quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Impotência


Instrumento de comunicação e aprendizagem por excelência, o telemóvel, nestes tempos de ruído e imagem, que autoridade resta ao professor que pretende despertar os espíritos para os valores das matérias que transmite? Falou-se, de facto, na proibição do uso dos telemóveis na escola, mas, pelo texto crítico da professora ELISA MANERO, ao que parece, isso não passou de atoarda posta a correr pelos governos timoratos, que não se atrevem a provocar os pais das crianças, de cujo voto dependem, afinal, pelo que convém amenizar todas essas imposições, não as aplicando, como, uma vez mais, ficamos a saber segundo este texto de urgência séria da professora provavelmente massacrada, na desatenção que o telemóvel favorece. Sim, não passamos de uns pobres jogadores driblando, torcendo, enganando, no objectivo certeiro do remate à baliza, impedidos, contudo pelos jogadores contrários, ainda que estes não passem de crianças, mas com toda a força da sua autoridade permitida, apesar da lei decretada, que o não foi, afinal. Pobres tolos que somos, favorecedores do surgimento em massa, de outros tolos, na continuidade de uma educação de normas de pura ficção, por conveniência não fictícia.

Telemóveis nas Escolas: Uma Intervenção Urgente!

Se não existir protecção aos mais novos teremos uma geração viciada e um custo para a saúde pública nos próximos 10 anos.

ELISA MANERO, Professora de Matemática

OBSERVADOR, 05 nov. 2024, 00:119

Hoje recordo a minha adolescência, nos anos 80, na altura os vícios dos jovens eram o álcool e o tabaco.

Na altura o álcool fazia parte da alimentação dos mais pobres, existiam crianças que ao pequeno almoço ingeriam sopas de vinho.

Em 1977, foi lançada em Portugal a Campanha de Educação Alimentar, “ Saber comer é saber viver” , foi criada a roda dos alimentos, uma representação geométrica e gráfica que ajudava  a escolher e combinar os alimentos que deveriam fazer parte da alimentação diária.

Em 1978, as crianças  bebiam leite fornecido pelo Estado, nos intervalos das aulas, o Curso de Nutricionismo tinha sido criado dois anos antes na Universidade do Porto

No final dos anos 80, contaram-me a seguinte história: um nutricionista foi fazer uma palestra para a zona do Tâmega sobre a importância da ingestão do leite. No fim, um agricultor disse ao nutricionista: “Doutor, o meu filho é um homem, não bebe leite”.

Desde esse tempo, já passaram mais de 30 anos.

Na altura, em Portugal existia um problema de saúde pública, o alcoolismo.  Existiam de Norte a Sul centros de tratamento e prevenção.  Os governos na altura souberam legislar. O que o decreto-lei n.º 106/2015, publicado  16 de Junho,  regulamentou  que  a partir dessa data estaria  proibida a venda e comercialização de todo o tipo de álcool a menores de 18 anos, o que, na prática, passaria  a englobar também o vinho e a cerveja.

Se as crianças e jovens não podem beber e fumar, porque é que crianças de dois anos podem estar com o telemóvel? Ou crianças de 5 anos, que vão agarradas ao telemóvel nos transportes?

No dia 18 de Setembro a  Direcção-Geral da Educação divulgou um artigo de evidência científica da autoria da Professora Doutora Ivone Patrão sobre o uso dos telemóveis no espaço escolar. O artigo pretende sintetizar a revisão da literatura sobre o impacto do uso dos telemóveis em crianças e jovens (6-18 anos). Apresentam-se os impactos ao nível da saúde mental, na socialização e orientações práticas para a gestão saudável do uso do telemóvel no contexto escolar.

Já foram realizados muitos estudos  sobre o uso excessivo de telemóveis e o seu impacto  em crianças e adolescentes, e em muitos países da União Europeia foi restringido o uso do telemóvel em contexto escolar. Os Médicos Pediatras, e Psicólogos têm identificado sinais e sintomas na saúde física, mental e social originados pelo  uso excessivo da tecnologia, a saber:

Ansiedade, depressão e isolamento social são comuns.

Redução da actividade física e aumento da obesidade

Dificuldades de concentração e problemas de resolução de problemas

Comportamentos agressivos: A exposição a conteúdos inadequados como pornografia, vídeos com conteúdos violentos, podem influenciar comportamentos abusivos.

Dependência e vício: O uso excessivo pode levar a comportamentos aditivos.

Estes estudos destacam a importância de limitar e supervisionar o uso de telemóveis, e limitar em idade precoce.

Como mãe, tive sempre a preocupação de afastar os meus filhos da televisão, do  computador e do telemóvel até aos 12 anos. Por vezes a roupa não era passada era só dobrada, não ia para os centros comerciais, mas eu frequentava todos os parques infantis e locais ao ar livre da zona que resido. Hoje não me arrependo da roupa que não passei, ou do tempo que não perdi a passear nos centros comerciais.

Li uma notícia do Jornal Público: “Proibir telemóveis nas escolas? Deputados querem estudar melhor antes de decidir”. O Parlamento debateu, esta quinta-feira, a proibição do uso de telemóveis nas escolas. A maioria dos partidos quer estudar melhor o tema e esperar pelos resultados da recomendação do Governo.”

Como Professora considero que, se os Políticos têm medo de regulamentar ,  os Directores da Escolas também analisam a recomendação, eu na sala de aula pouco posso fazer, a não ser comunicar: O aluno faz uso pessoal do telemóvel durante a aula.

Em conclusão, se não existir protecção aos mais novos teremos uma geração viciada e um custo para a saúde pública nos próximos 10 anos. Quem  compra os telemóveis às crianças e jovens são os Encarregados de Educação e no fim são os Professores que têm de limitar o seu uso. Esta questão, põe em causa a relação pedagógica e tem impacto no ambiente de sala de aula.

EDUCAÇÃO     ESCOLAS     TECNOLOGIA

COMENTÁRIOS (de 9)

João Floriano: Os deputados não precisam de mais tempo para pensar. Os deputados sabem perfeitamente que o uso constante do telemóvel seja onde for, à mesa, nos transportes, na escola, até altas horas da noite, só pode ser prejudicial. O que há é medo de desagradar aos pais, porque esses são os primeiros  a dizer: «Sim, têm razão acerca dos telemóveis, MAS....« e é neste MAS que está o verdadeiro problema. O governo aponta o caminho mas sugere apenas que sejam as escolas a resolver, ou seja,  tem medo de proibir o uso dos telemóveis na escola. O governo retira-lhes autoridade e por sua vez os órgãos directivos das Escolas continuam no patamar do Sugerir e puxam o tapete aos professores. Intervenção Urgente e inequívoca, precisa-se!                Liberales Semper Erexitque: Muita conversa virtuosa mas não se atreve a proíbi-los na sala de aulas. Típica tuga! Maria Elisa Manero Lemos Rodrigues > Liberales Semper Erexitque: Grata pelo seu comentário.  Cumprimentos                      Liberales Semper Erexitque > Maria Elisa Manero Lemos Rodrigues: Cumprimentos e menos "rissóis" por aí, como uma vez o professor César das Neves chamou aos telefones móveis. São uma praga.               Lígia Violas: "Quem  compra os telemóveis às crianças e jovens são os Encarregados de Educação e no fim são os Professores que têm de limitar o seu uso." A questão é mesmo essa: as escolas não têm os meios para assegurar o cumprimento das regras de utilização de telemóveis que os pais impõem em casa; e por isso ninguém pode garantir que o próprio filho não vai ser vítima ou o agressor/responsável por um uso abusivo de telemóvel. Ora isto resolve-se facilmente: com a imposição de caixas/cacifos de recolha logo à entrada da Escola ou no 1º tempo da manhã, e consequente devolução à saída. Se o fizermos já, desde o 5º ano (ou mesmo 7º ano) e mantivermos a medida para os anos subsequentes, temos o problema resolvido em pouco tempo. Para combater a inoperância de muitas Escolas, que só prejudica os alunos, as autarquias (ou o MECI) deveriam assegurar estes armários/cacifos/caixas quanto antes.          Maria Elisa Manero Lemos Rodrigues > Lígia Violas: Grata pelo seu comentário.  Cumprimentos       Maria Augusta Martins: O assunto resolvia-se com imensa facilidade e ganhos para o Erário, bastava que por cada minuto de uso do dito cujo telelé, pagando por exemplo 20 ou 30 cêntimos. Depois era só fazer contas, arrecadar o imposto e ver o uso a decrescer. Fazia-se como se faz no tabaco onde 80% do custo é imposto.      Maria Elisa Manero Lemos Rodrigues > Maria Augusta Martins: Grata pelo seu comentário, uma excelente ideia.  Cumprimentos 

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