quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Martelada nas contas e noutros casos da nossa “pujança” a martelo



Um artigo de SALLES DA FONSECA, incómodo, ameaçador de desequilíbrio da economia ocidental, por falta de rigor oriental nas contas, segundo informação do texto. Para mim, aterrador, a acrescentar a outros dados que tenho colhido das leituras em torno da visita passada do presidente chinês e acordos com ele do presidente e ministro portugueses. Mas o meu terror não incomoda ninguém, como, de resto, o de qualquer outro ou outrem do nosso burgo.
O mesmo para o AO, o mesmo para os pedantismos de cariz linguístico, ligados a uma idiossincrasia invertebrada ou puramente de idiotia cada vez mais assente na nossa grei, neste caso, a temática sexista da linguagem - aterradora, porque evolutiva na questão da idiotia - a que o comentário final – de Gustavo Garcia – apõe uma nota de não menor idiotia, ao não considerar a necessidade e o valor da ironia – no caso de BAGÃO FÉLIX, pontuada de ciência da linguagem, como lição a não perder e a aprender, para mais tarde recordar… se não hoje mesmo…
I - No Reino da Martelada:  CHAU-MIN – 1
 HENRIQUE SALLES DA FONSECA                A BEM DA NAÇÃO, 13.12.18
A BORRASCA  
Hoje trato do Petroyuan.
A ideia é a da desdolarização do comércio externo chinês passando a China a pagar as suas importações de ramas de crude em Yuans ficando os países seus fornecedores com Yuans suficientes para pagarem as importações de produtos chineses.
Muito bem, percebe-se facilmente que a China queira lançar a sua moeda no mercado internacional. Pois! Só que o Yuan ainda é uma moeda falsa. E se os mercados internacionais passam a aceitar moeda falsa, então o FMI terá toda a razão ao prever que a borrasca está a chegar de novo.
E por que é que o Yuan é uma moeda falsa? O Yuan é uma moeda falsa porque não é conhecida a política monetária que lhe está subjacente.
Como assim? Muito simplesmente porque…
a política orçamental do Estado Chinês é opaca uma vez que…  o orçamento do Partido Comunista Chinês é segredo de Estado    o orçamento das Forças Armadas Chinesas é segredo de Estado    o Banco Central da China mais não é do que um «departamento» do Partido Comunista Chinês    a cotação do Yuan é definida por Decreto
Ou seja, tudo é falsidade e só acredita no Yuan quem não tenha alternativa, …os próprios chineses.
E como é com as empresas?
A China não tem um POC e cada empresa apresenta as contas em conformidade com a liberdade imaginativa que o mesmo é dizer que tudo vale, talvez mesmo a famosa martelada. Eufemisticamente, as empresas chinesas são o «el dorado» da engenharia financeira. Nelas, tudo pode ser assim como assado.
Mas isto não seria perigoso se se tratasse de empresas domésticas. O problema está em que as cotadas em Bolsa também se regem pela putativa martelada.
Portanto, se não se pode acreditar na moeda chinesa nem no verdadeiro valor das empresas chinesas, quem pode acreditar na China e que futuro pode ter o Petroyuan?
Repare o Leitor que me ative apenas a matérias muito profanas e não abordei a outra questão maior, a política. Talvez um dia destes o faça se, entretanto, não estalar a borrasca.
Dezembro de 2018
COMENTÁRIO:
Anónimo, 13.12.2018: A moeda é mais do que falsa na China, mas "somente" falsa no resto do mundo!
II - OPINIÃO               Car@s leitorxs (e utentas)
Tudo isto, a juntar ao suntuoso Acordo Ortográfico, tornaria a nossa língua uma verdadeira geringonça!
ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX                    Público, 7 de Dezembro de 2018
Os guardiães da ideologia de género, considerando que a língua portuguesa está muito associada a um modelo machista de sociedade, têm procurado avançar com iniciativas para favorecer a agora chamada linguagem inclusiva, eliminando ou atenuando tal dimensão patriarcal.
Bem sabemos que a linguagem oral e escrita é, por natureza, evolutiva e dinâmica. E que há expressões social e culturalmente resilientes, que revelam comportamentos misóginos.
Acontece que a exageração vem tomando conta deste propósito de erradicar o que apelidam de um “estereótipo de género”. Um dos seus traços mais visíveis relaciona-se com os substantivos uniformes, sobretudo os comuns de dois géneros – p. ex., estudante – e os sobrecomuns – p. ex., pessoa – através de pretensos neologismos tão esdrúxulos, quanto ridículos. 
Se bem me recordo, uma das primeiras ou mais entusiásticas movimentações foi quando Dilma Rousseff virou presidenta, tendo subjacente a ideia de contrariar a prevalência das desinências masculinas sobre as femininas. Parece que esta moda não pegou tanto quanto as utentas pretendiam.
 Assim, não vingaram as concorrentas, as estudantas, as dirigentas e gerentas, as comandantas, as adolescentas ou as doentas. Mesmo nos partidos mais envolvidos, não se diz “militantes e militantas”, aqui até com o risco de alguém entender “militantes e mil e tantas”.
Noutra perspectiva e face à ausência de um género gramatical neutro em português, há quem use o símbolo @ (arroba, ela própria feminina) para se referir a grupos dos dois sexos. Assim temos, por exemplo, car@s amig@s, alun@s, candidat@s, morador@s. Entretanto, ainda que mais esparsamente, surgiu o "x", numa versão mais LGBT:  carxs, meninxs, delegadxs, etc. e até o tímido asterisco * para el*sprofessor*strabalhador*s, etc.
Passou também a ser politicamente conveniente referir os dois géneros gramaticais, em frases como “portuguesas e portugueses”, “todos e todas”, “alunos e alunas” e tantas outras, numa prática aritmética de juntar um subconjunto ao conjunto que já o contém. Todavia, tal prática é selectiva e não se aplica a situações negativas ou indesejáveis (por exemplo, ninguém diz “desempregadas e desempregados”, “mortas e mortos”, “presas e presos”). Na mesma lógica, poder-se-ia perguntar se a Loja do Cidadão (ou o cartão de cidadão) não incluiria as cidadãs, se o Conselho de Ministros deveria ser também das Ministras, ou se uma câmara de deputados não teria deputadas? Ou ainda, se numa referência aos seres humanos, deveria acrescentar-se “e humanas”? Voltando ao nosso gentílico, vida facilitada teriam (com o nosso idioma) outros países. É o caso dos belgas (não imagino alguém a dizer “belgas e belgas”), tal e qual como com timorenses, são-tomenses, guineenses, croatas, vietnamitas.
Mais recentemente, numa reunião magna do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares interveio começando com “camaradas e camarados” (suponho eu referindo-se aos aderentes e aderentas do partido)Em artigo posteriormente publicado neste jornal, o dirigente bloquista reconhece que foi um “erro prontamente corrigido na frase seguinte”, acrescentando, de seguida, que “há males que vêm por bem, dado que serviu, uma vez mais, para desmascarar o fanatismo da campanha contra a linguagem inclusiva. Não percebo como de um erro se corporiza alguma vantagem no propósito enunciado. É certo que houve comentários precipitados, como precipitado me parece não se aceitar a ironia de quem também aproveitou o lapsus linguae (quem sabe se originado pelo subconsciente inclusivo do deputado) para, ao invés, criticar o também fanatismo da campanha da linguagem inclusiva. Brincando com o sucedido – se senhores e senhoras inclusivos e inclusivas me permitem –, quase me imaginei a ouvir “bloquistas e bloquistos”, “comunistas e comunistos”, “socialistas e socialistos”, bem como colegos, jornalistos, economistos, atletos ou estrelos de cinema. E, feminizando substantivos machos, por que não dizer o intérprete e a intérpreta? Ou chamar quadra a uma quadro de uma empresa?
E o que dizer de substantivos sobrecomuns mais femininos (pois que também os há e muitos) passarem a ter dois géneros? Afinal eu fui criança ou crianço? Sou uma pessoa ou um pessoo? Uma criatura ou um criaturo? Bem confuso seria testemunha passar a ser a testemunha só no género feminino e o testemunho no masculino…
Começo a pensar que o extremoso PAN possa ter, nesta matéria, uma oportunidade para alargar a ideologia de género ao mundo animal, onde muitos são chamados por um nome epiceno, ou seja, de só um género gramatical para animais de ambos os sexos. Por exemplo: teríamos a foca, mas também o foco, o ouriço e a ouriça, a cigarra e o cigarro, a cobra e o cobro. E nos animais designados pelos dois géneros gramaticais, que bem eanimalmente correcto seria dizer “gatos e gatas” e escrever gat@s, “ratos e ratas” (rat@s), “burros e burras” (burr*s), “javalis e javalinas”?
Tudo isto, a juntar ao suntuoso (não confundir com untuoso, e muito menos com sumptuoso) Acordo Ortográfico, tornaria a nossa língua uma verdadeira geringonça!
IPSIS VERBIS
CITAÇÃO IEm ciência leia sempre os livros mais novos. Em literatura, os mais velhos (Millôr Fernandes, 1923-2012)
CITAÇÃO II: “A linguagem é uma fonte de mal-entendidos” (Antoine de Saint Exupéry, 1900-44)
OXÍMORO: Neologismo antigo
PLEONASMO: Surpresa inesperada
ARCAISMOOutrossim
PALÍNDROMO (capicua de letras): Ato idiota
PARANOMÁSIAO torneiro chamou uma colega torneira para reparar a torneira
SCIENTIA AMABILIS MUSGO
Aproxima-se o Natal e o musgo associa-se ao presépio. Talvez porque tenha um envolvimento muito sinestésico. No seu cheiro inigualável em terra molhada, no seu aveludado tatuar, na quietude da sua extensão, na mistura do seu verde e da terra que lhe vem junta. Haverá mais de 700 géneros e 12.000 espécies de musgos, ainda que para nós musgo é simplesmente o musgo, ponto final. Trata-se de uma planta criptogâmica (isto é, sem flor) briófita tendo caule e folhas, mas não raízes. Vive em colónias de indivíduos semelhantes, que formam tapetes de um verde profundo que implora por humidade e sombra do sol. Com uma lupa, pode ver-se melhor o notável pormenor das suas delicadas cápsulas (esporófitos) em cima de delgados pedicelos. Há quem lhes chame até o fruto dos musgos. Não que o seja, mas porque envolve uns minúsculos esporos que, na hora do parto possibilitado pela abertura da cápsula, caem sobre a terra humedecida e dão novas vidas à vida. Um milagre da natureza: estes minúsculos corpos nem provêm dos óvulos de um ovário, nem têm um embrião e, no entanto, germinam como uma semente. É Natal!
COMENTÁRIOS:
mzeabranches, 07.12.2018 : Excelente artigo, pelo conhecimento e pelo humor! A nossa língua, cada vez mais desconhecida e ignorada, graças a um sistema de ensino empenhado em permanentemente 'inovar', aplicando às 'cobaias' disponíveis as últimas experiências linguísticas (veja-se a TLEBS), tornou-se também objecto de manipulação por parte do poder político. Senhores absolutos da nossa língua, os políticos põem e dispõem dela e, do alto do seu inquestionável saber, sem atender aos especialistas nem ao sentir da população, decidem: negociá-la fora de portas (CPLP) e impor-nos o linguisticamente indefensável AO90, propor agora, sem hesitações, a 'linguagem inclusiva', e... veremos o que mais está para vir!...
Raquel Azulay, 07.12.2018: Este Senhor é dotado de um sentido de humor notável. Um artigo divertido e brilhante.
Gustavo Garcia:   07.12.2018: Muito bem... Mas temo que o humor já se tenha revelado ineficaz contra a parvoíce. Quer para um lado, quer para o outro!

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