domingo, 2 de dezembro de 2018

“Laissez faire, laissez passer”



Cada vez mais impaciente com o estado de um país gerido por defeitos estruturais, no caso da crónica presente, Alberto Gonçalves insurge-se, seguido pelos seus comentadores, dele facundamente simpatizantes, contra uma imprensa vilmente manipulada e amordaçada num panorama especulativo favorável a imposições da esquerda aduladora e subserviente do governo PS, por natural pretensão ascensional, o que a verborreia velhacamente optimista e igualmente oportunista de A. Costa finge acolitar, no engodo dos votos que as estatísticas confirmam, e que a consciência do seu poder faz enveredar pelas vias de manietação da liberdade do pensamento, o que, segundo AG, angustia o próprio PR, como largamente aquele descreve, neste seu extraordinário Manifesto, apesar duma certa pusilanimidade de Rebelo de Sousa, que permanece temerosamente retraído, após a denúncia dessa imprensa pouco musculada, grosseira, fútil e sordidamente repetitiva, como ópio castrador e embrutecedor do povo. Nitidamente irado, vítima que foi dessa opressão dos media, AG desenvolve o seu pensamento de requinte agressivo que os seus comentadores ainda mais atiçam, sem, naturalmente, o mesmo requinte, mas admirando-o, todos, corajosamente lutando pela tal liberdade democrática das conquistas passadas.
O título do meu texto nada tem a ver, é claro, com quaisquer políticas mercantilistas seguidas outrora, salvo erro, por Colbert e outros sábios economistas. É um título brincalhão que aconselha calma, pois tudo não passará de um pesadelo que o tempo e outras conjunturas sociopolíticas farão apagar.
Mas, para que AG se alegre, e eu também – copio, a seguir ao seu texto e aos dos seus comentadores, o texto da Revista E de 17/11, que li ontem e me fez rir, como sempre. É do Comendador Marques de Correia, pseudónimo de Henrique Monteiro.

I - LIBERDADE DE IMPRENSA       Os diários da República /premium
OBSERVADOR, 1/12/20186
Nos “media” tradicionais sobram somente a cegueira, que os impede de perceber as causas da sua agonia, e a obediência, que os leva a apoiar os esforços para aplicar rédea curta à devassidão da "net".
O prof. Marcelo pergunta-se se o Estado não deve intervir nos “media”. E suspeito que sabe a resposta: na perspectiva dele, é sim, claro que sim, mil vezes sim. Na perspectiva dos “media” tradicionais, também. Ainda o prof. Marcelo se aliviava daquelas profundíssimas questões, o “Público” corria a entrevistar uma “investigadora na área dos ‘media’”, assaz identificada com a angústia presidencial: “Marcelo apontou-nos uma bandeira, agora é preciso agitá-la de forma musculada”. Em simultâneo, um administrador da Global Media, que possui o JN, a TSF e o fantasma do DN, declarou a proposta “corajosa” (?) e merecedora de “reflexão” a cargo dos “partidos, dos operadores e da sociedade civil”. Um responsável da Renascença afirmou ser “importante alertar para a importância dos meios de comunicação social”. E, há cerca de um ano, o “publisher” (ena) da Cofina exigia um “plano de emergência” para o sector.  O sector em peso desatou a agitar a tal bandeira de forma musculada, para não dizer desesperada.
À semelhança do prof. Marcelo, tenho dúvidas. Ei-las: descontado o oficial entulho salazarista da RTP e da RDP, o Estado não intervém nos “media”? De certeza? Significa isto que os “media” são o que são por livre vontade? E que a omnipresença de palavreado senil “sobre” bola não visa consolar os simples e distraí-los de um país em marcha firme rumo ao abismo, com ou sem pedreiras? E que os Louçãs, os Mendes, os Pachecos, os Césares, os Proenças, as Mortáguas, os Júdices e restantes paradigmas das nossas finas castas ocupam 97% do espaço “opinativo” apenas por obra e graça do seu brilho analítico, da originalidade do raciocínio, da excelência do verbo? E que a “cobertura” da aberração política que nos assombra desde 2015 é fruto de decisões editoriais conscientes e não um exercício de propaganda tão infantil que envergonharia Goebbels e Zhdanov?
Obviamente, não lembrarei o irrelevante episódio de um colunista reaccionário enxotado de duas publicações em três meses, por sugestão de cima ou bajulação de baixo. Mas se o Estado, ou a rede de “interesses” que enfim ocupou o Estado inteiro, não intervém nos “media”, parece. E não quero imaginar o que seriam os “media” assumidamente nacionalizados. Ou quero: seriam exactamente iguais aos “media” que temos, apenas mais abonados e, se possível, mais obsequiosos face aos senhores que mandam. Na essência, nada mudaria na respectiva “orientação” e nada mudaria no desprezo do contribuinte, que passaria a financiar do seu bolso os jornais e as televisões que não vê hoje e não veria amanhã. Para o prof. Marcelo, este passo é fundamental para proteger a liberdade e a democracia.
Como quase sempre, Sua Excelência não só não tem razão como se encontra nos antípodas da dita. E, como quase sempre, Sua Excelência sabe. Sabe, inclusive, que a subserviência primária – e, pelos vistos, voluntária – dos “media” aos donos disto tudo é que ameaça a liberdade e a democracia. Quando, por exemplo, a imprensa transforma um novo assalto fiscal numa demonstração da generosidade do dr. Centeno, que importa se a “notícia” é ou não consumida? Em qualquer dos casos, o cidadão termina roubado. Se os “media” se preocupassem com a liberdade e a democracia, o dr. Centeno andaria a perder eleições para a gestão do condomínio. Se os “media” se preocupassem com a liberdade e a democracia, não conviveriam “naturalmente” com a influência de estalinistas e aparentados no governo de uma nação europeia do séc. XXI. Se os “media” se preocupassem com a liberdade e a democracia, não poupariam um chefe de Estado exclusivamente concentrado em caucionar uma situação ruinosa enquanto troca de calções e consulta os índices de popularidade. Se os “media” se preocupassem com a liberdade e a democracia, talvez tivessem audiências suficientes para dispensar o peditório.
Onde estão as audiências? A maioria, que assiste a noticiários protagonizados por dirigentes desportivos, está em transe e, não tarda, em fóssil. O resto saltita por aí, à cata de informação não sujeita a censura prévia ou póstuma. Com maior ou menor rigor, e às vezes rigor nenhum, descobrem-na na internet. Peneirada uma imensa quantidade de entulho, aqui e ali, nas “redes sociais”, páginas pessoais ou “sites” de facto jornalísticos e independentes, acabam por sobrar algumas interpretações menos alucinadas da realidade. Nos “media” tradicionais, sobram unicamente a cegueira, que os impede de perceber as causas da sua agonia, e a obediência, que os leva a apoiar os esforços das castas nacionais e internacionais para, em nome da “liberdade” e da “democracia”, aplicar rédea curta à devassidão imprevisível que prospera na “net” (entre múltiplos avisos, a recente obsessão com a “direita do Observador” não engana). Além de não terem muito público, os “media” não têm muita vergonha.
E o mesmo se aplica a quem defende a sobrevivência dos “media” para defender a própria, ambas vinculadas ao caldo de compadrios a que se convencionou chamar regime. Não é a atitude “corajosa” de que alguém falou acima: é, por definição, o contrário. Em tempos, a ideia era ajudar o outro a terminar o mandato com dignidade. E os mandatos que já começam indignos?
II - COMENTÁRIOS
winter is coming: por vezes dou por mim a duvidar da minha sanidade mental quando a realidade que percepciono é confrontada com a "realidade" que me é servida nos "diários da república (que expressão tão feliz!!).  o sentimento é de solidão, de demência, de desalento; julgo toda a gente em paz e conforme com as “notícias” dos “media”.  mas, aos sábados, encontro algum apaziguamento. leio o alberto, cato os comentários e verifico que somos muitos. suspeito que o anunciado combate ao “populismo”, pelo populista-mor marcelo nuno duarte rebelo de sousa, e a sanha contra a net, as redes sociais, as caixas de comentários, tenha como propósito manter-nos isolados no cisma de que estamos errados e os “diários da república” certos. seremos 10 milhões de almas, cada uma para seu lado a cismar de que o seu mal é individual, é a excepção, e que a regra é a felicidade geral noticiada nos “media”. tudo patrocinado pelo estado, com muita bola para adormecer boi, a bem da nação.  os tipos já não têm pruridos, já nos tiraram o pulso e deram conta do estado comatoso a que chegámos. aceitamos tudo. 
ahfan neca: obrigado ag por mais este excelente artigo. a sua prosa é a vingança semanal do que andam a fazer ao país. país europeu em pleno século xxi. governado por traficantes, comediantes e stalinistas ou aparentados. e todos se dão bem e complementam, pois uns roubam com a ajuda prestimosa dos outros. o país que em breve, e a par da grécia, será o mais atrasado da ue.
andré ondine: este texto é sintomático da crueldade e irresponsabilidade do autor. esta ideia marcelina de ter o estado a apoiar a comunicação social é, talvez, o único plano possível para que os cidadãos não se vejam privados de receber diariamente os ensinamentos sábios, imparciais e superiormente inteligentes de gente tão capaz como a namorada cãncio, o ex-brigadas oliveira, o "assim termino" marques lopes, o marialva sousa tavares e o camarada alegre (entre outros iluminados). são estas pessoas que nos ensinam a viver e a gostar. 
cipião numantino: contundente artigo de ag! contundente e acintoso "comme il faut". isto revolta. claro que revolta, como diria o rap. esta gente já nem trata de esconder o que quer e para onde vai. e, como com justeza, costuma escrever por aqui um comentador (não lembro agora o nome), "o governo apregoa que chove quando nos está literalmente a mijar em cima". o saque fiscal é imenso e os arrastões, ao que se diz, cada vez mais acutilantes e violentos. e, portugal, conforme ainda muito jovem no estertor do estado novo, eu costumava dizer, "está a saque". se salgueiro maia pudesse regressar (honra à sua memória), certamente repetiria que existem três tipos de estados. os estados capitalistas, os estados comunistas e o estado a que isto chegou. pensei, no início deste comentário, glosar a situação e entrar pela via satírica. mas como diriam os dama, assim não dá, não dá!
e fico com a estranha sensação que a começar pelo pr anda tudo a gozar com o pagode. há meses que nem sequer ligo a tv cá em casa. os atentados sistemáticos à minha sanidade mental, vão-se paulatinamente tornando absolutamente insuportáveis. e pelo menos neste particular aspecto, evito enfrentar o país faz de conta. um pr que é um mero porta-voz da geringonça.  vejo o país a apodrecer por todos os cantos e o dr. costa a tentar convencer-me que me cai maná do céu e nos aproximamos a passos largos da terra prometida. e muitas vezes lá me vou beliscando vendo que o país, o meu país, é violentamente arrastado para debaixo de uma pedreira imensa onde todos pereceremos sem remissão ou pecado. a esquerda, nos media, é absolutamente omnipresente. sai louçã, entra a catarina. sai esta e entram as mortadágua. a roda vira, e aparece o filipe soares. sinto gritos e dou de caras com o galambino. mudo de canal e aparece-me o ar seráfico do pedro santos. ouço com atenção e logo a seguir me entra pelos ouvidos a lenga-lenga apadrecada do cassete cunhal (perdão jerónimo). um ver se te avias. um autêntico forrobodó esquerdista em que o marselfie faz de mordomo e o dr. das costas de competente cangalheiro. este país já nem é sequer uma morgue, mas sim um gigantesco cemitério, onde o xarivari das carpideiras esquerdosas é completamente avassalador e onde nada mais se ouve do que o seu berreiro infernal. só no silêncio da noite se ouvem ligeiros sussurros dos rios da oposição. fracos e de baixa frequência, como convém aos infelizes acomodados. agora, toda esta trupe, quer-me pôr a ajudar a pagar jornais falidos que são meros órgãos de suporte de uma geringonça falida e de um país que anda completamente à nora. era mesmo o que me faltava, logo eu que sou um dos cerca de 3 milhões de pessoas que produzo, subsidiar ferreiras fernandes, baldaias, davides dinis, afonsos camões, o pinocas dos lacinhos e por aí vai. que são meros serventuários, justamente "do estado a que isto chegou"!
ag sabe do que fala. ou melhor ainda, fala do que sabe. esteve dentro do convento e sabe bem o que lá vai dentro. e revolta-se. e barafusta. e esbraceja.  que isto, tal como a redondinha, não tem ponta por onde se lhe pegue. os jornais dão prejuízo? porreiro, azar dos távoras, como usa dizer o nosso caro miguel cardoso! pois que se desemerdem, que eu em nada concorri para tal desfecho. perdoem-me o vernáculo, mas só quero que se phodam! existem muitas empresas que fecham, espoliadas e sugadas até ao tutano pelo fisco, e ninguém morre por causa disso. como dizem no brasil, "eu tô nem aí"!... 
professor pardal: os "media" tradicionais, salvo raras excepções, não passam de repositórios de propaganda do "marxismo cultural". não interessa relatar os factos mas sim aquela "verdade" que se quer passar. se falarmos apenas cá do burgo, a proporção do logro assume contornos épicos, sendo raros os casos em que um contraditório credível nos é apresentado. e depois temos as coisas que nem sequer são notícia, neste cantinho à beira mar plantado. as "no go zones" por essa europa fora, as violações em grupo em malmo, os "grooming gangs" no reino unido, a revolta das jovens alemâs por não poderem sair à noite e por aí fora. e, obviamente, não há qualquer debate sobre o maior atentado à liberdade das nações que é o pacto global das migrações. convém não fazer muitas ondas que é para o zé não notar.  "os fascistas do futuro vão intitular-se de anti-fascistas" - winston Churchill

III - CARTAS ABERTAS - «O grandemente libertador governo de esquerda que nos foi prometido aí está, por fim!» …
COMENDADOR MARQUES CORREIA      REVISTA E, 17/11/18
Não foi por acaso ou esquecimento que a comunicação social deu mais destaque à convenção do Bloco de Esquerda do que ao fim da Grande Guerra.
Foi Catarina (a Pequena, não a Grande) a usar da palavra para dizer: “Camaradas, temos de passar das palavras aos atos. Vir para aqui, para o Casal Vistoso (N.R. – Casal Vistoso é o nome do pavilhão e não de qualquer casal que pudesse ser lá visto), dizer que temos, precisamos, queremos, adoramos, e outros advérbios, ir para o Governo não serve ninguém. Eu proponho que nas próximas eleições, que estão próximas, uma vez que só falta quase um ano,, apresentemos uma proposta consistente de nomes para o Governo.”
“Muito bem”, responderam os camaradas responsáveis, sobretudo aqueles que interiormente se achavam com capacidade para governar e integrar o elenco, que eram todos menos um poeta que não tinha grandes aspirações políticas, salvo a legalização do uso recreativo da marijuana.
Catarina pigarreou, olhou para trás de uma cortina a verificar se o conselheiro de Estado, consultor do Banco de Portugal, fundador do Bloco e já tão distinto como o conselheiro Acácio, uma espécie de Adriano Moreira dos desvalidos, ali estava e prosseguiu: “Tem de haver uma vice-primeiro-ministro!”
“Para quê?”, perguntou um dirigente menos convencido e tendo a certeza de que a existência de uma vice-primeiro-ministro, que seria Catarina, tiraria logo dois Ministérios, e, pelo menos, quatro Secretarias de Estado à organização, “Não é preciso haver vice-primeiro-ministro nenhum”  acrescentou. “Aliás, se um ou uma de nós for vice-primeiro-ministro, é óbvio que o Costa quer colocar outro membro (ou membra) do PS com cargo idêntico, e isso torna o Governo muito pesado. O que tem de haver, na minha opinião, é uma pessoa (ou pessoo) que, estando em que lugar estiver, coordene os membros (ou membras) do Governo que pertencem ao Bloco. Por exemplo, tu, camarada Catarina, podias ser, até, ministra da Cultura e coordenadora de todos os membros do Governo que o Bloco pudesse nomear.”
A cortina acenou que sim. Catarina, reparando no aceno, concordou que talvez não fosse má ideia. Mas acrescentou de imediato que não faria sentido falar de nomes concretos ou de pastas concretas. Teria de ser um diálogo aberto com o PS. Do tipo a camarada A para a pasta A, o camarada B para a pasta B, etc.. Foi interrompida por uma representante da LGBTITSLN. (N.R. - siglas a mais, preventivas de novos caso), que disse: “Ó camarada, isso nem parece teu! Por que razão dizes a camarada A e não a ou o camarada A?”
“Porque disse para a pasta A e não para o pasto A.”
“Talvez não seja uma questão de pasto, isso é para os bois”, disse um com ar ribatejano. Mas foi interrompido por uma vaia e uma intervenção indignada que disse que chamar boi a quem fosse para o Governo era uma piada (ou piado) sexista equivalente a chamar vaca ou assim, prontos, estão a ver?
Catarina pôs ordem na sala e estava prestes a retomar o uso da palavra quando um militante mais novo, daqueles que foram para o Bloco já convencidos de que aquilo era um partido como os outros, avançou com uma pergunta que gelou a sala: “E se o PS não nos quiser no Governo?”
Os presentes entreolharam-se, a cortina encolheu os ombros e, então, um militante disse:
“Como podem eles recusar uma Mortágua para as Finanças, outra Mortágua para a Educação, um Soeiro para o Trabalho, um Moisés para a Saúde, um Luís Monteiro para a Ciência, um Jorge Costa para a Energia, um Pureza para a Economia e uma Catarina para o que der e vier? (N.R. – Esta é a lista que o comentador Luís Aguiar-Conraria escreveu, considerando-a apenas exemplos e muito demonstrativa do otimismo do Bloco). Como podem recusá-los se apenas têm João Galamba, Pedro Nuno Santos, Isabel Moreira?...”
A cortina ergueu o punho! Via-se que o conselheirismo desaparecia. O espírito revolucionário voltara! “Vamos sem o PS”, disse a cortina.
“Vamos sem eles!” respondeu Catarina.
E a reunião desabou em palmas.

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