Que a chafurdice dos discursos da nossa
deselegância pedante permanecesse apenas cá por casa! Como podemos permitir que
os ódios caseiros, que nos bafejam por cá, sejam dados a conhecer lá fora? A
nossa gente da boca suja habitual (não sei se da roupa também), não devia
passar-se lá para fora, em saliência tosca para nós, embora ninguém de lá se
deva ressentir da falta de água e sabão de cá. Ou do nosso excesso de ruído
tosco. “Cada um é seus caminhos”, mas
o que é demais é moléstia, a ser cortada pela raiz, bolas! Ao menos para não
pisar a bandeira lá fora, pois cá dentro já estamos habituados, pelo menos de
há cinquenta anos a esta parte.
Nova comissária. Como Maria Luís
convenceu a larga maioria dos eurodeputados em Bruxelas (mas não Catarina
Martins nem João Oliveira)
EDGAR CAETANO (No Parlamento
Europeu, em Bruxelas): Texto
Com bisturi de cirurgião, ex-ministra das Finanças respondeu às questões dos eurodeputados – até mesmo daqueles que traziam na algibeira as críticas mais violentas: alguns dos seus compatriotas.
OBSERVADOR, 06 nov. 2024, 18:434
Quando Maria Luís Albuquerque foi
escolhida como comissária para os Serviços Financeiros e União de Poupança e
Investimentos, o Politico.eu, jornal de leitura obrigatória para quem percorre
diariamente os corredores de Bruxelas e Estrasburgo, escrevia que a ex-ministra
das Finanças trazia consigo “alguma bagagem“, no
sentido de “esqueletos no armário” que poderiam dificultar a sua nomeação. Mas, exceptuando
as críticas muito violentas de que foi alvo por alguns dos seus
compatriotas – Catarina Martins e
João Oliveira –, Maria Luís enfrentou uma audiência
relativamente amigável com assertividade, respeito rígido pelos tempos máximos
de resposta e, até, algum sentido de humor.
Uma das características apontadas a
Maria Luís Albuquerque, nesse perfil traçado pelo Politico.eu, era que a
(então) comissária indigitada tinha
conquistado uma “reputação de ser uma figura muito séria, por vezes, até,
austera“. Para tentar desfazer essa imagem, logo no primeiro encontro
com os eurodeputados do Parlamento Europeu, a ex-ministra das Finanças
aproveitou uma questão relacionada com a influência dos mercados
financeiros no acesso à habitação, sobretudo por parte dos jovens, para
arriscar uma piada: “Tenho três filhos
jovens e não faço ideia de quando conseguirei correr com eles para fora de casa”.
O bom humor resultou, com a comissária
indigitada a arrancar algumas gargalhadas de vários membros da vasta audiência. Mas quem não se riu foi Catarina
Martins, que chamou a si o papel de arqui-inimiga de Maria Luís na audição
desta quarta-feira no Parlamento Europeu em Bruxelas.
Poucos minutos antes, a eurodeputada
eleita pelo Bloco de Esquerda tinha feito críticas violentas à ex-ministra
das Finanças: “Sei que
conhece bem o sector financeiro e em Portugal conhecemos bem o resultado dessa
proximidade. É um caso exemplar de portas giratórias ou da raposa a tomar
conta do galinheiro. Neste caso, as galinhas são o fundo de pensões que podem
mesmo acabar comidos”.
Catarina
Martins acusou Maria Luís de ter feito contratos swap (de proteção de
risco de taxa de juro) que “custaram milhões” à Refer, de ter feito de Portugal
“cobaia da Europa na resolução do BES”, de ter “oferecido o BPN e posto o país
a pagar o buraco”, e de ter, também, “oferecido a ANA, por meio século, no
negócio arrasado pelo Tribunal de Contas português”.
▲ Catarina
Martins atirou a matar: "Já sabe para qual banco vai trabalhar depois [de
terminar o mandato como comissária]?" Alain ROLLAND
Foi, de longe, o momento mais tenso
de toda a sessão que durou aproximadamente três horas. Mas Maria
Luís Albuquerque estava preparada para os argumentos que sabia que iriam
ser trazidos pelos eurodeputados portugueses ligados ao The Left (Catarina
Martins e, também, João Oliveira, que não imprimiu a mesma agressividade
retórica que a deputada bloquista na sua inquirição).
“Qualquer pessoa que saiba como o banco funciona percebe que as decisões
sobre vendas de carteiras de créditos são decisões puramente da gestão
executiva que não passam sequer pelos conselhos de administração não executivos
e, muito menos, pelos titulares das pastas das Finanças. Não é assim que as
coisas funcionam…”;
“Relativamente à Refer,
desconheço a fonte de informação da senhora deputada, mas o resultado dos
contratos de swaps que eu contratei na Refer foi um benefício
superior a 40 milhões de euros. Os contratos ruinosos a que a senhora deputada
se refere foram contratados noutras empresas, antes do tempo em que eu sequer
assumi funções governativas, e empresas essas onde nunca trabalhei”;
“Sobre as privatizações, já
tivemos amplas ocasiões de discutir esta matéria, incluindo nas seis comissões
de inquérito em que eu participei no Parlamento português devido às medidas
tomadas durante o período de ajustamento. Mas, na verdade, todas estas
operações foram consideradas procedimentalmente válidas pelas entidades
competentes, e a própria ANA, como foi visível numa audição recente no
Parlamento português, teve uma primeira versão muito positiva do Tribunal de
Contas que depois, por razões que eu ainda não compreendi completamente, foi
substituída por uma outra versão mais negativa”.
Neste último ponto, Maria Luís
Albuquerque referia-se à entrega pelo Tribunal de Contas ao Governo, em 2015,
de um relatório preliminar relacionado com a privatização da ANA. Essa primeira
versão foi entregue ao Governo para que pudesse haver contraditório dos
visados. Mas vários anos, depois, já com José Tavares como presidente do
Tribunal de Contas (nomeado pelo PS), o relatório final foi publicado e foi
muito mais crítico para o executivo que Maria Luís Albuquerque integrou.
Mais recentemente, José Tavares, que
abandonou há poucas semanas o cargo, indicou na Assembleia da República que
essa primeira informação (entregue em 2015) sobre a privatização da ANA
Aeroportos não era um relatório de auditoria da instituição, pelo que não
vinculava nessa fase o tribunal – ou seja, não poderia ser vista como uma
“primeira versão” do relatório. Porém, não terá havido mais qualquer convite a contraditório quando se
obtiveram as conclusões definitivas, mais desfavoráveis para o governo de então.
O despique entre Catarina Martins e
Maria Luís Albuquerque, na íntegra
Momentos
depois, João Oliveira, deputado comunista que também pertence ao The
Left, acusou Maria Luís Albuquerque de ser alguém que irá defender a “roleta da
especulação” dos mercados de capitais, o que, na sua visão, coloca em perigo as
poupanças e as pensões dos cidadãos.
Sobre a União Bancária, defendida
acerrimamente por Maria Luís Albuquerque logo desde a intervenção inicial, João
Oliveira diz que esta só irá promover “a concentração do sector
bancário e a criação de ainda maiores grupos económicos”, políticas que
“multiplicam os lucros [da banca] e concentram o poder na mãos de poucos
banqueiros”.
Mas, já depois da audição, as palavras
de Catarina Martins mereceram muito mais críticas por parte dos eurodeputados
mais próximos de Maria Luís Albuquerque do que as palavras de João
Oliveira. Lídia Pereira, do PSD, e João Cotrim Figueiredo, da
Iniciativa Liberal, reprovaram as declarações de Catarina Martins na audição,
considerando-as “deselegantes”.
“Acho
que foi uma deselegância e faz parte do radicalismo a que estamos,
infelizmente, habituados com os representantes do Bloco de Esquerda e em
particular de Catarina Martins”, afirmou Lídia Pereira, questionada pelo
Observador. A
eurodeputada do PPE sublinhou a “tranquilidade” com que Maria Luís Albuquerque
respondeu a essas questões.
Já João Cotrim Figueiredo disse-se “chocado” com a interpelação
de Catarina Martins, com o “uso da demagogia e da mentira para o combate
político”, e também o recurso pelo BE “ao populismo que tanto dizem querer
combater”.
▲ Palavras
"deselegantes" de Catarina Martins "fazem parte do radicalismo a
que estamos, infelizmente, habituados com os representantes do BE", disse
Lídia Pereira.
Alain ROLLAND
Com mais ou menos críticas vindas (dos
portugueses) do The Left, Maria Luís Albuquerque sabia que, mais do que
conquistar a nomeação, apenas tinha de não cometer erros que a comprometessem –
até porque outro compatriota, Francisco
Assis, ligado ao PS e ao Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e
Democratas no Parlamento Europeu (S&D), já dava a entender que votaria
favoravelmente a nomeação de Maria Luís Albuquerque.
Fazemos parte de famílias políticas
diferentes, temos filiações programáticas bem distintas e, no passado, tivemos
divergências profundas, o que é natural e faz parte do debate democrático. Mas,
neste momento, estamos num
tempo e num lugar distintos e penso que temos obrigação de compreender isso
mesmo”, afirmou Francisco Assis antes de fazer a Maria Luís Albuquerque uma
questão sobre supervisão financeira que a comissária (indigitada) respondeu com
facilidade.
No final da sessão, o mesmo Francisco
Assis falou com o Observador e confirmou a intenção de votar favoravelmente,
isto depois de Marta Temido ter inicialmente manifestado algumas
dúvidas. “É para isso que se fazem as audições” e os comissários indigitados
são ouvidos pelos eurodeputados, disse Francisco Assis, acrescentando que “houve uma alteração profunda do quadro
regulatório europeu” nesta área financeira, para o qual a anterior
governação socialista “contribuiu fortemente”, diz Francisco Assis.
“Teremos
mais convergências do que divergências, como vimos nesta audição, que foi uma
boa audição”, disse Francisco Assis, ao Observador: “não tenho dúvida nenhuma
em dizer que devemos votar a favor“.
Marta Temido não esteve, nesta
quarta-feira, no Parlamento Europeu em Bruxelas, já que esteve fora a
participar numa conferência. No final de agosto, a ex-ministra da Saúde
tinha feito declarações duras sobre Maria Luís Albuquerque – mais próximas das
de Catarina Martins do que das de Francisco Assis. “É evidente que o nome da dra. Maria Luís Albuquerque recorda a todos
os portugueses políticas de austeridade que são para todos de má memória. Que
são políticas muito distintas daquelas que a União Europeia seguiu nos últimos
cinco anos, com bons resultados. Também nos recorda algumas polémicas, desde o
caso dos swap a questões relacionadas com bancos e de objetivos
inalcançados ao nível de políticas, por exemplo, de redução da dívida”,
sublinhou Marta Temido, citada pela Rádio Renascença em
agosto.
Poucas horas depois da audição, ficou
claro que Maria Luís Albuquerque conseguiria facilmente obter a maioria de dois
terços de que necessitava para ser nomeada. Uma centrista, Stéphanie Yon-Courtin
(Renew Europe), que foi uma das eurodeputadas a questionar Maria Luís
Albuquerque, disse ao Politico que a
portuguesa “respondeu às questões com sucesso e de forma convincente”.
O desempenho da comissária indigitada
também foi visto com bons olhos pelos Verdes. O vice-presidente do
comité ECON, Damian Boeselager, disse ao mesmo jornal que a portuguesa tinha
“boas hipóteses” de ser nomeada. Ela
“fez um trabalho muito competente” e “parece ter conhecimento destes temas”,
afirmou o eurodeputado.
Pouco depois ficou a saber-se que os
eurodeputados de todos os partidos – excepto os da The Left, a
que pertencem o PCP e o BE, e a direita nacionalista dos “Soberanistas” (ESN)
– tinham votado a favor de Maria Luís Albuquerque na reunião de
avaliação que foi tida entre um grupo restrito de eurodeputados, logo após a
audição da ex-ministra das Finanças portuguesa. Ficou, assim, garantida a
aprovação com relativa facilidade.
O The
Left quis, aliás, incluir uma declaração de voto (minoritário) para deixar
bem vincada a sua oposição à nomeação de Maria Luís Albuquerque. Mas
a comissária conseguiu o apoio de vários partidos, desde os Verdes, o
S&D (a que pertence o PS) e os Patriotas Pela Europa (a que pertence o
Chega).
“Eu não defendo desregulação, não gosto sequer da palavra
desregulação"
O Parlamento Europeu não fez um relato
oficial da conclusão da reunião desta comissão de avaliação mas esse facto foi
rapidamente assumido como uma aprovação tácita (já que apenas haveria um
comunicado rápido caso houvesse um chumbo). O Partido Popular Europeu (PPE),
a família política de Maria Luís, foi o primeiro a dar os parabéns à
ex-ministra das Finanças.
Maria Luís Albuquerque conseguiu, assim, a nomeação para um mandato
como comissária europeia na Comissão Europeia, em Bruxelas – não sendo certo se
até ao fim do mandato (de cinco anos) as soluções que a ex-ministra das
Finanças preconiza, de estímulo aos mercados de capitais, irão produzir efeitos
no aumento da competitividade europeia e, também, na melhoria do acesso à
habitação por parte dos jovens (incluindo os seus três filhos).
*O jornalista viajou até Bruxelas a
convite do Parlamento Europeu
COMISSÃO
EUROPEIA EUROPA MUNDO PARLAMENTO
EUROPEU UNIÃO
EUROPEIA ECONOMIA SERVIÇOS
FINANCEIROS BANCA
COMENTÁRIOS:
João Floriano: E o que de bom se pode esperar de gente como João
Oliveira ou Catarina Martins? Nem sequer deviam ter sido eleitos, não nos
representam, e muito menos acrescentam algum valor aos grupos de que fazem
parte. Portugal deve ser motivo de anedotas por ainda ter um partido
comunista no Parlamento. Jorge
Frederico Cardoso Vieira Barbosa: Qual
é o espanto face ao não convencimento da Catarina Martins e dl Oliveira? Já
alguém conseguiu convencer comunistas seja do que for? A propósito, e como
exemplo, a CGPT (pcp) desde o 25 de Abril NUNCA assinou 1 só acordo de
concertação social Maria
Ribeiro: Isto é
exemplo do que o BE tem de melhor para parlamento UE!!! Não é uma novidade, mas
estamos conversados, foi o prémio do casamento com Costa, permitindo assim
aumentar a reforma. Maria
Ribeiro: Não me
surpreende. Catarina é mais para o teatro e para os arraiais do be tipo vida justa,
sos racismo. Economia e finanças ela deixa para amiga Mortágua, que ela acha
que é mais entendida.
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