Cada vez mais impaciente com o
estado de um país gerido por defeitos estruturais, no caso da crónica presente,
Alberto Gonçalves insurge-se,
seguido pelos seus comentadores, dele facundamente simpatizantes, contra uma
imprensa vilmente manipulada e amordaçada num panorama especulativo favorável a
imposições da esquerda aduladora e subserviente do governo PS, por natural
pretensão ascensional, o que a verborreia velhacamente optimista e igualmente
oportunista de A. Costa finge
acolitar, no engodo dos votos que as estatísticas confirmam, e que a
consciência do seu poder faz enveredar pelas vias de manietação da liberdade do
pensamento, o que, segundo AG, angustia o próprio PR, como largamente aquele
descreve, neste seu extraordinário Manifesto,
apesar duma certa pusilanimidade de Rebelo
de Sousa, que permanece temerosamente retraído, após a denúncia dessa
imprensa pouco musculada, grosseira, fútil e sordidamente repetitiva, como ópio
castrador e embrutecedor do povo. Nitidamente irado, vítima que foi dessa
opressão dos media, AG desenvolve o seu pensamento de requinte agressivo que os
seus comentadores ainda mais atiçam, sem, naturalmente, o mesmo requinte, mas
admirando-o, todos, corajosamente lutando pela tal liberdade democrática das
conquistas passadas.
O título do meu texto nada tem
a ver, é claro, com quaisquer políticas mercantilistas seguidas outrora, salvo
erro, por Colbert e outros sábios economistas. É um título brincalhão que
aconselha calma, pois tudo não passará de um pesadelo que o tempo e outras
conjunturas sociopolíticas farão apagar.
Mas, para que AG se alegre, e eu também – copio, a
seguir ao seu texto e aos dos seus comentadores, o texto da Revista E
de 17/11, que li ontem e me fez rir, como sempre. É do Comendador Marques de Correia, pseudónimo de
Henrique Monteiro.
OBSERVADOR, 1/12/20186
Nos “media” tradicionais sobram
somente a cegueira, que os impede de perceber as causas da sua agonia, e a
obediência, que os leva a apoiar os esforços para aplicar rédea curta à
devassidão da "net".
O prof. Marcelo pergunta-se se o
Estado não deve intervir nos “media”.
E suspeito que sabe a resposta: na
perspectiva dele, é sim, claro que sim, mil vezes sim. Na perspectiva dos
“media” tradicionais, também. Ainda o prof. Marcelo se aliviava daquelas
profundíssimas questões, o “Público” corria a entrevistar uma “investigadora na
área dos ‘media’”, assaz identificada com a angústia presidencial: “Marcelo
apontou-nos uma bandeira, agora é preciso agitá-la de forma musculada”.
Em simultâneo, um administrador da Global Media, que possui o JN, a TSF e o
fantasma do DN, declarou a proposta “corajosa” (?) e merecedora de “reflexão” a
cargo dos “partidos, dos operadores e da sociedade civil”. Um responsável da
Renascença afirmou ser “importante alertar para a importância dos meios de
comunicação social”. E, há cerca de um ano, o “publisher” (ena) da Cofina
exigia um “plano de emergência” para o sector. O sector em peso
desatou a agitar a tal bandeira de forma musculada, para não dizer desesperada.
À semelhança do prof.
Marcelo, tenho dúvidas. Ei-las: descontado o oficial entulho salazarista
da RTP e da RDP, o Estado não intervém nos “media”? De certeza? Significa
isto que os “media” são o que são por livre vontade? E que a
omnipresença de palavreado senil “sobre” bola não visa consolar os simples e
distraí-los de um país em marcha firme rumo ao abismo, com ou sem pedreiras?
E que os Louçãs, os Mendes, os Pachecos, os Césares, os Proenças, as
Mortáguas, os Júdices e restantes paradigmas das nossas finas castas ocupam 97%
do espaço “opinativo” apenas por obra e graça do seu brilho analítico, da
originalidade do raciocínio, da excelência do verbo? E que a “cobertura”
da aberração política que nos assombra desde 2015 é fruto de decisões editoriais
conscientes e não um exercício de propaganda tão infantil que envergonharia
Goebbels e Zhdanov?
Obviamente, não lembrarei o irrelevante episódio de um colunista
reaccionário enxotado de duas publicações em três meses, por sugestão de cima
ou bajulação de baixo. Mas se o
Estado, ou a rede de “interesses” que enfim ocupou o Estado inteiro, não
intervém nos “media”, parece. E não quero imaginar o que seriam os
“media” assumidamente nacionalizados. Ou quero: seriam exactamente iguais aos
“media” que temos, apenas mais abonados e, se possível, mais obsequiosos face
aos senhores que mandam. Na essência, nada mudaria na respectiva “orientação” e
nada mudaria no desprezo do contribuinte, que passaria a financiar do seu bolso
os jornais e as televisões que não vê hoje e não veria amanhã. Para o prof.
Marcelo, este passo é fundamental para proteger a liberdade e a democracia.
Como quase sempre, Sua Excelência
não só não tem razão como se encontra nos antípodas da dita. E, como quase
sempre, Sua Excelência sabe. Sabe, inclusive, que a subserviência primária – e,
pelos vistos, voluntária – dos “media” aos donos disto tudo é que ameaça a
liberdade e a democracia. Quando,
por exemplo, a imprensa transforma um novo assalto fiscal numa demonstração da
generosidade do dr. Centeno, que importa se a “notícia” é ou não consumida?
Em qualquer dos casos, o cidadão termina
roubado. Se os “media” se
preocupassem com a liberdade e a democracia, o dr. Centeno andaria a
perder eleições para a gestão do condomínio. Se os “media” se preocupassem com a liberdade e a democracia,
não conviveriam “naturalmente” com a influência de estalinistas e aparentados
no governo de uma nação europeia do séc. XXI. Se os “media” se preocupassem com a liberdade e a democracia,
não poupariam um chefe de Estado exclusivamente concentrado em caucionar uma
situação ruinosa enquanto troca de calções e consulta os índices de
popularidade. Se os “media” se
preocupassem com a liberdade e a democracia, talvez tivessem audiências
suficientes para dispensar o peditório.
Onde estão as audiências? A
maioria, que assiste a noticiários protagonizados por dirigentes desportivos,
está em transe e, não tarda, em fóssil. O resto saltita por aí, à cata de informação não sujeita a censura
prévia ou póstuma. Com maior ou menor rigor, e às vezes rigor nenhum,
descobrem-na na internet. Peneirada uma imensa quantidade de entulho,
aqui e ali, nas “redes sociais”, páginas pessoais ou “sites” de facto
jornalísticos e independentes, acabam por sobrar algumas interpretações menos
alucinadas da realidade. Nos “media”
tradicionais, sobram unicamente a cegueira, que os impede de perceber as causas
da sua agonia, e a obediência, que os leva a apoiar os esforços das castas
nacionais e internacionais para, em nome da “liberdade” e da “democracia”,
aplicar rédea curta à devassidão imprevisível que prospera na “net” (entre
múltiplos avisos, a recente obsessão com a “direita do Observador” não engana).
Além de não terem muito público, os “media” não têm muita vergonha.
E o mesmo se aplica a quem defende a sobrevivência dos “media” para
defender a própria, ambas vinculadas ao caldo de compadrios a que se
convencionou chamar regime. Não é a atitude “corajosa” de que alguém falou
acima: é, por definição, o contrário. Em tempos, a ideia era ajudar o outro a
terminar o mandato com dignidade. E
os mandatos que já começam indignos?
II - COMENTÁRIOS
winter is coming: por
vezes dou por mim a duvidar da minha sanidade mental quando a realidade que
percepciono é confrontada com a "realidade" que me é servida nos
"diários da república (que expressão tão feliz!!). o sentimento é de
solidão, de demência, de desalento; julgo toda a gente em paz e conforme com as
“notícias” dos “media”. mas, aos sábados, encontro algum apaziguamento.
leio o alberto, cato os comentários e verifico que somos muitos. suspeito que o
anunciado combate ao “populismo”, pelo populista-mor marcelo nuno duarte rebelo
de sousa, e a sanha contra a net, as redes sociais, as caixas de comentários,
tenha como propósito manter-nos isolados no cisma de que estamos errados e os
“diários da república” certos. seremos 10 milhões de almas, cada uma para seu
lado a cismar de que o seu mal é individual, é a excepção, e que a regra é a
felicidade geral noticiada nos “media”. tudo patrocinado pelo estado, com muita
bola para adormecer boi, a bem da nação. os tipos já não têm pruridos, já
nos tiraram o pulso e deram conta do estado comatoso a que chegámos. aceitamos
tudo.
ahfan neca: obrigado ag
por mais este excelente artigo. a sua prosa é a vingança semanal do que andam a
fazer ao país. país europeu em pleno século xxi. governado por traficantes,
comediantes e stalinistas ou aparentados. e todos se dão bem e complementam,
pois uns roubam com a ajuda prestimosa dos outros. o país que em breve, e a par
da grécia, será o mais atrasado da ue.
andré ondine: este texto é
sintomático da crueldade e irresponsabilidade do autor. esta ideia marcelina de
ter o estado a apoiar a comunicação social é, talvez, o único plano possível
para que os cidadãos não se vejam privados de receber diariamente os
ensinamentos sábios, imparciais e superiormente inteligentes de gente tão capaz
como a namorada cãncio, o ex-brigadas oliveira, o "assim termino"
marques lopes, o marialva sousa tavares e o camarada alegre (entre outros
iluminados). são estas pessoas que nos ensinam a viver e a gostar.
cipião numantino: contundente artigo de ag! contundente e acintoso
"comme il faut". isto revolta. claro que revolta, como diria o rap. esta
gente já nem trata de esconder o que quer e para onde vai. e, como com justeza,
costuma escrever por aqui um comentador (não lembro agora o nome), "o
governo apregoa que chove quando nos está literalmente a mijar em cima". o
saque fiscal é imenso e os arrastões, ao que se diz, cada vez mais acutilantes
e violentos. e, portugal, conforme ainda muito jovem no estertor do estado
novo, eu costumava dizer, "está a saque". se salgueiro maia pudesse
regressar (honra à sua memória), certamente repetiria que existem três tipos de
estados. os estados capitalistas, os estados comunistas e o estado a que isto
chegou. pensei, no início deste comentário, glosar a situação e entrar pela via
satírica. mas como diriam os dama, assim não dá, não dá!
e
fico com a estranha sensação que a começar pelo pr anda tudo a gozar com o
pagode. há meses que nem sequer ligo a tv cá em casa. os atentados sistemáticos
à minha sanidade mental, vão-se paulatinamente tornando absolutamente
insuportáveis. e pelo menos neste particular aspecto, evito enfrentar o país
faz de conta. um pr que é um mero porta-voz da geringonça. vejo o país a
apodrecer por todos os cantos e o dr. costa a tentar convencer-me que me cai
maná do céu e nos aproximamos a passos largos da terra prometida. e muitas
vezes lá me vou beliscando vendo que o país, o meu país, é violentamente
arrastado para debaixo de uma pedreira imensa onde todos pereceremos sem
remissão ou pecado. a esquerda, nos media, é absolutamente omnipresente. sai
louçã, entra a catarina. sai esta e entram as mortadágua. a roda vira, e
aparece o filipe soares. sinto gritos e dou de caras com o galambino. mudo de
canal e aparece-me o ar seráfico do pedro santos. ouço com atenção e logo a
seguir me entra pelos ouvidos a lenga-lenga apadrecada do cassete cunhal
(perdão jerónimo). um ver se te avias. um autêntico forrobodó esquerdista em
que o marselfie faz de mordomo e o dr. das costas de competente cangalheiro. este
país já nem é sequer uma morgue, mas sim um gigantesco cemitério, onde o
xarivari das carpideiras esquerdosas é completamente avassalador e onde nada
mais se ouve do que o seu berreiro infernal. só no silêncio da noite se ouvem
ligeiros sussurros dos rios da oposição. fracos e de baixa frequência, como
convém aos infelizes acomodados. agora, toda esta trupe, quer-me pôr a ajudar a
pagar jornais falidos que são meros órgãos de suporte de uma geringonça falida
e de um país que anda completamente à nora. era mesmo o que me faltava, logo eu
que sou um dos cerca de 3 milhões de pessoas que produzo, subsidiar ferreiras
fernandes, baldaias, davides dinis, afonsos camões, o pinocas dos lacinhos e
por aí vai. que são meros serventuários, justamente "do estado a que isto
chegou"!
ag
sabe do que fala. ou melhor ainda, fala do que sabe. esteve dentro do convento
e sabe bem o que lá vai dentro. e revolta-se. e barafusta. e esbraceja. que
isto, tal como a redondinha, não tem ponta por onde se lhe pegue. os jornais
dão prejuízo? porreiro, azar dos távoras, como usa dizer o nosso caro miguel
cardoso! pois que se desemerdem, que eu em nada concorri para tal desfecho. perdoem-me
o vernáculo, mas só quero que se phodam! existem muitas empresas que fecham,
espoliadas e sugadas até ao tutano pelo fisco, e ninguém morre por causa disso.
como dizem no brasil, "eu tô nem aí"!...
professor pardal: os "media" tradicionais, salvo raras
excepções, não passam de repositórios de propaganda do "marxismo
cultural". não interessa relatar os factos mas sim aquela
"verdade" que se quer passar. se falarmos apenas cá do burgo, a
proporção do logro assume contornos épicos, sendo raros os casos em que um
contraditório credível nos é apresentado. e depois temos as coisas que nem
sequer são notícia, neste cantinho à beira mar plantado. as "no go
zones" por essa europa fora, as violações em grupo em malmo, os
"grooming gangs" no reino unido, a revolta das jovens alemâs por não
poderem sair à noite e por aí fora. e, obviamente, não há qualquer debate sobre
o maior atentado à liberdade das nações que é o pacto global das migrações.
convém não fazer muitas ondas que é para o zé não notar. "os
fascistas do futuro vão intitular-se de anti-fascistas" - winston Churchill
III - CARTAS ABERTAS - «O grandemente libertador governo de
esquerda que nos foi prometido aí está, por fim!» …
COMENDADOR MARQUES
CORREIA REVISTA E, 17/11/18
Não foi por acaso ou esquecimento que a comunicação social deu mais
destaque à convenção do Bloco de Esquerda do que ao fim da Grande Guerra.
Foi Catarina (a Pequena, não a Grande) a usar da
palavra para dizer: “Camaradas, temos de passar das palavras aos atos. Vir para
aqui, para o Casal Vistoso (N.R. – Casal Vistoso é o nome do pavilhão e não de
qualquer casal que pudesse ser lá visto), dizer que temos, precisamos,
queremos, adoramos, e outros advérbios, ir para o Governo não serve ninguém. Eu
proponho que nas próximas eleições, que estão próximas, uma vez que só falta
quase um ano,, apresentemos uma proposta consistente de nomes para o Governo.”
“Muito
bem”, responderam os camaradas responsáveis, sobretudo aqueles que
interiormente se achavam com capacidade para governar e integrar o elenco, que
eram todos menos um poeta que não tinha grandes aspirações políticas, salvo a
legalização do uso recreativo da marijuana.
Catarina
pigarreou, olhou para trás de uma cortina a verificar se o conselheiro de
Estado, consultor do Banco de Portugal, fundador do Bloco e já tão distinto
como o conselheiro Acácio, uma espécie de Adriano Moreira dos desvalidos, ali
estava e prosseguiu: “Tem de haver uma vice-primeiro-ministro!”
“Para
quê?”, perguntou um dirigente menos convencido e tendo a certeza de que a
existência de uma vice-primeiro-ministro, que seria Catarina, tiraria logo dois
Ministérios, e, pelo menos, quatro Secretarias de Estado à organização, “Não é
preciso haver vice-primeiro-ministro nenhum”
acrescentou. “Aliás, se um ou uma de nós for vice-primeiro-ministro, é
óbvio que o Costa quer colocar outro membro (ou membra) do PS com cargo
idêntico, e isso torna o Governo muito pesado. O que tem de haver, na minha
opinião, é uma pessoa (ou pessoo) que, estando em que lugar
estiver, coordene os membros (ou membras)
do Governo que pertencem ao Bloco. Por exemplo, tu, camarada Catarina, podias
ser, até, ministra da Cultura e coordenadora de todos os membros do Governo que
o Bloco pudesse nomear.”
A
cortina acenou que sim. Catarina, reparando no aceno, concordou que talvez não
fosse má ideia. Mas acrescentou de imediato que não faria sentido falar de
nomes concretos ou de pastas concretas. Teria de ser um diálogo aberto com o
PS. Do tipo a camarada A para a pasta A, o camarada B para a pasta B, etc.. Foi
interrompida por uma representante da LGBTITSLN. (N.R. - siglas a mais,
preventivas de novos caso), que disse: “Ó camarada, isso nem parece teu! Por
que razão dizes a camarada A e não a ou o camarada A?”
“Porque
disse para a pasta A e não para o pasto A.”
“Talvez
não seja uma questão de pasto, isso é para os bois”, disse um com ar
ribatejano. Mas foi interrompido por uma vaia e uma intervenção indignada que
disse que chamar boi a quem fosse para o Governo era uma piada (ou piado)
sexista equivalente a chamar vaca ou assim, prontos, estão a ver?
Catarina
pôs ordem na sala e estava prestes a retomar o uso da palavra quando um
militante mais novo, daqueles que foram para o Bloco já convencidos de que
aquilo era um partido como os outros, avançou com uma pergunta que gelou a sala:
“E se o PS não nos quiser no Governo?”
Os
presentes entreolharam-se, a cortina encolheu os ombros e, então, um militante
disse:
“Como
podem eles recusar uma Mortágua para as Finanças, outra Mortágua para a
Educação, um Soeiro para o Trabalho, um Moisés para a Saúde, um Luís Monteiro
para a Ciência, um Jorge Costa para a Energia, um Pureza para a Economia e uma
Catarina para o que der e vier? (N.R. – Esta é a lista que o comentador Luís
Aguiar-Conraria escreveu, considerando-a apenas exemplos e muito demonstrativa
do otimismo do Bloco). Como podem recusá-los se apenas têm João Galamba, Pedro
Nuno Santos, Isabel Moreira?...”
A
cortina ergueu o punho! Via-se que o conselheirismo desaparecia. O espírito
revolucionário voltara! “Vamos sem o PS”, disse a cortina.
“Vamos
sem eles!” respondeu Catarina.
E
a reunião desabou em palmas.
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