sábado, 23 de novembro de 2024

Como em todo o sempre, afinal


Embora dantes fosse menos visível, por falta dos meios de comunicação que hoje informam mais, mas depressa esquecem, relegando os que já foram visíveis para o rol dos apagados, trazidos de vez em quando à baila na lembrança gentil dos apresentadores televisivos, quer nas conversações e exposição de fotografias, como faz a Tânia, quer revendo programas e revivendo momentos de glória televisiva, como faz Júlio Isidro. Como é natural, também, mas causando tristeza quando parece propositado o esquecimento a que são votados, e cuja participação podia ser mais frequente. E sobretudo, também, julgo que se deveria dar mais projecção aos compositores pianistas ou de outros instrumentos musicais, raramente em cena televisiva, em programações que fossem menos votadas ao bla bla bla da nossa simplicidade efusiva e receptiva. Quanto à juventude, só se desejaria que ela progredisse intelectualmente. Mas as solicitações do prazer impõem-se hoje, mais do que do desejar ser. Por isso perdemos tempo não tanto a olhar para os livros que nos dariam perspectivas de entendimento maior, mas a olhar o que faz o vizinho – entre a pressa e o julgamento. Apressado também. Ou mesquinho. Precisamos de um país mais generoso sim, como sugere LARA DE SOUSA DANTAS FORBES, na sua análise ponderada. Mais reflexivo também. E isso tem a ver com o status – em que impera a crítica politiqueira que duvido que a juventude aprecie, mesmo sob o espectro de uma guerra num mundo assustador, de que a juventude talvez mal se aperceba. Mas aqueles que se apercebem e desejam participar são, muitas vezes, apodados de arrivismo, no julgamento apressado ou invejoso dos que não aceitam facilmente o êxito alheio.

A Geração dos 20-30: Entre a Pressa e o Julgamento

Precisamos de um país que acolha os sonhos de quem quer ir mais longe, mas também respeite quem escolhe ficar onde está.

LARA DE SOUSA DANTAS FORBES 30 Under 30; licenciada em Direito e mestre em Direito e Inovação pela Nova Law School

OBSERVADOR, 23 nov. 2024, 00:12

Vivemos tempos de aparente acessibilidade. As pessoas estão mais próximas, os cargos parecem ao nosso alcance, e os convites para networking chegam com um clique. Mas nunca a pressão foi tão grande. Estamos numa corrida que parece não ter linha de chegada, onde o sucesso é medido em métricas invisíveis e a aceitação depende de estarmos constantemente ocupados ou visíveis.

Somos uma sociedade inquieta, que vive num ritmo acelerado, mas sem tempo para compreender o verdadeiro significado da pressa. Corremos para cumprir metas, mas muitas vezes sem saber exactamente onde queremos chegar. E no meio desta correria, caímos na armadilha do julgamento. Julgamos quem acelera demais, como se a ambição fosse um pecado. Julgamos quem aprecia a calma de um café, como se o simples acto de parar fosse sinónimo de preguiça. Admiramos quem vive em reuniões e projectos, mas desdenhamos de quem escolhe um caminho mais lento e introspectivo, rotulando-o de improdutivo.

Portugal, com a sua alma colectiva e um espírito que se orgulha de empatia e hospitalidade, revela-se, muitas vezes, um país de paradoxos. Gostamos de nos apresentar como acolhedores, mas por baixo dessa imagem existe um peso enorme. Somos rápidos a apontar o dedo, a criticar quem faz demasiado e quem não faz nada. Cobramo-nos e cobramos aos outros. Exigimos que os empreendedores rompam barreiras, mas lamentamos que os salários sejam baixos e as oportunidades escassas. Acusamos os que ambicionam altos voos de viverem numa bolha, mas não deixamos de criticar quem escolhe ficar pelo caminho tradicional.

A geração dos 20-30 sente isso de forma visceral. Somos a geração com o maior acesso à informação, com uma infinidade de ferramentas e oportunidades à disposição. Mas nunca estivemos tão pressionados a traduzir esse acesso em resultados concretos, a transformá-lo em sucesso imediato. Nunca foi tão fácil ser visto, mas também nunca foi tão assustador. Há uma necessidade constante de parecer produtivo, ocupado, a construir algo. Mostramos a nossa vida como uma vitrina perfeita, mas por trás dela carregamos inseguranças, ansiedade e medo de falhar.

Portugal é, talvez, uma terra de falsa acessibilidade. Parece que tudo está ao alcance, mas, na realidade, muito permanece fechado. A burocracia continua a ser um obstáculo para sonhos empreendedores. O investimento em inovação e talento é insuficiente, e as ideias muitas vezes não encontram espaço para crescer. Mas ao mesmo tempo, há uma resiliência única neste país, uma capacidade de resistir e tentar, mesmo quando tudo parece impossível. É uma terra de coração enorme, mas também de barreiras difíceis de ultrapassar.

Para esta geração, o desafio não é apenas lutar contra as barreiras externas, mas também contra as internas. Somos os primeiros a sentir o peso de uma sociedade que prega empatia, mas que frequentemente pratica julgamento. Vivemos sob a pressão de sermos tudo ao mesmo tempo – bem-sucedidos, autênticos, criativos, e tudo isto sem nunca parar. É um peso que nos esgota, porque a expectativa de perfeição está em toda parte: na carreira, na vida pessoal, nas escolhas que fazemos.

A crise que enfrentamos não é apenas económica, mas emocional, social e cultural. Vivemos numa era de possibilidades infinitas, mas o medo de falhar ou de não corresponder aos padrões impostos transforma essas possibilidades em fardos. A dúvida constante sobre o que é “certo” ou “suficiente” mina a nossa confiança e rouba-nos a liberdade de explorar caminhos alternativos sem medo do julgamento.

Talvez seja hora de questionarmos esta pressa que nos consome. Porque é que corremos? Porque é que julgamos tanto? Portugal precisa de mais do que empatia nas palavras. Precisa de acções concretas que tornem o futuro mais leve para quem o está a construir agora. Precisamos de um país que acolha os sonhos de quem quer ir mais longe, mas também respeite quem escolhe ficar onde está.

No final, a mudança que precisamos começa connosco, ao rejeitarmos o julgamento fácil e abraçarmos a compreensão. Só assim podemos tornar Portugal um lugar onde a ambição e a calma coexistem, onde ser jovem é uma oportunidade e não um fardo, e onde o futuro pode ser construído com menos pressa e mais humanidade.

COMPORTAMENTO      SOCIEDADE

 

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