sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Sem remédio


Mais uma arremetida quixotesca de JMT - e seus comentadores - contra moinhos de vento que vão moendo estranhos processos de vivência neste país de muitos gigantes na sobrevivência:
OPINIÃO -  Freitas do Amaral loves Ricardo Salgado
Há textos que explicam um regime inteiro, e um desses textos foi publicado por Diogo Freitas do Amaral no PÚBLICO de quarta-feira.
JOÃO MIGUEL TAVARES    PÚBLICO, 22 de Dezembro de 2018
Os senhores de colete amarelo, que ontem se manifestaram pelo país a atravessar passadeiras com grande empenho, fartaram-se de resmungar diante das câmaras de televisão acerca dos políticos e do tamanho da Assembleia da República – mas para quem quer realmente perceber Portugal, os jornais continuam a ser bastante mais úteis do que as manifestações. Há, aliás, textos que explicam um regime inteiro, e um desses textos foi publicado por Diogo Freitas do Amaral no PÚBLICO de quarta-feira. Chamava-se “BES e GES – um só responsável? Novos ataques a Ricardo Salgado”, e lê-lo com alguma atenção é perceber como é que Salgado foi possível, como é que a queda do BES foi possível, como é que Sócrates foi possível, como é que a bancarrota foi possível, como é que Zeinal Bava foi possível, como é que a queda da PT foi possível, e por aí fora. E tudo foi possível, em primeiro lugar, por causa da cupidez dos próprios; e, em segundo lugar, por causa de políticos – melhor: de senadores – como Diogo Freitas do Amaral.
A teoria de Freitas do Amaral é fácil de resumir em três pontos. 1) Ricardo Salgado não fez tudo sozinho. 2) Há mais responsáveis pela queda do BES, incluindo o governador do Banco de Portugal e Passos Coelho, que o queria substituir por José Maria Ricciardi (porque é que não o substituiu, então, é mistério que fica por explicar). 3) Se o governo da altura tivesse dado uma mãozinha, o banco ainda aí estaria, todo forte e viçoso. A interligar os vários pontos estão duas ou três teorias da conspiração delirantes, mais aquele provérbio português que é sempre piamente evocado nestas situações: não se bate em quem está no chão. Devo dizer que me apetece sempre bater em quem nestes contextos diz que não se bate em quem está no chão. Para Salgado, o chão, no presente, é uns motoristas, umas secretárias, umas assessoras e talvez umas empregadas a menos. Já o chão, para mim, é o Linhó.
Contaram-me que Ricardo Salgado, após sair do BES, instalou o seu gabinete (coitadinho) no Hotel Palácio do Estoril, onde todos os dias era servido por um funcionário do hotel que tinha perdido as suas poupanças na queda do banco. Estar no chão, para os Salgados e os Sócrates desta vida, é andar dez e 15 e 20 anos a lutar na justiça, continuando a almoçar em restaurantes Michelin e a fazer férias em hotéis de cinco estrelas. Tudo isso graças a leis que políticos como Freitas do Amaral fizeram, e à forma como advogados pagos com dinheiro tantas vezes adquirido de forma ilegal conseguem multiplicar as manobras dilatórias, até ao ponto de os clientes já estarem demasiado velhos ou demasiado doentes para ir para a cadeia.
Ricardo Salgado não é, com certeza, o único responsável pela queda do BES. Mas é o maior. E a quilométrica distância de todos os outros. Ele era – mesmo – o Dono Disto Tudo, e entre redes financeiras, redes políticas e redes familiares, tinha meio país na mão. Como eu não conseguia explicar o despropósito do texto de Freitas do Amaral, fui à Wikipédia. No capítulo “família” encontrei isto: “Filho de Duarte Pinto de Carvalho Freitas do Amaral e de sua mulher, Maria Filomena de Campos Trocado, sobrinha-bisneta do 1.º Barão da Póvoa de Varzim. Casou em Sintra, a 31 de Julho de 1965, com Maria José Salgado Sarmento de Matos, escritora, com o pseudónimo de Maria Roma, sobrinha paterna de Henrique Roma Machado Cardoso Salgado e prima-irmã do banqueiro Ricardo Salgado.” Bendita Wikipédia, que nos ensina tantas coisas.
COMENTÁRIOS
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José Teixeira Gomes, Porto 24.12.2018: Na "mouche" João Miguel! Depois de tudo o que os portugueses viveram nos últimos anos, o texto do Sr Amaral é obsceno!
CHINTZ,  Porto 23.12.2018:: Salgado teve a sorte de encontrar o rei dos corruptos, Sócrates. Sem poder mexer os cordelinhos que faziam Sócrates dançar, Salgado não tinha conseguido nada. Ambos gozam de boa saúde e estão a banhos. Os milhões aldrabados pelo duo estão mal mas esta é a justiça dos tempos socialistas. Milhões de portugueses gostam.
Carla Moreira, 23.12.2018: Custa a acreditar naquilo em que se converteu esta figura sinistra chamada Freitas do Amaral. Obrigada, JMT!
António Cunha,  22.12.2018: O texto de Freitas do Amaral veio expor um ponto muito sensível às vozes da extrema direita: a infantilização da narrativa 'saída limpa' e as incongruências diabólicas do governo da direita radical de Passos, Portas, Albuquerque e Louçã. Temos pena. Responder
Rebelde, Aveiro 23.12.2018: Quê? Alguém entendeu?
Esnor-Escoramentos do Norte Lda, 23.12.2018: O que é que o governo de Passos Coelho tem a ver com a extrema direita? Que se saiba foi o único que lhe fez frente e acabou com a pilhagem ignóbil desse trafulha do Salgado.
Visitante da Noite En un lugar de La Mancha, ou por aí perto 22.12.2018: O artigo do Freitas deu-me vergonha alheia. O texto do JMT é absolutamente demolidor e era necessário. Parabéns!
Aónio Eliphis,  Algures nos pólderes da ordem de Orange! 22.12.2018: JMT a incorrer na falácia do argumento ad hominem. O que é que intetessa as relações familiares de Freitas do Amaral? Também posso dizer que os argumentos de JMT anti-Sócrates são inválidos, porque o último colocou sobre o primeiro um processo de difamação?
Álvaro Athayde, Coimbra 22.12.2018: O que acho e não acho normal: 1. Acho normal que uma pessoa defenda um familiar que considera estar sendo injustamente acusado, ou vítima de um ‘linchamento mediático’. 2. Não acho normal que o faça sem assumir claramente que é isso que está fazendo. Acontece que foi exactamente isso que Diogo Freitas do Amaral e Miguel Sousa Tavares fizeram. Os gregos que inventaram o termo ‘oligarquia’  para designar “uma forma distorcida, degenerada e negativa de ‘aristocracia’” estavam cheio de razão, os melhores não fazem coisas destas.  Quanto ao resto…  [1]  Acho que João Miguel Tavares está cheio de razão quando afirma que os Sistema Ultra-Garantístico vigente tem como consequência que, na prática, exits uma Justiça para Ricos e uma justiça para pobres.? [2] Acho que João Miguel Tavares faz mal em embarcar na onda do linchamento mediático de Ricardo Salgado.?[3] Acho que o ambiente de “denúncia institucionalizada” e de “linchamento mediático” em que vivemo é, esse sim “Uma Questão de Civilização”.
nelsonfari, Portela-Loures 22.12.2018 Falando também de parentesco: a filha de Miguel Sousa Tavares, Rita Sousa Tavares, é casada com um filho de Salgado. Compadres, portanto. JMT está a meio caminho entre os advogados agregados em Sociedades que nos minam a vida e a Plataforma de crowdfunding de que os enfermeiros se estão a servir para fintarem a trindade Governo-Patrões-Sindicatos. Passo a explicar: o ISF da França que fez saltar para a ribalta os "Gilets Jaunes" está na base da revolta. Mas é preciso contar a história: O ISF foi suprimido mas em sua substituição foi erigido o IFI (Imposto sobre a fortuna imobiliária). Em suma: o que conta é a tributação sobre o imobiliário, uma grande abébia para quem detenha activos financeiros que, ao abrigo da Lei, podem ser incorporados como "bens profissionais" e serem considerados como activos das empresas detidas pelos ricos. Uma jogada da classe dominante em ordem à "financeirização da economia". Jogos jurídicos... Ora, tudo isto encerra ensinamentos para Tiago Caiado Guerreiro, Morais Sarmento e José Miguel Júdice, advogados de negócios. Os enfermeiros, fartos do jogo estéril da trindade atrás referida, fizeram inovação social na luta sindical, na esteira de Nuno Markle. O duo CGTP/UGT que se acautele e, por tabela, os partidos que ditam as regras dentro destas estruturas. Pode ser uma viragem - reconheça-se engenho nisto (os privados estão a interferir? Teoria duvidosa). Os dois lados da luta estão aqui representados: à argúcia dos advogados de negócios contrapõem os enfermeiros uma nova forma de pressão social. Onde está JMT nisto tudo? JMT é lento, o Freitas, da Quinta da Marinha, aluno dilecto de Marcelo Caetano, familiar e vizinho de Salgado...Estão no mesmo saco. JMT foi curto... Isso pode ser verificado, embora a bastonária tenha garantido que as situações-limite foram todas acauteladas. Do que se trata é que as centrais sindicais estão aburguesadas e não lutam. Até a historiadora Bonifácio, noutro local deste Jornal de hoje, já se conciliou com o que se passa: isto é incontrolável. Eu digo: a causa remota está na década de 80: vide Reagan, Dama de Ferro e a queda do muro e, last but not least. a querida Alemanha, com grandes culpas no cartório dos ditos "social-democratas" (SPD). Os sindicatos têm andado numa actuação estranha: o líder da CGTP assobia para o ar ao declarar que o patronato não franqueia as portas aos órgãos representativos dos trabalhadores.

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