Embora dantes fosse menos visível, por
falta dos meios de comunicação que hoje informam mais, mas depressa esquecem,
relegando os que já foram visíveis para o rol dos apagados, trazidos de vez em
quando à baila na lembrança gentil dos apresentadores televisivos, quer nas
conversações e exposição de fotografias, como faz a Tânia, quer revendo
programas e revivendo momentos de glória televisiva, como faz Júlio Isidro. Como
é natural, também, mas causando tristeza quando parece propositado o
esquecimento a que são votados, e cuja participação podia ser mais frequente. E
sobretudo, também, julgo que se deveria dar mais projecção aos compositores pianistas
ou de outros instrumentos musicais, raramente em cena televisiva, em
programações que fossem menos votadas ao bla bla bla da nossa simplicidade
efusiva e receptiva. Quanto à juventude, só se desejaria que ela progredisse
intelectualmente. Mas as solicitações do prazer impõem-se hoje, mais do que do desejar
ser. Por isso perdemos tempo não tanto a olhar para os livros que nos dariam
perspectivas de entendimento maior, mas a olhar o que faz o vizinho – entre a
pressa e o julgamento. Apressado também. Ou mesquinho. Precisamos de um país
mais generoso sim, como sugere LARA DE SOUSA DANTAS FORBES, na sua análise
ponderada. Mais reflexivo também. E isso tem a ver com o status – em que impera
a crítica politiqueira que duvido que a juventude aprecie, mesmo sob o espectro
de uma guerra num mundo assustador, de que a juventude talvez mal se aperceba. Mas
aqueles que se apercebem e desejam participar são, muitas vezes, apodados de
arrivismo, no julgamento apressado ou invejoso dos que não aceitam facilmente o
êxito alheio.
A Geração dos 20-30: Entre a Pressa e
o Julgamento
Precisamos de um país que acolha os sonhos de quem quer ir mais
longe, mas também respeite quem escolhe ficar onde está.
LARA DE SOUSA DANTAS FORBES 30 Under 30; licenciada em Direito e mestre
em Direito e Inovação pela Nova Law School
OBSERVADOR, 23
nov. 2024, 00:12
Vivemos tempos de aparente
acessibilidade. As pessoas estão mais próximas, os cargos
parecem ao nosso alcance, e os convites para networking chegam com um
clique. Mas nunca a pressão foi tão
grande. Estamos numa corrida que parece não ter linha de chegada, onde o
sucesso é medido em métricas invisíveis e a aceitação depende de estarmos
constantemente ocupados ou visíveis.
Somos uma sociedade inquieta, que vive
num ritmo acelerado, mas sem tempo para compreender o verdadeiro significado da
pressa. Corremos para cumprir metas, mas muitas vezes sem saber exactamente
onde queremos chegar. E no meio desta correria, caímos na armadilha do
julgamento. Julgamos quem acelera demais, como se a ambição fosse um pecado. Julgamos quem aprecia a calma de um café, como se o simples acto
de parar fosse sinónimo de preguiça. Admiramos quem vive em reuniões e projectos,
mas desdenhamos de quem escolhe um caminho mais lento e introspectivo,
rotulando-o de improdutivo.
Portugal, com a sua alma colectiva e um
espírito que se orgulha de empatia e hospitalidade, revela-se, muitas vezes, um
país de paradoxos. Gostamos de
nos apresentar como acolhedores, mas por baixo dessa imagem existe um peso
enorme. Somos rápidos a apontar o dedo, a criticar
quem faz demasiado e quem não faz nada. Cobramo-nos e cobramos aos outros. Exigimos que os empreendedores rompam
barreiras, mas lamentamos que os salários sejam baixos e as oportunidades
escassas. Acusamos os que ambicionam altos voos de viverem numa bolha, mas
não deixamos de criticar quem escolhe ficar pelo caminho tradicional.
A geração dos 20-30 sente isso
de forma visceral. Somos a geração com o maior acesso à informação, com uma
infinidade de ferramentas e oportunidades à disposição. Mas
nunca estivemos tão pressionados a traduzir esse acesso em resultados
concretos, a transformá-lo em sucesso imediato. Nunca foi tão fácil ser visto, mas
também nunca foi tão assustador. Há uma
necessidade constante de parecer produtivo, ocupado, a construir algo. Mostramos
a nossa vida como uma vitrina perfeita, mas por trás dela carregamos
inseguranças, ansiedade e medo de falhar.
Portugal é, talvez, uma terra de
falsa acessibilidade. Parece que tudo está ao alcance, mas, na realidade, muito
permanece fechado. A burocracia continua a ser um obstáculo para sonhos
empreendedores. O
investimento em inovação e talento é insuficiente, e as ideias muitas vezes não
encontram espaço para crescer. Mas ao mesmo tempo, há uma resiliência única neste país, uma
capacidade de resistir e tentar, mesmo quando tudo parece impossível. É uma
terra de coração enorme, mas também de barreiras difíceis de ultrapassar.
Para esta geração, o desafio não é
apenas lutar contra as barreiras externas, mas também contra as internas. Somos
os primeiros a sentir o peso de uma sociedade que prega empatia, mas que
frequentemente pratica julgamento. Vivemos
sob a pressão de sermos tudo ao mesmo tempo – bem-sucedidos, autênticos,
criativos, e tudo isto sem nunca parar. É um peso que nos esgota, porque a
expectativa de perfeição está em toda parte: na carreira, na vida pessoal, nas
escolhas que fazemos.
A crise que enfrentamos não é apenas
económica, mas emocional, social e cultural. Vivemos
numa era de possibilidades infinitas, mas o medo de falhar ou de não corresponder
aos padrões impostos transforma essas possibilidades em fardos. A dúvida
constante sobre o que é “certo” ou “suficiente” mina a nossa confiança e
rouba-nos a liberdade de explorar caminhos alternativos sem medo do julgamento.
Talvez seja hora de questionarmos esta pressa que nos consome. Porque é que corremos? Porque é que
julgamos tanto? Portugal precisa de mais do que empatia nas palavras. Precisa
de acções concretas que tornem o futuro mais leve para quem o está a construir
agora. Precisamos de um país que acolha os sonhos de quem quer ir mais longe,
mas também respeite quem escolhe ficar onde está.
No final, a mudança que precisamos começa connosco, ao rejeitarmos o
julgamento fácil e abraçarmos a compreensão. Só assim podemos tornar Portugal um
lugar onde a ambição e a calma coexistem, onde ser jovem é uma oportunidade e
não um fardo, e onde o futuro pode ser construído com menos pressa e mais
humanidade.
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