Coloco em primeiro lugar a
Carta “Foi uma Festa”, de Artur Gonçalves, de Sintra, por me
identificar mais com o seu ponto de vista crítico em torno do festival
orçamental e da comemoração final de um A.
Costa sorridentemente inchado a deixar prever a sua continuidade em outro
mandato tranquilizador, mau grado as sinuosidades e a falta de transparência
apontadas, o que apenas serviu para atiçar as habituais ironias impacientes,
mas a sujeitar os seus apoiantes da esquerda, com o “prato de lentilhas” confirmado.
O Editorial de Manuel
Carvalho, parece-me ambíguo e
mais subserviente, apesar de querer indiciar rigor, bem assim os comentadores
do seu texto. Mas, na verdade, que outra coisa vale a pena fazer num mundo a
desabar partout?
I - Cartas ao director: Foi uma festa!
PÚBLICO, 30 de
Novembro de 2018
Li muitos textos na comunicação
social e na televisão sobre os três anos
de duração da geringonça. Todos disseram que nunca esperaram que a
geringonça durasse tanto tempo. Foi por
isso que o PS deu em comemorar esta data com solenidade festiva. E, em suma,
por aqui se ficaram, sem adiantarem razões deste sucesso, a até porque as
perguntas não iam nesse sentido.
Mas valia a pena escrever
umas linhas ou falar sobre as razões que estão na base desta formação ou
aceitação de partidos tão contrários entre si. Para
responder a esta questão bastava que os entrevistados ou os jornalistas
dissessem que isso foi à custa de os dois partidos da extrema-esquerda terem
traído a sua matriz ideológica de contestação, de greves de arruadas e
arruaças, colocando no esquecimento a
defesa dos direitos dos seus
eleitores. E
acrescentarem que não se compreende como, sendo eles partidários da abolição da
UE, aprovaram todas as políticas comunitárias que iam em sentido contrário à
defesa dos seus princípios estatutários.
Sabemos que Costa lhe acenou com um prato de lentilhas e eles morderam
a isca porque com ela vinha a sede de mando e de protagonismo, sem falar do
facto de terem aderido para não deixarem governar a direita.
Por isso, é provável que
esta aderência governativa venha a prejudicar os resultados das próximas
eleições. Estaremos cá para ver!
ARTUR GONÇALVES, SINTRA
II – EDITORIAL - O Orçamento
que inaugura o fim de um ciclo
Agora a campanha eleitoral vai
começar. Esperemos que fique a salvo das tentações eleitoralistas que os
partidos já começaram a esboçar na aprovação do Orçamento.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 30 de Novembro de 2018
A recta final que levou até
à aprovação do Orçamento do
Estado de 2019 dava um excelente trailer de
um filme indiano. Numa repetição do movimento e drama que faz parte do código
genético da base parlamentar de apoio ao Governo, houve zangas, insultos,
ameaças, pequenas traições, insinuações e provocações, mas no final do enredo,
António Costa, o herói da fita, acabou por sobreviver a todos os problemas e
apareceu sorridente com quatro dedos em riste a sinalizar outros tantos
orçamentos aprovados.
É obra, ainda que imperfeita
– o Orçamento de 2019 continua a ser
um exercício em que há um claro desequilíbrio
entre as respostas aos problemas do Estado e da função pública e as
que têm como destino a economia e o sector privado.
A encenação faz parte do jogo parlamentar, mas, desta vez, a
necessidade dos partidos de fazerem barulho para serem notados pelo eleitorado
chegou a níveis surreais. Impávidos e serenos, o Governo e o PS
impuseram, no essencial, as suas regras, porque, como notou Carlos César, “os
partidos, pródigos nas promessas, tornaram-se, afinal, mais acanhados, quando
se tratou de as fazer valer”.
E foi fácil ao Governo sobreviver à torrente de quase mil propostas de alteração, porque,
na verdade, a maioria dessas propostas tinha como único objectivo fazer prova
da existência da oposição. Do voto sobre vacinas sem qualquer parecer
científico à inacreditável imposição de uma agenda negocial ao Governo com os professores
cuja única utilidade é ficar bem com essa determinante classe eleitoral, houve
de tudo um pouco. Até touradas.
Não é, no entanto, a dissimulação que leva o Bloco a criticar a “soberba” do PS ou o PCP a
invocar o horror da atenção concedida à dívida para depois votarem de cruz o
Orçamento que merece ser destacada por estes dias. Com
todos os seus riscos, com todas as suas evidências de que este Governo é
prisioneiro do ciclo curto, com todas as incertezas sobre a conjuntura
internacional que o Orçamento descura, com todos os golpes de teatro no IVA
ou nas coligações negativas, facto é
que António Costa e o seu Governo vão mesmo cumprir a legislatura, facto é que
o PCP e o Bloco revelaram uma disposição para o compromisso surpreendente.
Agora, e ao contrário do
aviso de Catarina Martins, a campanha eleitoral vai começar.
Esperemos que fique a salvo das tentações eleitoralistas que os partidos já
começaram a esboçar na aprovação do Orçamento.
III - COMENTÁRIOS:
José Cruz
Magalhaes, Lisboa 30.11.2018: Nenhum dos partidos com
representação parlamentar estava empenhado em outra coisa que não fosse a
aprovação do OE para 2019. No último
ano da legislatura, todos aproveitaram a discussão e a votação na especialidade
para deixarem a sua marca, em medidas adicionais que satisfaçam as estratégias
eleitorais a desenvolver. À esquerda, a continuação da pressão sobre o governo
para diminuição da desigualdade e contenção da miséria e, à direita, o
desempenho oscilante entre a cavalgada da onda populista e o irresistível papel
de"fazer de morto".
CHINTZ,
Porto 30.11.2018: O que serão as coligações positivas e as
coligações negativas? Estou com uma curiosidade! A esquerda beneficia dos
milhões dos contribuintes para comprar milhões de votos dos subsidiados. Como
qualquer dia já haverá mais subsidiados que contribuintes, a esquerda já era,
morreu de demagogia. A direita nem precisa de fazer campanha, só precisa de gente
inteligente e com pulso, poucos.
rvasconcelos, 30.11.2018: Essa
do filme indiano é pela ordem goesa? Só cá faltava!
AndradeQB,
Porto 30.11.2018: Se as tentações eleitoralistas forem
lembrando os calotes do Estado, é que vai dar que lembrar. Não vão, por
exemplo, os alunos carenciados com direito a bolsas, e cuja primeira tranche
lhes foi dividida a meio adiando o pagamento da outra parte para 2019, quererem
receber as próximas tranches antes de 2020 ou 2021.
Domnall Mór
Ua Briain, King of Munster30.11.2018: As bolsas, lá pelo início dos anos 90 eram
pagas todos os meses, não eram "tranchadas", mas até 1994 entre
seguro escolar e propinas pagavam-se mil escudos por ano para estudar na
universidade. As universidades portuguesas sentavam-se entre as 100 melhores do
mundo, hoje ficam abaixo das 300 melhores. Nada do que se passa hoje numa
universidade portuguesa faz sentido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário