Para conquistar um povo brincalhão, em menoridade de perpetuidade.
Trump e a lua que não vemos
Os partidos tradicionais ditos de
esquerda andam esquecidos das necessidades básicas. Com o que se tem passado só
temos de nos admirar de ainda terem tantos votos.
OBSERVADOR, 12 nov. 2024, 00:2053
“Quando
o dedo aponta para a lua, os tolos olham para o dedo”. O ditado
popular, que se atribui aos chineses, é um dos que melhor se aplica aos tempos
que temos vivido. Continuamos a olhar
para o dedo – para quem os
cidadãos escolhem nas eleições – em vez de
olharmos para a lua – a realidade do quotidiano e as razões que
conduzem as pessoas a escolhas que nos parecem irracionais. Foi assim, outra vez, nos Estados Unidos,
é e tenderá a ser assim em Portugal como nos outros países europeus.
Quando testemunhamos o que se
passou em Valência, em que o cálculo político se sobrepôs ao interesse público
e provocou vítimas mortais, com um Governo espanhol que se diz de esquerda, só
temos de nos admirar como é que ainda há quem vote em alguns partidos.
Quando
vemos um ex-primeiro-ministro de Portugal, que desperdiçou uma maioria absoluta
e deixou o Estado no estado em que está nos seus serviços fundamentais do
Estado Social, defender a “honra do PS” para atacar o seu sucessor na liderança
do partido, manifestando total indiferença em relação ao problema que o autarca
socialista e os seus munícipes enfrentam, só temos de nos admirar por não
termos uma reacção ainda maior dos eleitores.
Quando vemos esse mesmo artigo
de António Costa ser co-assinado por Pedro Silva Pereira que
nunca se
preocupou com nenhum problema do país enquanto era eurodeputado e se lembrou da
Pátria quando Pedro Nuno Santos o excluiu de Estrasburgo, só nos temos de admirar de
a revolta não ser maior.
Quando vemos os partidos à esquerda do PS a mobilizarem-se mais com
o drama na Palestina do que com os problemas de Portugal, da educação à saúde,
dos transportes públicos à habitação, só temos de nos admirar com os votos que
ainda têm.
Henrique
Raposo no Expresso diz
que a esquerda se tem andado a suicidar. A esquerda e todos os que acompanham a realidade e não conseguem –
ou nem se esforçam – para se distanciarem e não avaliarem o mundo pela sua
bolha. E aqui incluem-se os jornalistas, como escrevem José Manuel Fernandes ou Helena Matos. Como é fundamental ler
a análise de Jaime Nogueira Pinto.
Todas estas reflexões foram fundamentalmente desencadeadas pela
vitória de Donald Trump, incompreensível aos nossos olhos e surpreendente por
via do que líamos na imprensa mainstream norte-americana. Os jornalistas nos Estados Unidos já tinham feito uma espécie de
apelo à reflexão na primeira vitória de Trump, mas esqueceram-se de a aplicar.
Claro que olhar para o passado com os
olhos de hoje é fácil. Mas quando uma comunidade está preocupada com o
nível de preços, a insegurança e a imigração, concentrar uma campanha nos
direitos reprodutivos das mulheres – por muito importante que obviamente sejam
– é um erro que a simples pirâmide de Maslow identifica.
Depois existe,
no caso dos Estados Unidos, toda a mudança que tem ocorrido na sua população –
identificada também no artigo de Henrique Raposo – e que é tão bem
ilustrada nesta reportagem do Financial
Times no Bronx. Uma das reportagens que mostra bem o que se
passou – ou começa a passar – com a forma como Kamala Harris tentou conquistar
os imigrantes. Um deles, que
chegou do Yemen com oito anos diz-nos: “Crescemos em ditaduras, não nos podem
querer enganar dizendo que alguém é ditador porque fala demais”.
A esquerda esqueceu-se do povo,
esqueceu-se de que as necessidades básicas estão longe de estar satisfeitas e
começou a subir na pirâmide de Maslow. Enquanto os novos partidos ou lideres como Trump falam sobre problemas
básicos dos cidadãos, como as suas contas do supermercado, o preço do
combustível, os transportes públicos que não funcionam, os imigrantes da casa
ao lado e dos quais têm medo ou o vizinho com casa da Câmara e que não paga a
renda nem trabalha, os partidos tradicionais, com especial relevo para os que
se dizem de esquerda, falam de direitos que boa parte nem entende e até, no
caso dos mais conservadores, é contra.
No caso da União Europeia o problema
é ainda mais grave. Bruxelas afastou-se tanto dos cidadãos que temos razões
para recear que a extraordinária construção europeia está a colocar a sua
sobrevivência em risco. E com a
política que se perspectiva com Trump, está condenado o modelo de ganhar votos
e paz social com o dinheiro de um Estado que devia ser Social, mas que aos
olhos da classe trabalhadora com salários baixos se deixou instrumentalizar por
oportunistas.
Enquanto continuarmos a olhar para o dedo em vez de vermos a lua,
manteremos esta trajectória de crescimento dos populismos e de retrocesso para
um mundo mais fechado. Muito provavelmente já não vamos a tempo de evitar esse
novo mundo mais conservador e fechado.
ELEIÇÕES
EUA ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO
COMENTÁRIOS (de 53)
DAVID RAMALHO: A maioria das pessoas
quer paz, trabalho, família e segurança. Não é pedir muito nem é necessário
ser-se muito inteligente para o perceber. Em países desenvolvidos as pessoas
vão virar-se para quem lhes garanta isso (ou pelo menos prometa). O que me
espanta é que partidos com dois ou três deputados ainda não tenham percebido os
sinais do tempo. Eu até me espanta que a CS dê mais tempo de antena a estes
partidos que aos verdadeiros problemas da maioria. Quantas vezes não estamos a
ver um canal de notícias e é interrompida a programação com um “ E a agora
vamos em directo para a reacção do BE”!. A CS terá a noção que, assim que faz
isto, 98% dos telespectadores mudam de canal? Fernando
ce: Muito bem. Exactamente o que penso. As elites políticas, sobretudo de
esquerda, não fazem a mínima ideia do que passa a população. Fazem parte de uma
bolha social em que se entreajudam uns aos outros, fazendo uso de
“facilitadores” resultantes das suas relações sociais. Quem não pertence a
essas “elites” vê o mundo de outra forma, bem mais difícil. Fernando
Cascais: Segundo li, só
cerca de 50% dos portugueses pagam impostos. Metade vive à conta da outra
metade. Aí, que não se pode dizer uma coisa destas! Não se podia, agora, aos
poucos já se vai dizendo e falando em injustiças fiscais. Se aparecer
alguém com a ideia de olhar com maior preocupação para os impostos pagos pelos
50% e respeitar religiosamente a recolha e aplicação desses dinheiros, teria
pelo menos 50% dos votos. Mas não, somos demasiado socialistas para não nos
preocuparmos com o dinheiro que pagamos de impostos e a sua aplicação. Libertarmo-nos
do socialismo e da esquerda é um processo que está em andamento. Todos aqueles
que podem contribuir para o sistema devem contribuir independentemente da cor,
raça, religião, nacionalidade, gênero ou estado de alma. Ajudar quem precisa
sim, ajudar quem não quer trabalhar não. Lourenço
de Almeida: Mas para quem é que o Trump representa uma escolha irracional?! Perante um
bando de nomes aldrabões como o Biden, Kamala e quem quer que tenha governado o
país nos últimos anos (não vamos manter a ficção de que o Biden está vivo, pois
não?) O Trump é a escolha racional! Maria Augusta Martins: A "isquerda"
portuguesa faz-me lembrar a Frente Popular espanhola que iniciou a guerra Civil
e que em todos os jornais e rádios (televisão não havia) anunciava
sucessivamente retumbantes vitórias.... até à derrota final absoluta e sem
condições, às tropas de Franco
Novo Assinante > Fernando Cascais: É FALSO que só cerca de 50%
dos residentes em território nacional pague impostos. O que DE FACTO acontece é
que cerca de 50% dos portugueses não paga IRS sobre os rendimentos do trabalho,
o que é completamente diferente de não pagar impostos, pois continuam a pagar
IRS sobre outros rendimentos (rendas, mais ou menos valias, juros e dividendos,
etc) para além de pagarem IVA, IMT, IMI, ISP, taxas camarárias, etc, etc. Um
bébé quando nasce, ou em sua substituição o seu(a sua) progenitor(a), começa
logo a pagar IVA sobre as primeiras fraldas que usar.
Seria óptimo que fosse exigido um mínimo de
conhecimento a quem pretendesse participar nestas ditas redes sociais, caso
contrário não saímos da ig n o rância que por aqui se vive! Carlos Chaves: “Foi assim, outra vez, nos Estados Unidos, é e
tenderá a ser assim em Portugal como nos outros países europeus.” Uau, o “comentariado”
em Portugal é de uma presunção de espantar! Cara Helena Garrido a sra. sabe que
o que se passou nos EUA, faz agora uma semana, se chama democracia? Outra que
tirou o dia para criticar o PS quando antes morria de amores pelo Costa e os
seus muchachos! E já agora, se acha que a “esquerda” se anda a suicidar, por
favor respeite a sua vontade! João
Floriano: Que venha esse mundo mais
conservador e não direi fechado, mas certamente menos amigável e acolhedor de
golpistas oportunistas. A pirâmide de Maslow já tem uns anitos bons e poderemos
argumentar que em 1943, com o mundo em plena guerra mundial, as necessidades e
urgências das populações são diferentes das de hoje. Mas já foram mais
diferentes porque estamos a viver tempos de verdadeira polarização e muitos, eu
inclusive, olhamos com grande pessimismo para o que se vai seguir e se
conseguiremos ir em frente sem uma terceira guerra mundial. Mas olhando para a
pirâmide, constatamos imediatamente como a esquerda baralha os vários
patamares, colocando como principais a realização pessoal e a autoestima de
minorias em detrimento da maioria. Está totalmente errado porque o avanço das
sociedades faz-se partindo das maiorias e não das minorias, sobretudo se essas
minorias estão cada vez mais afastadas das maiorias e metidas no seu casulo. GateKeeper: Cara HG, embora um simples
artigo não consiga anular, de todo, mais de 6 anos de " dourar a
pílula" ao rato e a belém, esta sua crónica, para mim, além de ter cabeça,
tronco e membros, num corpo já maduro, também está "razoavelmente vestida"
apesar de algumas partes da vestimenta ainda precisarem de "corte &
costura. A grande lição que a HG deve ter tirado é a de que : " Contra
factos não há argumentos". Quanto às "escolhas irracionais",
estou convicto de que o melhor conselho é: estudem a Lua e deixem o dedo em
Paz! Observem e compreendam a floresta [indo lá!!] e não fiquem na estrada/no
caminho, a olhar para o primeiro arbusto /árvore que a "tapa". E,
sobretudo, "go there, talk to people from every place & origin.".
Leiam, estudem, falem com a "rua"!! Vale a pena! João Diogo: Finalmente uma excelente
crónica, esta esquerda woke, está fora da realidade, veja-se o exemplo da
Mortágua, agora quer mais um imposto Musk, uma doida doutorada em economia no
Reino Unido.
Otavio Luso > Novo Assinante: Tem razão. Mas acontece que
normalmente quem paga IRS, pouco ou nada recebe do Estado como contrapartida do
que paga.
Fernando Prata: Excelente artigo. Entendo que os partidos de esquerda chegaram a tal ponto
da negação da realidade, que são já um caso grave de saúde mental. Esses
partidos e os portugueses que votam neles. João Floriano > Fernando Cascais: Mariana Mortágua, cada vez
mais parecida com uma prima da Família Adams propõe um novo imposto sobre
fortunas, cujo património no seu conjunto seja acima de 3 milhões de euros. Se
ouvi bem, o imposto andará entre 1,7% e 2%. Pergunto-me quantos ricos
haverá em Portugal que cumpram os requisitos de modo a pagarem o novo
imposto Mortágua que não vai resolver absolutamente nada. Cada vez que o
euromilhões vem cá parar (e parece que nesse particular somos uns sortudos), eu
calculo logo quanto é o Estado vai arrecadar: 20%. E agora mais esta sugestão
da mana. Preferível não ter rendimentos, viver à pala, em vez de ser alvo
a depenar. maria
santos: O Estado Social não se deixou instrumentalizar por oportunistas. O
Estado Social foi conscientemente instrumentalizado pelo PS. Em pagamento dos votos
recebidos dos subsídio-dependentes, portugueses pensionistas, imigrantes,
etnias variadas e etc., hostilizando as classes médias de pequenas e médias
empresas e trabalhadores por conta de outrem. O PSD/”não, não” teima em
fazer-se de cego e surdo face ao tremendo legado socialista de António Costa. Na
agenda diária está o estrondoso descalabro da segurança interna (carros
incendiados agora é fixe) e da
saúde pública (quebras do INEM são a face visível). Temos pena e temos
tempo.
vitor gonçalves > David Ramalho: E porque tem "boa
imprensa" ou seja , encheram a redações da C.S. com os seus
apaniguados. E nós deixámos que isso acontecesse.... João Floriano > Fernando Cascais: Já viu o preso argelino que
deu à sola algemado e tudo? É a anedota do dia. vitor Manuel
> Fernando Cascais: Repare que a estratégia é a
mais indicada para os objectivos traçados. Quem fosse ensinado a pescar ficaria
sem tempo para acorrer a todo o tipo de manifestações/concentrações, além das
outras actividades conhecidas bastante mais criminosas. Joaquim Almeida: Boa crónica. Mas, lendo o parágrafo final, o cu
não diz bem com as calças.
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