Mais um feriado, se já tempos tantas
greves?
Mas sim, Ramalho Eanes foi fundamental, trazendo
novamente a esperança a quem sentia o país a afundar-se.
Todavia, Ramalho Eanes afinal também mudaria, ao que se dizia, virado à esquerda, segundo fomos percebendo, após a alegria e gratidão sentidas inicialmente. Por isso, ele preenche a IV Parte do meu livro “CRAVOS ROXOS”, constituída apenas por duas páginas, que transcrevo:
Página 337 (não expressa, porque se trata de página inicial, com apenas um titulo, sincero e grato:
«MESSIAS
seguido
de Dedicatória:
Ao Ricardo Figuinha
Remate eterno e intemporal.
Página seguinte e única desta IV PARTE:
«A bem nascida segurança
Da lusitana
antiga liberdade»
Camões, Lus. I, 6
RAMALHO EANES?»
E assim vamos continuando,
sempre esperando pela bem-nascida segurança de um “Desejado”, contentando-nos,
todavia, com os textos também desejados e esclarecedores como este, de JNP e outros mais, fornecedores
de bem-estar esclarecedor.
25 de Novembro
nunca mais?
Diz-se que “a História é feita pelos
vencedores”. Será o 25 de Novembro a excepção que confirma esta regra?
JAIME NOGUEIRA PINTO, Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 23
nov. 2024, 00:1832
Quando olhamos a história do Portugal
contemporâneo, a história do nosso tempo ou de um tempo ainda vivido por alguns
de nós, não temos dúvidas: são os vencedores que fazem a História. No regime anterior, vivíamos, dizem-nos,
numa temerosa sociedade feudal, onde sob o permanente terror da Gestapo
portuguesa, as mulheres andavam todas de preto e de lenço na cabeça e os
intelectuais antifascistas iam presos por falar nos cafés ou por dizer
“vermelho” em vez de “encarnado”.
Será o 25 de Novembro a
excepção que confirma esta regra? É que, quanto ao 25 de Novembro,
parecem ser os perdedores que fazem a História, com a narrativa oficial da
esquerda radical então neutralizada a contaminar, não só os seus descendentes
intelectuais e políticos, mas também o Centrão, institucionalmente dominante há
quase meio século.
Os ciclos das primeiras revoluções
Desde as primeiras revoluções europeias – a Inglesa do século XVII e
a Francesa do final do século XVIII – que as revoluções têm ciclos e começam
com um acto simbólico para marcar o fim do antigo regime e o princípio do ciclo
revolucionário, como cortar a cabeça ao Rei (um acto simbólico para todos menos
para o decapitado). As cabeças que rolaram nestas primeiras
revoluções, a inglesa e a francesa, foram a do voluntarioso Carlos I, Stuart, e a do
resignado Luís Capeto, Bourbon, 16º
na longa nomenclatura começada por Luís I, o Piedoso (778-840), filho
de Carlos Magno e de Hildegarda de Suábia, rei dos Francos e imperador do
Ocidente.
A Revolução Inglesa, contra os Stuart (que, argumentavam os
revolucionários, queriam restaurar o absolutismo), não
durou muito: Cromwell proclamou-se Lord Protector e instaurou uma ditadura
punitiva que tratou muito mal os católicos irlandeses, bem como os que achavam
que cortar o pescoço ao rei era o mesmo que acabar com a propriedade privada.
Carlos II, filho do
decapitado Carlos I, voltou em 1660, pouco mais de uma década depois da morte
do pai e castigou exemplarmente uns regicidas, perdoando outros.
A Revolução Francesa foi mais
sanguinária e teve efeitos mais duradouros, mas
também teve o seu Tempo dos Moderados e, depois do Terror, a Acalmação ou
Thermidor, quando o decapitador-mor, Robespierre, perdeu o poder e a cabeça.
De Abril a Novembro
A revolução de Abril, de que
estamos a festejar o meio-século, não decapitou ninguém (limitou-se a despachar
os governantes vencidos rapidamente e em força para o Brasil, via Madeira) e,
até ao 28 de Setembro, prosseguiu com o Tempo dos Moderados. Mas também teve o
seu Terror, com
a histeria dos antifascistas à solta, os mandatos de captura em branco, as
centenas de prisões do COPCON e as nacionalizações do 11 de Março, que
escaqueiraram por muitas décadas a economia portuguesa.
A resistência começou quando os socialistas do Dr. Soares, depois de
se terem incomodado muito pouco ou até aplaudido as prisões dos “fascistas”, se
deram conta de que eram os próximos na lista dos “suspeitos” e acordaram para
os perigos da esquerda radical e do comunismo – coisa para que “o povo do
Norte”, enquadrado por alguns sacerdotes, já tinha acordado.
O movimento partiu das terras do Minho e veio descendo para Sul, até
Rio Maior. Ao mesmo tempo, vários antigos Comandos, coordenados por Victor Ribeiro,
presidente e fundador da Associação de Comandos, começavam a percorrer o país,
convocando os antigos camaradas para a resistência.
Foi daqui, de toda esta convergência de vontades e riscos, que se
fez a resistência à esquerda radical e se chegou ao 25 de Novembro.
Uma frente alargada e promíscua
Na
frente alargada em que acabou por se transformar essa resistência,
encaixaram-se depois entidades como o Grupo dos Nove que, em
Julho, já depois dos movimentos populares e dos assaltos às sedes do PCP, já depois
de manifestações anticomunistas, como a da Fonte Luminosa, vieram tomar
partido pela nova maioria. Jaime Gama, com
a sua sibilina e inteligente reserva, veio recentemente fazer luz sobre o tema
(numa conversa com Maria João
Avillez para o
livro Eu Estive
Lá: 50 Anos de Democracia em conversas),
dando a entender o que pensava de um Grupo como o dos Nove,
“que colocava o combate aos governos
sociais-democratas no mesmo plano que o combate aos governos comunistas de
leste”.
A
convergência um pouco promiscua destas forças acabou também por determinar a promiscuidade
do poder instalado no pós-25 de Novembro, um Thermidor português em que Robespierre ficaria com a cabeça sobre
os ombros e só uns comparsas menores, de “extrema-esquerda”, seriam exibidos
como bodes expiatórios.
Talvez não pudesse ter sido de outra maneira. A partir do 25 de
Abril e da perda do Império, Portugal passava a fazer parte daqueles países sem
grande importância nem independência de decisão na cena internacional. Para a União Soviética de então, o que
contava no pós-revolução não era instaurar uma Cuba no coração da Euro-América,
mas ter, via Lisboa, influência na descolonização de Angola.
É importante lembrar o testemunho de Frank
Carlucci, então embaixador norte-americano em Lisboa, sobre as garantias dadas pelo embaixador
soviético de que Moscovo não queria alterar, em Portugal, o jogo de Ialta. Na sua lucidez, o Dr. Cunhal sabia
que era assim e nunca iria quebrar a disciplina internacionalista. Mais, sabia
que, a haver uma guerra civil em Portugal, iria perdê-la.
Por isso os fuzileiros, onde o PC
tinha influência, não saíram para fazer frente aos Comandos de Jaime Neves,
permitindo um 25 de Novembro (quase) pacífico, um Thermidor que decretou o fim
do Terror gonçalvista-otelista, empossando, até hoje, um Centrão – que,
entretanto, respeitou os vencidos de Novembro a ponto de tolerar ou até de
adoptar os seus postulados culturais e a sua narrativa da História.
PS: O PS, talvez esquecido do tempo em que esteve “ao lado do povo” na
Fonte Luminosa, ou agora apagado e apegado a outras narrativas mais inclusivas
das minorias radicais, votou
contra a sessão de comemoração do 25 de Novembro na Assembleia da República. O PC, tal como há 50 anos, optou por não
comparecer; o Bloco, em protesto, anunciou que só ia mandar um dos seus cinco
deputados; e o Livre repreendeu o PSD por transpor as linhas vermelhas
“encostando-se à extrema-direita” para comemorar a data.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA 25 DE
NOVEMBRO PAÍS
COMENTÁRIOS (de 32)
Jorge Carvalho: Excelente testemunho histórico do intrépido
Jaime Nogueira Pinto. Obrigado pela sua coragem e honestidade intelectual. Antonio
Moreira: Hoje, no espaço temporal de 3 minutos, assisti a uma feliz coincidência –
três bons cronistas do Observador decidiram escrever sobre o 25nov75. Não
resisto a comentar, até porque me parece imperativo que quem tenha vivido
pessoalmente o tempo da História em causa (no período de 25abr74 a 25abr76 –
desde o golpe de estado com fins democráticos até à aprovação da Constituição
possível no contexto) tem o dever de dar o seu testemunho, visando o
esclarecimento dos mais novos e corrigindo algumas versões menos fundadas que
se vão ouvindo ou lendo, mesmo da parte de quem estuda e tenta concluir desse
estudo o que efectivamente se passou. Três notas breves a cada um dos
textos, precedem uma descrição mais geral sobre essa época, no qual o 25nov75 teve significado grande e, na
minha opinião, que merece ser comemorado como o fim da revolução comunista em
Portugal, iniciada em 18jul74 e terminada em 25nov75. As notas específicas: a) Quanto à bem-humorada crónica do
Alberto Gonçalves, que me fez sorrir com gosto, mesmo sendo assunto sério e
talvez por isso mesmo, apenas duas notas: uma para sublinhar o fino humor do
autor e a sua oportuna temática; outra para lhe dizer que o nível pueril do
raciocínio bué básico me fez lembrar alguns textos que eu li em 1975, chamados
de “dinamização cultural” produzidos para as respetivas “campanhas” culturais
pela V Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas visando reforçar a
“Aliança Povo/ MFA”. A reacção anticomunista do povo português em 1975
começou pela expulsão de várias aldeias do Norte e Centro do País desses
doutrinadores comunistas (que se chamavam a eles próprios “socialistas”). De
facto, os Portugueses eram tratados nesses textos como crianças que podiam ser
levados por estórias da carochinha…socialista, pois claro! b) Quanto ao
historicamente rigoroso texto – como habitualmente – do Jaime Nogueira Pinto, apenas discordo dum ponto
muito específico. JNP escreve: Por isso os fuzileiros, onde o PC tinha
influência, não saíram para fazer frente aos Comandos de Jaime Neves. Não foi o PC de Álvaro Cunhal que, em 25nov75,
evitou que os Fuzileiros saíssem em apoio ao golpe em marcha da extrema-esquerda.
Pelo contrário. As unidades de FZs receberam instruções e pressão da parte dos
habituais emissários do PC e do PRP/BR para saírem em apoio das forças de
extrema-esquerda que lideravam o golpe (e que usavam militares da Escola de
Tropas Para-quedistas de Tancos / do Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS)
e da Escola Prática de Administração Militar (EPAM), além do Regimento da
Polícia Militar e outras unidades apoiantes do golpe). Foi um grupo de
oficiais em serviço nas principais unidades de Fuzileiros – quer em Almada na
Base Naval do Alfeite, quer no Barreiro na Escola de Vale de Zebro – que
evitou, armado e determinado, a saída de forças sem ordens directas do CEMA
para tal. A quem tiver mais curiosidade sobre o papel desempenhado durante o
PREC pelos oficiais democratas da Armada, recomendo a leitura do livro “O Grupo dos 80 – A resistência na Armada ao
desvio totalitário pós 25 de Abril”, de António Balcão Reis (editor literário), publicado em 2023. c)
Já que no que respeita à crónica do Miguel Pinheiro, que eu sempre aprecio ler,
desta vez não posso deixar de discordar. Começa por escrever MP: Ao contrário da história da Carochinha
que agora nos tentam contar, o que saiu do 25 de Novembro não foi uma
democracia plena. Tem toda a razão no que escreve, neste início! Mas
perde-a quando afirma que quem pretende comemorar o 25nov75 comemora a
“democracia perfeita” ou os “heróis” do Grupo dos Nove. Não. Com o devido respeito pelo cronista, não se trata
disso! Cada um comemorará ou não o que quiser. Mas não conheço ninguém que
queira comemorar o que afirma. No que a mim respeita, reconheço que no 25nov75
acabou a revolução comunista em Portugal, que obrigou grande parte do Povo
Português a tornar-se militante ou apoiante da resistência anticomunista. E
terminou com a vitória dessa grande parte do Povo Português. Democracia plena?
Claro que não. Ainda custou – e custa – muito para lá chegarmos. Mas demos um
passo determinante e que permitiu continuarmos com a aprovação de uma
Constituição em 1976 (ainda muito influenciada pelos tempos conturbados do PREC
e com a tutela político militar do Conselho da Revolução, só terminada em
1982), e mais recentemente com o aparecimento de partidos de direita e do
centro direita. Portanto, no 25nov75 foi recuperado para o País um pouco, importante, do que
a revolução comunista tinha feito perder perder e ameaçou fazer perder ainda
mais durante o PREC. Mas sobretudo, evitou-se,
juntamente com a implantação de um regime comunista em Portugal, a luta armada
entre militares e entre civis, todos portugueses. É pouco para Miguel Pinheiro?
Para mim já é motivo de comemoração. A Nota geral: Suponho poder
ter utilidade recordar alguns pontos ou aspectos do período 1974/1975.
1. Revolução Comunista em Portugal. Considero que, com a tomada
de posse de Vasco Gonçalves como
primeiro ministro do segundo governo provisório, em 18jul1974, se iniciou a
revolução comunista em Portugal, primeiro de uma forma insidiosa e, depois do
28set1974, de uma forma descarada. Esta revolução comunista visava não só impedir a
implantação de um regime democrático em Portugal como igualmente a entrega de
Angola aos (então) comunistas do MPLA. Eram os dois objectivos principais.
Outros havia. Uns atingidos outros impedidos. Quanto aos outros territórios
ultramarinos, a sua entrega a forças políticas comunistas não constituía objectivo
principal, mas, sobretudo Moçambique, tinha também importância estratégica.
Não deixa de ser curioso que o fim da mesma
revolução comunista se tenha dado em 25nov1975, só após a independência de
Angola, proclamada em 11nov1975, poucos dias antes. Ou seja: o
segundo objectivo principal da revolução comunista em Portugal foi integralmente
atingido. Esta revolução comunista teve a primeira contrariedade com a realização
das eleições para a Assembleia Constituinte, em 25abr1974 (embora não
completamente livres, quer pela imposição revolucionária e anti- democrática de
um Pacto MFA / Partidos quer por impossibilidade de concorrerem partidos
do centro e direita, excepto do CDS, mesmo este limitado por ilegalização
do PDC – Partido da Democracia Cristã do “capitão de abril” Sanches Osório,
com o qual se encontrava coligado). Depois, foi combatida pelo povo
português, sobretudo a Norte, durante o Verão de 1975 e foi vencida em
25nov1975, que restituiu e retomou o essencial do objectivo inicial do
25abr1974: a implantação de um regime político democrático
em Portugal. Muito haveria a dizer sobre esta revolução comunista e suas
consequências, algumas delas que permanecem durante dezenas de anos. Basta
pensar que, só decorridos mais de 40 anos, podemos ver em normal actividade
partidos oriundos do espectro político do centro-direita e direita, então impedidos
de existir, destruídas as suas sedes, perseguidos e presos os seus dirigentes,
como em 28set1974 e daí para diante sucedeu. 2. Resistência Anticomunista (RAC) em
Portugal. A RAC em Portugal foi muito mais abrangente do que o que se julga
ou é publicado. Mesmo Jaime Nogueira Pinto, que tem dado destaque às várias
forças – sublinhando e bem a Igreja católica – não exprime suficientemente
o que se passou. Dou alguns exemplos, dividindo-os em
espontâneos, de instituições da sociedade civil, de partidos e de militares. Quem estivesse ou passasse por diversas aldeias
a Norte de Rio Maior, sobretudo no interior minhoto, beirão e transmontano assistiu ou ouviu relatos
da forma como eram expulsos os tais dinamizadores culturais do MFA, às vezes em
episódios caricatos ou humorísticos. Os civis, antigos combatentes do
Ultramar, conservavam as armas e organizavam-se
espontaneamente em grupos de preparação e, mais tarde, apoio a acções
anticomunistas (contra sedes de partidos de extrema esquerda e comunistas e
organizações próximas, por exemplo). As feiras semanais nas
várias localidades eram locais de conspiração e incentivo a manifestações (até
em baladas e outras canções com letras anticomunistas e de crítica às
principais figuras revolucionárias ou actos dos governos gonçalvistas). O
auto designado "Grupo Maria da Fonte" ganhou alguma dimensão neste contexto. Ao mesmo tempo, a população
organizava-se em apoio às unidades ou comandos militares não conotados com a
revolução comunista. No que respeita a instituições, a Igreja Católica e a
figura do Arcebispo de Braga foram o centro influenciador e mobilizador, a
começar pelas homílias nas missas dominicais. Mas várias outras instituições
culturais e populares se organizavam. Também organizações, como a CAP,
mostravam a sua força no terreno, como se viu com as barricadas em Rio Maior.
O MDLP, do general Spínola, apareceu igualmente a tentar integrar ou
organizar ou dar dimensão a vários grupos locais, visando criar verdadeiras
células clandestinas aptas a levar a cabo acção psicológica e ação armada se
necessário. Os
partidos democráticos (PS, PPD/PSD e CDS) desenvolviam fortes grupos de
segurança e em alguns casos armados (Palma Inácio no PS e Emídio Guerreiro no
PPD organizavam grupos que receberiam armas de unidades militares se
necessário). Importantes
foram também as Câmaras Municipais de grandes manchas do território que
facilitavam, com meios de diverso tipo, a preparação para serviços de
protecção de emergência e para apoio a movimentações que viessem a ser
necessárias. E nos militares começou a ser
sentido pelo MFA que cada vez mais havia um maior número que se afastavam da
ala mais extremista (a pouco estudada evolução da
eleição dos delegados das unidades militares para as Assembleias do MFA,
demonstra um progressivo e evidente afastamento das teses revolucionárias
comunistas). O Grupo dos Nove aparece neste contexto com um duplo objectivo: Por um
lado, afastar e afastar-se das posições extremistas do MFA que estavam a causar
o aumento do sentimento e das acções de resistência anticomunista e, por outro,
procurando manter a mão sobre as principais forças militares e sobre o controlo
do processo político militar. Aliando-se aos comandantes não apoiantes da
revolução comunista, foi feita uma frente que impediria a extrema esquerda de
levar avante a sua revolução e, ao mesmo tempo, impedindo o sonho de Álvaro
Cunhal de não permitir uma “democracia burguesa” em Portugal, limitando-se a
conservar as “conquistas da revolução”... E pouco a pouco, iam sendo
substituídos comandantes militares revolucionários por comandantes
anticomunistas ou, pelo menos, não comunistas. Em suma: a Norte de Rio Maior o
Povo Português fez frente à revolução comunista em termos determinantes e
influenciadores do processo político, mostrando-se preparado para impedir a
continuação da revolução comunista levada a cabo a partir do MFA e dos partidos
e movimentos comunistas e da extrema-esquerda. O que, aliás, tais forças
também faziam a sul de Rio Maior, sobretudo na Grande Lisboa e a Sul
desta. 3. O
golpe fracassado do 25nov74. Após o 11nov75, com a independência de Angola, a entrega ao MPLA da capital Luanda (embora sitiada
pela FNLA) e com a UNITA no planalto e com a sua capital em Huambo, a URSS
tinha atingido o objectivo do apoio ao PC e um dos objectivos principais da
revolução comunista em Portugal. Agora era com ela, URSS, e com as tropas cubanas bem
equipadas com armamento e equipamento soviéticos em grande número. Tem
razão Jaime Nogueira Pinto quando informa que a URSS não estava interessada em
apoiar o PC de Álvaro Cunhal no seu sonho de implantar em Portugal um regime de
ditadura do proletariado. Portugal, reduzido à sua dimensão europeia, não oferecia interesse
geoestratégico suficiente para que a URSS corresse o risco de se meter num país
da NATO, violando a divisão do mundo acordada com os EUA em Yalta. Mas Álvaro Cunhal e o PC ainda tentaram levar mais
adiante e, antes e no início dos movimentos militares dos para-quedistas e das
chaimites e metralhadoras do RALIS, ainda estavam preparados para apoiarem as
forças militares golpistas e as que se opunham ao Grupo dos Nove e, julgavam,
ter força suficiente para tal. Na madrugada de 25nov75, os para-quedistas
ocuparam as bases aéreas do Sul e Grande Lisboa, incluindo o Comando do
Primeira Região Aérea, onde prenderam o seu comandante; o RALIS tomava posição
em diferentes locais e zonas de trânsito cruciais, também de Lisboa; a EPAM
ocupava os estúdios da RTP e mantinha forças nas portagens de Sacavém, etc. A
Polícia Militar circulava em apoio a estas forças e, como referi acima, eram
feitas pressões (vindas do PC e de grupos de extrema- esquerda) sobre os
Fuzileiros para que saíssem ou declarassem publicamente o apoio aos golpistas.
Muitos episódios se deram nessas horas. Recordo
apenas que todos os aviões da Força Aérea que estavam nas bases ocupadas voaram
para Cortegaça, situada na Região Militar Norte, para que não caíssem nas mãos
dos golpistas e pudessem ser usados se necessário contra os mesmos. O resto, a
versão oficial do regime já foi contada várias vezes. Foi neste contexto que Ramalho
Eanes veio a ganhar legitimidade política para, juntamente com o Grupo dos
Nove, conseguirem manter a tutela político militar sobre o País. Mas é indiscutível que então terminou a
revolução comunista em Portugal. Cujos responsáveis perseguiram, prenderam,
seviciaram Portugueses de bem apenas porque se opunham ou não apoiavam tal
revolução comunista. Muitos problemas, imperfeições
democráticas e ambições legítimas dos Portugueses permaneceram ou estes tiveram
ou têm ainda de suportar no caminho para uma democracia melhor. É verdade e vale a pena lutar
por tal democracia. Mas em
25nov75 impediu-se o abismo e retomou-se o caminho para construção dessa
democracia. E, ao contrário do que alguns afirmam, em tal data terminou a extrema divisão provocada pela revolução
comunista que poderia ter levado o país a uma guerra civil. Passou a ser possível a união dos Portugueses na construção de uma
democracia. Não ficou logo perfeita? Ainda hoje estamos a lutar para a
melhorar? Claro que sim. É da natureza das coisas que a
democracia seja construída e defendida em pequenos passos e permanentemente.
Mas o 25nov74 foi uma data marcante para que tal fosse
e seja possível. Por isso, vale a pena ser comemorado. João
Floriano: Excelente crónica. Para os mais distraídos o Post Scriptum é
essencial para conhecer as posições dos partidos na assembleia da República e
a azia que o 25 de Novembro provoca na esquerda, para além da confusão e
indecisão no actual PS e arrisco-me a acrescentar o PSD. Filipe Paes
de Vasconcellos: Recordo-me bem de ver Mário Soares de braço dado com Cunhal só acordando
para a realidade quando começou a perceber (os “fascistas “ Sá Carneiro e
Freitas do Amaral já o tinham percebido há muito) que o PC já tinha ocupado o
“República “ e começavam a tomar todos os sindicatos. Aí sim, e só aí! Mário
Soares e o seu PS se tornaram os campeões e os arautos da democracia passando a
ser de facto muito úteis para fundação de um regime democrático, mas sempre
muito renitentes ao liberalismo económico que lhe estava associado. Rui
Medeiros > Antonio Moreira: Obrigado pelo seu comentário,
que acrescenta mais informação para quem não viveu esse período. Esses testemunhos são
importantíssimos, até porque aquilo que se houve e lê nalguns órgãos de
comunicação social, são algo tendenciosos ou ocultam passagens... Coxinho: E assim o Observador vai
sobrevivendo, à conta de colunistas da estatura excepcional do JNP e outros. Porque os cronistas mais
novos, também apelidados de "jornalistas", esforçam-se por afundar o
jornal em que trabalham sempre que exibem o seu activismo político infantil
envenenado pela esquerda. Ana
Luís da Silva: Excelente resumo histórico, sem papas na língua. Gostei especialmente
do último parágrafo, relativo ao Centrão – “que,
entretanto, respeitou os vencidos de Novembro a ponto de tolerar ou até de
adoptar os seus postulados culturais e a sua narrativa da História”. Por
outro lado, ainda é nestas coisas que o PSD se mostra diferente do PS (por
causa do CDS?). Espero sinceramente que seja para continuar, ano após ano. Só
assim a História não será apagada para as gerações que virão pela narrativa
deturpada dos “perturbados” de Esquerda. João Silva: E assim, mais uma vez, o PS
envergonha o país. Votar a favor das comemorações do 25 de Novembro é a
continuidade de comemorar Abril, que se fez para dar liberdade, e não para
tirar uma e impor outra ditadura, a Cuba da Europa, nas palavras de Otelo, pois
esse era o sonho de Vasco Gonçalves e Cunhal. E começaram logo pela Reforma
agrária no Alentejo e nas nacionalizações, erros económicos que ainda hoje
pagamos. O PS esteve ao lado do Povo no 25 de Novembro, contra a ditadura
Gonçalvista. Agora o PS com PNS está refém da cultura woke. Não sabe optar
entre liberdade e o politicamente correcto. É pena, pois a escolha para estar
ao lado da liberdade parece-me óbvia... Carlos Chaves: Obrigado Jaime Nogueira Pinto,
a melhor crónica (muito sucinta), que se encontra por aqui sobre o 25 de
Novembro de 1975 e as suas consequências. Manuel Magalhaes: O último
parágrafo e o PostScript que tão bem definem o actual PS é uma enorme tristeza
para o futuro do país, mas é a realidade…
Domingas Coutinho: Nunca nos podemos esquecer do terror
Gonçalvista/Otelista a que o 25 de Novembro pôs termo v.
Paulo J
Silva: Muito bom! Talvez no campo
político estejamos no “virar da maré” Maria
Emília Santos
Santos: Eu creio que toda esta azia da
esquerda, é um bom sintoma para virar a página da política portuguesa! A azia
sobrevém quando faltam enzimas no estômago para trabalhar a digestão! Quer
dizer que a esquerda está doente! Se calhar porque abusou dos alimentos ao seu
alcance. Mas, felizmente, a direita de verdade, parece estar muito bem de
saúde, sem azia, sem irritação nervosa, sem medo de ser direita, muito
capacitada para responder às questões provocadoras dos senhores
jornalistas, muito conhecedora do programa do Governo e muito combativa,
e muito lutadora contra a corrupção e a favor das forças de segurança, pelo bem
dos portugueses! Acho que podemos contar com a
direita para nos defender e defender a integridade da nossa nação! Américo
Silva: Numa carruagem do comboio do tempo iam um português, um russo e um
americano; quando em Abril de 74 atravessou um túnel, o português apareceu
morto, tinha bens móveis, ouro, e muitos imóveis: Angola, Moçambique, Guiné e
muito mais; então o russo e o americano olharam-se com ar assassino, para
evitar o pior combinaram: Angola para ti, metrópole para mim. Pedro Manuel
Moço Ferreira: O artigo mais conseguido do
Observador sobre o 25N75, muito bem complementado pelo nosso comentador,
António Moreira.
NOTAS DA
INTERNET
Historiando
O que aconteceu a 25 de Novembro de 1975?
A uma tentativa de sublevação de
unidades militares de extrema-esquerda opõe-se a “direita militar” com um
contra-golpe. O país entra em estado de sítio.
07:45, 25 nov.2023
Capitães
de Abril, membros do Conselho da Revolução - António Ramalho Eanes, Vasco
Lourenço, Vasco Almeida e Costa, Melo Antunes, Garcia Leandro, entre outros,
1975. Marques
Valentim/Atlântico Press/Getty Images
Um ano e meio depois da
Revolução de 25 de Abril de 1974, o país estava a ferro e fogo. Depois do Verão Quente de 75, Portugal chegava a
novembro à beira da guerra civil. Militares ligados à extrema- esquerda
tomam pontos estratégicos da capital. Um dispositivo militar, com base no
Regimento de Comandos da Amadora, opõe-se. É decretado o
estado de sítio em Lisboa.
A uma
tentativa de sublevação de unidades militares de extrema-esquerda opõe-se a
“direita militar” com um contra-golpe e o país entra em estado de sítio.
De
um lado, Otelo Saraiva
de Carvalho, que chefiava
o COPCON (Comando Operacional do Continente), sentindo o poder
escapar-se-lhe, distribuiu alguns milhares de espingardas metralhadoras G-3 a
grupos esquerdistas.
Do outro, a "direita militar", chefiada por Ramalho Eanes e Jaime
Neves (comandante
do Regimento dos Comandos na Amadora), preparava um contra-golpe.
Tensões políticas e ideológicas após o 25 de Abril
O 25 de
Novembro de 1975 em Portugal foi resultado de tensões políticas e ideológicas
que surgiram após o 25 de Abril de 1974. A Revolução dos Cravos depôs o regime
autoritário do Estado Novo, mas as forças políticas e sociais em Portugal
estavam divididas quanto ao rumo a ser seguido.
Otelo
Saraiva de Carvalho, antigo comandante do Copcon, 3 de maio de 1977.
Francois
LOCHON/Gamma-Rapho via Getty Images
Entre as principais causas que levaram ao 25 de Novembro
destacam-se:
Divisões Ideológicas
Após a revolução, surgiram divergências entre forças mais à
esquerda, representadas principalmente pelos militares de orientação comunista,
e forças mais moderadas e de centro-direita. Essas divergências levaram a
confrontos sobre o curso político a ser adoptado.
Nacionalizações e reformas sociais
A rápida implementação de medidas como nacionalizações de sectores-chave
da economia e reformas sociais provocou tensões entre os diferentes grupos
políticos, especialmente entre os sectores mais conservadores e os representantes
das forças armadas.
Poder popular versus poder militar
A questão de quem deveria deter o poder efectivo, se o
governo civil ou os militares, tornou-se um ponto de atrito. As forças
armadas, inicialmente unidas na Revolução dos Cravos, começaram a dividir-se em
facções com visões diferentes sobre o papel militar na governação.
Receios de radicalização
Parte das forças políticas temia uma radicalização excessiva do país em direcção ao comunismo, o que levou a um confronto entre os sectores mais moderados e os mais radicais na sociedade portuguesa.
Fim
do período revolucionário e início da democracia
O 25 de Novembro de 1975 foi uma tentativa de reconciliação e
estabilização política, com uma intervenção militar liderada pelo general
Ramalho Eanes, que buscava restaurar a ordem e evitar uma possível deriva para
a esquerda radical.
Foi o dia que
marcou o fim do PREC - Processo
Revolucionário em Curso - e o início da consolidação da democracia em Portugal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário