A hipocrisia na revelação mediática
de feitos terroristas, a muito custo atribuíveis a islamitas - mau grado a sua orgulhosa auto-denúncia em nome de Alá - em subtileza linguística proteccionista
de democrática dimensão; a presunção da eficiência num país sem ela, sem os
artefactos nem os funcionários indispensáveis de solução; a pieguice dos
filiados no PAN, nas suas referências biográficas envolvendo os seus bichos de
estimação no espaço citadino - o campesino ou mais provinciano ignorado das
sensibilidades depuradas desses bondosos protectores de estimação; a “eficiência”
explicativa de um PR multifacetado, omnipresente e omnisciente, a substituir os
organismos da competência específica inexistentes... Um país de basófia, de
artifício, de fraude, de bacoquice, sem rumo.
O PR comenta o descarrilamentos dos
eléctricos. Os hospitais públicos recusam doentes. Saída para a crise? Adoptar
uma coelha selvagem e também um ex-criador de vacas reconvertido
energeticamente.
Terça-feira, 11. O tiroteio voltou a eclodir e a matar.
Desta vez foi num mercado de Natal, em Estrasburgo. A cada atentado
terrorista temos uma espécie de guião: quem começa por matar é o tiroteio. Depois
admite-se que alguém terá segurado a arma. Em seguida temos um razoável
compasso de espera até que se avançam os elementos que confirmam o que já se
suspeitava: o autor do atentado é muçulmano e fez
questão de o sublinhar, no momento em que matava. O Estado Islâmico também celebra a
mortandade mas, segundo o novo mantra jornalístico, não estamos perante um verdadeiro terrorista islâmico. A questão do “verdadeiro terrorista islâmico” está a
tornar-se uma espécie de alargamento do conceito de denominação de origem dos
vinhos e enchidos àqueles que, além da infelicidade de não consumirem os
produtos atrás citados, passam à prática o seu desejo de matar em nome de Alá. Por
mais que o terrorista islâmico grite que “Alá é grande!”enquanto dispara sobre
os desgraçados que se cruzam no seu caminho temos de evitar a expressão “terrorista
islâmico”. Por fim, mas não menos importante, com 29 anos e 27 processos
judiciais em França e na Alemanha, Chérif Chekatt classificado
como “S”, ou seja como perigoso para a segurança da França, estava contudo em liberdade. Como é que isso é possível? O enquadramento legal na UE não está feito para
responder ao terrorismo: mesmo com ficha “S”, um estrangeiro que tenha
conseguido a nacionalidade francesa dificilmente pode sequer ser expulso para o seu país de origem . Como tantos outros presos de delito
comum Chérif Chekatt ter-se-á radicalizado ainda mais numa daquelas prisões
em que quem manda são os fundamentalistas. Como de costume
acenderam-se velas e fizeram-se as declarações piedosas do costume sobre as
vítimas de mais este incidente. Até que um novo tiroteio volte a eclodir e a
matar voltaremos a ignorar o assunto.
Quarta-feira, 12. Um doente com uma lesão grave numa mão,
decorrente de um acidente de trabalho com uma rebarbadora, foi enviado do
hospital de Setúbal para o hospital de São José, onde deu entrada cerca das 18
horas. No Hospital S. José estava avariado o equipamento necessário à
cirurgia e foi decidida a transferência do doente “para outra instituição com
capacidade para a intervenção” . O Hospital de S. José tenta transferir o
doente para Santa Maria. Mas Santa Maria recusou. Ou melhor dizendo
não o recusou mas também não o recebeu. Como
explica a sua administração Santa Maria nega ter recusado o doente, simplesmente não o conseguiu
atender porque estão “a atravessar um período que não é de funcionamento
normal”. (Traduzindo,
os enfermeiros estão em greve). O hospital de
S. José tentou de novo transferir o doente, agora para S. Francisco Xavier mas
esta unidade tinha uma intervenção a decorrer e não pôde também receber o
doente. Pelas 21h, ou
seja três horas depois de o doente ter dado entrada em S. José, chega um
sim: o serviço de cirurgia plástica de Vila Nova de Gaia aceitou receber o doente. Pelas 22.35
horas foi determinada a transferência do doente para Gaia. Às sete horas da manhã do dia seguinte o doente acabou
finalmente por entrar no bloco operatório em Gaia.
… É isto: tornámo-nos reféns do
Estado! A verba disponível vai
para as suas corporações e a cada dia que passa essas corporações reforçam o
seu poder através do monopólio da prestação de serviços: este homem não poderia ter sido operado num
hospital privado de Lisboa? Aliás, para
lá do sofrimento a que foi sujeito nesta longa espera, não se gastou muito mais
dinheiro ao SNS levando-o para Gaia? Quem disse que o SNS implica sermos
tratados num hospital público e não naquele que melhor se ajusta naquele caso? O
que está em causa na perseguição aos privados na área da Saúde (tal como na da
Educação) é a transformação dos utentes em escudos humanos nas guerras
sindicais. Logo, ou
se põe fim a este entendimento de que o SNS presta serviços exclusivamente nos
hospitais públicos ou, recusados de hospital em hospital, acabaremos a dar a volta a Portugal para sermos
atendidos. E no fim, ainda teremos de ouvir que não fomos recusados
simplesmente, como explicou a administração do Centro Hospitalar Universitário
Lisboa Norte, que integra o Santa Maria, “a avaliação feita foi essa e o doente foi tratado com o que de melhor há
no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” Imagine-se onde teria
acabado o doente se tivesse sido tratado com o pior! Quiçá na Venezuela!
Quinta-feira, 13. O
PAN apresentou Francisco Guerreiro como seu cabeça de lista às próximas
eleições europeias. Escreve o PAN sobre o seu candidato: “Atualmente
reside em Cascais, é casado e tem duas filhas uma das quais nascerá, estima-se, a 05 de março. A família é também composta
por dois gatos (casal) e uma coelha selvagem, todos adotados. O seu hóbi
centra-se na leitura e na recolha de lixo, nomeadamente em florestas e nas
praias nacionais.” Convenhamos que o comunicado deve ter sido
redigido pelos “dois gatos (casal)” (curioso este detalhe informativo
sobre a conjugalidade dos gatos mas convém não
aplicar a heteronormatividade aos felinos: estes constituirão um casal
hetero ou homo?) e pela “coelha selvagem adoptada” seja isso o que for do ponto
de vista da coelha (se é coelha não é adoptada porque adoptadas são as crianças
e se é selvagem o seu lugar não é ao pé das pessoas) pois não só não se percebe se Francisco
Guerreiro lê nas florestas e apanha lixo nas praias, o contrário ou nada disso. Mais
misteriosamente ainda sabemos que uma das filhas nascerá “estima-se, a 05 de
março” mas ficamos sem saber se a outra filha já nasceu ou se ainda não tem
data estimada para o nascimento. Convém
contudo que não nos deixemos iludir pela ignorância e apalhaçamento deste
tipo de prosas, pois aquilo que delas sobressai é uma visão arrogantemente
urbana da sociedade. Esta elite urbana, os urbanitas, chamam-lhe
os espanhóis, de que o PAN representa o lado mais histriónico, está a perseguir o mundo rural, para o
efeito cada vez mais apresentado como ignorante. Não por acaso as vacas substituíram os cafés no discurso do Portugal
atrasado que o progressismo vai combater: nos governos Sócrates o então
responsável pela ASAE anunciava o fim de metade dos cafés “por não cumprirem a legislação comunitária ou por não terem
viabilidade económica”. Agora é o ministro
do Ambiente e da Transição Energética (só
o nome deste ministério é um programa!) a declarar necessária uma redução
entre 25 a 50 por cento de bovinos para “descarbonizar o país”. Em
conclusão, ou se metem os urbanitas na ordem ou o mundo rural, o tal para
que os urbanitas aprovam tantos planos de apoio e repovoamento, vai acabar a
ser alvo de campanhas de adopção do tipo “Adopte uma coelha selvagem e
também um ex-criador de vacas agora reconvertido energeticamente à neutralidade
carbónica.” Vai ser um sucesso. Em Lisboa, claro.
Sexta-feira, 14. Um
eléctrico da Carris descarrilou na zona da Lapa, em Lisboa, causando 28 feridos
ligeiros. O facto em qualquer outro lugar do mundo seria da competência
dos técnicos de transportes e da responsabilidade da empresa ou instituição que
gere esses transportes. Em
Portugal não. De imediato, vindo desse local misterioso onde
parece estar em estado vigília constante à espera de um facto para
comentar, surgiu o Presidente
da República e logo desatou a falar naquele estilo “assim e o seu contrário”: “Felizmente houve uma capacidade
de resposta imediata e muito eficiente e o número de pessoas que já foi
resgatado é muito superior àquelas que falta desencarcerar”. Continuando
neste registo de “explicador
para tontos” o Presidente da República acrescentou ou minguou que no caso vai
dar ao mesmo: “Vamos esperar, a ver se o saldo
global é um saldo que não tenha vítimas que não sejam feridos”, “Estão em curso
ainda muitas diligências, primeiro em relação ao número de pessoas que estão a
ser desencarceradas”. A esta intervenção efectivamente
esclarecedora juntou-se a decisão da Junta de Freguesia da Estrela de garantir apoio psicológico aos sinistrados e suas
famílias. Perante tanta palavra do PR e iniciativa da junta, o que disse o presidente da CML que desde
há dois anos tem a tutela da Carris? Nada, O que explicou o vereador Miguel Feliciano Gaspar que tem os pelouros
da Mobilidade e Segurança? Nada. Finalmente
a Carris, empresa responsável pelo eléctrico, anunciou laconicamente que
vai abrir um “inquérito minucioso” para apurar quais as razões que levaram ao
descarrilamento. Nem
sei se teremos tempo para ler tanto inquérito; assim que me recorde temos a leitura prometida e adiada do inquérito sobre as
“armas roubadas/afinal não
roubadas/talvez desviadas/ quiçá devolvidas” de Tancos mais o inquérito ao desvio de meios corrido em
2017 nos fogos de Mação. Mas
parafraseando o nosso Presidente da República: vamos esperar pelo desencarceramento dos inquéritos.
Em resumo, Portugal é um país a salvo do populismo. Ou melhor dizendo,
um país em que os populistas que nos governam conseguem não ser contestados
pelos populistas na rua.
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COMENTÁRIOS:
José Pereira: “um país em que os populistas que nos governam
conseguem não ser contestados pelos populistas na rua.” É essa a chave desta
desgraça de País. Obrigado Helena.
Joaquim Moreira: É bela a vida a neste país sem
populismo, porque ainda estamos sobre o efeito da anestesia e porque os populistas
estão todos no poder. Vamos ter que nos preparar, porque este efeito da
anestesia vai, muito em breve, acabar. Mas convém que se diga, se já não
bastasse estes populistas, ainda temos os novos populistas que, antes eram
contra, agora apoiam os velhos, quer por acção quer por omissão. O populismo já
não é o que era, como a tradição!
José Filipe Fernandes: Já começo a ficar "sem argumentos" para
analisar as suas crónicas. Fico apenas com um pedido: NÃO DESISTA! A bem
de Portugal, pois os portugueses estão mais preocupados com as cristianices e brunices.
Ainda bem que o Costa não é populista, eu pensava que era....
Tiago Manso: Obrigado pelo magnífico artigo, com que comecei esta 2ª feira a rir... para
não chorar!
José Montargil: É TUDO A FINGIR QUE FAZEM! Portugal é o o país onde tudo existe mas a fingir. A história do doente feito saltapoçinhas de
hospital em hospital, a confusão causada pela queda do héli, o choque do
eléctrico contra uma parede de esquina e descarrilamento, mostra que os
serviços que deviam funcionar existem mas para pouco servem. No desastre do helicóptero os bombeiros e a maltosa de
socorro depois de serem apanhados em flagra, sem terem feito nada do que está
previsto, enumeram
N "viaturas, ambulâncias, homens... o homem da GNR na tal conferência de
imprensa após se descobrir a trapalhada e desatino do espetanço do helicóptero
é de bradar aos céus, etc.." . Tudo está feito para dar o ar que
funcionam, que são úteis. Mas não! É tudo a fingir, está tudo só
no papel.Ai de nós se precisarmos destes serviços para alguma coisa, estamos
tramados.
Direita assumida: Todo
o dinheiro da manutenção e desenvolvimento dos serviços públicos que justificam
a brutalidade da nossa carga tributária está a ser desviado para comprar votos.
A política deste Governo ė igual á de Lula, Dilma, Maduro etc. Uma absoluta
vergonha.
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