“Sim”. “Mas”.
Vide, por exemplo,
o texto anterior (deste blog), justificativo do “Mas”..
Para o “Sim”, podemos sempre evocar o Victor Espadinha e o seu “Sim eu sei, que tudo são recordações”
25 de Novembro: democracia e liberdade
O 25 de Novembro foi durante muito
tempo um desses temas proibidos. Enxotado, inclusive, para o esquecimento
histórico. Dizia-se que evocá-lo tratava-se de incitar à divisão dos
portugueses.
CARLOS MOEDAS Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
OBSERVADOR, 25 nov. 2024, 00:2048
«Não percebo que estigmatizem
o 25 de Novembro, porque o 25 de Novembro é a continuação do 25 de Abril». Estas são
palavras do antigo Presidente da
República, General António Ramalho Eanes, em entrevista à jornalista Fátima Campos Ferreira, palavras
de incompreensão perante o esquecimento do 25 de Novembro de 1975. Elas
remetem-nos para uma realidade incompreensível, mas efectiva, em que viveu a
democracia portuguesa ao longo dos últimos anos – uma realidade que
infelizmente nos mostrou que há na nossa democracia quem ainda queira impor o
pensamento único e proibir a livre expressão sobre todos os temas.
O
25 de Novembro foi durante muito tempo um desses temas proibidos. Enxotado,
inclusive, para o esquecimento histórico. Dizia-se que evocá-lo tratava-se de
incitar à divisão dos portugueses. Sempre foi, e continua a
ser, a forma dos partidos de esquerda condicionarem e tentarem definir o que
deve ou não ser discutido pelos moderados. Mas como é que um dia decisivo para a
consolidação da nossa democracia pluralista pode ser factor de divisão? Só se
essa acusação viesse de quem não queria uma democracia pluralista em Portugal,
como Álvaro Cunhal, que, entrevistado pela famosa jornalista italiana Oriana
Fallaci, declarou perentoriamente: «não
aceitamos o jogo das eleições». A
legitimidade eleitoral era, assim, substituída pela «dinâmica revolucionária».
Quem não a acompanhasse não teria
qualquer legitimidade para exercer o poder, ainda que tivesse ganho eleições
livres. Felizmente, o 25 de Novembro terminou com as
aspirações de novos totalitarismos. E fê-lo de forma magnânima: o mesmo PCP que se
insurgiu contra o 25 de Novembro «contrarrevolucionário» não foi por ele
destruído, mas sim integrado no sistema da nossa democracia parlamentar. Hoje,
todos concordamos no papel fundamental do PCP para o nosso jogo democrático,
seja a nível nacional como autárquico. Também isso se deveu ao 25 de Novembro e
aos militares moderados que o executaram.
Hoje, depois de 49 anos, o 25 de Novembro vai ser comemorado na
Assembleia da República. É uma conquista. Foi uma conquista que tomou o seu
tempo, e que reflecte a maturidade da nossa democracia já cinquentenária. Como
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sinto um orgulho tremendo neste
feito, porque foi em Lisboa que se deu a primeira grande cerimónia pública, não
militar, de homenagem ao 25 de Novembro de 1975. Precisamente há um ano estávamos a homenagear os dois militares
comandos falecidos naquele dia, o
tenente José Coimbra e o furriel Joaquim Pires,
num emotivo momento que encheu o Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Nessa cerimónia senti que fazia
realmente falta valorizar o 25 de Novembro – dar a dignidade à data que ela
própria merece, celebrando-a tal como deve ser celebrada, como a continuação e
a consagração de Abril. Como a
consagração das promessas inauguradas em Abril de 1974. É também com essa
missão que voltamos hoje aos Paços do Concelho para assinalar o dia com uma
homenagem especial: ao líder operacional do 25 de Novembro a quem tanto
devemos, o então tenente-coronel Jaime
Neves, na
pessoa da sua esposa Delfina
Neves.
Jaime Neves foi uma
daquelas figuras que a História quis que nela deixasse a sua marca. Nele não
vemos a figura «ideal», com que tantas vezes nos enganamos por procurá-la nos
seres humanos de carne e osso. Em Jaime Neves vemos, não o ideal, mas, como
diria Ortega y Gasset, o arquétipo, «as
coisas de acordo com a sua inelutável realidade». Neste sentido, Jaime Neves foi sem dúvida um arquétipo. Desde logo,
foi a imagem inelutavelmente real de uma geração de combatentes que se
sacrificaram, que prescindiram dos seus anos de juventude, e que várias vezes
foram esquecidos. Foi,
ainda, o arquétipo do líder: do líder que, no 25 de Novembro, avançou pela
Calçada da Ajuda e cercou o Regimento da Polícia Militar, fazendo-se obedecer
mesmo depois de sofrer duas baixas, sabendo perfeitamente que qualquer
percalço, qualquer falta de disciplina, poderiam fazer cair o país numa guerra
civil.
No entanto, Jaime
Neves é hoje, acima de tudo, uma personificação das
conquistas que os portugueses alcançaram com o fim do Estado Novo: da liberdade
e da democracia. Ou, por outras palavras, de Abril e de
Novembro; da liberdade que se abriu com Abril e da democracia que se consagrou
em Novembro. Jaime Neves, que a 25 de Abril neutralizou os homens do Major Pato
Anselmo na Avenida Ribeira das Naus, continuaria a empreitada a 25 de Novembro
na Calçada da Ajuda. Na sua pessoa Abril e Novembro complementam-se, tal
como deve ser.
A Jaime Neves e à sua geração, que em grande medida fez o Portugal
democrático, um obrigado saberá sempre a pouco. Resta-nos, para fazer justiça à
sua memória, cuidar da sua obra. Cuidar da nossa democracia, todos os dias. É
essa a maior homenagem que podemos fazer ao 25 de Novembro, e, com este, ao 25
de Abril de 1974.
25 DE NOVEMBRO
PAÍS CARLOS MOEDAS
COMENTÁRIOS (de 48)
JOHN MARTINS: Exmo Senhor Presidente Carlos
Moedas: Nunca dantes foi feito tão alto elogio á memória de Jaime Neves cuja
bravura e dedicação á Pátria jamais serão esquecidas. Sua coragem em face do
perigo e seu compromisso inabalável com a liberdade e a justiça são um exemplo
eterno para todos nós. Ao elevar Jaime Neves à categoria de HEROI do 25 de
Novembro, não só reconhece o facto histórico como nos liberta das garras
totalitárias comunistas. Somos livres. Obrigado. João Pedro Valente: E que tal uma rua em Lisboa
com o nome de Jaime Neves?
Carlos Chaves: “Hoje, todos
concordamos no papel fundamental do PCP para o nosso jogo democrático, seja a
nível nacional como autárquico. Também isso se deveu ao 25 de Novembro e aos
militares moderados que o executaram.” Pois é, este foi um erro dos ”moderados”
em 25 de Novembro de 1975, integrar um partido não democrático (e até hoje
assim se mantém) na nossa democracia! Continuam a querer rebentar com a nossa
democracia por dentro, basta ver os resultados dos governos do Costa suportados
pelo partido comunista e das infindáveis greves nas escolas, na CP, na saúde… Obrigado,
Carlos Moedas! Filipe
Paes de Vasconcellos: A ESQUERDA MERECE E DEVE SER DIABOLIZADA Mas que mal fez a Direita? Ao
invés, a Esquerda, desde o 25 de Abril, onde e sempre que lhe deram
oportunidade, rebentou com o país. Se não
fosse a direita democrática e liberal não tínhamos: 1 LIBERDADE 2 Liberdade de
imprensa 3 Economia privada 4 Desenvolvimento económico 5 Integração na EU . Ora, é
exactamente por tudo isto e muito mais que a esquerda diaboliza tanto a
direita. Assim, penso que todos os democratas descomplexados e que apoiam os
valores conseguidos, garantidos, no 25 de Novembro devem, isso sim, diabolizar
a Esquerda. João
Angolano: Relativamente à importância do PCP para o sistema democrático, fico banzo.
Sempre continuou a apoiar e nem sequer tem problemas nisso, todos os regimes
totalitários iguais àqueles que a sua ideologia propõe. Apenas adaptou o seu
modus operandi ao contexto possível em que sabe ser impossível a sua revolução
mas não se impede de tentar destruir esta democracia e ainda hoje vivemos o
impacto da destruição da economia que fez no PREC. Oh maldito complexo de
esquerda! Maria Nunes: Excelente artigo. Viva o 25 de
Novembro! Carlos
Real: A homenagem aos heróis do 25
de Novembro e completamente justa. Equiparar ao 25 de Abril também. Basta dizer
que a liberdade democrática iniciada em Abril só se confirmou em Novembro. Até
lá os comunistas pretendiam implementar uma ditadura em estilo soviético. O
caricato e a postura do centrão: O PSD parece ter vergonha porque sabe que os
maiores protagonistas de Novembro não eram ligados ao PPD/PSD. O mais surreal é
o PS, que tendo Soares e os militares chuchialistas como os grandes obreiros da
luta anti-comunista, está permanentemente a desvalorizar a data. Começa a ser
tempo de falar de Abril como um golpe militar motivado por razões corporativas
(não é por acaso que é designado pelo golpe dos capitães), como respeitar o 25
de Novembro como o fim das aventuras revolucionárias, e aceitar em definitivo a
vontade do povo (apenas 12% votaram no PCP em 1975). O povo não são os que
aparecem na rua, os dos sindicatos que sequestram os deputados, os que de braço
no ar aprovam moções em nome de todos, os que ocuparam fábricas e terras. Por
isso o PCP sempre desconfiou de eleições livres, de partidos alternativos, e de
liberdade dos media. Pedro Campos: Um excelente artigo sobre o 25
de Novembro relembrando a memória desse grande português, Jaime Neves!!!
Parabéns Carlos Moedas!!!
Paulo Machado: Hoje somos livres, Obrigado Jose
MarquesPedra
Nussapato: Tens pedra não é nus sapato, é nus cabeça Hugo
Silva > Pedra
Nussapato: E? Tristão: Obrigado, Carlos Moedas por
ter sido o detonador das comemorações do 25 de novembro e assim desmistificar a
narrativa da esquerda, de que a sua comemoração divide o país. Que assim seja,
a divisão será sempre entre quem defende a democracia e quem não , e isso é
positivo. Agora também acrescente-se, para se ser inteiro e limpo (como
escreveu Sophia de Mello Breyner sobre o dia 25 de abril) temos que ver sempre
o 25 de novembro como um complemento do indispensável 25 de abril e não como
substituto, isso não existe. Uma nota: sou daqueles que nunca conseguiu ver uma
vantagem sequer em termos, na nossa democracia: um partido totalitário antidemocrático
– é, pois, nessa única parte do texto, que não o acompanho. Tristão
> Pedra
Nussapato: Jaime Neves participou no 25 de abril para derrubar 48 anos de estado novo,
como era de extrema-direita? Agora não era um indivíduo fácil de catalogar,
aliás nesse tempo não é fácil de catalogar ninguém, principalmente se
utilizarmos as lentes da época. Ainda há pouco tempo vi o Otelo numa entrevista
da época a uma televisão espanhola a defender não a independência das
províncias ultramarinas (é assim que devem ser chamadas 🙂) mas um referendo às
populações sobre esse tema, quem imagina Otelo a defender tal coisa? Ramalho
Eanes, um dos operacionais do 25 de novembro, na sua última candidatura para
presidente da república foi apoiado pelo PCP, e esta heim? Não me vai dizer que
Eanes é comunista, aliás nem sei se é de direita ou esquerda, acredito que até
seja mais de esquerda…moderada e democrática, claro. Pedro
Campos > Pedra
Nussapato: Tem a certeza que Jaime Neves era da extrema-direita? Está completamente
enganado!!! Hugo Silva: "e continua a ser, a
forma dos partidos de esquerda condicionarem e tentarem definir o que deve ou
não ser discutido pelos moderados." Por muitos defeitos que tenha e por
muito que não se goste do homem, podemos agradecer a AV e ao CH, a mudança no
panorama político nacional, relativamente à esquerda e extrema-esquerda. Nunca
nenhum outro político e partido, se atreveu a atacar a esquerda e extrema-esquerda,
como AV o tem feito. Tem sofrido na pele esse ataque, é verdade, mas nunca se
acobardou. Tem sido também um dos maiores defensores do 25 de Novembro e do
reconhecimento da data e da sua importância na consolidação da democracia em
Portugal. Quanto aos "moderados", é graças a eles que este país está
a m.e.rd.a que está. Viva o 25 de Abril, viva o 25 de Novembro. Jose
Marques > Lúcio
Monteiro: Luci(o)ferino, V Exa é que é um verdadeiro saudosista do Estado Velho...
não se conforma ter deixado de viver as secretas intimidades com as camaradas
nas casas clandestinas Alexandre Arriaga e Cunha: Excelente homenagem! Gostei
muito Antonio
Silva > Lúcio
Monteiro: Olhe que não. Só os saudosistas do manicómio a céu aberto, vulgo PREC, é
que hoje escreveriam nos Pravda e Avante. Aos restantes, naturalmente
fascistas, restaria assistir à vida cinzenta em que o País definharia. Ninguém
quer enterrar o 25A mas a maioria do povo louva o 25N porque parou com o desvario
dos que destruíram o País e cavaram (e continuam a cavar) a divisão entre
portugueses,tudo em nome de uma rebaldaria a que teimam chamar revolução.
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