Os comos e os porquês dos quem da relevância política destes tempos de
modéstia europeia, ao que se diz.
Musk, Trump e Vance: contra Reagan e Thatcher
Como
dizia o Editorial do FT já a 5 de Fevereiro, “Uma das mais marcantes
características da segunda administração de Donald Trump é a sua vontade de
destruir décadas de soft power americano”.
JOÃO CARLOS ESPADA Professor do
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
OBSERVADOR, 17 fev. 2025, 00:1846
1Entre as inúmeras (vulgares)
peripécias que nos chegam diariamente da (vulgar) administração do Presidente
Trump, uma de particular gravidade tem passado despercebida entre nós: o (não
eleito) sr. Musk cancelou na semana passada o apoio estatal ao National
Endowment for Democracy (NED). Trata-se,
em meu entender, de um dos mais graves atentados simbólicos contra a herança
política e intelectual liberal-democrática e anti-autocrática de Ronald Reagan
e Margaret Thatcher.
2O NED foi criado formalmente em 1983 pelo Congresso norte-americano como uma
instituição independente e apoio bi-partidário, dedicada à defesa da democracia
e dos valores democráticos no mundo. Mas a sua inspiração intelectual
tinha sido antes disso sugerida por Ronald Reagan no Parlamento britânico, em
1982, na presença da Primeira-Ministra Margaret Thacther, no discurso que ficou
conhecido por “Westminster
Addres”.
Nesse discurso, Reagan apelou
a “uma nova iniciativa que promova a infraestrutura da democracia no mundo – um
sistema de imprensa livre, sindicatos, partidos políticos, universidades – que
permita às pessoas escolherem o seu caminho, desenvolverem as suas culturas,
reconciliarem as suas diferenças através de meios pacíficos.”
3Na sua biografia (em 3
volumes) de Margaret Thatcher (autorizada, mas não oficial, dado que Thatcher,
que pediu a Charles Moore para a escrever, fez questão de não ler a obra antes
de ser publicada), o nosso amigo Charles Moore dedica um inteiro capítulo a
este discurso de Reagan em Westminster (“Volume One, Chapter 20: Russia … and Reagan”, pp. 522-587):
“Com uma frase que
conscientemente evocava o discurso de Winston Churchill sobre a ‘Cortina de
Ferro’ em Fulton, Missouri (1946), — disse Reagan que ‘desde Stetlin no Báltico
até Varna no Mar Negro, não houve eleições livres em 30 anos.’ (…) Reagan
então apelou a uma ‘cruzada pela liberdade’, para estabelecer ‘a infraestrutura
da democracia e enfrentar a tirania soviética que está a tentar subverter a
liberdade ocidental.” (p.581).
4Vale a pena recordar que no
primeiro parágrafo daquele capítulo sobre “Russia and …Reagan”, Charles
Moore escreveu:
“Apesar de a ‘política
económica’ ter assumido o lugar central nos primeiros anos do governo da
Sra.Thatcher, isso era apenas parte do que ela entendia como a batalha para
restaurar a força e a liberdade do mundo ocidental.” (p. 552).
Post-scriptum: Escrevi as
linhas acima na sexta-feira, sem conhecer os desenvolvimentos ulteriores. Mas
não posso deixar de referir que, no passado sábado, o meu amigo Charles Moore,
amplamente citado acima, escreveu a sua crónica semanal no (conservador) The Telegraph sob o título (a seis
colunas): “So much for the art of the deal.
Trump’s call to Putin threatens disaster for Western security”.
Nesse mesmo sábado, a manchete
do FT Weekend era sobre o discurso de JD Vance, vice-presidente
norte-americano, na Conferência de Segurança de Munique – em que ele
chegou ao ponto de dizer que “a ameaça
que me preocupa mais acerca da Europa não é a Rússia, não é a China, não é
qualquer outro ator externo. O que me preocupa mais é a ameaça que vem de
dentro, a retirada da Europa em relação a alguns dos seus valores fundamentais.”
O jornal britânico dedica depois inúmeros artigos de crítica ao discurso de
Vance, designadamente um longo ensaio, também anunciado em manchete, intitulado
“Quem defenderá a Europa? O perigo para a democracia é
maior do que há 90 anos.”
Em suma, como dizia o Editorial do FT já a 5 de Fevereiro, “Uma das
mais marcantes características da segunda administração de Donald Trump é a sua
vontade de destruir décadas de soft power americano”.
PRESIDENTE
TRUM ESTAD: OS UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO 16 COMENTÁRIOS
(de 46)
Gonçalo Caeiro: Mais
uma vez o Observador não observa. Quem deve defender a
Europa? Devia ser a Europa! Mas ao prioritizar políticas de subsídio dependência,
burocracia e regulação agora os burocratas de Bruxelas acham que os Estados
Unidos têm o dever de proteger a Europa. Ilusão perigosa. Os EUA tem o dever de
proteger os EUA. A China, a China. O UK, o UK. E a Europa, devia ser a Europa.
Mas agora estamos totalmente dependentes dos EUA, por culpa exclusiva da
Europa. Como é que a Europa perdeu 40% do PIB per capita face aos EUA em 20
anos? Como deixámos que o investimento em Defesa fosse bastante inferior a 1%? O
discurso do JD Vance é fortemente incómodo porque diz à Europa o rei vai nu,
tal como alguém explica a um jovem que não conseguiu entrar na universidade que
se devia ter esforçado mais durante a escola. Ricardo
Frade: Vance tocou mesmo num nervo. O que é que Vance disse
que está errado? A Europa parece preparada para tudo, menos para ouvir a
verdade. A Europa burocratizou-se, perdeu influência política, caiu
comparativamente com as duas potências, pôs-se demasiado dependente de Putin. Sabe
quem é que muito provavelmente estaria a aplaudir o diagnóstico de Vance?
Margaret Thatcher. hugo
Carreira: Eu ouvi na integra o discurso de JD Vance, não me
revejo de todo na análise que o senhor faz. O discurso do VP Americano foi mais
um grito de alerta, sobre algo que é visível e palpável dia após dia. As
lideranças europeias têm demonstrado uma cobardia, ingenuidade, laxismo sem
paralelo. No fundo fazem lembrar aqueles herdeiros que nunca se esforçaram para
terem nada (ao contrário de quem lhes deixou a fortuna) e acham que tudo o que
tem assim é por obra e graça do Espirito Santo Rui Lima: O
discurso de Vance devia merecer profunda reflexão das elites europeias , hoje
em França onde está o verdadeiro perigo no dia a dia dos franceses não é a
Rússia é a China, o que está a destruir a França já está lá e está a levar o
país para o desastre .
unknown unknown: Este
artigo infelizmente não traz qualquer reflexão sobre a actualidade, com o
devido respeito pelo autor, mas continuar a ignorar que o problema da Europa é
a falta de qualidade política dos seus lideres, parece-me um erro, que vamos
pagar caro! Ana Luís
da Silva: JD
Vance fez-nos o grande favor de avisar os líderes europeus de uma verdade
insofismável: os burocratas de Bruxelas, os governos sociais-democratas e
outros que tais dos países europeus, manipulando, censurando e perseguindo,
querem anular a vontade dos eleitores e com isso a democracia, a liberdade de
expressão e até de consciência, o voto informado, livre e consciente e a matriz
cristã da Europa, pois perseguem os cristãos e incentivam a imigração massiva
não desejada de pessoas (de culturas e religiões com valores civilizacionais
opostos aos nossos, acrescento eu). Não vejo de todo que a Europa sofra com
este discurso de JD Vance. Bem antes pelo contrário. Teve ainda a paciência de
explicar que se os dirigentes cumprirem a vontade do povo em vez de abraçarem
as agendas parvas de Davos, terão o apoio deste. Não precisam de ter medo do
povo. Precisam é de temer as suas próprias decisões inconsequentes. Isabel
Gomes: Mais propaganda anti Trump. São tão
primários 🤣🤣🤣 José
Martins de Carvalho: Nada a estranhar. Nem do articulista, nem dos seus
amigos, nem do Financial Times: estão com os líderes europeus. E a estes não
lhes agrada a verdade: o maior perigo para a Europa vem de dentro. Vem deles
mesmos. João
Angolano: As críticas valem por si mas também pela forma como se
critica o todo e o contexto. É aqui que a porca torce o rabo pois se Trump não
será um modelo de virtudes ele é precisamente o fruto de um contexto que conseguiu
ser mil vezes pior e que nos levaria ao verdadeiro descalabro moral e
civilizacional. Sim refiro-me à ‘civilização’ wokista. Nunca vi uma crítica
assertiva deste articulista bem como de outros polidos homens de direita a tudo
o que se estava a passar e agora continuam a ser dos mais fiéis guardiões,
quais idiotas úteis (ou então convictos apoiantes), do wokismo disfarçado Gastao Taveira: Excelente crónica. É importante os Conservadores
olharem para a história, nomeadamente para o legado de Reagan e Thatcher, que
está a ser destruído pelo MAGA.
José B Di: O cronista aparenta ignorar que a actuação do referido
organismo há muito que abandonou os princípios e métodos que originalmente o
nortearam ... tal e qual como a USAID onde por trás da imagem e alguns
programas meritórios se ocultavam desígnios de todo desejáveis e nunca
pretendidos por quem originalmente a criou! PS: seria
extremamente divertido recordar o que foi escrito na época a propósito da
Reagan e de Tatcher ... a memória de muitos é incrivelmente selectiva. unknown unknown: Todos falam na Europa como se existisse
alguém ou algum país ou líder que represente essa entidade abstrata! Digam-me a
dita “Europa” quer estar à mesa, mas falta saber quantos são? Vão 27 mais a
tralha da Comissão, Conselho, e aqueles que não pertencem também vão? unknown
unknown: E antes de ter falado com Putin o Trump
devia ter feito quantos telefonemas prévios? E já agora para quem? E quais a
prioridades? E deve falar com aqueles que ostensivamente sempre o rejeitaram e
mesmo menosprezaram?
Manuel Almeida Gonçalves: Síndrome de Estocolmo - a euforia com que
alguns aqui nos seus comentários se entregam aos sicários da administração
Trump, com a permanente responsabilização dos líderes europeus, normalmente
toldados pelo cover do wokismo - teoria que tem sido muito propalada aqui no
Observador, por comentadores que estão cristalizados na análise da política
internacional, apesar de a evolução da última semana já os dever ter retirado
desse estado de atavismo. Luis Silva: Este
senhor de lacinho a jogar com adjectivos vulgares tentando parecer que é uma
sumidade intelectual. Mais um comentadorixo.
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