domingo, 9 de fevereiro de 2025

A diferença é

 

Que não se muda já como soía”: hoje a mudança sendo decisivamente mais aparatosa, dado o maior contraste nos valores em paralelo, a inversão provocatória das normas mais comuns trazendo repulsa para além do pasmo – não pelo ridículo mas pelo criminoso - para mais gratuito, não exigente de punição e, pelo contrário, de subservientes anuências.

A mudança que “Emilia Pérez” não previu

De repente, são numerosos os sinais de que o “wokismo” entrou em autofagia. Ou de que o mundo parece ter recuperado um pedacinho do bom senso.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 9/2/25

A história de “Emilia Pérez” dava um filme muito mais interessante do que o filme que “Emilia Pérez”, de facto, é.

Primeiro, eis uma sinopse do filme (o qual, contra todas as evidências, não pretende ser uma comédia). Nos intervalos da organização de chacinas, “Manitas”, chefe de um cartel de droga mexicano, sonha há anos em mudar de sexo. Um dia, o homicida arranja uma advogada que lhe trata dos procedimentos necessários, e necessariamente clandestinos. Patrocinada por dinheiro sujíssimo de sangue, que a personagem e os argumentistas não questionam, a advogada viaja à Tailândia e a Israel, a debater questões técnicas e filosóficas com cirurgiões. Convém informar que “Emilia Pérez” é um musical, pelo que os debates acontecem sob a forma de cantorias. Com o médico tailandês, canta-se o seguinte diálogo:

 “[Advogada) Hello, very nice to meet you. I’d like to know about sex change operation.

[Médico] I see, I see, I see. Man to woman or woman to man?

[Advogada] Man to woman.

[Médico] From penis to vagina.”

Mantive o inglês para não comprometer a subtileza lírica. Aliás, o pedaço transcrito constitui cerca de 70% da letra completa de “La Vaginoplastia”, o nome da cantiga.

Bom, após uns divertimentos do género (trocadilho intencional), o chefe do cartel simula a própria morte, instala na Suíça a mulher e os filhos (que o julgam morto) e submete-se à operação para encontrar o seu eu autêntico, viver a sua verdade, ser ele(a) mesmo(a) enfim. Além dos genitais, uma das coisas que o assassino deixa para trás é o cadastro. Se bem percebi, o filme defende que a amputação das partes baixas purifica o carácter e absolve os homens, desde que estes passem a “identificar-se” como mulheres. Aprendam com a potência poética de “Lady”:

“Changing the body changes society

Changing society changes the soul

Changing the soul changes society

Changing society changes it all”

Aprenderam? Não sei o quê, porque nenhuma das frases faz sentido. Mas a ideia é que a transsexualidade é redentora.

Para acabar de resumir “Emilia Pérez”, Emilia Pérez, ex-“Manitas”, sente saudades dos filhos e regressa incógnito(a) à antiga família, que não o(a) reconhece e o(a) acolhe como a prima de “Manitas” que diz ser. Entre cantilenas sublimes, o elenco em peso volta ao México e lá Emilia Pérez dedica-se a trabalho filantrópico com as vítimas dos cartéis de droga. Sucedem-se umas trapalhadas excessivamente fascinantes para eu as memorizar, Emilia Pérez morre talvez num acidente e é passeado(a) em efígie pelas ruas, a título de santinho(a) dos humildes. Fim.

Na perspectiva de pervertidos, “Emilia Pérez” é uma obra-prima. Não falo de perversões sexuais, mas de cinematográficas: quem gosta de fitas péssimas iria adorar isto de qualquer maneira. Não há nada ali que não seja gloriosamente ridículo. O enredo. Os diálogos. As interpretações. As músicas. As coreografias. A “mensagem”, sim senhor(a): a mensagem é um caso à parte. O que afasta “Emilia Pérez” de outras misérias é o pormenor de “Emilia Pérez” achar ter uma “mensagem”, uma “mensagem” alinhada com as tontices em voga nos últimos tempos e pretexto para se cobrir semelhante calamidade com prémios, palmas, palmitos e palmilhas. Hollywood nomeou “Emilia Pérez” para 13 óscares, o equivalente a nomear “João Broncas, o Eterno Repetente” para 48. A diferença é que “João Broncas”, que nunca vi, de certeza não era tão infantil, não era realizado e escrito por um francês sem talento, não era protagonizado por uma Karla que há meia dúzia de anos se chamava Carlos e por causa disso concorre ao boneco de Melhor Actriz, em suma não era a consagração do destrambelhamento “woke” que “Emilia Pérez” é. Ou se esforçou por ser.

Mais até que a lengalenga “identitária”, a pobreza criativa, o humanismo postiço e a moralidade tenebrosa preparavam-se para tornar “Emilia Pérez”, com aspas, numa santinha idêntica a Emilia Pérez sem aspas, um objecto de veneração cega por parte da ortodoxia, a cereja da “coragem” no topo do bolo “inclusivo”. Só que, de repente

De repente, pessoas que não integram júris de festivais de cinema espreitaram “Emilia Pérez” e converteram a radical indigência daquilo em galhofa na internet. De repente, mexicanos desataram a protestar a profunda ignorância que “Emilia Pérez” revela acerca do país, principalmente acerca do sofrimento que a cultura da droga suscitou e suscita. De repente, auto-designados “membros” da “comunidade LGBT” começaram a queixar-se da “representação” da transsexualidade propagada no filme, que pelos vistos viola as apertadas regras da Federação Internacional do ramo. De repente, descobriram-se publicações de Carlos/Karla no Twitter a criticar a “asquerosa” misoginia da religião muçulmana, uma opinião polémica, inesperada e, depois de tudo o que o Islão fez pela liberdade sexual, ingrata. De repente, Carlos/Karla desceu de Primeiro(a) Actor Transsexual Nomeado aos Óscares para Primeiro(a) Actor Pressionado a Desistir da Nomeação. De repente, a Netflix hesita entre promover “Emilia Pérez” ou enterrá-lo de vez.

De repente, não apenas por isto, são numerosos os sinais de que o “wokismo” cedeu às contradições internas e entrou em autofagia. Ou de que o mundo parece ter recuperado um pedacinho do bom senso que se receou perdido para sempre. E não foi preciso mudar o corpo, a alma, a sociedade: se calhar bastou mudar o inquilino da Casa Branca.

COMPORTAMENTO     SOCIEDADE…..PESSOAS      HOLLYWOOD      CINEMA     CULTURA     DROGAS     MÉXICO     AMÉRICA      MUNDO     EXTREMISMO

COMENTÁRIOS (de 72)

Pedro Correia: Já vimos homens a ganhar competições desportivas femininas, inclusive nos jogos olímpicos, já vimos homens a ganhar concursos de beleza feminina, o "nosso" miss Portugal. Será que ainda vamos ver um homem a ganhar o Óscar de melhor actriz?! Isto é doidice, e só acontece porque as mulheres deixam. No dia em que as mulheres se revoltarem contra estas situações, nem que seja por ausência, elas levam a melhor. Se as mulheres, que lutaram box com o fulano que se achava mulher, se retirassem da competição, a medalha, que pouco valeu, não valeria nada. As candidatas a miss, se se tivessem retirado do concurso, o título não lhes servia de nada. Se na cerimónia dos óscares, as outras nomeadas retirarem a sua nomeação, alguém acha que a cerimónia vai em frente? Estas "politiquices doidas" estão nas mãos das mulheres. REVOLTEM-SE!!! Certamente terão o apoio da grande maioria da sociedade.                    F. Mendes: Quando li este artigo, no início, julguei que o AG estivesse a gozar. Foi a primeira vez que ouvi falar desta fita. Depois, fui ver no Google, e é mesmo verdade. Nunca pensei que chegássemos a isto. Pior, e mais inacreditável, só o facto de termos o Costa na "presidência" do "Concelho" (erro, propositado!) da Hóropa. Valha-nos Deus. Vai ser difícil livrarmo-nos do fosso moral provocado pelo buraco negro (oops!) do Wokismo; que suga o bom senso, apaga proporções, arrasa leis da natureza, provoca vómitos a estômagos de aço, e deixa paralisado de espanto quem cresceu e foi educado fora desta cultura tóxica de perversidades diversas. Como isto vai acabar, não sei. Mas, penso que não estamos ainda no princípio do fim, pelo menos por cá.                  A D: Está enganado, o wokismo afectou gente neste país, sim senhor. Como é que um grunho como Mamadou tem acesso aos jornais? Como é que ainda continuam a pagar à sua organização criminosa? Não há dinheiro para saúde, educação, justiça ou segurança, mas há para estas tretas? O dinheiro não cai do céu mas dos nossos bolsos e o que gasta nessas misérias falta no essencial!                        José B Dias: ... se calhar bastou mudar o inquilino da Casa Branca. E não é que bastou mesmo só! Fico extremamente feliz de poder viver, ao vivo e a cores" a verdadeira estória daquele que ousou dizer que já não era só o rei que ia nu!            Ana Crespo de Carvalho: A conclusão é fabulosa: o mundo parece ter recuperado um pedaço de bom senso porque bastou mudar o inquilino da Casa Branca 😅😅😅🤣🤣🤣🤣🤣🤣                   Maria Baldinho: Nunca ouvi falar de Jacques Audiard, não pretendo ser cinéfila e não verei Emilia Pérez, a não ser quando passar num qualquer canal de tv lá mais para o fim do ano. Mas o homem está de parabéns: pela descrição serviu uma magnífica obra de m**** aos comedores da dita. Para cada público um fornecedor.           Jorge Tavares: Pelo que se verifica que a reeleição de Trump para a Casa Branca tem aspectos positivos.              J L: Excelente, Alberto Gonçalves! Um absurdo "Emilia Pérez" (que já vi) ter 13 (!) nomeações para Oscares e tantos outros prémios. Hollywood tem andado demasiado "woke" e já se esqueceu de valorizar ou premiar (essencialmente) pela qualidade cinematográfica. Tantas nomeações só podem ser pelo extremo "wokismo" do filme. Porque - como cinema e como filme dramático-musical - "Emilia Pérez" é tão, mas tão medíocre!                   José Carvalho: O que se está a passar com este filme é a prova de que Hollywood já não atribui os óscares por méritos artísticos mas sim pela agenda promovida pelo filme. Senão vejamos. No início atribuíram globos de ouro e nomearam para 13 óscares., deduzindo disto que o filme artisticamente era excelente. Entretanto descobrem afirmações da actriz contrárias à agenda e eis que afinal o filme a a actriz já não são bons. Se dúvidas houvesse…                Maria Cordes: Verdade, ainda há esperança, mas não para os adolescentes que o wokismo, empurrou para o abismo das castrações, tratamentos hormonais e ideias suicidárias.                 Tim do A: Finalmente o mundo acordou contra esse flagelo. Bem haja Trump.                Manuel MagalhaesPedra Nussapato: Ainda há quem não perceba nada de nada, infelizmente!!!               m s God save Donald Trump! António Lamas: Bem lá terei que gramar a Emília. Não sei se vou rir tanto, como ri com a crónica. E para quando uma grande produção portuguesa também em estilo ópera bufa com o pomposo nome "Manas Mortágua"?                     Jose Costa: Nao vi o filme e até é dificil de acreditar em tal enredo. Enfim, coisas do wokismo que se espera em fase de extinção                    Glorioso SLB: Trump é mau, mto mau, mas é o único na actualidade para travar a sério o wokismo.             Paul C. Rosado. O wokismo devia ser considerado uma doença mental.                   Maria Emília Ranhada Santos. Graças a Deus que as coisas estão a mudar!                     Carlos Chaves. Caro Alberto, um grande bem-haja pela estrondosa gargalhada que me arrancou ao ler o seu último parágrafo, simplesmente genial e verdadeiro!                 Luis Silva: Wokismo também é aceitar no país gente do terceiro mundo, que nada tem a ver com a civilização ocidental e estão cultural e intelectualmente vários furos abaixo               Manuel Magalhaes: Hollywood anda completamente upside down…                     Maria TavaresPedro Correia: Subscrevo                   rMaria Paula Silva: nem nunca tinha ouvido falar em tal coisa. Pelos vistos, é, sem dúvida, um filme a... perder! E o dinheiro que se gasta nestas tretas. Bom fim-de semana, AG. p.s. - tinha acabado de ver um programa interessantíssimo que aconselho a todos: Primeira Pessoa, ep. 18, 5/2/2025, com Rui Costa, investigador e Neurocientista português, é CEO e director do maior centro de pesquisa sobre o cérebro do mundo, o Zuckerman Mind Brain Behavior Institute, nos EUA. A NÃO PERDER, na RTPPlay.                  Luis Silva > A D: Exactamente, wokismo não tem apenas a ver com esse conceito de identidade de género, mas inclui toda uma adulteração cultural e de valores que visa a transformaçáo social para fins políticos.                    Maria Paula Silva > António Lamas: eu não faço tenções de perder tempo a ver uma coisa que, pelo texto do AG, já percebi a porcaria que é. Mas a sua sugestão é boa, permita-me que acrescente ao título "Manas e Mamadu", fica mais inclusivo ahaha                      Maria Paula Silva > José B Dias: Penso que este ano será repleto de surpresas!                     José B Dias > Pedro Correia: Efectivamente!                 Joana Quintela: Muito bom!                   MCMCA A: Excelente artigo.                    Ruço Cascais: Hoje estava na esperança que alguém falasse do TPI. Soube pela televisão das sanções de Trump ao TPI. No Observador ninguém agarrou no assunto. Fiquei num misto de alegria e tristeza. Se por um lado condenava o TPI pelas acusações a Netanyahu por outro aplaudia a condenação a Putin. Trump ditou as mesmas sanções aos juízes e colaboradores do TPI que estes ditaram na acusação a Netanyahu. Fundos congelados nos bancos americanos e proibição de entrarem nos Estados Unidos. Creio, que a ideia de Trump é que levantem e anulem as sanções à Netanyahu. Na minha opinião, acredito, que mais tarde ou mais cedo o vão fazer porque o risco do TPI se transformar numa nulidade sem fundos é muito grande. Trump também terá a sua luta com Hollywood, que sempre que pode provoca-o. A nomeação deste filme é uma provocação a Trump e uma afronta aos seus apoiantes, como é o caso do Alberto Gonçalves. Mas Trump também precisa de Hollywood que faz parte do seu mundo de fantasia. Hollywood será sem dúvida o seu maior adversário político. Trump não pode censurar a exibição de filmes. Para atacar hollywood, Trump terá que o fazer pelo lado dos impostos. Magoá-los mexendo-lhes na carteira. Hollywood continuará a provocar Trump com mais LGBTQ+ e ideologia de género. Aguarda-se um grande combate entre Hollywood e Trump durante estes próximos anos.                   GateKeeper: Top 10.                    klaus muller > A D: Subscrevo totalmente.            Maria Paula Silva > Pedro Correia: Subscrevo!                     GateKeeper > F. Mendes: Não. Estamos mesmo na parte final do fim do princípio. Agora é só activar as "automáticas" e carregar no acelerador. Claro que para este regime caduco e decadente "já arrancámos atrasados" e isso não vai chegar.                 Manuel Gonçalves: Isto era tudo tãããooo previsível                 GateKeeper >J L: Meu caro J L, não seria de esperar outra coisa da demo-bollywood. Mas "temos" lá mais alguns tesourinhos deprimentó-wokes-liberalecos, que, certamente, à semelhança desta "cházada" esquerdalhó-woke-liberalrca, irão "receber" muitos mais "óscares de plástico reciclado".                    Oscar gomes: Querem-nos convencer que o que é diferente é igual ao que é igual... Infelizmente os 8 anos do "Costismo" com o apoio da maioria da c social que é frustrada por serem uns grandes servidores da sociedade mas mal pagos, dão corpo e voz ao esquerdismo e ao Wokismo. Interrogo-me como é possível partidos de 3 e 4% que em nada contam para o país a não ser protestar e contestar têm tanto poder na C Social.                José Ramos > Pedra Nussapato: Não percebeu, por exemplo, que está metido, estamos metidos, numa distopia totalitária (passe o eufemismo) onde esta gente manda, ou tem mandado. Se não percebeu, temo que a lavagem cerebral a que foi sujeito, talvez participante ou até "activista", está completa. Não há centrifugação que lhe valha.                 klaus muller > Manuel Magalhaes: Eu então acho que Hollywood só anda down. Já não há filmes policiais em que os bandidos sejam negros. Têm de ser sempre brancos. Já não há filmes em que o cowboy branco (que é o herói) mata o índio que nos é odioso. Se tal sucede, o cowboy branco tem de ser-nos apresentado como odioso e o índio, coitadinho, só tem qualidades. Depois queixam-se que se vai menos ao cinema.                   Luís Rodrigues > Glorioso SLB: A conclusão da sua frase desmente a asserção inicial.                    Maria Paula Silva > F. Mendes: Bom dia F., tal e qual como eu, não estava a perceber nada e antes do fim do 1º parágrafo tive que ir ao google para ver o que era aquilo. Por acaso, acho que estamos no princípio do fim, é um movimento naturalmente auto-condenado pela pouca substância cultural que tem. Durou e teve força porque a CS avençada colaborou a 500% (o que está muito errado, é urgente que a CS recupere a sua isenção, mas duvido que isso vá acontecer, mas como tudo são modas, pode ser que façam surf com a onda).                Alexandre Barreira: Pois. Caro AG, Por acaso já tinha visto a "coisa". É daqueles filmes para fazer. Chorar as "pedras-da-calçada"....!!!

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