segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O novo chanceler alemão

 

FRIEDRICH MERZ.

Merz quer "independência da Europa dos Estados Unidos" e prevê fim da NATO como a conhecemos

Trump é "largamente indiferente ao destino da Europa" e, por isso, uma das prioridades do novo chanceler alemão será fortalecê-la para a tornar independente dos EUA. E pensar numa outra NATO.

DULCE NETO: Texto

OBSERVADOR; 24 fev. 2025, 01:32 2 

ANDREAS GORA / POOL/EPA

Donald Trump foi o primeiro líder mundial a dar os parabéns a FRIEDRICH MERZ — embora não o nomeasse, nem ao seu partido — ainda antes de o futuro chanceler alemão defender a “a independência da Europa dos EUA”. O Presidente norte-americano apressou-se a escrever na sua rede social que a vitória dos conservadores era “um grande dia para a Alemanha e para os Estados Unidos da Europa” tendo ainda, de uma forma inexplicável reivindicado parte dos louros. Se tivesse esperado um pouco mais e escutado o que o líder da CDU disse durante um debate com todos os candidatos às eleições legislativas alemãs que decorreram este domingo, organizado pela emissora Deutsche Welle, talvez o teor da sua mensagem na Truth Social fosse diferente

Não sabemos se Friedrich Merz já tinha lido ou não a mensagem de Trump, mas não podia ter sido mais claro: “A minha prioridade absoluta será fortalecer a Europa o mais rapidamente possível, para que, progressivamente, possamos mesmo alcançar a independência dos EUA”, referiu o chanceler alemão.

Ainda não havia resultados oficiais, apenas sondagens à boca das urnas que davam a vitória à CDU/CSU com cerca de 29% dos votos, colocando a AfD de Alice Weidel, partido de extrema-direita, no segundo lugar com quase 20%. Mas Merz já falava como chanceler que o final da noite veio a confirmar, com 28,5% dos votos contra 20,8% da Alternativa para a Alemanha:

Nunca pensei que teria de dizer algo assim num programa de televisão. Mas depois das declarações de Donald Trump na semana passada, é claro que esta administração é largamente indiferente ao destino da Europa”.

Merz, um atlantista convicto, não está nada optimista quanto ao futuro da NATO e previu mesmo o fim da Aliança Atlântica. “Estou muito curioso para ver como nos vamos preparar para a cimeira da NATO no final de junho”, disse. “Se vamos continuar a falar da NATO na sua forma atual ou se vamos ter de criar uma capacidade de defesa europeia independente muito mais rapidamente.”

Criticando os comentários de Elon Musk, que foi declarando o seu apoio a Alice Weidel, Merz comparou-os mesmo à tentativa de interferência eleitoral da Rússia:

“Não tenho quaisquer ilusões sobre o que está a acontecer na América. Basta olhar para as recentes intervenções de Elon Musk na campanha eleitoral alemã — trata-se de um acontecimento único. As intervenções de Washington não foram menos dramáticas e drásticas e, em última análise, ultrajantes do que as intervenções que vimos de Moscovo. Estamos sob uma pressão tão grande de ambos os lados que a minha prioridade absoluta agora é criar unidade na Europa”, sublinhou.

No entanto, demonstrou alguma esperança “residual” de que o Congresso dos EUA e a Casa Branca não excluam completamente a Ucrânia de quaisquer negociações de paz, embora não tenha sido optimista. “Não tenho a certeza de qual será a posição do governo americano sobre esta guerra nas próximas semanas e meses. A minha impressão, nos últimos dias, é que a Rússia e a América estão a unir-se à revelia da Ucrânia e, portanto, também à revelia da Europa”, lamentou.

A posição da AfD em relação à Ucrânia, é aliás uma das razões que levou o líder dos conservadores alemães a recusar categoricamente qualquer cooperação com a AfD, que se mostrou durante a noite eleitoral e no debate televisivo, disponível para integrar um futuro governo da CDU.

“Temos opiniões diferentes sobre a política externa, a política de segurança e a NATO. Podem governo da CDU.estender-nos a mão o quanto quiserem, mas não vamos cair numa política errada, querem o oposto do que nós queremos”, respondeu com muita firmeza Merz. Não vai “pôr em causa o legado de 75 anos da União Democrata-Cristã (CDU) só por causa de uma autointitulada Alternativa para a Alemanha”, concluiu.

Em resposta, Alice Weidel não só criticou Merz por pretender coligar-se antes com os socialistas do SPD, — e eventualmente com os Verdes —, em vez de se aliar ao seu partido, defendendo que “os alemães querem uma mudança de política”.

“A CDU tem de explicar aos seus eleitores como tenciona cumprir as suas promessas se formar um governo com a esquerda”, afirmou.  Até porque, argumentou, os conservadores não teriam praticamente de ceder em qualquer ponto pois “o programa dos conservadores é copiado” do manifesto da AdD.

“Vou formar um governo que represente toda a população e vou esforçar-me por formar um governo que resolva os problemas deste país. Como é que esse governo pode ser formado, não sabemos. Não é segredo que gostaríamos de ter um parceiro e não dois, mas o povo decidiu e temos de o aceitar”, replicou Friedrich Merz.

O líder da CDU admitiu que as negociações para a formação do novo governo “não serão fáceis”, mas espera ter um o Executivo pronto para trabalhar até à Páscoa. Ou seja, abril.

ALEMANHA      EUROPA      MUNDO      NATO

COMENTÁRIOS:

Cisca Impllit:  Parabéns e êxitos, F Merz. Gosta de ser europeu e disso não tem vergonha

Também  eu gosto muito.

António Abreu: Finalmente alguém de valor na Europa?

 

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