É Salles da Fonseca
que a envia, e utilizo-a na resposta a dois comentadores de um preocupado articulista
do OBSERVADOR, JOÃO CARLOS
ESPADA, contra a indiferença portuguesa na questão do
alastramento económico e político chinês sobre as democracias ocidentais, Portugal
em honroso segundo lugar na escala do alastramento, em primeiro, certamente, na
do desconhecimento e indiferença no caso; e também – e sobretudo - contra a
perversidade tola de dois comentadores - Geraldo
Sem Pavor e Diego Maradona comprovativos
de estultícia apurada. Merecem ambos a moca, e não virtual, embora não se trate,
neste caso, da misoginia anedótica, própria da nossa arrogância machista,
segundo a corajosa lei do mais forte…
I - A China, o Ocidente e o silêncio entre nós /premium
Recordando
a pergunta de Churchill em 1938: Não
temos nós uma ideologia própria na liberdade, numa Constituição liberal, no
governo democrático e parlamentar, na Magna Carta e na Petição de Direitos?
Chega amanhã a Lisboa o Presidente (vitalício) da República Popular
da China, Xi Jinping, que é também o
líder do partido comunista chinês e da comissão que dirige as forças armadas
daquele país. E é no mínimo
surpreendente o silêncio que entre nós se faz sentir acerca do intenso debate
que vem ocorrendo no Ocidente sobre a ameaça crescente da China comunista na
ordem internacional.
Já aqui dei conta, em Maio passado, deste
nosso intrigante silêncio sobre as preocupações ocidentais face à estratégia
global chinesa. Lamento ter de voltar a assinalar hoje a permanência desse
silêncio desagradável.
Não é possível resumir aqui o intenso debate que está a ocorrer no
Ocidente sobre as ameaças da estratégia global chinesa. Mas algumas breves
referências são possíveis. Ainda na passada sexta-feira, 30 de Novembro, Ivan
Krastev escrevia em The
New York Times que, após 3 meses em Washington, uma das principais
conclusões que retirara dizia respeito à China:
“Republicanos e Democratas
discordam hoje em quase tudo, mas uma área em que parece existir efectiva
convergência bi-partidária é sobre a necessidade de mudar a política americana
face à China. (…) O autoritarismo chinês é hoje um adversário das democracias
liberais muito mais perigoso do que o comunismo soviético alguma vez foi”.
Nem de propósito, no dia anterior, em The Washington Post, Carl
Gershman, presidente do National Endowment for Democracy criado em 1982
pelo Presidente Reagan, denunciava o
autoritarismo expansionista chinês e apelava a um entendimento bi-partidário
para lhe fazer frente. Nesse mesmo dia, The Wall Street Journal publicava um
apelo de 32 académicos americanos para maiores restrições à concessão de vistos
a jornalistas e académico chineses — como resposta ao controlo chinês sobre a
entrada de académicos americanos.
Dois dias depois, 1 de Dezembro, a capa da
revista britânica The Economist era mais uma vez
sobre a China — desta feita sobre a concorrência desleal chinesa na área
tecnológica. Na edição da semana anterior, 24 de Novembro, The
Economist dedicava um denso artigo ao
Gulag chinês de Xinjiang — um gigantesco campo de “transformação pela educação” onde se encontram
detidos sem julgamento cerca de um milhão de chineses muçulmanos,
maioritariamente da etnia Uighur.
Há duas semanas, a China era também tema de capa
da revista britânica The Spectator.
Dois artigos davam conta do aterrador
sistema tecnológico de controlo pelo estado chinês dos mais ínfimos
comportamentos dos cidadãos — o chamado sistema de “crédito social”.
Trata-se de um gigantesco “Big
Brother” que já está em curso. “A
Inteligência Artificial é indispensável para a manutenção da estabilidade
social”, diz o governo comunista chinês. E a IA está a ser usada sem escrúpulos, e sem controlo por entidades
independentes, para registar as compras, os telefonemas, as consultas na
internet, e tudo o mais que (não) se possa imaginar acerca das escolhas dos
cidadãos. Em conclusão, escreve Charles Parton em The Spectator:
“Qualquer pessoa que seja considerada anti-social (ou anti-partido
comunista) será impedida de adquirir bilhetes de comboio ou avião, obter um
empréstimo para comprar casa ou mesmo estudar na universidade. (…) O Tribunal
Supremo anunciou que 6,7 milhões de pessoas foram proibidas de comprar bilhetes
de avião e de comboio”.
Estes e muitos outros aspectos do
autoritarismo expansionista chinês são tratados em profundidade num dossier especial da edição de Abril da
revista trimestral norte-americana Journal of Democracy. Oito artigos, em cerca de 78 páginas,
analisam os vários aspectos da política interna e externa chinesa. Todos
convergem na mesma conclusão de que “a
política externa chinesa abraçou uma nova estratégia com o objectivo de minar a
ordem liberal ocidental, promover a hegemonia chinesa na Ásia e a expansão da
influência chinesa à escala mundial”.
Portugal, diz a mais
recente edição do semanário Expresso num tom oblíquo, é o maior
destinatário europeu do investimento chinês, depois da Finlândia. O mesmo jornal vai depois “pescar” um
desconhecido professor de Cambridge (“the other place”, costuma ser dito) que elogia o “pragmatismo” de Portugal
[democrático, eu acrescento] e da China [comunista, também acrescento eu].
Perante esta complacência nativa face ao expansionismo chinês, é caso para
recordar a pergunta de Winston Churchill em 1938 face à dupla ameaça
nacional-socialista (mais conhecida por nazi) e comunista: “Não temos
nós uma ideologia própria — se tivermos de usar esta horrível expressão,
‘ideologia’ — não temos nós uma ideologia própria na liberdade, numa
Constituição liberal, no governo democrático e parlamentar, na Magna Carta e na
Petição de Direitos?”
Comentários:
Rui Lima: Raramente
falado no ocidente aquele que é o mais
tenebroso e avançado controlo ditatorial da história da humanidade . “— o
chamado sistema de “crédito social”. Só posso agradecer JCE , de o
colocar no seu artigo, falo do assunto em Portugal na Europa e toda a gente
desconhece ,o terror do sistema de pontuação utilizando o reconhecimento facial
é aterrador. Das escolas dos filhos ao emprego tudo vai influenciar ,( estou
numa sala para uma entrevista de emprego há uma câmara ,quando chego a
entrevista já sabem tudo dos hábitos alimentares as opções sexuais das multas
de trânsito a minha religião como ir nu ) Não há mais fuga possível o máximo de
tempo sem ser detetado foi de 5 minutos. George Orwell não teve imaginação ao
escrever 1984 ,ficou muito aquém da realidade de hoje .
Geraldo Sem Pavor: Não se entende o propósito de JCE. Deve-se
depreender que Portugal não deveria receber o chefe de estado chinês? Ou e do
investimento que JCE fala? Questiona-se o facto de se ter privatizado empresas
para as vender a casa uma autocracia? Seria útil o artigo poder ser mais
explícito na mensagem...
Diego Maradona: Mais China e menos EUA. Mais cooperação e menos subjugação. Mais equipamentos e menos bases militares. Os investimentos chineses
são bem-vindos. Basta analisar os investimentos até agora.
Carlos Martins > M.Diego Maradona: Está no
seu direito de trocar a liberdade por patacos. Mas não presuma que todos nós
estamos despidos de princípios e de respeito pela liberdade. O seu discurso é
típico de alguém que vende a liberdade por uma malga de sopa. Devia ter
vergonha na cara.
Diego Maradona > Carlos
Martins M.: Desculpe mas não
compreendo o seu raciocínio. A China ataca a liberdade de algum país? Não estamos
a falar dos estados unidos, meu caro.
II – ADIVINHA –( Dezembro de 2018)
PERGUNTA: Qual é na actualidade a Civilização mais misógina e em que os
homens revelam um profundo temor da putativa infidelidade feminina (vulgo,
complexo de corno)?
PRÉMIOS:
1º - Dose dupla de compaixão que conduza o
ganhador deste «concurso» a reforçar a crítica à misoginia alheia;
2º - Dose dupla de paciência para aturar tanta
estupidez que por aí anda à solta;
3º - Uma moca virtual de Rio Maior para
afugentar as moscas das cabeças misóginas.
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