pelo MFA que cada vez mais havia um maior número que se afastavam da ala mais extremista (a pouco estudada evolução da eleição dos delegados das unidades militares para as Assembleias do MFA, demonstra um progressivo e evidente afastamento das teses revolucionárias comunistas). O Grupo dos Nove aparece neste contexto com um duplo objectivo: Por um lado, afastar e afastar-se das posições extremistas do MFA que estavam a causar o aumento do sentimento e das acções de resistência anticomunista e, por outro, procurando manter a mão sobre as principais forças militares e sobre o controlo do processo político militar. Aliando-se aos comandantes não apoiantes da revolução comunista, foi feita uma frente que impediria a extrema esquerda de levar avante a sua revolução e, ao mesmo tempo, impedindo o sonho de Álvaro Cunhal de não permitir uma “democracia burguesa” em Portugal, limitando-se a conservar as “conquistas da revolução”... E pouco a pouco, iam sendo substituídos comandantes militares revolucionários por comandantes anticomunistas ou, pelo menos, não comunistas. Em suma: a Norte de Rio Maior o Povo Português fez frente à revolução comunista em termos determinantes e influenciadores do processo político, mostrando-se preparado para impedir a continuação da revolução comunista levada a cabo a partir do MFA e dos partidos e movimentos comunistas e da extrema-esquerda. O que, aliás, tais forças também faziam a sul de Rio Maior, sobretudo na Grande Lisboa e a Sul desta.  3. O golpe fracassado do 25nov74Após o 11nov75, com a independência de Angola, a entrega ao MPLA da capital Luanda (embora sitiada pela FNLA) e com a UNITA no planalto e com a sua capital em Huambo, a URSS tinha atingido o objectivo do apoio ao PC e um dos objectivos principais da revolução comunista em Portugal. Agora era com ela, URSS, e com as tropas cubanas bem equipadas com armamento e equipamento soviéticos em grande número. Tem razão Jaime Nogueira Pinto quando informa que a URSS não estava interessada em apoiar o PC de Álvaro Cunhal no seu sonho de implantar em Portugal um regime de ditadura do proletariado. Portugal, reduzido à sua dimensão europeia, não oferecia interesse geoestratégico suficiente para que a URSS corresse o risco de se meter num país da NATO, violando a divisão do mundo acordada com os EUA em Yalta. Mas Álvaro Cunhal e o PC ainda tentaram levar mais adiante e, antes e no início dos movimentos militares dos para-quedistas e das chaimites e metralhadoras do RALIS, ainda estavam preparados para apoiarem as forças militares golpistas e as que se opunham ao Grupo dos Nove e, julgavam, ter força suficiente para tal. Na madrugada de 25nov75, os para-quedistas ocuparam as bases aéreas do Sul e Grande Lisboa, incluindo o Comando do Primeira Região Aérea, onde prenderam o seu comandante; o RALIS tomava posição em diferentes locais e zonas de trânsito cruciais, também de Lisboa; a EPAM ocupava os estúdios da RTP e mantinha forças nas portagens de Sacavém, etc. A Polícia Militar circulava em apoio a estas forças e, como referi acima, eram feitas pressões (vindas do PC e de grupos de extrema- esquerda) sobre os Fuzileiros para que saíssem ou declarassem publicamente o apoio aos golpistas. Muitos episódios se deram nessas horas. Recordo apenas que todos os aviões da Força Aérea que estavam nas bases ocupadas voaram para Cortegaça, situada na Região Militar Norte, para que não caíssem nas mãos dos golpistas e pudessem ser usados se necessário contra os mesmos. O resto, a versão oficial do regime já foi contada várias vezes. Foi neste contexto que Ramalho Eanes veio a ganhar legitimidade política para, juntamente com o Grupo dos Nove, conseguirem manter a tutela político militar sobre o País. Mas é indiscutível que então terminou a revolução comunista em Portugal. Cujos responsáveis perseguiram, prenderam, seviciaram Portugueses de bem apenas porque se opunham ou não apoiavam tal revolução comunista. Muitos problemas, imperfeições democráticas e ambições legítimas dos Portugueses permaneceram ou estes tiveram ou têm ainda de suportar no caminho para uma democracia melhor. É verdade e vale a pena lutar por tal democracia. Mas em 25nov75 impediu-se o abismo e retomou-se o caminho para construção dessa democracia. E, ao contrário do que alguns afirmam, em tal data terminou a extrema divisão provocada pela revolução comunista que poderia ter levado o país a uma guerra civilPassou a ser possível a união dos Portugueses na construção de uma democracia. Não ficou logo perfeita? Ainda hoje estamos a lutar para a melhorar? Claro que sim. É da natureza das coisas que a democracia seja construída e defendida em pequenos passos e permanentemente. Mas o 25nov74 foi uma data marcante para que tal fosse e seja possível. Por isso, vale a pena ser comemorado.                 João Floriano: Excelente crónica. Para os mais distraídos o Post Scriptum é  essencial para conhecer as posições dos partidos na assembleia da República e a azia que o 25 de Novembro provoca na esquerda, para além da confusão e indecisão no actual PS e arrisco-me a acrescentar o PSD.            Filipe Paes de Vasconcellos: Recordo-me bem de ver Mário Soares de braço dado com Cunhal só acordando para a realidade quando começou a perceber (os “fascistas “ Sá Carneiro e Freitas do Amaral já o tinham percebido há muito) que o PC já tinha ocupado o “República “ e começavam a tomar todos os sindicatos. Aí sim, e só aí! Mário Soares e o seu PS se tornaram os campeões e os arautos da democracia passando a ser de facto muito úteis para fundação de um regime democrático, mas sempre muito renitentes ao liberalismo económico que lhe estava associado.                 Rui Medeiros > Antonio Moreira: Obrigado pelo seu comentário, que acrescenta mais informação para quem não viveu esse período. Esses testemunhos são importantíssimos, até porque aquilo que se houve e lê nalguns órgãos de comunicação social, são algo tendenciosos ou ocultam passagens...                 Coxinho: E assim o Observador vai sobrevivendo, à conta de colunistas da estatura excepcional do JNP e outros. Porque os cronistas mais novos, também apelidados de "jornalistas", esforçam-se por afundar o jornal em que trabalham sempre que exibem o seu activismo político infantil envenenado pela esquerda.             Ana Luís da Silva: Excelente resumo histórico, sem papas na língua. Gostei especialmente do último parágrafo, relativo ao Centrão – “que, entretanto, respeitou os vencidos de Novembro a ponto de tolerar ou até de adoptar os seus postulados culturais e a sua narrativa da História”. Por outro lado, ainda é nestas coisas que o PSD se mostra diferente do PS (por causa do CDS?). Espero sinceramente que seja para continuar, ano após ano. Só assim a História não será apagada para as gerações que virão pela narrativa deturpada dos “perturbados” de Esquerda.                 João Silva: E assim, mais uma vez, o PS envergonha o país. Votar a favor das comemorações do 25 de Novembro é a continuidade de comemorar Abril, que se fez para dar liberdade, e não para tirar uma e impor outra ditadura, a Cuba da Europa, nas palavras de Otelo, pois esse era o sonho de Vasco Gonçalves e Cunhal. E começaram logo pela Reforma agrária no Alentejo e nas nacionalizações, erros económicos que ainda hoje pagamos. O PS esteve ao lado do Povo no 25 de Novembro, contra a ditadura Gonçalvista. Agora o PS com PNS está refém da cultura woke. Não sabe optar entre liberdade e o politicamente correcto. É pena, pois a escolha para estar ao lado da liberdade parece-me óbvia...                Carlos Chaves: Obrigado Jaime Nogueira Pinto, a melhor crónica (muito sucinta), que se encontra por aqui sobre o 25 de Novembro de 1975 e as suas consequências.           Manuel Magalhaes:   O último parágrafo e o PostScript que tão bem definem o actual PS é uma enorme tristeza para o futuro do país, mas é a realidade                   Domingas Coutinho: Nunca nos podemos esquecer do terror Gonçalvista/Otelista a que o 25 de Novembro pôs termo v.              Paulo J Silva: Muito bom! Talvez no campo político estejamos no “virar da maré”                   Maria Emília Santos Santos: Eu creio que toda esta azia da esquerda, é um bom sintoma para virar a página da política portuguesa! A azia sobrevém quando faltam enzimas no estômago para trabalhar a digestão! Quer dizer que a esquerda está doente! Se calhar porque abusou dos alimentos ao seu alcance. Mas, felizmente, a direita de verdade, parece estar muito bem de saúde, sem azia, sem irritação nervosa, sem medo de ser direita, muito capacitada para responder às questões provocadoras dos senhores jornalistas,  muito conhecedora do programa do Governo e muito combativa, e muito lutadora contra a corrupção e a favor das forças de segurança, pelo bem dos portugueses! Acho que podemos contar com a direita para nos defender e defender a integridade da nossa nação!                         Américo Silva: Numa carruagem do comboio do tempo iam um português, um russo e um americano; quando em Abril de 74 atravessou um túnel, o português apareceu morto, tinha bens móveis, ouro, e muitos imóveis: Angola, Moçambique, Guiné e muito mais; então o russo e o americano olharam-se com ar assassino, para evitar o pior combinaram: Angola para ti, metrópole para mim.          Pedro Manuel Moço Ferreira: O artigo mais conseguido do Observador sobre o 25N75, muito bem complementado pelo nosso comentador, António Moreira.

NOTAS DA INTERNET

Historiando

O que aconteceu a 25 de Novembro de 1975?

A uma tentativa de sublevação de unidades militares de extrema-esquerda opõe-se a “direita militar” com um contra-golpe. O país entra em estado de sítio.

SIC Notícias

07:45, 25 nov.2023

Capitães de Abril, membros do Conselho da Revolução - António Ramalho Eanes, Vasco Lourenço, Vasco Almeida e Costa, Melo Antunes, Garcia Leandro, entre outros, 1975.  Marques Valentim/Atlântico Press/Getty Images

Um ano e meio depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, o país estava a ferro e fogo. Depois do Verão Quente de 75, Portugal chegava a novembro à beira da guerra civil. Militares ligados à extrema- esquerda tomam pontos estratégicos da capital. Um dispositivo militar, com base no Regimento de Comandos da Amadora, opõe-se. É decretado o estado de sítio em Lisboa.

A uma tentativa de sublevação de unidades militares de extrema-esquerda opõe-se a “direita militar” com um contra-golpe e o país entra em estado de sítio.

De um lado, Otelo Saraiva de Carvalho, que chefiava o COPCON (Comando Operacional do Continente), sentindo o poder escapar-se-lhe, distribuiu alguns milhares de espingardas metralhadoras G-3 a grupos esquerdistas.

Do outro, a "direita militar", chefiada por Ramalho Eanes e Jaime Neves (comandante do Regimento dos Comandos na Amadora), preparava um contra-golpe.

Tensões políticas e ideológicas após o 25 de Abril

O 25 de Novembro de 1975 em Portugal foi resultado de tensões políticas e ideológicas que surgiram após o 25 de Abril de 1974. A Revolução dos Cravos depôs o regime autoritário do Estado Novo, mas as forças políticas e sociais em Portugal estavam divididas quanto ao rumo a ser seguido.

Otelo Saraiva de Carvalho, antigo comandante do Copcon, 3 de maio de 1977.

Francois LOCHON/Gamma-Rapho via Getty Images

Entre as principais causas que levaram ao 25 de Novembro destacam-se:

Divisões Ideológicas

Após a revolução, surgiram divergências entre forças mais à esquerda, representadas principalmente pelos militares de orientação comunista, e forças mais moderadas e de centro-direita. Essas divergências levaram a confrontos sobre o curso político a ser adoptado.

Nacionalizações e reformas sociais

A rápida implementação de medidas como nacionalizações de sectores-chave da economia e reformas sociais provocou tensões entre os diferentes grupos políticos, especialmente entre os sectores mais conservadores e os representantes das forças armadas.

Poder popular versus poder militar

A questão de quem deveria deter o poder efectivo, se o governo civil ou os militares, tornou-se um ponto de atrito. As forças armadas, inicialmente unidas na Revolução dos Cravos, começaram a dividir-se em facções com visões diferentes sobre o papel militar na governação.

Receios de radicalização

Parte das forças políticas temia uma radicalização excessiva do país em direcção ao comunismo, o que levou a um confronto entre os sectores mais moderados e os mais radicais na sociedade portuguesa.

Fim do período revolucionário e início da democracia

O 25 de Novembro de 1975 foi uma tentativa de reconciliação e estabilização política, com uma intervenção militar liderada pelo general Ramalho Eanes, que buscava restaurar a ordem e evitar uma possível deriva para a esquerda radical.

Foi o dia que marcou o fim do PREC - Processo Revolucionário em Curso - e o início da consolidação da democracia em Portugal.

 

 


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