A lisura de
carácter apontada como modelo clássico de modéstia nesse despojamento dos bens
materiais, pelos homens, que preferem simplificar a teorização conceptual
através da exemplificação objectiva, a mim parece-me antes, tal modelo humano, retrato
exibicionista de uma modéstia aparente, prova, antes, de uma atitude arrogante de
provocação pouco educada e presunçosa, que não serve de modelo educativo, mau
grado a originalidade das acções e objectos da referência exemplificativa desse
Diógenes moralista a quem apelidam de cínico, com ofensa para o “cão”, de que
provém a designação, e termo cuja analogia com o fiel amigo do Homem nunca percebi.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM
DA NAÇÃO, 25.11.24
…Cinismo é a
filosofia que pugna pela verdade e só por ela. Os seus, rejeitam
eufemismos, parabolismos, disfarces e subentendidos para evitarem
mal-entendidos. E na questão dos disfarces, ainda hoje há nas zonas quentes
da Índia aqueles «verídicos» que trajam a rigor em conformidade com o que
traziam quando vieram ao mundo usando apenas um espanador para enxotar moscas e
mosquitos potenciais transmissores de moléstias. Mas na Grécia,
sazonalmente soprada por ventos boreais, os cínicos se viam obrigados – por
certo a contragosto – a algumas protecções. E nesses reduzidos preparos andaria
esse grande Mestre do pensamento a quem chamavam Diógenes, o desprendido
dos bens materiais. Comendo o que lhe davam, Diógenes possuía apenas a dorna que lhe servia de casa, os farrapos com
que se cobria, uma lanterna e uma caneca.
Distinguindo-se pelo rigor do seu carácter, dele se
contam histórias curiosas:
• Perguntado por
que andava com a candeia acesa em plena luz do dia a vaguear pela cidade, respondeu
que procurava alguém com carácter;
• Vendo uma
criança com as mãos em concha a beber água de uma fonte, logo aventou a sua
caneca;
• Quando
Alexandre Magno lhe ofereceu tudo aquilo que quisesse, o filósofo apenas terá
pedido que Alexandre se chegasse um pouco para o lado a fim de não lhe tirar «o
que não me podes dar, a luz, do Sol».
* * *
Claramente, Diógenes foi e os «verídicos» indianos são
originais benignos que vivem a seu modo sem perturbarem a harmonia social. Pelo
contrário, pululam por aí originais malignos que nos querem impor a sua
presença a que urge impedir de nos perturbarem.
Esta, a mensagem que em verdade vos digo no 25 de
Novembro.
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