quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Greves só quando

 

O governo é mais virado à direita - pelo menos na aparência, tão em bicos de pés anda essa direita, por essa altura - pois que não só PS e C.ia tudo fazem para o empurrar – ou emporcalhar – (já que, quando é o PS e C.Ia a dirigir, não há greves que valham, pois a esquerda só as fabrica quando é a tal direita a querer impor-se – aliás, esta sempre em delicada vénia à esquerda englobante do PS, os quais não fazem mais do que atacar, em exaltação de mérito, para a impedir de governar, tudo tão deprimentemente sem educação - esta definitivamente arrumada, em várias frentes por cá. NUNO GONÇALO POÇAS assim o conta e mais não diz por delicadeza, com certeza, prova de que ainda há entre nós quem fuja a essas regras de pose diminuta, ai de nós, e tente consertar o que parece definitivamente desarranjado e sem classe.

Greve à sexta-feira

Há uma multidão de revoltados com situações como esta das greves semanais à sexta-feira e respectivo silêncio e cumplicidade vindos das elites.

NUNO GONÇALO POÇAS Colunista do Observador. Advogado, autor de "Presos Por Um Fio – Portugal e as FP-25 de Abril"

OBSERVADOR, 19 nov. 2024, 00:1839

O tema não tem despertado particular interesse mediático, salvo uma ou outra excepção – um ou outro texto de opinião aqui e ali, um apontamento acolá, demonstrando a absoluta regra que é o escabroso silêncio que paira sobre o que se está a passar nas escolas deste país. Entre greves semanais (sempre coladas ao fim-de-semana), o absentismo (mais generalizado do que eu próprio imaginaria), o Estado (que lida com um histórico de descentralização de competências para as autarquias raramente acompanhada de verbas, favorecendo brilharetes orçamentais para abrir telejornais e esconder desastres sociais longe dos holofotes), uma guerra surda de sindicatos, e da esquerda em geral, numa luta por poder interno e por levar para a rua parte do descontentamento, que pretenderá (?) resgatar a André Ventura, entre tudo isto, dizia, resplandece a indiferença para com os danos que o país está a impor a uma geração de crianças e jovens que, já vítimas das medidas draconianas da pandemia, continuam a ser mártires de greves semanais, que se irão prolongar sabe-se lá durante quanto tempo mais.

Na escola pública o que vamos ouvindo é uma espécie de tornado que se forma. Mesmo gente de esquerda, inicialmente mais paciente e compreensiva para com o movimento grevista dos incontáveis sindicatos do sector, vai deixando escapar o seu desconforto com aquilo a que chama – e a que outros dão voz parlamentar – a bandalheira. Há quem já tenha perdido empregos por ter de faltar tantas vezes para ficar em casa com filhos sem aulas. Há quem já não saiba como explicar que tem de faltar ao trabalho. Há quem perca valiosa parte do salário graças a estas faltas forçadas para colmatar greves à sexta-feira. Há quem já não esteja para aturar isto e esteja a pensar tirar os filhos da escola pública. Em todos, cresce um desconforto: não há quem não reconheça os baixos salários e as más condições de trabalho de auxiliares e professores; mas não falta também quem se queixe de não ter melhor salário ou melhores condições para trabalhar e esteja ainda a ser prejudicado pelas greves dos outros, e já esteja apenas preocupado com a ordem e a normalidade.

Enfim, cada família resolverá o assunto da melhor maneira que conseguir, a menos que o Governo descubra dinheiro debaixo das pedras ou opere algum outro milagre num sector com um peso sindical que nunca pretende discutir o sucesso educativo dos alunos, focado exclusivamente na luta de classes e no combate pelo território político do campo marxista. No limite, a melhor maneira será aguentar, por falta de opção financeira, uma escola refém dos sindicatos que discrimina os seus alunos e os abandona ao insucesso relativo.

Não sei se o fenómeno é transversal, mas sei que houve pais em agrupamentos de escolas de Lisboa que se envolveram e deram publicidade a um problema que se vive em várias escolas. Mas, ainda que não seja um problema que se manifeste pelo país inteiro, não deixa de surpreender a indiferença jornalística para com o assunto – sobretudo para um jornalismo que se mobiliza noutras situações menores; sei lá, que é capaz de fazer directos televisivos se houver meia dúzia de malabaristas no Chiado a exigir o fim do Estado de Israel ou a defender a honra da «democracia» cubana. Não sei, embora imagine, se boa parte das vozes públicas, entre partidos e imprensa, frequenta a escola pública. Mas era útil que, pelo menos, se importassem.

Percebo que os tempos estão mais para a sinalização de virtudes e para a demagogia de todos os campos do que para este género de assuntos. Compreendo perfeitamente que um país que tem, mediaticamente, um enorme viés de esquerda não queira ver-se em confronto com os exageros sindicais. Mas saibam, pelo menos, o seguinte: há uma multidão de revoltados com situações como esta das greves semanais à sexta-feira e respectivo silêncio e cumplicidade vindos das elites. Como demoraram oito anos a perceber (os que perceberam) como os Estados Unidos elegem quem elegem, talvez ainda seja demasiado cedo para compreenderem o que aí vem. O Governo, que tem, neste sector, as pessoas mais capazes que podia ter, é quem pode cortar o mal pela raiz, ou atenuá-lo de alguma forma. É, afinal, para isso que servem os Governos. Se o Primeiro-ministro não estiver, como parece, mais concentrado nas fórmulas narrativas de que precisa para ganhar eleições mais confortavelmente, é nisto que deve concentrar-se: na resolução de problemas, e o poder sindical é um problema. Poderá não parar a avalanche anti-sistémica que aí vem, agora reforçada pelas eleições norte-americanas, mas pode, pelo menos, mitigar-lhe os efeitos e preparar o país para dias piores.

COMENTÁRIOS (de 39)

Bruno: Obrigado por ser uma das poucas vozes a trazer algo de tão evidente para cima da mesa. Durante os anos da Geringonça praticamente não existiram greves…porque será? Hoje em dia, as greves são o dia-a-dia… nas escolas é a vergonha instalada… não porque as pessoas não tenham direito a lutar pelos seus direitos, mas porque o fazem de uma forma desonesta para com qualquer tipo de negociação… Os professores depois de terem conseguido aquilo que queriam (tempo de serviço) logo arranjaram mais um ou dois ou três temas para novas greves… hoje são os auxiliares… amanhã voltam os médicos…e por ai fora… Infelizmente não existe da parte dos sindicatos qualquer interesse em melhorar serviços e condições…o objectivo único é criar caos e sacar o mais possível…. O facto de agora termos greves às 6f, só prova este ponto… Quanto às esquerdas elitistas que não estão preocupadas com a educação desta geração, não estão nem nunca vão estar…porque os seus filhinhos estão no privado longe destas guerras sectárias da plebe… Abram os olhos              Coxinho: Que será preciso acontecer para os portugueses perceberem que o socialismo nunca passa da destruição sistemática do tecido social e económico para depois vir fingir que ajuda os mais desfavorecidos a sobreviver?                   Luís CR Cabral: Enquanto os velhos comunistas dominarem os sindicatos não será possível acabar com esta pouca vergonha e a única hipótese é o salve-se quem puder e procurar os serviços de saúde e as escolas privadas. Tenho pena de quem não pode e acreditou no socialismo.               Hugo Marinho: Uma pouca vergonha o que esses grevistas profissionais fazem, com o apoio da comunicação social                    Cristina Torres: Não deve haver um deputado que tenha os filhos no ensino público, dou três exemplos dos defensores da escola pública: Pedro Nuno Santos,  Alexandra Leitão, José Luís Carneiro todos têm os filhos nos melhores Colégios do país! Há anos e anos que é assim, o ensino público é uma bandalheira, conheço vários professores do ensino publico que tem os filhos no ensino privado... e muitos e muitos pais que tem os filhos no privado por causa desta situação e não, não são ricos, fazem um esforço enorme financeiro para o suportar este custo! Tudo isto porque não há nem vai haver coragem política para acabar com a bandalheira da utilização excessiva e abusiva das greves             Nuno Abreu: Tem toda, toda a razão. André Pestana e Mário Nogueira  que vivendo à custa do Estado querem derrubar o Estado deviam ser condenados a trabalhos forçados na limpeza das Escolas. Há anos que destroem o ensino em Portugal, causando-lhe mais estragos que vinte Covids.               João Floriano: Se Nuno Poças não estava já na lista de «Fascistas e Inimigos da Democracia», pode ter a certeza de que já não escapa. A palavra que define tudo isto é acertadamente bandalheira, uma enorme bandalheira. Admira-me que Nuno Poças afirme que «não deixa de surpreender a indiferença jornalística para com o assunto....». Interpreto esta expressão como retórica porque alguém inteligente como Nuno Poças e que viveu num concelho comunista, percebe perfeitamente como se chegou a este estado de coisas. A CS sempre foi dominada pela esquerda,  a mesma esquerda que domina os sindicatos da função pública, os tais que exigem sempre e sempre mais regalias e que estão sempre insatisfeitos com o que recebem. Logo a CS não vai apontar o dedo a esses sindicatos. Há truques que são velhos. Um deles é encostar os dias de greve ao fim de semana ou ainda melhor a um feriado. E se esse feriado por sua vez se encostar ao fim de semana, são umas mini férias muito gostosas. Quando ainda ensinava, havia uns chamados artigos quarto que permitiam justificar as faltas de dois dias. Ninguém está livre de um mal-estar súbito, de um filho que adoece, de um transporte que não aparece. Muitos dos grevistas jogavam nos dois tabuleiros: para os sindicatos faziam greve, mas apresentavam o artigo quarto e oficialmente tinham tido uma indisposição física. Outro estratagema consistia em  aproveitar a greve de dois ou três funcionários essenciais para constatar a adesão à greve. Por exemplo: a portaria, o serviço de bar, vigilância dos pátios, não podem ficar desguarnecidos. Na verdade não havia adesão nenhuma. Na realidade apenas 3 funcionários estavam em greve obrigando a escola  a fechar. Somos de facto um país totalmente adornado para  a esquerda, qual barco que naufragou e cuja colocação na posição certa se está  a revelar tarefa muito difícil. Até 10 de março a esquerda não ia de modo algum querer reverter a situação das greves nas Escolas e tão pouco iam fazer greve contra si mesmas. é por isso que os anos da geringonça foram de acalmia. Agora o governo AD não tem coragem e muito menos força política para mudar de rumo. Tudo o que faz é correr atrás do PS. Greve e grave começam cada vez mais  a soar ao mesmo.                    Carlos Chaves: Caro Gonçalo Poças os jornalistas estão-se nas tintas para o que se passa nas escolas e com as inaceitáveis greves políticas que por lá ocorrem a amiúde, basta ler este jornal! Concordo em absoluto com esta sua opinião, fazer alguma coisa para acabar com este regabofe nas escolas, ontem já era tarde.                 GateKeeper: As baixas fraudulentas [com a cumplicidade bem conhecida dos médicos e afins] contribui com outro tanto para o caos das greves, das "férias" e das "baixas". Provavelmente e em média uma/um "trabalhador do 'publicuzinho' deve trabalhar bem menos do que 150 dias/ano. A legislação existe, mas "não passa do papel e para Inglês e UE verem". Tugalândia = Banana Republic. Quanto ao "poder local" nem vale a pena comentar; aqui no UK as/os Portugueses que vivem e trabalham por cá apelidam -no de "poder regional das famiglias".                 Fernando ce: Muito bem. O país está em roda livre no sector público. Não há accountability. Já li algures que, em alguns serviços públicos, destroem os aparelhos de controle de assiduidade pouco depois de serem instalados.  Palavras para quê? A culpa não é sobretudo dos governos. Este povo não se deixa governar.                   afonso moreira: Estes problemas que muito enuncia, não terão solução enquanto os sindicatos forem braços armados de partidos e projectos políticos. As carreiras na função pública são um emaranhado e sem qualquer fio condutor de racionalidade. Quem tem poder reivindicativo safa-se, os que não têm... como é o caso dos assistentes operacionais. Por alguma razão, antes desta bagunça, que dá poder a muitos e que não representam quase ninguém, é que a carreira na função pública era apenas uma, desde os ministros até à última categoria, com regras claras e bem definidas. A quem convém isto?          Roberto Carlos: Tirem os sindicatos das unhas dos comunistas que o  País melhora.

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