Para a obra de CARLOS MOEDAS, como Presidente da Câmara de Lisboa. Por vezes há quem saiba reconhecer o valor alheio, sem esperar pela morte desse alheio. Refiro, neste caso, ANTÓNIO ALVES E ALMEIDA Professor Convidado ISCTE-IUL, Analista Funcional e Consultor de Sistemas de Informação, que o fez na crónica que segue:
A obra invisível de Moedas
Precisámos de esperar quase 20 anos
para que, com Carlos Moedas, os túneis do Plano Geral de Drenagem de Lisboa
realmente começassem a ser escavados, e com eles vez a luz ao fundo.
OBSERVADOR, 12 fev. 2025, 00:112
Nos últimos anos, em Portugal, temo-nos
habituado a chorar por obras estruturantes que fazem falta ao país, mas que não
saem da mesa de trabalho a não ser para ganhar mais uns votos, quando eleições
se avizinham.
Talvez seja injusta esta leitura
de que o anunciar de projectos que nunca acontecem seja apenas uma estratégia
política premeditada, quem sabe, talvez até haja o intuito de avançar com eles,
mas exista sempre algum impedimento a evitar a sua concretização. Talvez tenha
mesmo sido impossível avançar, desde 1988 até 2024, com o Projecto Ferroviário
Português de Alta Velocidade, e nem os esforços anunciados em 2003, em 2008, em
2022 e os 120 milhões de euros gastos em estudos, tenham servido para
ultrapassar as dificuldades encontradas em quatro décadas. Quiçá o novo
aeroporto da capital não tivesse mesmo condições para sair do papel, até agora.
Porventura a barragem do Pisão (retirada há dias do PRR), prometida na região
do Alto Alentejo há mais de 70 anos, seja mesmo uma obra envolta em
dificuldades obscuras que não se conseguem superar. Não vale a pena mais
exemplos, julgo que servem para ilustrar esta minha dúvida, que acredito,
também partilhem.
Por Lisboa, as lágrimas vão enxugando.
Na ressaca do desastre de Valência, em
Outubro do ano passado, provocado por cheias que ceifaram quase 300 vidas,
começaram a circular as notícias acerca do Plano Geral de Drenagem de Lisboa
(PGDL), uma obra de vital importância que preparará a cidade para eventos
extremos, reduzindo inundações e cheias e os consequentes custos sociais e
económicos das mesmas.
Este projecto foi mais um dos que se
arrastou pelas mesas de decisão desde o início da sua elaboração, em 2004, por
vontade de Carmona Rodrigues.
Durante vários anos a sua implementação
esteve parada. Em 2010, por exemplo, António Costa alegava que não havia
condições para assegurar o investimento necessário. Talvez não houvesse mesmo,
talvez o receio das queixas pelo impacto no trânsito tenham sido factor para
não colocar o projecto em trânsito. Em 2015, Medina afirmava que as
escavações estariam concluídas em 2019 e o seu executivo chegou até a avançar
com a contratação do empréstimo, poderia dizer que foi a luz ao fundo do túnel,
mas não foi bem.
Precisámos de esperar quase 20
anos para que, com Carlos Moedas, os túneis realmente começassem a ser escavados, e com eles a luz ao
fundo. Entre Monsanto e Santa Apolónia e entre Chelas e o Beato, os seis
quilómetros dos enormes túneis dão dimensão à promessa de encarar este projecto
como prioritário, e agora esperamos que o ciclo se feche. O acordo
para a última parcela do empréstimo-quadro foi assinado e a maior obra
municipal da Câmara de Lisboa avança em velocidade cruzeiro.
Se chateia, quando conduzimos em algumas partes da cidade, o impacto no
trânsito das enormes escavações dos túneis de captação da água, ao mesmo
tempo alegra esta noção de que há um problema a ser resolvido e não varrido
para debaixo do tapete. Em 2025
são 79 milhões de euros que se enterram, literalmente, numa obra invisível, mas
altamente relevante, que ao todo deverá chegar aos 250 milhões.
Esta obra, que ficará para sempre ligada
a Carlos Moedas, será
apresentada por alguns como resultado do trabalho de vários executivos ao longo
de vários anos (mesmo daqueles pelo meio que para ela nada contribuíram).
Aqui
mesmo ao lado, em Oeiras, a terra onde há metros voadores que não andam,
centenas de restaurantes que valem a pena e ruas que chegaram a ter metro e
meio de água em 2022, a requalificação da ribeira de Algés ainda não arrancou.
Portugal necessita da coragem política,
como a de Carlos Moedas, para se avançar com a obra que não se vê nem ajuda nas
eleições seguintes, mas que é vital para o desenvolvimento do país.
COMENTÁRIOS:
Rosa Lourenço: Há tanto para fazer em Lisboa que se tornou
imunda, desleixada com remendos em vez de calçada portuguesa, pilaretes em vez
de espaço e liberdade, jardins abandonados, palmeiras doentes há anos por
cuidar... Triste "Rainha do Mar"!!! Apesar de ser óptima
iniciativa e necessária há décadas...
Jorge Frederico Cardoso Vieira Barbosa: Excelente artigo. Moedas tem estirpe de
estadista e é servidor público. Daí que aja com coragem enfrentando os
penosos inconvenientes imediatos para que surjam então benefícios a longo prazo
para os cidadãos; o que no actual regime constitui uma raridade
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