segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Contra o silêncio e a toleima, a anedota sem papas na língua



É Salles da Fonseca que a envia, e utilizo-a na resposta a dois comentadores de um preocupado articulista do OBSERVADOR, JOÃO CARLOS ESPADA, contra a indiferença portuguesa na questão do alastramento económico e político chinês sobre as democracias ocidentais, Portugal em honroso segundo lugar na escala do alastramento, em primeiro, certamente, na do desconhecimento e indiferença no caso; e também – e sobretudo - contra a perversidade tola de dois comentadores - Geraldo Sem Pavor e Diego Maradona comprovativos de estultícia apurada. Merecem ambos a moca, e não virtual, embora não se trate, neste caso, da misoginia anedótica, própria da nossa arrogância machista, segundo a corajosa lei do mais forte…
I - A China, o Ocidente e o silêncio entre nós /premium
JOÃO CARLOS ESPADA  OBSERVADOR, 3/12/2018
Recordando a pergunta de Churchill em 1938: Não temos nós uma ideologia própria na liberdade, numa Constituição liberal, no governo democrático e parlamentar, na Magna Carta e na Petição de Direitos?
Chega amanhã a Lisboa o Presidente (vitalício) da República Popular da China, Xi Jinping, que é também o líder do partido comunista chinês e da comissão que dirige as forças armadas daquele país. E é no mínimo surpreendente o silêncio que entre nós se faz sentir acerca do intenso debate que vem ocorrendo no Ocidente sobre a ameaça crescente da China comunista na ordem internacional.
Já aqui dei conta, em Maio passado, deste nosso intrigante silêncio sobre as preocupações ocidentais face à estratégia global chinesa. Lamento ter de voltar a assinalar hoje a permanência desse silêncio desagradável.
Não é possível resumir aqui o intenso debate que está a ocorrer no Ocidente sobre as ameaças da estratégia global chinesa. Mas algumas breves referências são possíveis. Ainda na passada sexta-feira, 30 de Novembro, Ivan Krastev escrevia em The New York Times que, após 3 meses em Washington, uma das principais conclusões que retirara dizia respeito à China:
Republicanos e Democratas discordam hoje em quase tudo, mas uma área em que parece existir efectiva convergência bi-partidária é sobre a necessidade de mudar a política americana face à China. (…) O autoritarismo chinês é hoje um adversário das democracias liberais muito mais perigoso do que o comunismo soviético alguma vez foi”.
Nem de propósito, no dia anterior, em The Washington PostCarl Gershman, presidente do National Endowment for Democracy criado em 1982 pelo Presidente Reagan, denunciava o autoritarismo expansionista chinês e apelava a um entendimento bi-partidário para lhe fazer frente. Nesse mesmo dia, The Wall Street Journal publicava um apelo de 32 académicos americanos para maiores restrições à concessão de vistos a jornalistas e académico chineses — como resposta ao controlo chinês sobre a entrada de académicos americanos.
Dois dias depois, 1 de Dezembroa capa da revista britânica The Economist era mais uma vez sobre a China — desta feita sobre a concorrência desleal chinesa na área tecnológica. Na edição da semana anterior, 24 de Novembro, The Economist dedicava um denso artigo ao Gulag chinês de Xinjiang um gigantesco campo de “transformação pela educação” onde se encontram detidos sem julgamento cerca de um milhão de chineses muçulmanos, maioritariamente da etnia Uighur.
Há duas semanas, a China era também tema de capa da revista britânica The Spectator. Dois artigos davam conta do aterrador sistema tecnológico de controlo pelo estado chinês dos mais ínfimos comportamentos dos cidadãos — o chamado sistema de “crédito social”.
Trata-se de um gigantesco “Big Brother” que já está em curso. “A Inteligência Artificial é indispensável para a manutenção da estabilidade social”, diz o governo comunista chinês. E a IA está a ser usada sem escrúpulos, e sem controlo por entidades independentes, para registar as compras, os telefonemas, as consultas na internet, e tudo o mais que (não) se possa imaginar acerca das escolhas dos cidadãos. Em conclusão, escreve Charles Parton em The Spectator:
“Qualquer pessoa que seja considerada anti-social (ou anti-partido comunista) será impedida de adquirir bilhetes de comboio ou avião, obter um empréstimo para comprar casa ou mesmo estudar na universidade. (…) O Tribunal Supremo anunciou que 6,7 milhões de pessoas foram proibidas de comprar bilhetes de avião e de comboio”.
Estes e muitos outros aspectos do autoritarismo expansionista chinês são tratados em profundidade num dossier especial da edição de Abril da revista trimestral norte-americana Journal of Democracy. Oito artigos, em cerca de 78 páginas, analisam os vários aspectos da política interna e externa chinesa. Todos convergem na mesma conclusão de que “a política externa chinesa abraçou uma nova estratégia com o objectivo de minar a ordem liberal ocidental, promover a hegemonia chinesa na Ásia e a expansão da influência chinesa à escala mundial”.
Portugal, diz a mais recente edição do semanário Expresso num tom oblíquo, é o maior destinatário europeu do investimento chinês, depois da Finlândia. O mesmo jornal vai depois “pescar” um desconhecido professor de Cambridge (“the other place”, costuma ser dito) que elogia o “pragmatismo” de Portugal [democrático, eu acrescento] e da China [comunista, também acrescento eu]. Perante esta complacência nativa face ao expansionismo chinês, é caso para recordar a pergunta de Winston Churchill em 1938 face à dupla ameaça nacional-socialista (mais conhecida por nazi) e comunista: “Não temos nós uma ideologia própria — se tivermos de usar esta horrível expressão, ‘ideologia’ — não temos nós uma ideologia própria na liberdade, numa Constituição liberal, no governo democrático e parlamentar, na Magna Carta e na Petição de Direitos?”
Comentários:
Rui Lima: Raramente falado no ocidente aquele que é o mais tenebroso e avançado controlo ditatorial da história da humanidade . “— o chamado sistema de “crédito social”. Só posso agradecer JCE , de o colocar no seu artigo, falo do assunto em Portugal na Europa e toda a gente desconhece ,o terror do sistema de pontuação utilizando o reconhecimento facial é aterrador. Das escolas dos filhos ao emprego tudo vai influenciar ,( estou numa sala para uma entrevista de emprego há uma câmara ,quando chego a entrevista já sabem tudo dos hábitos alimentares as opções sexuais das multas de trânsito a minha religião como ir nu ) Não há mais fuga possível o máximo de tempo sem ser detetado foi de 5 minutos. George Orwell não teve imaginação ao escrever 1984 ,ficou muito aquém da realidade de hoje .
Geraldo Sem Pavor: Não se entende o propósito de JCE. Deve-se depreender que Portugal não deveria receber o chefe de estado chinês? Ou e do investimento que JCE fala? Questiona-se o facto de se ter privatizado empresas para as vender a casa uma autocracia? Seria útil o artigo poder ser mais explícito na mensagem...
Diego Maradona: Mais China e menos EUA. Mais cooperação e menos subjugação. Mais equipamentos e menos bases militares. Os investimentos chineses são bem-vindos. Basta analisar os investimentos até agora.
Carlos Martins > M.Diego Maradona: Está no seu direito de trocar a liberdade por patacos. Mas não presuma que todos nós estamos despidos de princípios e de respeito pela liberdade. O seu discurso é típico de alguém que vende a liberdade por uma malga de sopa. Devia ter vergonha na cara.
Diego Maradona > Carlos Martins M.: Desculpe mas não compreendo o seu raciocínio. A China ataca a liberdade de algum país? Não estamos a falar dos estados unidos, meu caro.
II – ADIVINHA –( Dezembro de 2018)
PERGUNTA: Qual é na actualidade a Civilização mais misógina e em que os homens revelam um profundo temor da putativa infidelidade feminina (vulgo, complexo de corno)?
PRÉMIOS:
1º - Dose dupla de compaixão que conduza o ganhador deste «concurso» a reforçar a crítica à misoginia alheia;
2º - Dose dupla de paciência para aturar tanta estupidez que por aí anda à solta;
3º - Uma moca virtual de Rio Maior para afugentar as moscas das cabeças misóginas.

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