quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

A nova ordem


Get up, Europa, como texto e comentários informam, e se previa. Entretanto, muita gente se aproveitou do “sono” – “sonho?” europeu. Nós todos, talvez.

Precisamos que a Europa acorde

O contraste entre o frenesim de Donald Trump e a lentidão europeia teve um exemplar episódio nestes primeiros dias de Fevereiro. Temos de nos preparar para o pior.

HELENA GARRIDO Colunista

OBSERVADOR, 05 fev. 2025, 00:2246

Donald Trump anunciou a aplicação de tarifas ao Canadá, México e China no sábado dia 1 de Fevereiro para entrarem em vigor a 3 de Fevereiro, terça-feira. Na segunda-feira lançou o caos nos mercados financeiros e uma enorme agitação no Canadá e no México – enquanto a China se mantinha fria. Na segunda à noite as tarifas já tinham sido suspensas para os dois países da fronteira dos Estados Unidos e seus aliados, genericamente com compromissos de policiamento. No meio desta batalha, Donald Trump ainda ameaçou a União Europeia, dizendo que será a próxima.

Enquanto enfrentávamos tudo isto, em Bruxelas acontecia uma cimeira informal sobre Defesa com o ritual do costume. A chegada do Presidente do Conselho Europeu e dos chefes de Estado e do Governo nos seus automóveis com declarações sobre o que se devia fazer e desmentidos de divisões, com agendas de almoço e jantar. E, no fim, as conferências de imprensa habituais, do presidente do Conselho e da presidente da Comissão, para se dizer o que é preciso fazer. E, claro, o compromisso de apresentar um documento. A Comissão, pode ler-se no seu comunicado já de dia 4 de Fevereiro, apresentará um “Livro Branco sobre o Futuro da Defesa Europeia em Março, que será a base para a discussão formal entre os líderes da União Europeia durante a reunião do Conselho Europeu de Junho”. Sim, em Março haverá um papel que será discutido em Junho.

O contraste entre a velocidade alucinante – e até alucinada – que nos chega de Whashington e a lentidão de Bruxelas é assustador, para nós europeus e para todos os que sempre acreditaram e consideram fundamental a construção europeia.

Com o grau de incerteza e instabilidade que nos rodeia, desencadeado por Donald Trump mas também pelo que se vai passando em cada um dos países europeus, o papel de Março que a Comissão Europeia vai apresentar, para que exista eventualmente uma decisão em Junho, corre o sério risco de ser ultrapassado pelos acontecimentos. Até porque ainda não sabemos o que sairá da cabeça de Donald Trump em matéria de guerra na Ucrânia.

Neste momento somos, nós europeus, uma espécie de saco de pancada, oscilando até entre o gozo e a crítica. Até o presidente da Ucrânia, que sempre apoiámos, não se coibiu de criticar a União Europeia em Davos. Se não formos mais assertivos e mais rápidos nas decisões estamos perdidos e enfrentaremos uma séria ameaça de colapso de tudo o que foi sendo construído desde 1958.

Há quem defenda uma espécie de estratégia de resistência passiva, apostando que esta agitação liderada por Trump vai durar cerca de dois anos apenas. Quem o faz não percebeu que estamos perante mudanças estruturais no pensamento do eleitorado.

A globalização, embora tenha enriquecido o mundo como um todo e reduzido as desigualdades em termos globais, criou nos Estados um exército de deserdados, agravando as desigualdades ao nível de cada Nação. E é a este nível que se decide o poder, e é a este nível que começam a emergir as revoltas que dão origem a uma classe de dirigentes que desafia os poderes instalados de forma agressiva e politicamente incorrecta.

O Brexit e o crescimento dos partidos populistas, especialmente de direita, nos Estados Unidos como aqui na Europa, são a consequência do esquecimento a que fomos votando quem perdeu com a globalização. As elites afastaram-se e esqueceram-se do povo, e o povo está a fazer-se notar. Se os líderes dos países da União Europeia não perceberem que o mundo mudou vão cavar a sua sepultura.

O que se passou nestes primeiros dias de Fevereiro tem condições para ter gerado danos a vários níveis, que a suspensão ou mesmo mais tarde o fim dessas tarifas não serão capazes de reverter. Um dos danos, ou pelo menos um aviso sério à União Europeia, é seguramente na relação de confiança com aquele que foi sempre o aliado norte-americano. Donald Trump atacou os seus aliados, com especial relevo para o Canadá, mostrando que não é confiável.

É importante que a Europa perceba isso. O que passa não apenas por procurar outros aliados – e a China pode ser o grande beneficiado dissocomo por adoptar decisões mais rápidas e sem medos. Caso contrário dará razão a Putin, quando também neste início de Fevereiro disse que os líderes europeus acabarão por ficar do lado do “mestre”, leia-se Donald Trump, “ a abanar a cauda carinhosamente”. Digamos que a cimeira informal de Defesa não deu um bom exemplo no sentido do desmentido a Putin, nomeadamente quando percebemos nas entrelinhas que os líderes europeus tinham medo da retaliação do presidente norte-americano se não optasse por equipamento ‘made in US’.

Um segundo danoque se pode converter em vantagem se a Europa o conseguir – atinge directamente as empresas, que não podem também elas confiar em Donald Trump, e têm de escolher agora os seus investimentos levando também em conta a imprevisibilidade do novo presidente dos Estados Unidos, que não lhes dá nem como garantia a estabilidade na relação com os aliados. A indústria automóvel, devido às suas complexas e por vezes longas e multinacionais cadeias de produção, foi uma das mais afectadas, nas bolsas, pelo anúncio das tarifas. E, por isso, vai ter de levar em conta este novo mundo de Trump. Se a União Europeia souber, pode retirar vantagens desta incerteza.

Mas todo este novo mundo, que tem condições de ter vindo para ficar dada a mudança das preferências do eleitorado, exige que a União Europeia acorde. Esta cimeira informal não foi o melhor exemplo daquilo que tem de fazer. Os optimistas dirão que o projeto europeu vai buscar as suas energias às crises. É melhor preparar-nos para o pior.

DONALD TRUMP       ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA      AMÉRICA       MUNDO      UNIÃO EUROPEIA      EUROPA

COMENTÁRIOS (de 46)

Américo Silva: Tiroteio em escola para adultos na Suécia faz 10 mortos, mas não foi a Suécia um dos mais importantes financiadores de terroristas em África contra os portugueses?, uma situação divertida.                António Lamas: A Europa não está adormecida.. Está morta. Só mesmo o milagre da ressurreição a salvará. Não é com estes dirigentes, com o Costa à cabeça, que a "velha gaiteira" se endireita              Manuel Magalhaes: A imprevisibilidade de Trump onde é que ela está, Trump sempre disse ao que vinha e nesse caso é claro como água, o problema está em que a Europa não gosta do que daí vem então arranja a desculpa da imprevisibilidade, e pelos vistos continua a assobiar para o lado para ver se milagrosamente as coisas passam, veja-se o resultado do último conselho europeu, muito falatório e de acção nada, vejam se os tempos, dois meses para se começar a discutir um assunto absolutamente urgente e vamos ver se serão só os tais dois meses… até dá vontade de rir!!!                     Rui Lima: Caro Ruço tal como sr., amo muito esta Europa muito mesmo mas não sou cego, a política europeia devia ser uma coisa séria não pode ser deixada na mão de incapazes e carreiristas, repare que mérito teve António Costa que se limitou em Portugal a aproveitar o bar aberto do BCE nem uma reforma fez, o Trump quando o olhar para ele vai-se rir com razão, a grande diferença é que Trump teve vida fora da política Costa nunca fez nada fora da política. Repare nos números, desde o início do Século estávamos a par dos USA no PIB hoje estamos a 80% os USA já chegaram aos 28 000 milhões, o nosso ainda não chegou aos 16 000 milhões , veja a produtividade, está estagnada na Europa, os novos habitantes da Europa não ajudam, entra quem quer, em vez de escolher gente que traga valor como fazem algum países como a Austrália , Canadá …  USA dos que chegam 23% são matemáticos , engenheiros , cientistas , técnicos … com muita tristeza que escrevo este comentário tal é a incompetência de toda esta gente .(nas nossas universidades há pouco mais de 15% em áreas que contam na China são mais de 40%)                    Tim do A: É confrangedor assistir à Europa paralisada versus a dinâmica jovial de um presidente americano com quase 80 anos. Vai continuar assim a Europa. Parada, paradinha. A UE devia acabar e mandar os burocratas da UE trabalhar.                     Ricardo Frade > josé cortes: Não só o Trumpismo não é passageiro (já tínhamos ouvido isso antes) como me cheira que irá continuar depois de Trump morrer.               josé cortes > Ruço Cascais: Ai o Trump é passageiro e a maioria dos americanos não pensa como ele? Espere pelas próximas sondagens, hehe.                   Antonio C.: A Europa está nas mãos de xuxalistas a começar pela Von Der Leyen e múltiplos governos e presidentes na sua proximidade. A agenda globalistsa e woke molda e dita as duas decisões. Enquanto assim for, o panorama será sombrio.                     Carlos F. Marques: A UE precisa de uma limpeza de cima abaixo se quiser ter futuro. Exemplares como o aldrabão de Goa não têm lugar numa Europa à altura dos desafios que tem pela frente.                  Francisco Almeida: Estava a reconciliar-me com os últimos artigos de Helena Garrido mas hoje o afastamento é total. Na Europa, a CEE foi uma boa ideia, a UE não. Em Davos a única coisa de positivo foi o discurso de Javier Milei. As tarifas de Trump causaram um impacto negativo na indústria automóvel. Depreendo, pelos anteriores silêncios da jornalista que as exigência da UE nas emissões de CO2, a imposição dos eléctricos na sequência da "batota" da Volkswagen é que beneficiaram a indústria automóvel europeia (e não a chinesa). E pergunto se as tarifas de Trump virão afectar mais a classe média do que o simples facto de os automóveis eléctricos serem 40% mais caros do que os de combustão interna.                      josé cortes: Esta crónica tem demasiados enviezamentos para este espaço de comentário. A começar pela própria autora. Um show de bola, do lado de lá, Panamá já revogou com a China, México já recuou e pôs tropas, Colômbia afinal já aceita a malta O Maduro já entregou quase todos os presos, USA que lá tinha e tb já aceita a maltosa de volta. O Canadá vai-se ferrar Já começaram a fechar departamentos estatais e deram a todos os funcionários federais uma semana para decidirem - ou voltam em full ou saem mantendo regalias até ao fim de Set (o ed. Federal da Agricultura tinha 98% do pessoal em teletrabalho em full) O Musk (o GOBE já pertence ao executive branch) já "fechou" a USAID, está-se a preparar para o mesmo com o Departamento da Educação (uma autêntica madrassa woke há décadas, desde a visita dos franceses na década de 60) E por cá a SIC e a TSF fazem peças de notícia em que referem várias vezes os emigrantes deportados e se esquecem de adicionar 'ilegais"; aliás, a CNN começa a ir pelo mesmo caminho (as algemas e correntes são do mesmo fabricantes das usadas pelo Obama e pelo Clinton..) . Uma tristeza, toda esta situação. O velho desabafo, se fosse mais novo, emigrava...        Ed 7: E mudar toda a liderança europeia e urgentemente. Eleições directas a nível europeu.       GateKeeper: A "Europa já não consegue" acordar* do seu estado comatoso alcoólico.        Carlos Real: A UE só funcionou num mundo previsível e enquanto houve dinheiro para distribuir. Uma casa com tanta gente a querer mandar nunca poderá dar bom resultado. É como termos avós, pais e tios a quererem todos tomar decisões. A Europa nem sequer empresas do século 21 consegue ter com dimensão mundial. É cada vez mais um barco cheio de remendos e com um casco muito velho a precisar de reforma total. Na prática é como Portugal, para pior. Nós ainda temos um PM que finge tomar medidas e se tivesse alguma visão poderia conseguir algo. A UE nem isso. São cada vez mais o PCP das ilusões. De alargamento a alargamento até à derrota final. A Ucrânia poderá ser o prego no caixão.                   Coxinho > Ruço Cascais: Conhece as razões que levaram Musk a encerrar a USAID? Será bom informar-se. Bom dia!                     unknown unknown: A União Europeia não é uma união política, portanto ou temos uma Alemanha e França alinhadas e sem os complexos wokistas actuais, ou os EUA, China e Rússia tomam conta disto!                       José Martins de Carvalho: Estou de acordo com o artigo quanto às observações sobre a lentidão europeia. Mas os parágrafos que começam por "A globalização" e por "O Brexit" estão a mais. Não há nenhum "exército de deserdados" pela globalização, nem uns dirigentes populistas e politicamente incorrectos que nele se apoiem. O que há é uma opção por um estado social impossível de financiar, que leva à asfixia fiscal, de aqui à impossibilidade de crescimento económico, e de aqui à pobreza, pois a população global ainda não parou de aumentar. O facto de, na Europa e nos EU, tal aumento ser "importado" dos países pobres com sobrepopulação, acrescenta os dramas dos choques culturais. É neste mundo difícil que precisávamos de dirigentes à altura, que não vislumbro de onde possam emergir.       joaquim duarte: Os americanos têm um ditado que reza o seguinte: O Japão é um lar de idosos, a China é uma prisão e a Europa é um museu, eu acrescento para além de museu é um jardim para passeio de incompetentes asilados em palácios à custa dos nossos impostos. Se forem ver todos os organismos, entidades várias e indivíduos que vivem na teta da EU, ficaríamos estarrecidos com tanto desperdício.                    Alexandre Barreira: Pois. Caríssima Helena, Com mil perdões. E com o devido respeito. No fundo o que nos quer dizer...é que: "Iste tá mesme tude fedide"....!!!                Eduardo Costa: Talvez a Europa precise de ser liderada por um conjunto de cinco países: Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Polónia. Decidiriam mais depressa.                      Ruço Cascais: Cara Helena Garrido, hoje parece que é moda bater na União Europeia. Toda a gente, ilustre, especialista, político, governador, presidente, taberneiro, balconista, cardeal, comentador, jornalista, desportista, imigrante bate na União Europeia. Até eu, tenho que me conter para não bater na União Europeia, principalmente no Costa Fugitivo. Acontece, Dona Helena, que a União Europeia não é uma Federação de Estados / Países como são o caso dos Estados Unidos ou a Rússia que falam e decidem a uma só voz eleita a bem ou a mal pelo conjunto desses estados. A União Europeia é um acordo comercial entre países que partilham a mesma moeda e a mesma região económica. A União Europeia não pode reagir às tonteiras de Trump com a rapidez com que reage o Canadá ou a China. Talvez a grande reacção da União Europeia a Trump fosse partir para o federalismo, mas, os risco que daí podem advir são enormes. O federalismo terá que continuar a crescer na sombra. As reacções às tarifas de Trump tem que ter o respaldo e o acordo de todos os países da União Europeia, os 27. Não é nada fácil. Meloni tem uma boa relação com Trump, já com Pedro Sanchez a relação não deve ser boa. Portanto, satisfazer num acordo os 27 estados membros não é fácil nem rápido. Creio que a burocracia e o emperro nas decisões da União Europeia podem ser uma vantagem, já que reagir a quente a Trump é uma precipitação que não trará nada de bom. Deixar Trump falar, ameaçar e quando ele efectivar ou se efectivar as suas políticas agressivas à União Europeia, reagir com cabeça, cautela e sem demasiada agressividade com o nosso parceiro histórico... e de acordo com os 27, obviamente. Trump não presta. É um homem velho, vingativo, carregado de ódio que não carrega um sinal de humor, de alegria, de riso e de simpatia e respeito pelos seus semelhantes. Daquela boca só saem insultos desnecessários, ameaças, crispação e moscas. É um rufia com um semblante pior do que o do Rambo e capaz de esmurrar o primeiro que lhe aparecer pela frente. Os americanos não são assim. A maioria dos norte-americanos não se revê em Trump. O Trumpismo é passageiro e não chegou para ficar, há que saber ter calma. Nota: a União Europeia, se Trump fechar as portas, tem que começar a pensar mais na China e na criação de parcerias com a Ásia. O terror Putin pode ser o grande impulso para o federalismo com a criação do exército único.       Maria Emília Ranhada Santos: Os líderes da Europa não gostam da política de Trump, porque este é conservador e os donos da Europa querem-na muito "modernness!" Trump e os estadunidenses, querem ordem e disciplina! Querem moral e ética no País ao contrário dos europeus que ainda não acordaram e por isso querem ideologias de género, LGBTs, globalismo, destruição, desordem, corrupção, assassinatos, imigração descontrolada, portugueses sem habitação porque tem de as dar aos terroristas, e por aí vai! Mas parece que também cá, as coisas vão mudar, porque os maçons, estão a ser desmascarados de liberdade ou de país para viver                   Manuel Gonçalves; O grande erro da Europa foi o afastamento da Rússia a mando dos EUA, que não estão interessados numa Europa com independência energética, militar e agrícola. Daí, as interferências na Ucrânia e na Geórgia e mais recentemente na Roménia e na Moldávia, com o objetivo de desestabilizar a Rússia. O argumento é sempre o mesmo - levar a democracia. Os europeus acreditam nas boas intenções e vêem o mundo através das narrativas das televisões até baterem de frente com a realidade. Depois metem a cabeça na areia à espera de outra narrativa que os mobilize para colocar outra bandeirinha no perfil das redes sociais.

 

Nenhum comentário: