Donde
ele comanda, modesto, sorridente e sem pose, ao contrário dos napoleões
anteriores que se lançavam com os seus homens no mundo das suas ambições de
conquista. E nós aqui vamos martelando inutilmente a esse respeito - muita fala,
muita escrita, muitas humilhações, muitas prepotências, muito saber, muita
condenação, muito limpar de mãos, muita toleima e perfídia. Grande Zelensky
girando, incansável, em defesa do seu país, contra o tal Putin comandando a sua
presunção dessa sua cadeira virtuosa, o ainda presidente ucraniano humilhando-se
perante um Trump que inaugura o seu reinado em tropelia vistosa, “cada um péla
o vilão por seu jeito” já o Lavrador vicentino se queixava do seu mundo cão, o
mundo assim continua, pelando, vilões que somos, ou inertes, cada um no seu
posto, lendo os escritos dos que comentam mergulhados nas suas próprias
revoltas inúteis.
O elefante num Ocidente de porcelanas
O discurso de JD Vance em Munique não perdeu
pertinência por causa das fanfarronices de Trump, o proverbial elefante num
Ocidente de porcelanas.
ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador
OBSERVADOR, 22
fev. 2025, 00:231
Que
eu saiba, e ao contrário do sr. Putin, Zelensky não é um ditador, já que as
eleições ucranianas foram suspensas por conta da lei marcial, que não depende
dos apetites do presidente. Que eu saiba, a popularidade de Zelensky não desceu
para 4%, e sim de 90% para 57%, ou 53%. Que eu saiba, a guerra não foi iniciada
por Zelensky: a Rússia invadiu a Ucrânia, por sinal em 2014 e, numa segunda
fase, em 2022. Logo, ou
Trump se informou mal ou Trump mentiu.
Trump mente com frequência, embora não com maior frequência – só com maior
escrutínio – que inúmeros políticos que não são Trump. No caso, Trump
terá mentido para agradar à Rússia, ou porque aprecia genuinamente o sr. Putin,
ou porque se deixou seduzir pelas sugestões de comércio oferecidas pelo sr.
Putin, ou porque supõe que um esboço de parceria com o sr. Putin isolará a
China, ou porque acha que a paz somente será alcançável se, com ou sem motivos,
o sr. Putin puder declarar-se vencedor junto dos seus. Ou por um raciocínio
adicional que de momento me escapa.
Quase
tudo nesta história escapa a quase todos, o que não tem impedido nove décimos
da humanidade de se pronunciar a propósito de um processo que ainda vai no
início, de que poucos lhe adivinham os meios e sobre o qual ninguém deveria
arriscar a previsão de um fim. À
revelia dos duelos verbais entre Trump e Zelensky, o principal é perceber se o
vendaval diplomático dos últimos dias irá desaguar numa espécie de consenso e
terminar um conflito que não convinha prosseguir. Desejar que isso aconteça em breve, de modo
suficientemente satisfatório para as necessidades da Ucrânia e dissuasor para
as ambições imperiais do sr. Putin, é mera questão de bom senso, que não
invalida a hipótese de arranjos menos estáveis e não esconde a inexistência de
alternativas.
Na realidade, as alternativas existem. Por azar, passam sempre pela Europa, o que
significa sair da geopolítica e enveredar, rédea solta, pela baixa comédia. Na passada segunda-feira, o sr. Macron recebeu
diversos líderes europeus e os expoentes da burocracia
europeia, incluindo o dr. Costa sem casaco. Na fotografia “oficial”, o embaraço
de Georgia Meloni era evidente. E compreensível. O encontro pretendia ser
uma resposta às conversas dos EUA com a Rússia em Riad e a prova de que a
Europa tem uma palavra a dizer. A palavra é “chiça!”. Aquelas luminárias em
redor de uma mesa parisiense mostravam-se atónitas. No fundo, e à superfície,
esperavam que a América continuasse em larga medida a pagar uma guerra que a
Europa defende com forte retórica e escasso custo.
Se
o ridículo pagasse imposto, 0,1% do PIB bastaria aos esforços bélicos
indispensáveis. Sucede que no mundo real quem paga impostos são os contribuintes,
talvez mais propensos a pendurar a bandeirinha da Ucrânia nas “redes sociais”
do que a ver os governos abdicar de verbas ilimitadas e, no limite da bazófia,
a enviar os próprios filhos para morrer em Kiev. Ao que consta, os
americanos não estão para aí virados e Trump afirma-o com típica e rude
franqueza. Os europeus, desconfio, partilham a ideia, mas não a
franqueza, donde o pânico continental desta semana, que expõe de forma
escancarada décadas de desleixo, de comodismo e de contradições. E de
masoquismo.
A
Europa, leia-se os países europeus, imaginou que depois de 1917 e de 1944, a
respectiva segurança estaria eternamente garantida por Washington e dedicou
a poupança a espalhar “assistencialismo” e, recentemente, a albergar exotismos,
politizar “identidades”, regular o clima e legislar tampas de garrafa. Mal
os EUA ameaçaram cansar-se da brincadeira lá dentro e cá fora, a Europa,
anti-americana desde o Paleolítico, percebeu que teria de mostrar uma força que
não tem nem quer ter, impossibilidade que obriga à possibilidade que sobra:
espernear e, veladamente ou às claras, insultar Trump, o traidor. Os vultos que
acusam Trump de “putinismo” têm graça e, se calhar, razão. O que não têm é
legitimidade.
Os
“anti-putinistas” de hoje são os que, por exemplo, se riram quando Trump
informou a Alemanha de que os seus desvarios energéticos a colocaram na
dependência da Rússia, e os que correram ao beija-mão do ditador no “mundial”
de futebol realizado em 2018, quatro anos após a anexação da Crimeia e, de
facto, o início da invasão da Ucrânia. E são os “democratas” que prendem
cidadãos por delito de opinião e os perseguiram por delito de vacinação. E que,
para escorraçar o “extremismo”, aplaudem a sabotagem de eleições. O discurso de
JD Vance em Munique não perdeu pertinência por causa das fanfarronices de Trump, o proverbial elefante num Ocidente de porcelanas.
Por
fácil que seja não apreciar Trump, a verdade é que ele ainda não “deu” nada à
Rússia, excepto alguma confiança negocial, de efeitos imponderáveis. E que, por tortuosos caminhos, Trump é
uma desilusão para a Ucrânia e a única esperança da Ucrânia. Na criatura, o
buraco que vai da forma ao conteúdo é fundo e escuro. Há coisas que ainda não
conhecemos e há coisas de que temos a certeza. Uma destas é que, se depender da
Europa, a Ucrânia lutará até ao último homem enquanto os nossos líderes,
entusiastas e resguardados, apenas rebentarão de virtude. “Apoiar” a Ucrânia
não é o mesmo que apoiar a Ucrânia.
DONALD
TRUMP ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA OCIDENTE
COMENTÁRIOS:
Alexandre Barreira Pois. Caro AG. Gostei da "resenha". Mas
repare meu caro. A Europa está metida numa "Trumpalhada". Até à ponta
dos cabelos....!!! Ana Luís da Silva: Excelente machada no politicamente correcto. Como
sempre Alberto Gonçalves a não se deixar levar pela espuma dos dias e a pôr o
dedo, escarafunchando um bocadinho, onde dói mais. Um consolo, para quem apenas
tem o boletim de voto para se fazer ouvir (o que já não é nada mau) e vê os
burocratas de Bruxelas e os políticos do costume a derivarem a Europa pelo
caminho da decadência alegremente rumo à irrelevância. servus inutilis: O engraçadismo tem limites, mesmo em croniquetas de
jornal. É fácil pregar moral e bons costumes a partir de Carrazeda de Anciães
ou de Matosinhos. Quem teve o azar de nascer na Polónia, na Roménia ou nas
países bálticos não acha piada ao ''ainda não deu nada'' ao genocida russo. Antonio
Serrano: Muito bom a gritar e bem a Europa vai nua! Albino Mendes: A europa está a ultimar uma melhoria na rolha de
segurança das garrafas de água. F. Mendes: Muito bem escrito, e assertivo na medida do possível;
porque, de facto, a incerteza é muito grande e querer retirar conclusões nesta
fase, me parece um esforço escusado. Há, no entanto, um ponto fundamental que o
AG (e penso que a maioria da nossa informação) não refere: a tão proclamada
dormência da Europa às ameaças externas resulta, também, do facto de aquela ser
um espaço democrático, com políticos que querem ser eleitos e reeleitos, e que,
consequentemente, privilegiam a produção de manteiga, em detrimento de canhões.
Mais: deveria ser deixado claro que a culpa é do agressor, comandado por
autocratas, e não de quem é agredido, também por erros de avaliação de risco. infelizmente,
a Europa esqueceu a velha máxima latina "si vis pacem, para bellum"
(se quiseres a paz, prepara a guerra). De referir que se sairmos disto vivos, e
razoavelmente inteiros, devemos agradecer ao nosso Costa, que pelos vistos
arregaçou as mangas e ameaça mostrar os cabelos do peito.LOL
Liberales Semper Erexitque: Mantenha-se
na tasca que conhece Alberto, está mais à vontade! observador censurado: "Trump é uma desilusão para a Ucrânia e a
única esperança da Ucrânia. É difícil arranjar uma frase melhor para humilhar a
Europa: Alemanha, França e Reino Unido. O Alberto tem a acta da reunião de
segunda-feira do sr. Macron? Alemanha, França e Reino Unido vão, finalmente,
entregar à Ucrânia as armas que farão a diferença no campo de batalha? Ou o sr.
António Costa terá vetado essa entrega, invocando que Portugal precisa de
dinheiro para financiar a igualdade de género? observador censurado observador censurado: O "Projecto Europeu": Defesa: Os E.U.A.
pagam; Energia: A Russia oferece; Indústria: A China fabrica. No "Projecto Europeu" estava previsto ser
adulto? Normalmente, os adultos procuram ser autónomos e pagar as contas. José Baltazar: Muito bem, os políticos europeus
"democratas" e "humanistas" mesmo a ouvir as verdades
assobiam para o lado. Já a sr. Merkel não gostou de ouvir que a Europa é que
estava a armar a Rússia por lhe comprar gás e petróleo em vez de diversificar
os fornecedores, como teve de acabar por fazer. Querem protecção do Tio Sam vão
ter de pagar, de ima maneira ou de outra. Em Portugal quase que só resta AG
para escrever e dizer aquilo em que os jornaleiros não pegam ou tentam
censurar. Continue sempre no mesmo rumo, é o meu desejo. José Tomás: É isto. Trump
está a criar as condições para Zelensky conseguir vender aos ucranianos uma paz
com perdas territoriais importantes, que é a única paz que Putin aceitará (pois
lhe permitirá salvar a face) e que, portanto, é a única paz possível dentro do
prazo que Trump prometeu aos eleitores. Digo eu, claro, que não sei nada. Maria Paula Silva: Muito bom! Pois também me pareceu que a Meloni, que,
actualmente, me parece ser das poucas políticas honestas, estava ligeiramente
incomodada. Pelo contrário, a miss von der lies parece estar sempre embevecida
com o Tony Curry e ultimamente ri-se demasiado. Parece uma hiena, tem o riso de
hiena. Quando os vejo juntos, penso sempre na letra da música
"Perfect" de Ed Sheeran, da qual destaco duas quadras que lhes
assentam que nem uma luva: Diz ela, a hiena: "I found a love for me, Oh,
darling, just dive right in and follow my lead" responde o Curry: "Well,
I found a woman, stronger than anyone I know, She shares my dreams, I hope that
someday, I'll share her home" Ucrania? o resto? nem comento, pois é tudo
tão grave e tão incógnita que a única coisa que podemos fazer é viver como
os AA (alcoólicos anónimos), "um dia de cada vez", e já agora rezar e
Confiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário