domingo, 23 de fevereiro de 2025

Novelas


E novelistas de vária espécie, nestes tempos de interpretações e julgamentos de parcialidade nas convicções, com as respectivas acusações, mesmo virtuosamente subentendidas.

Vance: uma voz que irrita e convence

"Consideremos o lado dessa luta que censurou dissidentes, que fechou igrejas, que cancelou eleições. Eram eles os bons? Claro que não e, graças a Deus, perderam a Guerra Fria.

P. GONÇALO PORTOCARRERO DE ALMADA Colunista

OBSERVADOR, 22 fev. 2025, 00:1650

O dia 14 de Fevereiro de 2025 passou à história, graças ao extraordinário discurso pronunciado pelo Vice-Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), J. D. Vance, na Munich Security Conference.

Apesar da coincidência com o dia de São Valentim, a intervenção de J. D. Vance parece ter posto termo ao namoro entre a Europa e os EUA. A Europa esperava que os norte-americanos ajudassem a Ucrânia a defender-se da invasão russa, mas a nova administração dos EUA fez saber da sua indisponibilidade para continuar a alimentar este conflito. A questão que agora se coloca é a de saber se a União Europeia está disposta a substituir os EUA no apoio militar e económico à Ucrânia. Os países europeus vão fazê-lo ou, mais uma vez, a Europa vai-se ficar por condenações económicas da potência agressora e declarações, mais ou menos poéticas, de amor eterno pela Ucrânia?

Mais importantes e, decerto, irritantes, foram as afirmações de J. D. Vance em relação à crise da democracia na Europa. No nosso país e, possivelmente, nos demais da União Europeia, o discurso pró-democracia é usado como uma arma da extrema-esquerda para atacar os partidos de direita, insistentemente acusados de populismo e, até, de neofascismo. Mas o Vice-Presidente norte-americano manifestou a sua preocupação pelo modo como a velha Europa está a enveredar por um regime cada vez mais autoritário e, portanto, menos democrático, pondo em causa os valores por que lutaram os aliados, na Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria.

A circunstância de, na véspera da intervenção de J. D. Vance, ter ocorrido mais um atentado terrorista islâmico, que causou várias vítimas em Munique, foi providencial, não apenas para o Vice-Presidente dos EUA manifestar a sua solidariedade para com as vítimas e suas famílias, pelas quais disse rezar, mas também para assim se provar que não era exagerada a sua chamada de atenção para os perigos de uma imigração descontrolada. Com a sua emocionada referência às vítimas do atentado de Munique, Vance arrancou um generalizado aplauso da assistência, que o estadista norte-americano agradeceu com humor, acrescentando que, talvez, fossem as únicas palmas que iria receber ao longo da sua intervenção

Razões tinha J. D. Vance para supor que aquela primeira reacção dos políticos e militares que o ouviam não se iria repetir, porque o Vice-Presidente dos EUA teve a inaudita coragem de chamar a atenção para a profunda crise de valores que se vive na Europa. Para este político norte-americano, as principais ameaças para a segurança europeia não procedem dos agentes externos, como a Rússia ou a China, mas do seu interior, pois devem-se ao “recuo da Europa em relação a alguns dos seus valores mais fundamentais, valores esses que é suposto partilhar com os EUA.”

Vance enumerou alguns casos que mereceram a sua atenção e que atestam a objectividade desse seu diagnóstico. O primeiro facto alarmante que relatou foi o de um ex-comissário europeu ter manifestado, na televisão, o seu agrado pelo facto de o Governo romeno ter anulado o resultado das eleições presidenciais nesse país, invocando uma alegada intromissão russa no processo eleitoral. Pior: o mesmo eurocrata atreveu-se ainda a dizer que o mesmo poderia acontecer também nas próximas eleições alemãs, se o resultado não for o desejado pelas instâncias europeias! Para o Vice-Presidente dos EUA, ou para qualquer democrata, “essas declarações arrogantes são escandalosas para os ouvidos norte-americanos, porque sempre nos disseram que a nossa ajuda era para apoiar os nossos comuns valores democráticos.” Acrescentou ainda que, quando vemos tribunais europeus cancelarem eleições e altos funcionários ameaçando invalidar actos eleitorais”, há que perguntar se ainda se estão a defender os mesmos ideais democráticos. “Mais do que falar de valores democráticos” – disse – “há que praticá-los”.

A este propósito, fez uma alusão à Guerra Fria que, certamente, gelou os assistentes: A Guerra Fria posicionou os defensores da democracia contra forças europeias tirânicas”, ou seja, a URSS e o Pacto de Varsóvia. Consideremos o lado dessa luta que censurou dissidentes, que fechou igrejas, que cancelou eleições. Eram eles os bons? Claro que não e, graças a Deus, perderam a Guerra Fria. Eles perderam porque não valorizaram, nem respeitaram as extraordinárias bênçãos da liberdade. (…) Não se pode impor a inovação ou a criatividade, assim como não se pode obrigar as pessoas a pensar, sentir ou acreditar e nós cremos que essas coisas estão certamente relacionadas. Infelizmente, quando agora olho para a Europa, não vejo claramente quem foram os vencedores da Guerra Fria…”

J. D. Vance comentou mais um caso recente, que põe a nu a falta de democraticidade da União Europeia, agora que, com a desculpa do populismo, enveredou por um discurso autoritário, senão mesmo totalitário. Com efeito, referiu que comissários da União Europeia querem fechar media sociais”, ou seja, media e redes sociais, “em períodos de especial agitação social, com o pretexto de assim evitarem o que dizem ser discursos de ódio. Na Alemanha, as autoridades chegaram a perseguir pessoas que teriam feito on-line comentários antifeministas, para erradicar a misoginia da internet.” Note-se que também em Portugal, graças ao Partido Socialista, foi aprovada uma lei que limita a liberdade de pensamento e de expressão, com o pretexto de erradicar as mensagens de ódio nos media e nas redes sociais.

Corajosamente, J. D. Vance, que denunciou os eurocratas inimigos da democracia, reconheceu que “também nos EUA a administração Biden incentivou atitudes censórias contra a liberdade de pensamento e de expressão, nomeadamente em relação à origem da pandemia da Covid 19.Também o anterior presidente da Assembleia da República, que falhou a reeleição como deputado, permitiu-se limitar a liberdade de expressão dos deputados da direita, causando até a indignação do insuspeito Sérgio Sousa Pinto, deputado socialista. Como concluiu Vance,Trump é o contrário de Biden. Podemos não concordar com as suas opiniões, mas defenderemos sempre o seu direito a ter essas opiniões e a manifestá-las.”

Uma última nota para sublinhar o que foi, sem dúvida, o momento mais alto da sua intervenção: a referência a São João Paulo II, o santo Papa polaco a quem se ficou a dever a libertação da Polónia e a queda dos regimes comunistas na Rússia e nos países do Leste europeu.

Pode-se gostar, ou não, das políticas e atitudes da nova administração norte-americana – nomeadamente no que respeita à Ucrânia e à política anti-imigração mas não se pode ficar indiferente a este discurso, nas antípodas das intervenções tíbias dos burocratas da política nacional e europeia.

Trump irrita os defensores do pensamento politicamente correcto por ser um empresário de sucesso e, sobretudo, por ter ganho, por duas vezes, a eleição presidencial, tendo contra ele todos os media de referência. Tem o seu quê de paradoxal que um poder sem legitimidade democrática, como é a comunicação social, ataque o Presidente eleito dos EUA e não suporte que o seu Vice-Presidente, também eleito por esmagadora maioria, dê lições de democracia aos líderes da União Europeia, que não foram eleitos, pelos cidadãos europeus, para os cargos que exercem.

J. D. Vance, cujo discurso irrita os politicamente correctos e convence os eleitorados de além e aquém-mar, é um homem com uma lucidez e coragem notáveis. A Europa e Portugal precisam, com urgência, de políticos destemidos, que ousem fazer frente aos tiques autoritários dos inimigos da verdade, da democracia e da liberdade.

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COMENTÁRIOS (de 50)

Maria da Assunção Gaivão: Assino por baixo! A velha Europa levou um puxão de orelhas de Vance …que no seu discurso mostrou o lado certo da História. Que pena que o berço da civilização da Europa cristã tenha governantes medíocres que se dedicam ao fabrico de “Agendas”. Obrigada ao Padre Gonçalo pela sua lucidez!           Coronavirus corona > Ruço Cascais: Qual foi o muro que Trump subiu? Oh, não subiu mas apelou a que subisse. Mande pelo menos um vídeo de Trump a apelar à invasão do Capitólio. Você é o exemplo mais claro daquilo que Vance apontou à Europa. É o protótipo perfeito do cérebro lobotomizado que reproduz os chavões da comunicação social sem sequer os mastigar.               Luís CR Cabral: Muito bem            Filipa Morão: Bravo!                   José Afonso: O problema é que a finalidade do discurso não era aprofundar a democracia mas antes, justificar a aproximação à pior das ditaduras             Tim do A: Muito boa análise. Parabéns pela coragem. Sabendo que a Igreja está cada vez mais esquerdista, socialista, comunista e anti ocidente, uma voz do seu interior que é uma lufada de ar fresco.           João Paulo Reis: Hoje tenho um caso complicado, quando ouvi o discurso de Vance, reagi exactamente como o texto do P. Gonçalo, ingenuidade minha, mas passadas 24 horas quando começo a ler e ouvir as declarações de Trump e outros que lhe são próximos, apercebi-me que tudo não passa duma estratégia muito bem urdida para derrubar o legítimo governo da Ucrânia e limpar tudo o que ao longo de décadas se havia acumulado pela Rússia e assim transformá-la num aliado e amigo. Preparem-se para o dia em que PCP e Chega defenderão com unhas e dentes a Rússia e o seu regime. Também não ficarei surpreso de ver forças políticas ditas democráticas, caírem na sedução de propostas pondo em causa a liberdade trocando a pelo controlo das opiniões e pensamento. Felizmente para nós o nosso petróleo é o Sol, a cultura e a gastronomia, portanto nada que nos possam obrigar a ceder aos EUA ou à Rússia. Já vai longo este comentário, tanto haverá para se dizer, mas guardo me para outras ocasiões. Obrigado!           Coronavirus corona > Ruço Cascais: Antes de mais não convém falar em perdões e Biden no mesmo comentário que visa criticar Trump. É que se houve descaramento não foi com Trump (que fez muito bem nesse perdão pois já se tratava de uma perseguição política). Ruço, continua a adjectivar, a repetir frases que estou cansado de ouvir por parte dos fazedores de opinião das televisões (até parece que é o eco) mas continua sem ser capaz de mostrar um vídeo e abrir aspas citando objectivamente o que ele disse. É que essa conversa já estamos todos fartos de a ouvir. Mas nunca apareceu qualquer vídeo com esse tal apelo. É conversa que lhe vendem          Coronavirus corona > Ruço Cascais: Então deve ser fácil para si enviar um link de um vídeo e dizer-me: "oiça bem no minuto X" Não, não incentivou coisa nenhuma. Isso foi-lhe metido pela goela. E não meta Hitler a martelo porque o anti-semitismo cíclico está de volta pela mão da esquerda europeia. Um anti-semitismo escondido em discursos melosos a favor dos palestinianos mas que mais não é do que pele de cordeiro para encobrir o lobo. Mas isso é outro assunto. Mostre, se foi tão peremptório, esse tal apelo de Trump para que invadissem o Capitólio. Caso não encontre espero que faça uma reflexão interna e se questione porque tão tinha essa ideia na cabeça e como ela lá foi parar sem querer se apercebesse               Francisco Almeida: Não gosto de sacerdotes a escrever sobre política mas este artigo li-o mais como sobre valores. E gostei.                    Ruço Cascais: Um padre Trumpista que admira Vance que está ao lado de Trump na invasão do Capitólio por ter considerado fraude nas eleições norte-americanas, mas, que tem o desplante de um neonazi em vir criticar as eleições europeias. Um traste que diz não haver liberdade de expressão na Europa, mas que depois do abominável discurso em Munique foi visitar a AdF um partido de extrema-direita minado de neonazis wokistas que querem alterar a história da 2GG, designadamente o papel da Alemanha na guerra e, obviamente, os nazis. Desculpe que lhe diga caro Padre, mas, não tem a mínima vergonha na cara em vir publicamente defender Trump, Vance e toda a carga de fascistas e neonazis que carregam com eles nesta Administração. Vance, um moralista que criticava Trump mas quando viu uma oportunidade de chegar à Casa Branca ficou o 2⁰ melhor amigo de Trump, o 1⁰ é o extraordinário Elon Musk. Talvez no próximo sábado o Padre nos traga aqui um grande elogio escrito ao papel de Elon Musk nesta organização de Trump na Casa Branca. Por Amor de Deus, tenha tino. perdoado por quem apoiou isso e nunca aceitou o resultado das eleições, onde se enquadra? Ou quando são aqueles em que se revê já é possível. Aqueles não foram dispersar os vendilhões do Templo. Jurista, licenciado pela Universidade Católica do Porto, e democrata de centro-direita.         Jose Marques > Paulo Barreto: Nojo é o Barreto k vossemecê tem enfiado 'nos carola”            Jose Marques > João Paulo Reis: Ó Reis, não, não.. não te guardes para outras ocasiões. Já debitaste peçonha k chegue! Entre civis e militares, juntando Ucrânia e Rússia, já lá vão cerca de 1 milhão e meio de mortos. E, com argumentos espúrios, vocemecê nem reconhece, muito menos aplaude, quem quer pôr fim imediato a esta matança absolutamente ignóbil. Assim vão os Reis.. nus                   Paulo Barreto: Que nojo de artigo, opus dei no seu pior                     Maria Helena Oliveira: Aplaudo de pé              Ruço Cascais > Coronavirus corona: Facto 1: Dia 6 de Janeiro de 2021, Trump faz um discurso a inflamar os seus apoiantes a não permitirem a tomada de posse de Joe Biden. Aliás, incentiva a marcha para o Capitólio para impedir a tomada de posse. Facto 2: Trump critica publicamente Mike Pence, republicano e vice-presidente de Trump, por este não rejeitar votos de Joe Biden e permitir a eleição de Biden. Facto 3: Os invasores são pró-Trump e apoiantes de Trump               Facto 4: Trump, ainda presidente assiste à invasão do Capitólio durante horas antes de pedir aos manifestantes que parassem com o assalto. Entretanto morreram pessoas. Facto 5: O perdão presidencial de Trump com a sua recente tomada de posse foi para todos os invasores do Capitólio que entretanto tinham sido presos. Trump libertou-os todos, Trump libertou todos os seus apoiantes que procuraram boicotar a tomada de posse de Jor Biden, incluindo assassinos já novamente presos e mortos em tiroteios com a polícia dos USA. Facto 6: Não consigo perceber as suas dúvidas quanto à responsabilidade de Trump em não aceitar o resultado eleitoral que lhe era desfavorável. Vamos esperar para ver o que acontece dentro de 4 anos. É muito provável que entretanto o caríssimo vire a bitola e perceba melhor quem é esta malta que está hoje a apoiar.                   Américo Silva: Muito bem!, também o papa que sempre foi Bergoglio, nunca se coibiu de apoiar Biden e Obama, que levaram o sofrimento e a morte a tantos lares.

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