terça-feira, 26 de novembro de 2024

Um dia imprescindível


“Sim”. “Mas”.

Vide, por exemplo, o texto anterior (deste blog), justificativo do “Mas”..

Para o “Sim”, podemos sempre evocar o Victor Espadinha e o seu “Sim eu sei, que tudo são recordações”

25 de Novembro: democracia e liberdade

O 25 de Novembro foi durante muito tempo um desses temas proibidos. Enxotado, inclusive, para o esquecimento histórico. Dizia-se que evocá-lo tratava-se de incitar à divisão dos portugueses.

CARLOS MOEDAS Presidente da Câmara Municipal de Lisboa

OBSERVADOR, 25 nov. 2024, 00:2048

«Não percebo que estigmatizem o 25 de Novembro, porque o 25 de Novembro é a continuação do 25 de Abril». Estas são palavras do antigo Presidente da República, General António Ramalho Eanes, em entrevista à jornalista Fátima Campos Ferreira, palavras de incompreensão perante o esquecimento do 25 de Novembro de 1975. Elas remetem-nos para uma realidade incompreensível, mas efectiva, em que viveu a democracia portuguesa ao longo dos últimos anos – uma realidade que infelizmente nos mostrou que há na nossa democracia quem ainda queira impor o pensamento único e proibir a livre expressão sobre todos os temas.

O 25 de Novembro foi durante muito tempo um desses temas proibidos. Enxotado, inclusive, para o esquecimento histórico. Dizia-se que evocá-lo tratava-se de incitar à divisão dos portugueses. Sempre foi, e continua a ser, a forma dos partidos de esquerda condicionarem e tentarem definir o que deve ou não ser discutido pelos moderados. Mas como é que um dia decisivo para a consolidação da nossa democracia pluralista pode ser factor de divisão? Só se essa acusação viesse de quem não queria uma democracia pluralista em Portugal, como Álvaro Cunhal, que, entrevistado pela famosa jornalista italiana Oriana Fallaci, declarou perentoriamente: «não aceitamos o jogo das eleições». A legitimidade eleitoral era, assim, substituída pela «dinâmica revolucionária». Quem não a acompanhasse não teria qualquer legitimidade para exercer o poder, ainda que tivesse ganho eleições livres. Felizmente, o 25 de Novembro terminou com as aspirações de novos totalitarismos. E fê-lo de forma magnânima: o mesmo PCP que se insurgiu contra o 25 de Novembro «contrarrevolucionário» não foi por ele destruído, mas sim integrado no sistema da nossa democracia parlamentar. Hoje, todos concordamos no papel fundamental do PCP para o nosso jogo democrático, seja a nível nacional como autárquico. Também isso se deveu ao 25 de Novembro e aos militares moderados que o executaram.

Hoje, depois de 49 anos, o 25 de Novembro vai ser comemorado na Assembleia da República. É uma conquista. Foi uma conquista que tomou o seu tempo, e que reflecte a maturidade da nossa democracia já cinquentenária. Como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sinto um orgulho tremendo neste feito, porque foi em Lisboa que se deu a primeira grande cerimónia pública, não militar, de homenagem ao 25 de Novembro de 1975. Precisamente há um ano estávamos a homenagear os dois militares comandos falecidos naquele dia, o tenente José Coimbra e o furriel Joaquim Pires, num emotivo momento que encheu o Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Nessa cerimónia senti que fazia realmente falta valorizar o 25 de Novembro – dar a dignidade à data que ela própria merece, celebrando-a tal como deve ser celebrada, como a continuação e a consagração de Abril. Como a consagração das promessas inauguradas em Abril de 1974. É também com essa missão que voltamos hoje aos Paços do Concelho para assinalar o dia com uma homenagem especial: ao líder operacional do 25 de Novembro a quem tanto devemos, o então tenente-coronel Jaime Neves, na pessoa da sua esposa Delfina Neves.

Jaime Neves foi uma daquelas figuras que a História quis que nela deixasse a sua marca. Nele não vemos a figura «ideal», com que tantas vezes nos enganamos por procurá-la nos seres humanos de carne e osso. Em Jaime Neves vemos, não o ideal, mas, como diria Ortega y Gasset, o arquétipo, «as coisas de acordo com a sua inelutável realidade». Neste sentido, Jaime Neves foi sem dúvida um arquétipo. Desde logo, foi a imagem inelutavelmente real de uma geração de combatentes que se sacrificaram, que prescindiram dos seus anos de juventude, e que várias vezes foram esquecidos. Foi, ainda, o arquétipo do líder: do líder que, no 25 de Novembro, avançou pela Calçada da Ajuda e cercou o Regimento da Polícia Militar, fazendo-se obedecer mesmo depois de sofrer duas baixas, sabendo perfeitamente que qualquer percalço, qualquer falta de disciplina, poderiam fazer cair o país numa guerra civil.

No entanto, Jaime Neves é hoje, acima de tudo, uma personificação das conquistas que os portugueses alcançaram com o fim do Estado Novo: da liberdade e da democracia. Ou, por outras palavras, de Abril e de Novembro; da liberdade que se abriu com Abril e da democracia que se consagrou em Novembro. Jaime Neves, que a 25 de Abril neutralizou os homens do Major Pato Anselmo na Avenida Ribeira das Naus, continuaria a empreitada a 25 de Novembro na Calçada da Ajuda. Na sua pessoa Abril e Novembro complementam-se, tal como deve ser.

A Jaime Neves e à sua geração, que em grande medida fez o Portugal democrático, um obrigado saberá sempre a pouco. Resta-nos, para fazer justiça à sua memória, cuidar da sua obra. Cuidar da nossa democracia, todos os dias. É essa a maior homenagem que podemos fazer ao 25 de Novembro, e, com este, ao 25 de Abril de 1974.

25 DE NOVEMBRO     PAÍS     CARLOS MOEDAS

COMENTÁRIOS (de 48)

JOHN MARTINS: Exmo Senhor Presidente Carlos Moedas: Nunca dantes foi feito tão alto elogio á memória de Jaime Neves cuja bravura e dedicação á Pátria jamais serão esquecidas. Sua coragem em face do perigo e seu compromisso inabalável com a liberdade e a justiça são um exemplo eterno para todos nós. Ao elevar Jaime Neves à categoria de HEROI do 25 de Novembro, não só reconhece o facto histórico como nos liberta das garras totalitárias comunistas. Somos livres. Obrigado.             João Pedro Valente: E que tal uma rua em Lisboa com o nome de Jaime Neves?                      Carlos Chaves:  “Hoje, todos concordamos no papel fundamental do PCP para o nosso jogo democrático, seja a nível nacional como autárquico. Também isso se deveu ao 25 de Novembro e aos militares moderados que o executaram.” Pois é, este foi um erro dos ”moderados” em 25 de Novembro de 1975, integrar um partido não democrático (e até hoje assim se mantém) na nossa democracia! Continuam a querer rebentar com a nossa democracia por dentro, basta ver os resultados dos governos do Costa suportados pelo partido comunista e das infindáveis greves nas escolas, na CP, na saúde… Obrigado, Carlos Moedas!                Filipe Paes de Vasconcellos: A ESQUERDA MERECE E DEVE SER DIABOLIZADA Mas que mal fez a Direita? Ao invés, a Esquerda, desde o 25 de Abril, onde e sempre que lhe deram oportunidade, rebentou com o país. Se não fosse a direita democrática e liberal não tínhamos: 1 LIBERDADE 2 Liberdade de imprensa  3 Economia privada 4  Desenvolvimento económico  5  Integração na EU . Ora, é exactamente por tudo isto e muito mais que a esquerda diaboliza tanto a direita. Assim, penso que todos os democratas descomplexados e que apoiam os valores conseguidos, garantidos, no 25 de Novembro devem, isso sim, diabolizar a Esquerda.                João Angolano: Relativamente à importância do PCP para o sistema democrático, fico banzo. Sempre continuou a apoiar e nem sequer tem problemas nisso, todos os regimes totalitários iguais àqueles que a sua ideologia propõe. Apenas adaptou o seu modus operandi ao contexto possível em que sabe ser impossível a sua revolução mas não se impede de tentar destruir esta democracia e ainda hoje vivemos o impacto da destruição da economia que fez no PREC. Oh maldito complexo de esquerda!                 Maria Nunes: Excelente artigo. Viva o 25 de Novembro!                      Carlos Real: A homenagem aos heróis do 25 de Novembro e completamente justa. Equiparar ao 25 de Abril também. Basta dizer que a liberdade democrática iniciada em Abril só se confirmou em Novembro. Até lá os comunistas pretendiam implementar uma ditadura em estilo soviético. O caricato e a postura do centrão: O PSD parece ter vergonha porque sabe que os maiores protagonistas de Novembro não eram ligados ao PPD/PSD. O mais surreal é o PS, que tendo Soares e os militares chuchialistas como os grandes obreiros da luta anti-comunista, está permanentemente a desvalorizar a data. Começa a ser tempo de falar de Abril como um golpe militar motivado por razões corporativas (não é por acaso que é designado pelo golpe dos capitães), como respeitar o 25 de Novembro como o fim das aventuras revolucionárias, e aceitar em definitivo a vontade do povo (apenas 12% votaram no PCP em 1975). O povo não são os que aparecem na rua, os dos sindicatos que sequestram os deputados, os que de braço no ar aprovam moções em nome de todos, os que ocuparam fábricas e terras. Por isso o PCP sempre desconfiou de eleições livres, de partidos alternativos, e de liberdade dos media.                     Pedro Campos: Um excelente artigo sobre o 25 de Novembro relembrando a memória desse grande português, Jaime Neves!!! Parabéns Carlos Moedas!!!                   Paulo Machado: Hoje somos livres, Obrigado              Jose MarquesPedra Nussapato: Tens pedra não é nus sapato, é nus cabeça                        Hugo Silva > Pedra Nussapato: E?                       Tristão: Obrigado, Carlos Moedas por ter sido o detonador das comemorações do 25 de novembro e assim desmistificar a narrativa da esquerda, de que a sua comemoração divide o país. Que assim seja, a divisão será sempre entre quem defende a democracia e quem não , e isso é positivo. Agora também acrescente-se, para se ser inteiro e limpo (como escreveu Sophia de Mello Breyner sobre o dia 25 de abril) temos que ver sempre o 25 de novembro como um complemento do indispensável 25 de abril e não como substituto, isso não existe. Uma nota: sou daqueles que nunca conseguiu ver uma vantagem sequer em termos, na nossa democracia: um partido totalitário antidemocrático – é, pois, nessa única parte do texto, que não o acompanho.                      Tristão > Pedra Nussapato: Jaime Neves participou no 25 de abril para derrubar 48 anos de estado novo, como era de extrema-direita? Agora não era um indivíduo fácil de catalogar, aliás nesse tempo não é fácil de catalogar ninguém, principalmente se utilizarmos as lentes da época. Ainda há pouco tempo vi o Otelo numa entrevista da época a uma televisão espanhola a defender não a independência das províncias ultramarinas (é assim que devem ser chamadas 🙂) mas um referendo às populações sobre esse tema, quem imagina Otelo a defender tal coisa? Ramalho Eanes, um dos operacionais do 25 de novembro, na sua última candidatura para presidente da república foi apoiado pelo PCP, e esta heim? Não me vai dizer que Eanes é comunista, aliás nem sei se é de direita ou esquerda, acredito que até seja mais de esquerda…moderada e democrática, claro.                        Pedro Campos > Pedra Nussapato: Tem a certeza que Jaime Neves era da extrema-direita? Está completamente enganado!!!                Hugo Silva: "e continua a ser, a forma dos partidos de esquerda condicionarem e tentarem definir o que deve ou não ser discutido pelos moderados." Por muitos defeitos que tenha e por muito que não se goste do homem, podemos agradecer a AV e ao CH, a mudança no panorama político nacional, relativamente à esquerda e extrema-esquerda. Nunca nenhum outro político e partido, se atreveu a atacar a esquerda e extrema-esquerda, como AV o tem feito. Tem sofrido na pele esse ataque, é verdade, mas nunca se acobardou. Tem sido também um dos maiores defensores do 25 de Novembro e do reconhecimento da data e da sua importância na consolidação da democracia em Portugal. Quanto aos "moderados", é graças a eles que este país está a m.e.rd.a que está. Viva o 25 de Abril, viva o 25 de Novembro.              Jose Marques > Lúcio Monteiro: Luci(o)ferino, V Exa é que é um verdadeiro saudosista do Estado Velho... não se conforma ter deixado de viver as secretas intimidades com as camaradas nas casas clandestinas                    Alexandre Arriaga e Cunha: Excelente homenagem! Gostei muito                     Antonio Silva > Lúcio Monteiro: Olhe que não. Só os saudosistas do manicómio a céu aberto, vulgo PREC, é que hoje escreveriam nos Pravda e Avante. Aos restantes, naturalmente fascistas, restaria assistir à vida cinzenta em que o País definharia. Ninguém quer enterrar o 25A mas a maioria do povo louva o 25N porque parou com o desvario dos que destruíram o País e cavaram (e continuam a cavar) a divisão entre portugueses,tudo em nome de uma rebaldaria a que teimam chamar revolução. 

 

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