terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Historiando

 

Os comos e os porquês dos quem da relevância política destes tempos de modéstia europeia, ao que se diz.

Musk, Trump e Vance: contra Reagan e Thatcher

Como dizia o Editorial do FT já a 5 de Fevereiro, “Uma das mais marcantes características da segunda administração de Donald Trump é a sua vontade de destruir décadas de soft power americano”.

JOÃO CARLOS ESPADA Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa

OBSERVADOR, 17 fev. 2025, 00:1846

1Entre as inúmeras (vulgares) peripécias que nos chegam diariamente da (vulgar) administração do Presidente Trump, uma de particular gravidade tem passado despercebida entre nós: o (não eleito) sr. Musk cancelou na semana passada o apoio estatal ao National Endowment for Democracy (NED). Trata-se, em meu entender, de um dos mais graves atentados simbólicos contra a herança política e intelectual liberal-democrática e anti-autocrática de Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

2O NED foi criado formalmente em 1983 pelo Congresso norte-americano como uma instituição independente e apoio bi-partidário, dedicada à defesa da democracia e dos valores democráticos no mundo. Mas a sua inspiração intelectual tinha sido antes disso sugerida por Ronald Reagan no Parlamento britânico, em 1982, na presença da Primeira-Ministra Margaret Thacther, no discurso que ficou conhecido por “Westminster Addres.

Nesse discurso, Reagan apelou a “uma nova iniciativa que promova a infraestrutura da democracia no mundo – um sistema de imprensa livre, sindicatos, partidos políticos, universidades – que permita às pessoas escolherem o seu caminho, desenvolverem as suas culturas, reconciliarem as suas diferenças através de meios pacíficos.”

3Na sua biografia (em 3 volumes) de Margaret Thatcher (autorizada, mas não oficial, dado que Thatcher, que pediu a Charles Moore para a escrever, fez questão de não ler a obra antes de ser publicada), o nosso amigo Charles Moore dedica um inteiro capítulo a este discurso de Reagan em Westminster (“Volume One, Chapter 20: Russia … and Reagan”, pp. 522-587):

Com uma frase que conscientemente evocava o discurso de Winston Churchill sobre a ‘Cortina de Ferro’ em Fulton, Missouri (1946), — disse Reagan que ‘desde Stetlin no Báltico até Varna no Mar Negro, não houve eleições livres em 30 anos.’ (…) Reagan então apelou a uma ‘cruzada pela liberdade’, para estabelecer ‘a infraestrutura da democracia e enfrentar a tirania soviética que está a tentar subverter a liberdade ocidental.” (p.581).

4Vale a pena recordar que no primeiro parágrafo daquele capítulo sobre “Russia and …Reagan”, Charles Moore escreveu:

“Apesar de a ‘política económica’ ter assumido o lugar central nos primeiros anos do governo da Sra.Thatcher, isso era apenas parte do que ela entendia como a batalha para restaurar a força e a liberdade do mundo ocidental.” (p. 552).

Post-scriptum: Escrevi as linhas acima na sexta-feira, sem conhecer os desenvolvimentos ulteriores. Mas não posso deixar de referir que, no passado sábado, o meu amigo Charles Moore, amplamente citado acima, escreveu a sua crónica semanal no (conservador) The Telegraph sob o título (a seis colunas): “So much for the art of the deal. Trump’s call to Putin threatens disaster for Western security”.

Nesse mesmo sábado, a manchete do FT Weekend era sobre o discurso de JD Vance, vice-presidente norte-americano, na Conferência de Segurança de Munique – em que ele chegou ao ponto de dizer que “a ameaça que me preocupa mais acerca da Europa não é a Rússia, não é a China, não é qualquer outro ator externo. O que me preocupa mais é a ameaça que vem de dentro, a retirada da Europa em relação a alguns dos seus valores fundamentais.” O jornal britânico dedica depois inúmeros artigos de crítica ao discurso de Vance, designadamente um longo ensaio, também anunciado em manchete, intitulado “Quem defenderá a Europa? O perigo para a democracia é maior do que há 90 anos.”

Em suma, como dizia o Editorial do FT já a 5 de Fevereiro, “Uma das mais marcantes características da segunda administração de Donald Trump é a sua vontade de destruir décadas de soft power americano”.

PRESIDENTE TRUM       ESTAD: OS UNIDOS DA AMÉRICA      AMÉRICA       MUNDO 16 COMENTÁRIOS (de 46)

Gonçalo Caeiro: Mais uma vez o Observador não observa. Quem deve defender a Europa? Devia ser a Europa! Mas ao prioritizar políticas de subsídio dependência, burocracia e regulação agora os burocratas de Bruxelas acham que os Estados Unidos têm o dever de proteger a Europa. Ilusão perigosa. Os EUA tem o dever de proteger os EUA. A China, a China. O UK, o UK. E a Europa, devia ser a Europa. Mas agora estamos totalmente dependentes dos EUA, por culpa exclusiva da Europa. Como é que a Europa perdeu 40% do PIB per capita face aos EUA em 20 anos? Como deixámos que o investimento em Defesa fosse bastante inferior a 1%? O discurso do JD Vance é fortemente incómodo porque diz à Europa o rei vai nu, tal como alguém explica a um jovem que não conseguiu entrar na universidade que se devia ter esforçado mais durante a escola.                  Ricardo Frade: Vance tocou mesmo num nervo. O que é que Vance disse que está errado? A Europa parece preparada para tudo, menos para ouvir a verdade. A Europa burocratizou-se, perdeu influência política, caiu comparativamente com as duas potências, pôs-se demasiado dependente de Putin. Sabe quem é que muito provavelmente estaria a aplaudir o diagnóstico de Vance? Margaret Thatcher.                   hugo Carreira: Eu ouvi na integra o discurso de JD Vance, não me revejo de todo na análise que o senhor faz. O discurso do VP Americano foi mais um grito de alerta, sobre algo que é visível e palpável dia após dia. As lideranças europeias têm demonstrado uma cobardia, ingenuidade, laxismo sem paralelo. No fundo fazem lembrar aqueles herdeiros que nunca se esforçaram para terem nada (ao contrário de quem lhes deixou a fortuna) e acham que tudo o que tem assim é por obra e graça do Espirito Santo               Rui Lima: O discurso de Vance devia merecer profunda reflexão das elites europeias , hoje em França onde está o verdadeiro perigo no dia a dia dos franceses não é a Rússia é a China, o que está a destruir a França já está lá e está a levar o país para o desastre .                    unknown unknown: Este artigo infelizmente não traz qualquer reflexão sobre a actualidade, com o devido respeito pelo autor, mas continuar a ignorar que o problema da Europa é a falta de qualidade política dos seus lideres, parece-me um erro, que vamos pagar caro!                     Ana Luís da Silva: JD Vance fez-nos o grande favor de avisar os líderes europeus de uma verdade insofismável: os burocratas de Bruxelas, os governos sociais-democratas e outros que tais dos países europeus, manipulando, censurando e perseguindo, querem anular a vontade dos eleitores e com isso a democracia, a liberdade de expressão e até de consciência, o voto informado, livre e consciente e a matriz cristã da Europa, pois perseguem os cristãos e incentivam a imigração massiva não desejada de pessoas (de culturas e religiões com valores civilizacionais opostos aos nossos, acrescento eu). Não vejo de todo que a Europa sofra com este discurso de JD Vance. Bem antes pelo contrário. Teve ainda a paciência de explicar que se os dirigentes cumprirem a vontade do povo em vez de abraçarem as agendas parvas de Davos, terão o apoio deste. Não precisam de ter medo do povo. Precisam é de temer as suas próprias decisões inconsequentes.                   Isabel Gomes: Mais propaganda anti Trump. São tão primários 🤣🤣🤣                 José Martins de Carvalho: Nada a estranhar. Nem do articulista, nem dos seus amigos, nem do Financial Times: estão com os líderes europeus. E a estes não lhes agrada a verdade: o maior perigo para a Europa vem de dentro. Vem deles mesmos.            João Angolano: As críticas valem por si mas também pela forma como se critica o todo e o contexto. É aqui que a porca torce o rabo pois se Trump não será um modelo de virtudes ele é precisamente o fruto de um contexto que conseguiu ser mil vezes pior e que nos levaria ao verdadeiro descalabro moral e civilizacional. Sim refiro-me à ‘civilização’ wokista. Nunca vi uma crítica assertiva deste articulista bem como de outros polidos homens de direita a tudo o que se estava a passar e agora continuam a ser dos mais fiéis guardiões, quais idiotas úteis (ou então convictos apoiantes), do wokismo disfarçado          Gastao Taveira: Excelente crónica. É importante os Conservadores olharem para a história, nomeadamente para o legado de Reagan e Thatcher, que está a ser destruído pelo MAGA.                  José B Di: O cronista aparenta ignorar que a actuação do referido organismo há muito que abandonou os princípios e métodos que originalmente o nortearam ... tal e qual como a USAID onde por trás da imagem e alguns programas meritórios se ocultavam desígnios de todo desejáveis e nunca pretendidos por quem originalmente a criou! PS: seria extremamente divertido recordar o que foi escrito na época a propósito da Reagan e de Tatcher ... a memória de muitos é incrivelmente selectiva.                       unknown unknown: Todos falam na Europa como se existisse alguém ou algum país ou líder que represente essa entidade abstrata! Digam-me a dita “Europa” quer estar à mesa, mas falta saber quantos são? Vão 27 mais a tralha da Comissão, Conselho, e aqueles que não pertencem também vão?               unknown unknown: E antes de ter falado com Putin o Trump devia ter feito quantos telefonemas prévios? E já agora para quem? E quais a prioridades? E deve falar com aqueles que ostensivamente sempre o rejeitaram e mesmo menosprezaram?                       Manuel Almeida Gonçalves: Síndrome de Estocolmo - a euforia com que alguns aqui nos seus comentários se entregam aos sicários da administração Trump, com a permanente responsabilização dos líderes europeus, normalmente toldados pelo cover do wokismo - teoria que tem sido muito propalada aqui no Observador, por comentadores que estão cristalizados na análise da política internacional, apesar de a evolução da última semana já os dever ter retirado desse estado de atavismo.               Luis Silva: Este senhor de lacinho a jogar com adjectivos vulgares tentando parecer que é uma sumidade intelectual. Mais um comentadorixo.

 

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