quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Esquerda de brinquedo

 

Para conquistar um povo brincalhão, em menoridade de perpetuidade.

Trump e a lua que não vemos

Os partidos tradicionais ditos de esquerda andam esquecidos das necessidades básicas. Com o que se tem passado só temos de nos admirar de ainda terem tantos votos.

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 12 nov. 2024, 00:2053

 Quando o dedo aponta para a lua, os tolos olham para o dedo”. O ditado popular, que se atribui aos chineses, é um dos que melhor se aplica aos tempos que temos vivido. Continuamos a olhar para o dedopara quem os cidadãos escolhem nas eleiçõesem vez de olharmos para a lua – a realidade do quotidiano e as razões que conduzem as pessoas a escolhas que nos parecem irracionais. Foi assim, outra vez, nos Estados Unidos, é e tenderá a ser assim em Portugal como nos outros países europeus.

Quando testemunhamos o que se passou em Valência, em que o cálculo político se sobrepôs ao interesse público e provocou vítimas mortais, com um Governo espanhol que se diz de esquerda, só temos de nos admirar como é que ainda há quem vote em alguns partidos.

Quando vemos um ex-primeiro-ministro de Portugal, que desperdiçou uma maioria absoluta e deixou o Estado no estado em que está nos seus serviços fundamentais do Estado Social, defender a “honra do PS” para atacar o seu sucessor na liderança do partido, manifestando total indiferença em relação ao problema que o autarca socialista e os seus munícipes enfrentam, só temos de nos admirar por não termos uma reacção ainda maior dos eleitores.

Quando vemos esse mesmo artigo de António Costa ser co-assinado por Pedro Silva Pereira que nunca se preocupou com nenhum problema do país enquanto era eurodeputado e se lembrou da Pátria quando Pedro Nuno Santos o excluiu de Estrasburgo, só nos temos de admirar de a revolta não ser maior.

Quando vemos os partidos à esquerda do PS a mobilizarem-se mais com o drama na Palestina do que com os problemas de Portugal, da educação à saúde, dos transportes públicos à habitação, só temos de nos admirar com os votos que ainda têm.

Henrique Raposo no Expresso diz que a esquerda se tem andado a suicidar. A esquerda e todos os que acompanham a realidade e não conseguem – ou nem se esforçam – para se distanciarem e não avaliarem o mundo pela sua bolha. E aqui incluem-se os jornalistas, como escrevem José Manuel Fernandes ou Helena Matos. Como é fundamental ler a análise de Jaime Nogueira Pinto.

Todas estas reflexões foram fundamentalmente desencadeadas pela vitória de Donald Trump, incompreensível aos nossos olhos e surpreendente por via do que líamos na imprensa mainstream norte-americana. Os jornalistas nos Estados Unidos já tinham feito uma espécie de apelo à reflexão na primeira vitória de Trump, mas esqueceram-se de a aplicar.

Claro que olhar para o passado com os olhos de hoje é fácil. Mas quando uma comunidade está preocupada com o nível de preços, a insegurança e a imigração, concentrar uma campanha nos direitos reprodutivos das mulheres – por muito importante que obviamente sejam – é um erro que a simples pirâmide de Maslow identifica.

Depois existe, no caso dos Estados Unidos, toda a mudança que tem ocorrido na sua população – identificada também no artigo de Henrique Raposo – e que é tão bem ilustrada nesta reportagem do Financial Times no Bronx. Uma das reportagens que mostra bem o que se passou – ou começa a passar – com a forma como Kamala Harris tentou conquistar os imigrantes. Um deles, que chegou do Yemen com oito anos diz-nos: “Crescemos em ditaduras, não nos podem querer enganar dizendo que alguém é ditador porque fala demais”.

A esquerda esqueceu-se do povo, esqueceu-se de que as necessidades básicas estão longe de estar satisfeitas e começou a subir na pirâmide de Maslow. Enquanto os novos partidos ou lideres como Trump falam sobre problemas básicos dos cidadãos, como as suas contas do supermercado, o preço do combustível, os transportes públicos que não funcionam, os imigrantes da casa ao lado e dos quais têm medo ou o vizinho com casa da Câmara e que não paga a renda nem trabalha, os partidos tradicionais, com especial relevo para os que se dizem de esquerda, falam de direitos que boa parte nem entende e até, no caso dos mais conservadores, é contra.

No caso da União Europeia o problema é ainda mais grave. Bruxelas afastou-se tanto dos cidadãos que temos razões para recear que a extraordinária construção europeia está a colocar a sua sobrevivência em risco. E com a política que se perspectiva com Trump, está condenado o modelo de ganhar votos e paz social com o dinheiro de um Estado que devia ser Social, mas que aos olhos da classe trabalhadora com salários baixos se deixou instrumentalizar por oportunistas.

Enquanto continuarmos a olhar para o dedo em vez de vermos a lua, manteremos esta trajectória de crescimento dos populismos e de retrocesso para um mundo mais fechado. Muito provavelmente já não vamos a tempo de evitar esse novo mundo mais conservador e fechado.

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COMENTÁRIOS (de 53)

DAVID RAMALHO: A maioria das pessoas quer paz, trabalho, família e segurança. Não é pedir muito nem é necessário ser-se muito inteligente para o perceber. Em países desenvolvidos as pessoas vão virar-se para quem lhes garanta isso (ou pelo menos prometa). O que me espanta é que partidos com dois ou três deputados ainda não tenham percebido os sinais do tempo. Eu até me espanta que a CS dê mais tempo de antena a estes partidos que aos verdadeiros problemas da maioria. Quantas vezes não estamos a ver um canal de notícias e é interrompida a programação com um “ E a agora vamos em directo para a reacção do BE”!. A CS terá a noção que, assim que faz isto, 98% dos telespectadores mudam de canal?                      Fernando ce: Muito bem. Exactamente o que penso. As elites políticas, sobretudo de esquerda, não fazem a mínima ideia do que passa a população. Fazem parte de uma bolha social em que se entreajudam uns aos outros, fazendo uso de “facilitadores” resultantes das suas relações sociais. Quem não pertence a essas “elites” vê o mundo de outra forma, bem mais difícil.                     Fernando Cascais: Segundo li, só cerca de 50% dos portugueses pagam impostos. Metade vive à conta da outra metade. Aí, que não se pode dizer uma coisa destas! Não se podia, agora, aos poucos já se vai dizendo e falando em injustiças fiscais.  Se aparecer alguém com a ideia de olhar com maior preocupação para os impostos pagos pelos 50% e respeitar religiosamente a recolha e aplicação desses dinheiros, teria pelo menos 50% dos votos. Mas não, somos demasiado socialistas para não nos preocuparmos com o dinheiro que pagamos de impostos e a sua aplicação. Libertarmo-nos do socialismo e da esquerda é um processo que está em andamento. Todos aqueles que podem contribuir para o sistema devem contribuir independentemente da cor, raça, religião, nacionalidade, gênero ou estado de alma. Ajudar quem precisa sim, ajudar quem não quer trabalhar não.                  Lourenço de Almeida: Mas para quem é que o Trump representa uma escolha irracional?! Perante um bando de nomes aldrabões como o Biden, Kamala e quem quer que tenha governado o país nos últimos anos (não vamos manter a ficção de que o Biden está vivo, pois não?) O Trump é a escolha racional!                          Maria Augusta Martins: A "isquerda" portuguesa faz-me lembrar a Frente Popular espanhola que iniciou a guerra Civil e que em todos os jornais e rádios (televisão não havia) anunciava sucessivamente retumbantes vitórias.... até à derrota final absoluta e sem condições, às tropas de Franco             Novo Assinante > Fernando Cascais: É FALSO que só cerca de 50% dos residentes em território nacional pague impostos. O que DE FACTO acontece é que cerca de 50% dos portugueses não paga IRS sobre os rendimentos do trabalho, o que é completamente diferente de não pagar impostos, pois continuam a pagar IRS sobre outros rendimentos (rendas, mais ou menos valias, juros e dividendos, etc) para além de pagarem IVA, IMT, IMI, ISP, taxas camarárias, etc, etc. Um bébé quando nasce, ou em sua substituição o seu(a sua) progenitor(a), começa logo a pagar IVA sobre as primeiras fraldas que usar.

Seria óptimo que fosse exigido um mínimo de conhecimento a quem pretendesse participar nestas ditas redes sociais, caso contrário não saímos da  ig n o rância que por aqui se vive!              Carlos Chaves:  “Foi assim, outra vez, nos Estados Unidos, é e tenderá a ser assim em Portugal como nos outros países europeus.” Uau, o “comentariado” em Portugal é de uma presunção de espantar! Cara Helena Garrido a sra. sabe que o que se passou nos EUA, faz agora uma semana, se chama democracia? Outra que tirou o dia para criticar o PS quando antes morria de amores pelo Costa e os seus muchachos! E já agora, se acha que a “esquerda” se anda a suicidar, por favor respeite a sua vontade!                  João Floriano: Que venha esse mundo mais conservador e não direi fechado, mas certamente menos amigável e acolhedor de golpistas oportunistas. A pirâmide de Maslow já tem uns anitos bons e poderemos argumentar que em 1943, com o mundo em plena guerra mundial, as necessidades e urgências das populações são diferentes das de hoje. Mas já foram mais diferentes porque estamos a viver tempos de verdadeira polarização e muitos, eu inclusive, olhamos com grande pessimismo para o que se vai seguir e se conseguiremos ir em frente sem uma terceira guerra mundial. Mas olhando para a pirâmide, constatamos imediatamente como a esquerda baralha os vários patamares, colocando como principais a realização pessoal e a autoestima de minorias em detrimento da maioria. Está totalmente errado porque o avanço das sociedades faz-se partindo das maiorias e não das minorias, sobretudo se essas minorias estão cada vez mais afastadas das maiorias e metidas no seu casulo.                   GateKeeper: Cara HG, embora um simples artigo não consiga anular, de todo, mais de 6 anos de " dourar a pílula" ao rato e a belém, esta sua crónica, para mim, além de ter cabeça, tronco e membros, num corpo já maduro, também está "razoavelmente vestida" apesar de algumas partes da vestimenta ainda precisarem de "corte & costura. A grande lição que a HG deve ter tirado é a de que : " Contra factos não há argumentos". Quanto às "escolhas irracionais", estou convicto de que o melhor conselho é: estudem a Lua e deixem o dedo em Paz! Observem e compreendam a floresta [indo lá!!] e não fiquem na estrada/no caminho, a olhar para o primeiro arbusto /árvore que a "tapa". E, sobretudo, "go there, talk to people from every place & origin.". Leiam, estudem, falem com a "rua"!! Vale a pena!                    João Diogo: Finalmente uma excelente crónica, esta esquerda woke, está fora da realidade, veja-se o exemplo da Mortágua, agora quer mais um imposto Musk, uma doida doutorada em economia no Reino Unido.                       Otavio Luso > Novo Assinante: Tem razão. Mas acontece que normalmente quem paga IRS, pouco ou nada recebe do Estado como contrapartida do que paga.                      Fernando Prata: Excelente artigo. Entendo que os partidos de esquerda chegaram a tal ponto da  negação da realidade, que são já um caso grave de saúde mental. Esses partidos e os portugueses que votam neles.                     João Floriano > Fernando Cascais: Mariana Mortágua, cada vez mais parecida com uma prima da Família  Adams propõe um novo imposto sobre fortunas, cujo património no seu conjunto seja acima de 3 milhões de euros. Se ouvi bem, o imposto andará entre 1,7%  e 2%. Pergunto-me quantos ricos haverá em Portugal que cumpram os requisitos de modo  a pagarem o novo imposto Mortágua que não vai resolver absolutamente nada. Cada vez que o euromilhões vem cá parar (e parece que nesse particular somos uns sortudos), eu calculo logo quanto é o Estado vai arrecadar: 20%. E agora mais esta sugestão da mana. Preferível não ter rendimentos, viver à pala, em vez de ser alvo  a depenar.                   maria santos: O Estado Social não se deixou instrumentalizar por oportunistas. O Estado Social foi conscientemente instrumentalizado pelo PS. Em pagamento dos votos recebidos dos subsídio-dependentes, portugueses pensionistas, imigrantes, etnias variadas e etc., hostilizando as classes médias de pequenas e médias empresas e trabalhadores por conta de outrem. O PSD/”não, não” teima em fazer-se de cego e surdo face ao tremendo legado socialista de António Costa. Na agenda diária está o estrondoso descalabro da segurança interna (carros incendiados agora é fixe) e da saúde pública (quebras do INEM são a face visível).   Temos pena e temos tempo.                    vitor gonçalves > David Ramalho: E porque tem "boa imprensa" ou seja , encheram a redações da  C.S. com  os seus apaniguados. E nós deixámos que isso acontecesse....               João Floriano > Fernando Cascais: Já viu o preso argelino que deu à sola algemado e tudo? É a anedota do dia.               vitor Manuel > Fernando Cascais: Repare que a estratégia é a mais indicada para os objectivos traçados. Quem fosse ensinado a pescar ficaria sem tempo para acorrer a todo o tipo de manifestações/concentrações, além das outras actividades conhecidas bastante mais criminosas.                   Joaquim Almeida: Boa crónica. Mas, lendo o parágrafo final,  o cu não diz bem com as calças. 

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