Mudança imediata, parece significar este “FALÊNCIA DE IDEOLOGIAS” de RODRIGO ADÃO DA FONSECA. Ainda o novo governo mal assentou, talvez disposto a reconstruir tanto do que foi desencaminhado pelo governo anterior, em estruturas fundamentais como sejam as da Educação, e logo surgem estes insatisfeitos avançados nas modernidades “para inglês ver”, a achar que o que se torna imprescindível é a cambalhota imediata para uma modernidade urgente, que apague definitivamente o passado obsoleto, em função de um futuro totalmente inovador. Será que entendi bem? O certo é que este texto me revoltou, no seu arrivismo de infantilidade pedante e lorpa, com o seu pontapé em tudo o que compõe o universo humano, de tradição e história, na glória de uma mudança radical, sem contemplações para com o passado e os antepassados que tanto nos ensinaram. Será que entendi bem? Só um atraso mental pode justificar tal arrogância lorpa de deslumbrado “intelectual” pela novidade como absoluto. Chiça!
A falência das ideologias
Estamos num limbo histórico, presos
entre um passado que já não nos serve e um futuro que não conseguimos desenhar
e projectar.
RODRIGO ADÃO DA
FONSECA Colunista
OBSERVADOR, 26 nov. 2024, 00:168
As grandes ideologias dos séculos XIX e XX, outrora pilares
estruturantes das sociedades modernas e pós-modernas, revelam-se hoje obsoletas
perante os desafios contemporâneos. Num mundo
em rápida transformação, marcado pela globalização e pela revolução digital,
correntes de pensamento como o socialismo, a social-democracia, o
conservadorismo ou o liberalismo clássico não conseguem oferecer soluções
eficazes para as complexidades actuais. Acresce que a rigidez
ideológica (e uma certa preguiça) como os agentes políticos se agarram aos
“conceitos” impede a adaptação necessária para enfrentar problemas que não
estavam previstos nos modelos do passado. A maneira como deveríamos olhar hoje para a tributação, para o
trabalho, para a saúde, educação ou assistencialismo, migração, ou habitação,
não pode seguir dicotomias do passado que não resolvem dilemas contemporâneos. O
serviço público de educação, de saúde, de segurança, de habitação, a forma como
o Estado tem de prover as populações está em profunda transformação: o Estado, o sistema político, o
enquadramento institucional internacional, esses, continuam assentes nos mesmos
pressupostos que emergiram do fim da segunda guerra mundial.
Após décadas de políticas de “welfare”, as sociais-democracias de vários
matizes (desde as correntes mais conservadoras e liberais, até às do socialismo
democrático) que dominaram o eixo da moderação nas sociedades mais
desenvolvidas demonstram uma
incapacidade preocupante em responder aos principais problemas sociais. Agarrados
às cartilhas do passado, em vez de promoverem igualdade e justiça social, os
principais agentes políticos estão profundamente alienados da realidade
circundante, servindo apenas como gestores de uma coisa pública incrustada em
Estados pesados e burocráticos que sufocam a produtividade e a inovação. Como nos antecipava Hayek, o caminho para o
inferno está pavimentado de boas intenções, pelo que não nos deveria
surpreender que hoje, por mais paradoxal que isso possa parecer a muitos, os
Estados se tenham tornado eles próprios fontes de desigualdade, perpetuando
estruturas que beneficiam uns em detrimento de outros, e resolvendo pouco os
problemas das pessoas. O Estado falha no INEM e na emergência
médica, falha na segurança das cidades, na sua limpeza, não abre espaço a que
exista habitação, tem as escolas em estado de sítio com professores à beira de
um ataque de nervos, é incapaz de cuidar dos seus presos, responde mal aos
incêndios e catástrofes, não faz cumprir as leis que aprova, sendo apenas
eficaz na arte de extorquir e distribuir segundo critérios muito seus a receita
fiscal.
A revolução digital poderia permitir que
os Estados se reformassem, fazendo muito mais com muito menos recursos. A forma, porém, como as economias
mundiais estão a aderir, massivamente, a soluções tecnológicas inovadoras
digitais, causando disrupções significativas nos pressupostos tradicionais de
produção e distribuição de riqueza, está a expor, de forma ainda mais
acelerada, a cada vez mais visível inutilidade dos Estados e a sua incapacidade
de resposta aos problemas emergentes. O Estado português, por exemplo,
mostra-se incapaz de aproveitar as soluções tecnológicas para se reformar e
adaptar, não obstante gaste e seja um óptimo comprador de tecnologia.
Não me interpretem mal, não
faltam centros de competência digital ou tecnológica na Administração Pública.
Ocorre, porém, que a rigidez da
despesa pública faz com que o investimento em novas tecnologias que os poderes
públicos vão fazendo resultem frequentemente num aumento significativo dos
custos para o contribuinte, e não o inverso. Em vez de substituir estruturas obsoletas, o Estado tende a manter
sistemas antigos em paralelo com os novos, duplicando funções e despesas. Esta
falta de racionalização agrava a ineficiência e impede que se colham os
benefícios potenciais da inovação tecnológica, tendo um impacto brutal na
produtividade e no empobrecimento do país.
Numa outra dimensão, a
sociedade digital tem vindo a desagregar os equilíbrios políticos, aumentando a
conflitualidade e dividindo os eleitorados que se encontram cada vez mais
polarizados e radicalizados. A discussão política faz-se em redes sociais de
forma superficial e sem qualquer sentido de continuidade, coerência ou memória,
faz-se em cima dos trapos velhos das ideologias caducas do passado, sem nada de
novo. As ideologias deixaram de ser a base do consenso democrático e do
contrato social, comprometendo a coesão e o progresso de sociedades plurais,
para se tornarem armas de arremesso de uns contra outros. Ao longo da
História a tecnologia sempre encerrou em si uma pulsão totalitária, sendo óbvio
que o mau uso que por estes dias fazemos delas, está a favorecer a polarização,
o confronto e a captura dos poderes públicos, sacrificando a liberdade.
Não
se vislumbra um futuro muito auspicioso para as democracias liberais, quando
assistimos por esse mundo fora à emergência de populismos e autoritarismos
(vagamente) de direita e de esquerda, quando os principais protagonistas
políticos são autocratas, pequenos napoleões ou campeões do marketing que
dizem ao Povo aquilo que eles querem ouvir, nem que isso seja tudo e o seu
contrário, nem que isso implique exercícios completos de incoerência face às
suas próprias histórias de vida (não vá a verdade estragar as narrativas políticas).
Entre wokismos e anti-wokismos, falsos
progressismos e conservadorismos, o que verdadeiramente assusta é olhar para a
realidade e perceber que os grandes problemas se adensam sem que os poderes
políticos mostrem capacidade para endereçar soluções. A pós-modernidade, marcada pela
desconstrução das grandes narrativas tradicionais e pela relativização de
valores, entrou em boa verdade numa fase de estagnação. Vivemos
num período em que quase todas antigas certezas foram desmanteladas e,
entretanto, reavivadas de forma tosca, mas onde não surgem novas ideias e novas
certezas em que valha a pena acreditar. Este vazio está a criar
sentimentos de náusea, de incerteza e desalento. Estamos num limbo histórico,
presos entre um passado que já não nos serve e um futuro que não conseguimos
desenhar e projectar.
A agonia da pós-modernidade permanece, arrastando-se para algo que
teima em não surgir. A falta de novos paradigmas que substituam as ideologias
caducas está a deixar as sociedades num estado de espera angustiante. As pessoas anseiam por soluções inovadoras
que possam responder aos desafios actuais, mas estas teimam em não emergir.
Este arrastar prolongado aumenta a sensação de impotência e frustração,
enquanto os problemas sociais, económicos e políticos se acumulam sem respostas
eficazes.
COMENTÁRIOS
Gonçalo Soares de Jesus: O artigo é interessante, mas
esbarra em alguns pontos: - as “sociedades” sabem perfeitamente o que querem (o
leitor não sabe?!) - o cidadão das “sociedades” se quer a mudança que deseja
precisa de se tornar no objecto do seu próprio desejo; (…) E ainda nisto: A
humanidade não pode progredir ou recuar só à boleia do dinheiro. Um novo meio
de troca para transações é urgente: mas transacções não-económicas mas sim
transacções-humanas. João
Floriano: Um assunto extremamente denso, complexo, sobre o qual poderíamos escrever
livros com muitas páginas. As ideologias conservam os sonhos vivos e
igualmente vivos os processos que possibilitam a sua concretização . Mas as
ideologias roçam muitas vezes a linha da Utopia e todos nós sabemos o que
significa atingir a Utopia, torná-la real. As ideologias chocam com a realidade
e geralmente perdem. Veja-se por exemplo a ideologia comunista que tanto
sofrimento tem causado por esse mundo fora. As ideologias precisam também de
valores, coisa escassa hoje em dia.
Francisco Almeida: As ideologias, umas mais outras menos mas todas,
visaram ou apenas facilitaram o abandono das religiões. Mas não conseguiram,
nenhuma delas, nem preencher nem eliminar a espiritualidade. que, mesmo quando
negada, é essencial ao equilíbrio humano. Agora que estão a falhar nos
objectivos materiais, que já não conseguem garantir que cada geração viva
melhor do que a dos pais, deixaram um enorme vazio que vai sendo preenchido,
passivamente por indiferentes, activamente por radicals. E radicais que
conseguem mesmo infectar meios religiosos, sejam parte dos "déplorables"
que elegeram Trump, os "ayatollahs" do Irão ou os ultra-ortodoxos
judeus. João
Floriano > Francisco
Almeida: O seu comentário é próprio de alguém com grandes valores espirituais como é
o seu caso. Eu não tenho esses valores, ou pelo menos não os reconheço em mim.
Sou muito mais materialista. E considero que o Francisco tocou no ponto: as
novas gerações não vão conseguir atingir o grau de prosperidade que os seus
pais e avós no pós guerra conseguiram atingir e usufruir. Daí a frustração. A
nossa sociedade ocidental tornou-se extremamente hedonista: a busca imediata e
obrigatória do prazer. O hedonismo é perigoso porque na maioria dos casos a
nossa vida é um percurso de sangue, suor e lágrimas, mesmo no sentido figurado. Francisco
Almeida > João Floriano: É o assunto que mais me
incomoda a seguir a questões de liberdade e segurança: O governo alemão caiu
porque Scholz pretendia aumentar o endividamento. Ursula von der Leyen está a
preparar a emissão de dívida europeia. Por muito que eu tente racionalizar que
não tenho culpa nenhuma, não consigo esquecer que pertença à geração que está a
tirar comida da boca dos filhos e dos netos. Não imagino falência pior. João
Floriano > Francisco Almeida: Caro Francisco: Nem calcula a
quantidade de coisas em que eu me assumo com culpas no cartório, mas essa que
indica «tirar comida da boca dos filhos e netos» de certeza absoluta que não me
aflige e tão pouco a reconheço em si ou alguém da nossa geração. Todos nós
organizamos a nossa vida no sentido de deixar aos filhos o legado do nosso
trabalho, que até pode ser imaterial. Desse sentimento de culpa não sofro. Já
de outros..... por vezes até dói! GateKeeper:
Polémico q.b.. Top 20. Pedra
Nussapato: Pois, quase
como que entrando em contradição no próprio texto, o autor acaba por reconhecer
que são precisamente correntes políticas e ideologias anacrónicas e obsoletas
dos extremos que parecem estar a surgir como resposta à falência das tais
ideologias e correntes que nas últimas décadas foram os pilares dos regimes
políticos democráticos e liberais.
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