E novelistas de vária espécie, nestes tempos de interpretações e
julgamentos de parcialidade nas convicções, com as respectivas acusações, mesmo virtuosamente subentendidas.
Vance: uma voz que irrita e convence
"Consideremos o lado dessa luta que censurou dissidentes, que
fechou igrejas, que cancelou eleições. Eram eles os bons? Claro que não e,
graças a Deus, perderam a Guerra Fria.
P. GONÇALO
PORTOCARRERO DE ALMADA Colunista
OBSERVADOR, 22 fev. 2025, 00:1650
O dia 14 de Fevereiro de 2025 passou
à história, graças ao extraordinário discurso pronunciado pelo Vice-Presidente
dos Estados Unidos da América (EUA), J. D. Vance, na Munich Security
Conference.
Apesar da coincidência com o dia de São Valentim, a intervenção de J. D. Vance parece ter posto termo ao
namoro entre a Europa e os EUA. A Europa esperava que os
norte-americanos ajudassem a Ucrânia a defender-se da invasão russa, mas a nova
administração dos EUA fez saber da sua indisponibilidade para continuar a
alimentar este conflito. A questão que agora se coloca é a de
saber se a União Europeia está disposta a substituir os EUA no apoio militar e
económico à Ucrânia. Os países europeus vão fazê-lo ou,
mais uma vez, a Europa vai-se ficar por condenações
económicas da potência agressora e declarações, mais ou menos poéticas, de amor
eterno pela Ucrânia?
Mais importantes e, decerto,
irritantes, foram as afirmações de J. D. Vance em relação à crise da democracia
na Europa. No
nosso país e, possivelmente, nos demais da União Europeia, o
discurso pró-democracia é usado como uma arma da extrema-esquerda para atacar
os partidos de direita, insistentemente acusados de populismo e, até, de
neofascismo. Mas
o Vice-Presidente norte-americano manifestou a sua preocupação pelo modo como a
velha Europa está a enveredar por um regime cada vez mais autoritário e,
portanto, menos democrático, pondo em causa os valores por que lutaram os
aliados, na Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria.
A circunstância de, na
véspera da intervenção de J. D. Vance, ter ocorrido mais um atentado terrorista
islâmico, que causou várias vítimas em Munique, foi providencial, não apenas
para o Vice-Presidente dos EUA manifestar a sua solidariedade para com as
vítimas e suas famílias, pelas quais disse rezar, mas também para assim se
provar que não era exagerada a sua
chamada de atenção para os perigos de uma imigração descontrolada. Com a sua emocionada referência às
vítimas do atentado de Munique, Vance arrancou um generalizado aplauso da
assistência, que o estadista norte-americano agradeceu com humor, acrescentando
que, talvez, fossem as únicas palmas que iria receber ao longo da sua
intervenção…
Razões tinha J. D. Vance para
supor que aquela primeira reacção dos políticos e militares que o ouviam não se
iria repetir, porque o Vice-Presidente dos EUA teve a inaudita coragem de
chamar a atenção para a profunda crise de
valores que se vive na Europa. Para este político
norte-americano, as principais ameaças para a segurança europeia não procedem
dos agentes externos, como a Rússia ou a China, mas do seu interior, pois
devem-se ao “recuo da
Europa em relação a alguns dos seus valores mais fundamentais, valores esses
que é suposto partilhar com os EUA.”
Vance enumerou alguns casos que
mereceram a sua atenção e que atestam a objectividade desse seu diagnóstico. O
primeiro facto alarmante que relatou foi o de um ex-comissário europeu ter manifestado, na televisão, o
seu agrado pelo facto de o Governo romeno ter anulado o resultado das eleições
presidenciais nesse país, invocando uma alegada intromissão russa no processo
eleitoral. Pior: o mesmo eurocrata atreveu-se ainda a
dizer que o mesmo
poderia acontecer também nas próximas eleições alemãs, se o resultado não for o
desejado pelas instâncias europeias! Para o Vice-Presidente dos EUA, ou
para qualquer democrata, “essas declarações arrogantes são escandalosas para os
ouvidos norte-americanos, porque sempre nos disseram que a nossa ajuda era para
apoiar os nossos comuns valores democráticos.” Acrescentou ainda que, “quando
vemos tribunais europeus cancelarem eleições e altos funcionários ameaçando
invalidar actos eleitorais”, há
que perguntar se ainda se estão a defender os mesmos ideais democráticos. “Mais do que falar de valores democráticos” – disse –
“há que praticá-los”.
A este propósito, fez uma
alusão à Guerra Fria que, certamente, gelou os
assistentes: “A Guerra Fria posicionou os defensores da
democracia contra forças europeias tirânicas”, ou seja, a URSS e o Pacto de Varsóvia. “Consideremos
o lado dessa luta que censurou
dissidentes, que fechou igrejas, que cancelou eleições. Eram
eles os bons? Claro que não e, graças a Deus, perderam a Guerra Fria. Eles
perderam porque não valorizaram, nem respeitaram as extraordinárias bênçãos da liberdade.
(…) Não se pode impor a inovação ou a criatividade, assim como não se pode
obrigar as pessoas a pensar, sentir ou acreditar e nós cremos que essas coisas
estão certamente relacionadas. Infelizmente, quando
agora olho para a Europa, não vejo claramente quem foram os vencedores da
Guerra Fria…”
J. D. Vance comentou mais um caso
recente, que põe a nu a falta de democraticidade da União Europeia,
agora que, com a desculpa do populismo, enveredou
por um discurso autoritário, senão mesmo totalitário.
Com efeito, referiu que “comissários
da União Europeia querem fechar media sociais”, ou seja, media e
redes sociais, “em períodos de especial agitação social, com o pretexto
de assim evitarem o que dizem ser discursos de ódio. Na Alemanha, as
autoridades chegaram a perseguir pessoas que teriam feito on-line comentários
antifeministas, para erradicar a misoginia da internet.” Note-se
que também em Portugal, graças ao Partido Socialista, foi aprovada uma lei que
limita a liberdade de pensamento e de expressão, com o pretexto de erradicar as
mensagens de ódio nos media e nas redes sociais.
Corajosamente, J. D. Vance, que
denunciou os eurocratas inimigos da democracia, reconheceu que “também
nos EUA a administração Biden
incentivou atitudes censórias contra a liberdade de pensamento e de expressão,
nomeadamente em relação à origem da pandemia da Covid 19.” Também
o anterior presidente da Assembleia da
República, que falhou a reeleição como deputado, permitiu-se limitar a
liberdade de expressão dos deputados da direita, causando até a indignação do
insuspeito Sérgio Sousa Pinto, deputado socialista. Como concluiu
Vance, “Trump é o contrário de Biden. Podemos não concordar
com as suas opiniões, mas defenderemos sempre o seu direito a ter essas
opiniões e a manifestá-las.”
Uma última nota para
sublinhar o que foi, sem dúvida, o momento mais alto da sua intervenção: a
referência a São João Paulo II, o santo Papa polaco a quem se ficou a dever a libertação da
Polónia e a queda dos regimes comunistas na Rússia e nos países do Leste
europeu.
Pode-se gostar, ou não, das
políticas e atitudes da nova administração norte-americana – nomeadamente
no que respeita à Ucrânia e à política anti-imigração – mas não se pode ficar indiferente a este discurso, nas
antípodas das intervenções tíbias dos burocratas da política nacional e
europeia.
Trump irrita os defensores do pensamento
politicamente correcto por ser um empresário de sucesso e, sobretudo, por ter
ganho, por duas vezes, a eleição presidencial, tendo contra ele todos os media de
referência. Tem o seu quê de paradoxal que um poder sem legitimidade democrática, como é a comunicação
social, ataque o Presidente eleito dos EUA e não suporte que o seu
Vice-Presidente, também eleito por esmagadora maioria, dê lições de democracia
aos líderes da União Europeia, que não foram eleitos, pelos cidadãos europeus,
para os cargos que exercem.
J. D. Vance, cujo discurso
irrita os politicamente correctos e convence os eleitorados de além e
aquém-mar, é um homem com uma lucidez e coragem notáveis. A Europa e Portugal precisam, com urgência, de políticos destemidos,
que ousem fazer frente aos tiques autoritários dos inimigos da verdade, da
democracia e da liberdade.
EUROPA MUNDO ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA DEMOCRACIA
SOCIEDADE LIBERDADE DE EXPRESSÃO LIBERDADES
COMENTÁRIOS (de 50)
Maria da Assunção Gaivão: Assino por baixo! A velha
Europa levou um puxão de orelhas de Vance …que no seu discurso mostrou o lado
certo da História. Que pena que o berço da civilização da Europa cristã tenha
governantes medíocres que se dedicam ao fabrico de “Agendas”. Obrigada ao Padre
Gonçalo pela sua lucidez! Coronavirus
corona > Ruço
Cascais: Qual foi o muro que Trump
subiu? Oh, não subiu mas apelou a que subisse. Mande pelo menos um vídeo de
Trump a apelar à invasão do Capitólio. Você é o exemplo mais claro daquilo que
Vance apontou à Europa. É o protótipo perfeito do cérebro lobotomizado que reproduz
os chavões da comunicação social sem sequer os mastigar. Luís CR
Cabral: Muito bem Filipa
Morão: Bravo! José
Afonso: O problema é que a finalidade do discurso não era aprofundar a democracia
mas antes, justificar a aproximação à pior das ditaduras Tim do A: Muito boa análise. Parabéns
pela coragem. Sabendo que a Igreja está cada vez mais esquerdista, socialista,
comunista e anti ocidente, uma voz do seu interior que é uma lufada de ar
fresco. João
Paulo Reis: Hoje tenho um caso complicado, quando ouvi o discurso de Vance, reagi exactamente
como o texto do P. Gonçalo, ingenuidade minha, mas passadas 24 horas quando
começo a ler e ouvir as declarações de Trump e outros que lhe são próximos, apercebi-me que tudo não passa duma estratégia muito
bem urdida para derrubar o legítimo governo da Ucrânia e limpar tudo o que ao
longo de décadas se havia acumulado pela Rússia e assim transformá-la num
aliado e amigo. Preparem-se para o dia em que PCP e Chega defenderão com unhas e dentes a
Rússia e o seu regime. Também não ficarei surpreso de ver forças políticas
ditas democráticas, caírem na sedução de propostas pondo em causa a liberdade
trocando a pelo controlo das opiniões e pensamento. Felizmente para nós o nosso
petróleo é o Sol, a cultura e a gastronomia, portanto nada que nos possam
obrigar a ceder aos EUA ou à Rússia. Já vai longo este comentário, tanto haverá
para se dizer, mas guardo me para outras ocasiões. Obrigado! Coronavirus corona > Ruço
Cascais: Antes de mais não convém falar em perdões e Biden no mesmo comentário que
visa criticar Trump. É que se houve descaramento não foi com Trump (que fez
muito bem nesse perdão pois já se tratava de uma perseguição política). Ruço,
continua a adjectivar, a repetir frases que estou cansado de ouvir por parte
dos fazedores de opinião das televisões (até parece que é o eco) mas continua
sem ser capaz de mostrar um vídeo e abrir aspas citando objectivamente o que
ele disse. É que essa conversa já estamos todos fartos de a ouvir. Mas nunca
apareceu qualquer vídeo com esse tal apelo. É conversa que lhe vendem Coronavirus corona > Ruço
Cascais: Então deve ser fácil para si enviar um link de um vídeo e dizer-me:
"oiça bem no minuto X" Não, não incentivou coisa nenhuma. Isso
foi-lhe metido pela goela. E não meta Hitler a martelo porque o anti-semitismo
cíclico está de volta pela mão da esquerda europeia. Um anti-semitismo
escondido em discursos melosos a favor dos palestinianos mas que mais não é do
que pele de cordeiro para encobrir o lobo. Mas isso é outro assunto. Mostre, se
foi tão peremptório, esse tal apelo de Trump para que invadissem o Capitólio.
Caso não encontre espero que faça uma reflexão interna e se questione porque
tão tinha essa ideia na cabeça e como ela lá foi parar sem querer se
apercebesse Francisco
Almeida: Não gosto de sacerdotes a escrever sobre política mas este artigo li-o mais
como sobre valores. E gostei.
Ruço Cascais: Um padre Trumpista que admira Vance que está ao lado
de Trump na invasão do Capitólio por ter considerado fraude nas eleições
norte-americanas, mas, que tem o desplante de um neonazi em vir criticar as
eleições europeias. Um traste que diz não haver liberdade de expressão na
Europa, mas que depois do abominável discurso em Munique foi visitar a AdF um
partido de extrema-direita minado de neonazis wokistas que querem alterar a
história da 2GG, designadamente o papel da Alemanha na guerra e, obviamente, os
nazis. Desculpe que lhe diga caro Padre, mas, não tem a mínima vergonha na cara
em vir publicamente defender Trump, Vance e toda a carga de fascistas e
neonazis que carregam com eles nesta Administração. Vance, um moralista que
criticava Trump mas quando viu uma oportunidade de chegar à Casa Branca ficou o
2⁰ melhor amigo de Trump, o 1⁰ é o extraordinário Elon Musk. Talvez no
próximo sábado o Padre nos traga aqui um grande elogio escrito ao papel de Elon
Musk nesta organização de Trump na Casa Branca. Por Amor de Deus, tenha tino.
perdoado por quem apoiou isso e nunca aceitou o resultado das eleições, onde se
enquadra? Ou quando são aqueles em que se revê já é possível. Aqueles não foram
dispersar os vendilhões do Templo. Jurista, licenciado pela Universidade
Católica do Porto, e democrata de centro-direita. Jose Marques > Paulo
Barreto: Nojo é o Barreto k vossemecê tem enfiado 'nos carola” Jose Marques > João
Paulo Reis: Ó Reis, não, não.. não te guardes para outras ocasiões. Já debitaste
peçonha k chegue! Entre civis e militares, juntando Ucrânia e Rússia, já lá
vão cerca de 1 milhão e meio de mortos. E, com argumentos espúrios, vocemecê
nem reconhece, muito menos aplaude, quem quer pôr fim imediato a esta matança
absolutamente ignóbil. Assim vão os Reis.. nus Paulo
Barreto: Que nojo de artigo, opus dei no seu pior Maria
Helena Oliveira: Aplaudo de pé Ruço
Cascais > Coronavirus
corona: Facto 1: Dia 6 de Janeiro de 2021, Trump faz um discurso a
inflamar os seus apoiantes a não permitirem a tomada de posse de Joe Biden.
Aliás, incentiva a marcha para o Capitólio para impedir a tomada de posse. Facto 2: Trump critica publicamente
Mike Pence, republicano e vice-presidente de Trump, por este não rejeitar votos
de Joe Biden e permitir a eleição de Biden. Facto 3: Os invasores são pró-Trump e
apoiantes de Trump Facto 4: Trump, ainda presidente
assiste à invasão do Capitólio durante horas antes de pedir aos manifestantes que
parassem com o assalto. Entretanto morreram pessoas. Facto 5: O perdão presidencial de Trump
com a sua recente tomada de posse foi para todos os invasores do Capitólio que
entretanto tinham sido presos. Trump libertou-os todos, Trump libertou todos os
seus apoiantes que procuraram boicotar a tomada de posse de Jor Biden,
incluindo assassinos já novamente presos e mortos em tiroteios com a polícia
dos USA. Facto 6: Não consigo perceber as suas dúvidas quanto à responsabilidade de Trump
em não aceitar o resultado eleitoral que lhe era desfavorável. Vamos esperar
para ver o que acontece dentro de 4 anos. É muito provável que entretanto o
caríssimo vire a bitola e perceba melhor quem é esta malta que está hoje a
apoiar. Américo
Silva: Muito bem!, também o papa que sempre foi
Bergoglio, nunca se coibiu de apoiar Biden e Obama, que levaram o sofrimento e
a morte a tantos lares.
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