O 25 de Abril é só dela, da esquerda, que reste algum orgulho à
direita. Embora já não aquente nem arrefente, a própria direita tendo-se
adaptado bem, numa indiferença pátria que sempre achei pútrida.
BIOGRAFIA
DE RUI RAMOS, que transcrevo do OBSERVADOR, como homenagem ao cidadão português
actual, para o meu blog passadista.
«Nasci
a 22 de Maio de 1962, licenciei-me em história na Universidade Nova de Lisboa,
e doutorei-me em ciência política na Universidade de Oxford. Sou professor e
investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e
professor convidado do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.
Escrevi, entre outros livros, A Segunda Fundação (1890-1926), volume VI da
História de Portugal dirigida por José Mattoso (Círculo de Leitores), e a
História de Portugal (Esfera dos Livros, em co-autoria com Bernardo de
Vasconcelos e Nuno Monteiro), que recebeu o Prémio D. Dinis em 2009. Na
imprensa, tive uma coluna semanal no Diário Económico (2005), e depois no
Público (2006-2009), Correio da Manhã (2009) e Expresso (2010-2013). Colaborei
em programas de debate semanal na RTP-N, TVI-24, SIC-N e Canal Q, e fui autor
da série de 12 episódios “Portugal de...”, da RTP-1 (2006-2007).»
O problema do 25 de Novembro
O problema do 25 de Novembro é que a sua história e celebração
obrigariam a oligarquia a reconhecer que a democracia assentou numa coligação
diferente da que governou o país nos últimos anos.
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 22 nov. 2024, 00:224
Qual é o problema, quase
cinquenta anos depois, de celebrar o 25 de Novembro de 1975? Ofusca
o 25 de Abril, dizem uns. Como? O movimento militar de 25 de Novembro confirmou
o ponto em que o movimento de 25 de Abril de 1974 unira toda a gente: a fundação em Portugal de uma democracia
pluralista, assente na vontade dos cidadãos expressa em eleições livres. Foi esse o
mandato que o Movimento das Forças Armadas se atribuiu em 1974, e ao qual o
país aderiu. Depois,
uma parte do MFA esqueceu isso, e abusou do poder militar para estatizar a
economia, constranger a Assembleia Constituinte, e perseguir os que não se
entusiasmaram com o seu socialismo de caserna. Em 1975,
o 25 de Novembro pôs termo a essa prepotência. Não
por acaso, foi protagonizado por muitos dos mesmos operacionais do 25 de Abril,
a começar pelo então major Jaime Neves. Celebrar o
25 de Novembro é celebrar o 25 de Abril.
Mas o 25 de Novembro divide, dizem
outros. É a
esquerda que o diz, e é curioso que o diga, quando é a esquerda que, todos os
anos, insiste em reclamar, falsamente, que o 25 de Abril é só dela. O
divisionismo que possa causar a sua apropriação sectária e adulterada do 25 de
Abril nunca a inquietou. Só as divisões do 25 de Novembro. Quanto a estas, é compreensível que o PCP e restante
extrema-esquerda recusem abrir o champagne. A partir
de Dezembro de 1975, o general Eanes devolveu a tropa aos quartéis, e retirou
ao PCP e à extrema-esquerda o instrumento militar com que, à falta de votos,
tentaram impor-se em Portugal. Aqueles que, às cavalitas de parte do MFA, fantasiaram
Cubas europeias, nada têm a celebrar. Mas os outros? Porque é que, nas regiões
políticas correspondentes ao PS, há esquivas e hesitações?
Porque em 1975, para reagir ao revolucionarismo militar guiado pelo PCP
e pela extrema-esquerda, o MFA moderado (o chamado “grupo dos
Nove”) e o PS tiveram
de procurar aliados para além das linhas vermelhas da esquerda. O MFA
moderado falou com a chamada “direita militar” e até com o MDLP. O PS
conjugou-se com o PPD e o CDS, então os partidos “fascistas”. Entenderam-se com
os EUA e com a Igreja Católica, incluindo o clero mais conservador, a quem se
deveu o levantamento popular anti-comunista do Norte no Verão de 1975. Houve
que dar a mão à “direita”, nas suas várias formas, para resistir a um
radicalismo esquerdista que foi o grande vento contrário à democracia desde
1974.
Sem a direita militar, política e social, não teria sido fácil salvar a
democracia em Portugal. Impulsionado por isso, Francisco Sá Carneiro exigiu a
reversão total da revolução esquerdista. Mas anulado o poder militar alinhado
com o PCP e a extrema-esquerda, o MFA moderado e o PS trataram de estabelecer
um modus vivendi com o PCP, deixando-lhe a “reforma agrária” e as
“nacionalizações”. Em Dezembro de 1975, cerca de metade do grupo
parlamentar do PPD discordou do maximalismo de Sá Carneiro. O Conselho da
Revolução sobreviveu. No entanto, a
dinâmica do 25 de Novembro, de rejeição do esquerdismo revolucionário, não se esgotou. Alimentou
o movimento de opinião que em 1979 deu uma maioria absoluta a Sá Carneiro, e
criou o ambiente para a normalização do país como uma democracia de tipo
ocidental na década de 1980.
Entretanto, o MFA moderado
reconciliou-se com o MFA extremista. O PS reintroduziu o PCP e a extrema-esquerda nas salas
do poder. Ultimamente, o país oficial apontou as direitas liberal e
nacionalista como as únicas ameaças. Não lhe convém lembrar que a
democracia em Portugal dependeu, num momento decisivo, de linhas vermelhas
muito diferentes. Está aí o problema do 25 de Novembro.
25
DE NOVEMBRO PAÍS HISTÓRIA CULTURA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA POLÍTICA
COMENTÁRIOS
Filipe Bacelar: É extraordinário como um historiador trata tão
mal a história. Que bagunça. unknown
unknown > Filipe
Bacelar: Por favor,
elucide-nos! O que está errado no que RR escreveu? Qual é o problema do 25 de
Novembro? Maria Paula Silva: Quem nasceu
perto de 1974 ou era criança pequena nessa altura não sabe muito bem o que foi
o 25 avril e o que foram esses dois primeiros anos de
"liberdade". De facto foram 2 anos de horror, de medo.
Matou-se mais gente que em 40 anos de Salazarismo. Podias ser
insultado na rua, nem sabias porquê, só porque tinhas "boa cara".
Ficavas sem casa, sem empresa, sem terras/propriedades por dá cá aquela
palha, só porque sim e porque à esquerda fanática apetecia roubar e não
trabalhar. Foi assim que o pai da Mortágua ficou com um
"monte alentejano" onde depois viveu a vida toda como um verdadeiro
latifundiário. As atrocidades que se fizeram têm apenas um nome: roubo. De facto, foi o 25 novembro que devolveu, ou trouxe
melhor dizendo, a Democracia e Liberdade que aguardavam desde 25 avril para se manifestarem. Os primeiros 2 anos foram anos de horror.
Só quem já era crescidinho é que sabe. Este artigo do RR, mto bom e sintético
como sempre, põe os pontos nalguns iii. Mas
quem não era crescidinho naquela altura, não percebe o que foi o 25 avril. Apesar de tudo chamar fascistas ao PPD e ao CDS é um
bocadinho exagero e forçar a nota. Usa-se e abusa-se da palavra fascismo hoje
em dia adulterando o seu verdadeiro significado. Francisco
Sá Carneiro era um senhor, um verdadeiro estadista, homem sério e
trabalhador e verdadeiramente democrático. Com uma inteligência muito acima da
média. Só queria o bem do país. Por isso, limparam-lhe o sebo. E alguns dos
responsáveis estão vivos. Chamar,
por exemplo, AD a esta nova coisa que o Monte Rosa inventou é um verdadeiro
insulto à memória democrática da AD de Sá Carneiro. É preciso chamar as coisas
pelos nomes. Vivemos há 50 anos uma grande hipocrisia, que teve uns breves
intervalos (Ramalho Eanes e PPC). Eduardo
Cunha: mais que
excelente , esclarecedor. Parabéns pela crónica.
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