Palavras de uma sensatez sem réplica, de um incentivo sem retorno,
numa ilusão de mudança, que se esbate em
descrença e medo:
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 21.12.18
Hoje
refiro-me ao azedume permanente em que tanta gente só faz reclamar de tudo e de
todos.
Começo
por relembrar um pouco da História de que nós, os portugueses com mais de 60
anos, somos contemporâneos.
Na
juventude, vivemos no Consulado do
Doutor Salazar e faltavam-nos perspectivas num modelo económico subjugado
ao equilíbrio financeiro e ao entesouramento, sem perspectivas de maioridade
política para o cidadão comum; no tempo do Professor Marcelo Caetano, nasceu a esperança proporcionada pela «Primavera marcelista» que os ultras, liderados pelo então Presidente Tomás, esmagaram;
seguiu-se o golpe de Estado em 25 de
Abril de 1974 e as loas à liberdade que os comunistas passaram a ter de
prender quem se lhes opusesse.
E
foram estas loas que deram o tom à «Revolução dos Cravos» dizendo-se que
acabara com «a
longa noite fascista».
Independentemente
da verdade histórica, o que vingou foi um discurso generalizado de incentivo à
reivindicação das liberdades individuais que culminou num ambiente em que tudo
eram direitos e as obrigações eram alheias, nunca do próprio.
E
a luta política, fazendo-se entre os comunistas que falavam nas «mais amplas
liberdades» e os Partidos democráticos que apregoavam a liberdade como conceito
unicitário, criou uma cultura
de facilitismo que rapidamente degenerou na irresponsabilidade em que todos
viam cerceamentos aos respectivos direitos nas mais ténues regulamentações e
viam arbitrariedades nos resquícios decisórios de gestão corrente tanto da
coisa pública como da privada.
Em
suma, mesmo inconscientemente, criou-se uma geração libertária, avessa a qualquer espécie de autoridade em que
todas as tentativas de ordenamento eram equiparadas a fascismo.
Entretanto,
as gerações seguintes foram educadas por esses libertários e o sentimento de
revolta contra o cerceamento de direitos assentou arraiais no comportamento
geral.
«Ninguém pode fazer nada que me incomode pois
isso é limitar a minha liberdade.»
«Ninguém
pode dizer-me coisas diferentes daquelas que eu quero ouvir porque isso é
manipular-me.»
E
o azedume manifesta-se constantemente nas mais corriqueiras
situações, no ambiente criado pelo incentivo à revolta nos diversos meios da
comunicação geridos por «netos da
revolução» prenhes de irresponsabilidade social.
Com
a agravante da hegemonia entretanto alcançada pelos hedonistas, filhos da
pós-modernidade, esses que tudo querem
JÁ e que não olham a meios para
alcançarem os seus próprios fins à custa dos direitos alheios dando mesmo
largas a tais desejos no exercício do saque público.
Solução?
Para além da actuação policial imediata, creio que a solução de
fundo passa pela educação no sentido da responsabilização individual em prol do
bem-comum apesar de isso poder demorar o tempo de várias gerações. E, para
isso, é fundamental que os órgãos da comunicação se autocorrijam.
Dezembro de 2018
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