terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O difícil é governar



O povo está descontrolado, besta-fera delinquente, a pretexto de uns preços que sobem. Lembro o “Allons, enfants de la patrie”, hoje sem significado perante o desacato inominável, embora outras revoltas tenha havido na História Francesa. O discurso de Macron é corajoso e inteligente, dirigido a um povo aguerrido, reconhecendo parte da culpa, mas propondo reformas necessárias. Transcrevo alguns passos desse discurso para apoiar a bela lição de história de Ana Sá Lopes, e bem assim, os comentários de alguns seus leitores. 
Desejo muita sorte a Emmanuel Macron, jovem dinâmico, num país que foi farol no mundo ocidental e que este Presidente parece não querer que se apague. Julgo que o resto do mundo também não. Pelo menos o mundo racional.

I - EDITORIAL    A revolução francesa do século XXI
PÚBLICO, 9 de Dezembro de 2018
O Partido Socialista Europeu reuniu-se este fim-de-semana em Lisboa, com António Costa como anfitrião e vencedor - afinal, conseguiu não só não destruir o PS como até aumentar as esperanças nas próximas legislativas, depois de em 2015 ter ficado atrás da coligação PSD/CDS. 
Em reuniões do passado, aparecia também um senhor chamado François Hollande, que ganhou a presidência de França em 2012, debaixo de um vendaval de expectativas depois de derrotar Nicolas Sarkozy - infelizmente para ele e para os socialistas europeus, elas saíram todas goradas.
Depois da implosão do socialismo francês, apareceu Emmanuel Macron, jovem e belo e capaz de mobilizar as tropas descontentes com os "políticos do sistema". Perante a imagem politicamente envelhecida de Hollande, Macron - que fez parte do governo PSF sem ter sido salpicado pela desgraça - era a luz. A criação do movimento En Marche, quando ainda fazia parte do governo, galvanizou eleitores descontentes com o sistema. Sendo obviamente um homem do sistema, Macron era a coisa mais moderna, desembaraçada e anti-sistema para uma França onde os socialistas agonizavam e Marine Le Pen se impunha como uma líder de massas. 
Mas o dia de glória, como assinala um verso da Marselhesa, não tinha chegado com a eleição de Macron. Há um mal-estar complexo que atravessa a Europa (e as Américas) e para o qual as forças políticas tradicionais não estão a encontrar resposta. Esse mal-estar é tão difuso como os coletes amarelos, uma multidão sem rei nem direcção. A classe média está esgotada e não tem porta-vozes. Em Itália, a implosão do sistema começou mais cedo, com Berlusconni. Salvini é a continuação do mesmo filme. 
Se o anteriormente fabuloso Macron sair derrotado da revolução francesa dos coletes amarelos, abre-se a caixa de Pandora que até agora os franceses tinham conseguido travar: a ascensão de Marine Le Pen ao poder. Infelizmente, a caixa parece já razoavelmente aberta. E não há um socialista francês que possa aparecer na reunião do Partido Socialista Europeu com um programa para travar a emergência da extrema-direita no coração da Europa. E essa falência socialista é um dos problemas mais graves do continente. 
COMENTÁRIOS:
nelsonfari, Portela-Loures 09.12.2018 : E veja, cara Jornalista, como Merkel começa a sair sorrateiramente quase pela porta dos fundos...A intransigência alemã em não querer aprofundar a convergência na Zona Euro deu nisto...O engraçado é que os burocratas de Bruxelas continuam afinados como se fossem uma orquestra enquanto o Euro feito Titanic está a afundar...E agora toca aos grandes: Itália, Reino Unido e, agora, a França...Vai trazer recessão à segunda economia do Euro este protesto dos "Gilets Jaunes", talvez ao nível de 1968 e também os da década de 90 com a reestruturação das reformas...Macron. o que lhe terá passado pela cabeça, quando suprimiu o ISF, imposto sobre as grandes fortunas, privando os cofres do Estado francês em cerca de três mil milhões de euros? Está a pagar bem caro a sua obediência aos Rothschild e outros
bento guerra, 09.12.2018 Ontem vi ,na televisão,um.pequeno carro vermelho.a ser virado pelos chamados "gilets jaunes" que de seguida queimaram. Essa é revolução.francesa.de 2018.Leitura politica: excesso de liberdades, a vantagem dos cobardes
João Borges, Porto 09.12.2018: Tudo o que não é socialista e comuna é da "extrema".... dizem, "extrema direita". Que conveniente!!!!
CHINTZ, Porto 09.12.2018: Se o socialismo falir foi por obra sua. É um sistema demagógico, irresponsável, comedor de impostos, criador de inúteis, exemplificador de corrupção e ladroagem. Tem de cair para a Europa se reencontrar.
AndradeQB: Porto 09.12.2018 A tese do momento, de que os discursos da reunião socialista, são exemplo, é a de que o que é preciso é "explicar" e dar esperança aos descontentes, enquanto se lhes continua a cavar a cova. Algo me diz que haverá muitos que preferirão fazer algum barulho antes de serem enterrados. Continuar a apresentar o capital, e os malvados patrões como os exploradores dos trabalhadores já não cola. Já muita gente se deu conta que trabalhadores e patrões estão no mesmo barco, enquanto que quem governa, dita regras e regrinhas, taxas e taxinhas (partidos, multinacionais e empresas embrulhadas com o Estado) estão noutro. Qualquer reforma terá que reconhecer isto, mas não é essa que quem está no poder quer fazer.
Portela-Loures, 09.12.2018: Trabalhadores e patrões estão no mesmo barco? Os governantes, afinal, governam para si próprios? Os pequenos patrões, quer-se dizer. As multinacionais e os grandes patrões é outra louça. Claro, estes ditos socialistas sabem para quem trabalham. Que descaramento! Os camaradas europeus sabem das golpadas urdidas no Largo do Rato contra o Estado e os contribuintes? PS e não só, PSD e CDS também. Mais um apanhado: Arlindo de Carvalho, no caso BPN, está mais afecto à Lapa. Seis anos de prisão. E de recurso em recurso até...o dinheiro "ganho" dá para estender a toalha...os dinheiros desviados não são recuperados pelo Estado?
Alexandre Abreu, França 09.12.2018: Perguntava eu a Segolene Royal esta 6a: Porque é que, quando os suíços não estão contentes, promovem referendos e os franceses vão para a rua? Relendo os livros de história... Após o Maio de 68, De Gaulle dissolve a Assembleia Nacional, a direita ganha e afinal a massa de protesto pouca ou nenhuma representação obteve... Após o 25 de Abril, quer para a Constituinte quer para as Legislativas, quem ganhou foi o Partido Socialista e não o PCP. O ruído ou agitação de certos movimentos não são obrigatoriamente os mais votados. Se cada uma das questões do caderno do "coletes amarelos" fosse levada a referendo, provavelmente perdia. Aprendamos alguma coisa com os suíços.
Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 09.12.2018: Sempre achei a Suíça e o seu modelo de confederação distribuida e calibrado por consulta direta como a única coisa que teria feito sentido para normalizar um espaço político europeu.
  Portela-Loures 09.12.2018: Os esquemas da representação política tradicional estão esgotados. O que faz sentido é representar e governar com o conhecimento constante e profundo da realidade. Royal e outros são funcionários esgotados e pouco eficientes do sistema. Perceber os "Gilets Jaunes" pelas estatísticas da economia e da sociedade. O resto é blá-blá. Já chega.

II - Passos de um discurso enérgico
(Da Internet)
…… Nous avons tous vu le jeu des opportunistes qui ont essayé de profiter des colères sincères pour les dévoyer. Nous avons tous vu les irresponsables politiques dont le seul projet était de bousculer la République, cherchant le désordre et l’anarchie. Aucune colère ne justifie qu’on s’attaque à un policier, à un gendarme, qu’on dégrade un commerce ou des bâtiments publics. Notre liberté n’existe que parce que chacun peut exprimer ses opinions, que d’autres peuvent ne pas les partager sans que personne n’ait à avoir peur de ces désaccords.
Si je me suis battu pour bousculer le système politique en place, les habitudes, les hypocrisies, c’est précisément parce que je crois plus que tout dans notre pays et que je l’aime et ma légitimité, je ne la tire d’aucun titre, d’aucun parti, d’aucune coterie ; je ne la tire que de vous, de nul autre.
Nombre d’autres pays traversent ce mal vivre qui est le nôtre mais je crois profondément que nous pouvons trouver une voie pour en sortir tous ensemble. Je le veux pour la France parce que c’est notre vocation au travers de l’Histoire d’ouvrir ainsi des chemins jamais explorés pour nous-mêmes et pour le monde.
Je le veux pour nous tous Français parce qu’un peuple qui se divise à ce point, qui ne respecte plus ses lois et l’amitié qui doit l’unir est un peuple qui court à sa perte.
C’est d’abord l’état d’urgence économique et sociale que je veux décréter aujourd’hui. Nous voulons bâtir une France du mérite, du travail, une France où nos enfants vivront mieux que nous. Cela ne peut se faire que par une meilleure école, des universités, de l’apprentissage et des formations qui apprennent aux plus jeunes et aux moins jeunes ce qu’il faut pour vivre libre et travailler.
L’investissement dans la Nation, dans l’école et la formation est inédit et je le confirme.
Mais aujourd’hui, c’est aussi avec notre projet collectif que nous devons renouer. Pour la France et pour l’Europe. C’est pourquoi le débat national annoncé doit être beaucoup plus large. Pour cela, nous devons avant toute chose, assumer tous ensemble tous nos devoirs. Le devoir de produire pour pouvoir redistribuer, le devoir d’apprendre pour être un citoyen libre, le devoir de changer pour tenir compte de l’urgence de notre dette climatique et budgétaire.
Pour réussir, nous devons nous rassembler et aborder ensemble toutes les questions essentielles à la Nation. Je veux que soient posées les questions qui touchent à la représentation ; la possibilité de voir les courants d’opinion mieux entendus dans leur diversité, une loi électorale plus juste, la prise en compte du vote blanc et même que soient admis à participer au débat des citoyens n’appartenant pas à des partis. Je veux que soit posée la question de l’équilibre de notre fiscalité pour qu’elle permette à la fois la justice et l’efficacité du pays. Je veux que soit posée la question de notre quotidien pour faire face aux changements climatiques : se loger, se déplacer, se chauffer. Et les bonnes solutions émergeront aussi du terrain.
Je veux que soit posée la question de l’organisation de l’Etat, de la manière dont il est gouverné et administré depuis Paris, sans doute trop centralisé depuis des décennies. Et la question du service public dans tous nos territoires….


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