E as dúvidas sobre
o desfecho.
I TEXTO: Em directo/ Forças
israelitas matam comandante de unidade especial do Hamas que participou nos
ataques de 7 de outubro
Adel Msmmah liderou ataque ao kibbutz
de Kissufim, onde morreram pelo menos 16 pessoas. Telavive diz que terá morrido
esta madrugada durante um ataque aéreo a Gaza.
Actualizado há
9m
Anadolu via Getty Images
Momentos-chave
As
Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmam ter morto um importante líder militar do
Hamas, responsável por comandar a força de elite Nukhba, dos radicais
islâmicos, na sequência de um ataque aéreo no centro de Gaza esta madrugada.
Numa
mensagem nas redes sociais, pode ler-se que Adel Msmmah participou nos ataques de 7 de outubro, comandando a referida unidade num ataque contra o
kibbutz de Kissufim, que resultou na morte de pelo menos 16 pessoas.
“Depois
disso, Msammah comandou os combates na Faixa de Gaza contra as nossas forças”,
diz a IDF. O ataque que vitimou o líder militar do Hamas ocorreu na região de
Deir al Balah.
II TEXTO:
"Irrealista", "nada
fácil" e levará a uma "guerra prolongada". Vai Israel conseguir
destruir o Hamas?
Governo israelita estipulou que um
dos objectivos da invasão terrestre a Gaza é destruir o Hamas. Especialistas
ouvidos pelo Observador consideram que será muito difícil: e "preço a
pagar será alto".
OBSERVADOR, 01
jan. 2024, 23:132
Índice
Destruir o Hamas: o desafio de que Israel não desiste
O estado do conflito — a superioridade israelita e a
resistência do Hamas
“Não
há soluções mágicas, nem atalhos. Há apenas combates intensos e persistentes. E
nós estamos muito, muito determinados.” Depois de ter visitado na terça-feira,
dia 26, o norte da Faixa de Gaza, onde se encontrou com as tropas do país, o
chefe do Estado-Maior General das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi,
avisava que o conflito na região ia “demorar muitos meses”. “Esta
guerra é necessária e não tem objectivos fáceis de se alcançar”, realçava o
líder militar, garantindo que serão usados “diferentes métodos” para conseguir
concretizar a finalidade estabelecida por Telavive após os ataques
perpetrados a 7 de outubro em território
israelita: destruir e desmantelar o Hamas.
Quase três meses depois dos ataques
em Israel na madrugada de 7 de outubro, que causaram cerca de 1.200 vítimas
mortais, as Forças de Defesa israelitas continuam empenhadas em destruir a
liderança política e militar do Hamas. Não
obstante, como reconheceu Herzi Halevi, a missão não se afigura fácil, mesmo
que tenha havido promessas de “aumentar a presença militar”. Em simultâneo, o
número de vítimas mortais não pára de subir na Faixa de Gaza: mais de 21
mil pessoas, a maioria
delas civis, acabaram por morrer na sequência dos ataques israelitas.
NEWSLETTER
A
catástrofe humanitária na região já levou inclusivamente a que os países
aliados de Israel apelassem a que o governo do país repense a sua estratégia. Mas as autoridades israelitas insistem que o
caminho que têm de seguir passa por destruir o Hamas — se bem que não
estipulem como é que o vão percorrer. Do mesmo modo, o grupo islâmico,
considerado terrorista pelo Ocidente, não se mostra disponível para
enterrar o machado de guerra, continuando a defender-se de um adversário mais
forte. Conta, no entanto, com duas vantagens: conhece bem o terreno e utiliza
táticas inspiradas na guerrilha urbana que dificultam a vida às tropas de
Telavive.
▲ Chefe das Forças de
Defesa de Israel, Herzi Halevi, admite que conflito vai "durar muitos
meses" ATEF SAFADI/EPA
No início de dezembro, já o
Presidente francês, Emmanuel Macron, tinha apontado para a dificuldade de Israel
em destruir o Hamas. “Acho que
está a chegar o momento em que as autoridades israelitas têm de definir mais
claramente qual é o seu objectivo. A destruição total do Hamas? Alguém
acha isso possível? Se sim, a
guerra vai durar dez anos”, advertiu o chefe de Estado, reconhecendo que a
“segurança duradoura” de Israel não pode ser efectivada “à custa de vidas
palestinianas” e do “ressentimento de toda a opinião pública da região”.
O
gabinete de guerra parece indiferente à necessidade de alterar a
estratégia. E a perceção de que é possível destruir o Hamas estende-se a grande
parte a sociedade israelita. Uma sondagem publicada a 19 de dezembro pelo Instituto de
Democracia de Israel mostra que cerca de dois terços da população acredita
que é possível alcançar aquele objectivo.
Tendo
a opinião pública ao seu lado, o governo de Israel parece “determinado” em
continuar a destruir o Hamas, aparentemente indiferente aos custos humanos
causadas na Faixa de Gaza. Ouvidos pelo Observador, quatro especialistas
salientam que será complicado — alguns dizem mesmo impossível — atingir aquele
objectivo, uma vez que o grupo islâmico não é apenas uma formação política com
um braço armado: tem uma motivação ideológica por detrás, estando
igualmente presente na Cisjordânia e noutras partes do Médio Oriente.
“Irrealista.”
É assim que Efrat Asif, membro do Instituto da Liberdade e Responsabilidade da
Universidade israelita de Reichmman, descreve ao Observador o objectivo traçado
pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “O
máximo que Israel pode aspirar é diminuir as capacidades militares do Hamas”, algo
que o país, frisa o professor universitário, já conseguiu parcialmente
atingir. “Mas não na extensão que se esperava originalmente.”
Segundo
este especialista israelita, mesmo com a catástrofe humanitária que subsiste em
toda a Faixa de Gaza, o Hamas ainda tem capacidades para “lançar rockets para
as cidades israelitas e está a lutar de forma feroz contra as Forças de de
Defesa de Israel, matando tropas israelitas numa base diária”. Assim sendo,
Efrat Asif não tem dúvidas que, de momento, a invasão terrestre, começada cerca
de três semanas depois do dia 7 de outubro, está “longe de alcançar” os
objetivos delineados por Benjamin Netanyahu.
Por sua vez, Atalia
Omer, professora universitária de Estudos da Religião,
Conflito e da Paz na Universidade de Notre Dame (localizada no estado
norte-americano do Indiana), considera que há “uma diferença” entre os “objectivos
reais” de Israel e aqueles que são divulgados publicamente. Em declarações ao
Observador, a especialista em conflitos do Médio Oriente preconiza que o Hamas
“não pode ser destruído”, porque a ideia base da criação daquele grupo parte da
“resistência”, encontrando sempre maneiras de se organizar.
▲ Manifestação
no Líbano em solidariedade com os militantes do Hamas AFP VIA GETTY IMAGES
“Não
há uma solução militar, apenas uma política”, afirma
Atalia Omer, esclarecendo que o Hamas engloba “muitas
coisas” e não se reduz a um “braço armado”. Ainda que publicamente Israel
anuncie que visa destruir aquele grupo islâmico, a especialista duvida que o
gabinete de guerra israelita acredite que vai concretizar aquela missão. “Mas os seus reais objetivos parecem estar a ser
cumpridos, nomeadamente a destruição da Faixa de Gaza”, atira, numa alusão à
destruição do Estado Palestiniano, esta que será, de acordo com a
especialista, a finalidade de Telavive.
Já Tamir
Sorek, professor na Universidade Estatal da Pensilvânia especialista
no conflito israelo-palestiniano,
partilha ao Observador a opinião que Telavive “não a está a ter sucesso” em
levar a cabo aquilo que se propôs no início da invasão terrestre. No
entanto, o especialista, com origens árabes israelitas, ressalva logo a seguir
que, “quanto mais dificuldades Israel tiver, mais aumenta o sofrimento da
população de Gaza”.
Apontado
para uma “crise humanitária que está a ganhar dimensões catastróficas com fome
e doenças”, Tamir Sorek admite, contrariamente a Atalia Omer e Efrat Asif,
que “teoricamente” Israel até pode “matar os líderes do Hamas e destruir partes
significativas das infraestruturas” do grupo islâmico. Ainda assim, o preço a pagar será muito alto: “Cria
uma infraestrutura de ódio e vingança” que se manifestará a “longo prazo”. Neste contexto, o universitário questiona-se: “O
que vai acontecer quando todos os líderes do Hamas forem mortos e todos os
túneis forem destruídos?”
▲ Ataques israelitas à Faixa
de Gaza GETTY IMAGES
Com
um raciocínio semelhante, Arman Mahmoudian, docente especialista no Médio Oriente na Universidade
do Sul da Florida, refere ao
Observador que Israel “não é incapaz” de desmantelar e destruir o Hamas, se
bem que até ao momento “o objectivo das Forças de Defesa de Israel ainda não
foi atingido”. “Até agora, os comandantes do Hamas estão vivos e os
militantes continuam os seus ataques com rockets e morteiros contra
Israel.”
Mesmo
que até ao momento Telavive não tenha tido um retumbante sucesso militar, isso
não significa que não o terá no futuro, defende Arman Mahmoudian, que coloca a tónica no “preço que Israel está
disposto a pagar pela vitória”. “Materializar esses objectivos requer uma campanha
militar prolongada, o que significa continuar a ter reservas prontas para
combater e a imposição de uma pressão excessiva na economia israelita.”
O primeiro-ministro israelita frisou igualmente
que a guerra exige que Israel “pague um preço elevado”, não só interna (com os
custos que um conflito acarreta), como também externamente. Mas
Telavive está disposto a pagá-lo, já que Benjamin Netanyahu reforçou que não há
“outra escolha senão lutar”. “Será uma guerra longa até o Hamas ser
eliminado e até restaurarmos a sua segurança. Vamos lutar com todas as forças
até ao final, até a a vitória, até alcançarmos todos os objetivos: a destruição
do Hamas, o retorno dos reféns e assegurar que Gaza nunca mais constituirá uma
ameaça para o Estado de Israel.”
E o Hamas? Como reage?
Ciente de que os ataques de 7 de
outubro causariam uma resposta por parte de Israel, o Hamas parece
não dar sinais de desistir do conflito. Mantendo-se numa posição
praticamente irredutível, o grupo islâmico mantém um trunfo: ainda tem reféns
israelitas (e também de outras nacionalidades) em cativeiro. E já assegurou que
apenas os libertará se se chegar a acordo para um cessar-fogo definitivo.
Possuindo
um complexo industrial-militar poderoso, Telavive deverá continuar a
infligir danos ao Hamas. Isso significa que a população civil também vai
sofrer, dado que uma das estratégias do grupo islâmico passa por se disfarçar
entre a população e construir túneis debaixo de locais como hospitais e campos
de refugiados.
▲ Militantes do Hamas
escondem-se em túneis, o que complica as operações das Forças de Defesa de
Israel ANADOLU AGENCY VIA GETTY
IMAGES
Mas
terá o Hamas capacidade para sobreviver até que Israel o destrua? Efrat Asif
diz que sim, recordando o “sistema extenso de túneis que foram construídos
debaixo de Gaza”. Mas não é só isso: “Há o apoio da população local ao Hamas,
que possui ainda uma estrutura de comando que permite que a organização
funcione mesmo quando os comandantes são mortos”.
Os
militantes do Hamas sabem que podem ser mortos a qualquer momento, daí que
tenham adoptado um sistema bastante fluido no que toca à liderança. Como sinalizou ao New York Times Azzam
Tamimi, jornalista
palestiniano e membro da Irmandade Muçulmana,
a liderança do grupo islâmico sabe que “pode
desaparecer a qualquer momento, porque pode ser morta, presa ou deportada”. Por
consequência, foi desenvolvido “um mecanismo de transferência rápido” do
controlo das operações.
Segundo o que relataram fontes militares
e dos serviços de informações ao jornal norte-americano, as brigadas do braço armado do grupo islâmico estão divididas por
batalhões, cujos membros estão espalhados pelos bairros da Faixa de Gaza. Esta
micro-organização permite um conhecimento do terreno ímpar, o que facilita, por
exemplo, emboscadas às tropas israelitas. Além
disso, o Hamas possui ainda batalhões especializados em disparar mísseis
antitanques, outros a construir túneis e ainda um ramo que se dedica à Força
Aérea.
▲ As
brigadas do braço armado do grupo islâmico estão divididas por batalhões, cujos
membros estão espalhados pelos bairros da Faixa de Gaza. Esta micro-organização
permite um conhecimento do terreno ímpar. ABIR
SULTAN/EPA
Como realça o analista Elliot Chapman
ao New York Times, todos estes factores levam a que Israel tenha praticamente
de ir casa a casa para eliminar a totalidade dos membros do Hamas.
Daí que Arman Mahmoudian sublinhe que “em teoria” o Hamas pode “resistir a uma
guerra longa contra Israel”. “À medida que o conflito mude para um cenário de
guerrilha urbana, a maior vantagem de Israel — as capacidades aéreas —
tornam-se menos eficazes.”
Até o chefe das Forças de
Defesa de Israel reconheceu
que a demolição das infraestruturas do Hamas “não pode ser feita através do ar”. “Estamos a fazer o uso profissional,
racional e calculado dos recursos à nossa disposição e estamos preparados para
a continuação dos combates em todas as arenas”, assegurou Herzi Halevi.
Contudo,
a estratégia de guerrilha urbana poderá nem sempre resultar. Ao Observador,
Arman Mahmoudian recorda que a resistência do Hamas exige um “acesso
contínuo e persistente a uma linha de fornecimento de armas”, o que parece ser
“inviável” que o grupo islâmico mantenha, tendo ainda para mais em conta o
cerco imposto à Faixa de Gaza. O especialista lembra também que um conflito
prolongado originaria que os membros do braço armado “passassem longos períodos
em túneis subterrâneos”, dependendo fortemente de combustível e de bombas de
ar, de que “poderiam eventualmente ficar sem”.
Caso concentrem os recursos e os seus batalhões na guerrilha urbana,
o docente da Universidade do Sul da Florida antevê um desfecho mais positivo
para o Hamas. Como estão “familiarizados com a região”, os militantes do grupo
islâmico “poderiam utilizar as ruínas de guerra em seu benefício, escondendo-se
nelas”.
Numa guerra que está a dilacerar a Faixa
de Gaza, Tamir
Sorek não vê como provável que os palestinianos a residir na
região aceitem a “submissão” a Israel. “Eles vão continuar a lutar”, vaticina o especialista,
mesmo que seja “sob o nome do Hamas ou doutra designação”. “E não há razão para
acreditar que o próximo movimento de vingança palestiniano não será menos
violento e cruel” do que aconteceu a 7 de outubro, adverte.
Sofrendo com o conflito e com
os efeitos do mesmo, a população civil de Gaza aponta o dedo a Israel,
já que o Hamas está a “ganhar força” não só naquela região, como também na
Cisjordânia, constata Atalia Omer. Uma
sondagem publicada no início de dezembro pelo Centro Palestiniano de Pesquisa
de Políticas apurou que o “apoio ao Hamas aumentou na
Cisjordânia de 12% para 44% em três meses; na Faixa de Gaza o aumento passou de
38% para 42%”.
Apesar de a taxa de aprovação do Hamas ter aumentado, a sondagem mostra
que “maioria da população quer da Cisjordânia, quer da Faixa de Gaza, não apoia
o Hamas”, sendo que o
centro de pesquisa escreve que o “apoio ao Hamas normalmente sobe
temporariamente durante ou após uma guerra e depois regressa ao mesmo nível
poucos meses depois da guerra”.
Outro dado importante da
sondagem é que 70% dos 1231 inquiridos acreditam que “Israel
vai falhar a alcançar o objetivo de erradicar o Hamas”. “Apenas
8% acreditam que vai ter sucesso e 21% afirma que Israel vai apenas enfraquecer
o Hamas e a resistência”, lê-se. Para além disso, a maioria (53%) diz que o
objectivo israelita é “destruir a Faixa de Gaza” e “matar e expulsar os
residentes”, ao passo que 42% acredita que Telavive quer “vingar-se do Hamas e
destrui-lo”.
No cenário em que Israel
elimina a liderança político-militar do Hamas na Faixa de Gaza, há um problema
que Telavive terá de enfrentar. É que alguns dos principais rostos
(e também militantes) do grupo islâmico estão espalhados em países como
o Líbano, o Qatar ou a Turquia, o que envolveria operações para matar os
dirigentes no estrangeiro.
▲ Palestinianos
não acreditam que Israel vai conseguir destruir o Hamas HANNIBAL HANSCHKE/EPA
Neste sentido, o Wall Street Journal apurou que
a Mossad — os serviços de informações israelitas — já têm em marcha um plano
para matar os líderes do Hamas noutros países. Porém,
será difícil colocá-lo em prática — e poderá abrir uma verdadeira crise
diplomática entre Israel e essas nações. “A morte deles está marcada”,
assinalou o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, acrescentando que a
luta contra o grupo islâmico é “internacional”, incluindo os “terroristas em
Gaza” e “aqueles que voam em aviões caros”.
O estado do conflito — a superioridade israelita e a
resistência do Hamas
Se é certo que Israel ainda não
cumpriu os principais dois objectivos a que se propôs (a destruição do Hamas e
a libertação dos reféns), isso não significa necessariamente que o país esteja
a perder o conflito. Muito pelo contrário. Há sinais de que a operação militar
está a correr bem às Forças de Defesa de Israel, que, por exemplo, já
asseguraram que controlam praticamente todo o norte da Faixa de Gaza, a
primeira região a ser alvo da ofensiva terrestre, concentrando-se agora mais no
centro e no sul da região.
Na
lógica da destruição do Hamas, Telavive anunciou, no início
de dezembro, que tinha matado metade dos dirigentes do Hamas, um feito que pode
ser considerado uma vitória. No entanto, ainda estão à solta os três homens que
Israel mais quer eliminar: o líder político do grupo em Gaza, Yahya Sinwar; o
líder do braço armado, Mohammed Deif; e o número dois das tropas islâmicas,
Marwan Issa.
▲ Líder político do grupo em
Gaza, Yahya Sinwar, é um dos homens mais preocupados por Israel SOPA
IMAGES/LIGHTROCKET VIA GETT
Até ao momento, as Forças de Defesa
de Israel já destruíram alguns túneis e estimam ter eliminado oito mil
militantes do Hamas — e muitos ficaram feridos ou tornaram-se prisioneiros de
guerra. Em comparação, as baixas entre as tropas israelitas são muito
menores. Desde o início da invasão terrestre, morreram cerca de 165
soldados israelitas e mais de dois mil ficaram feridos.
Como analisa
o jornalista Anshel Pfeffer no jornal Hareetz,
este
é um sinal positivo para as Forças de Defesa de Israel: “Destruíram cerca de metade da capacidade
ofensiva do Hamas, enquanto as perdas não são tão pesadas quando se tem em
consideração a complexidade e a ferocidade da guerrilha urbana”. Apesar das
dificuldades, a superioridade de Telavive no campo de batalha é
clara, ainda que o grupo islâmico até tenha conseguido resistir e utilize
formas de contrariar a força israelita.
A superioridade militar israelita até
pode estar a resultar, mas há dois factores lançam uma sombra de dúvida à
invasão terrestre. A primeira está associada ao sofrimento da população civil —
a ONU já comparou a Faixa de Gaza ao “inferno na terra”; a segunda com a
estratégia, que é apenas baseada na ideia de destruir um grupo com
ramificações militares, políticas e ideológicas, sem haver um plano claro para
o futuro da região.
“O que vai acontecer quando todos os líderes do Hamas
forem mortos e todos os túneis forem destruídos? Israel não oferece qualquer
visão que possa dar esperança à Palestina”,
denuncia Tamir Sorek, que vai mais longe e atira: “O slogan de ‘Destruir o Hamas’ apenas serve
para tapar a falta de visão israelita a longo prazo”.
Não é só nos territórios
palestinianos que esta “falta de visão a longo prazo” de Israel está a
incomodar. Os aliados israelitas, em particular os Estados Unidos, estão a pressionar o governo
israelita a tentar aceitar que uma Autoridade Palestiniana
“revitalizada” governe a Faixa de Gaza após a guerra. Sem embargo, o plano não
agrada a Israel, que defende que apenas as Forças de Defesa do país têm
capacidade para o fazer.
No
meio desta indefinição, Efrat Asif acredita
que Israel está “sob uma pressão internacional enorme” para chegar a
um cessar-fogo e minimizar o número de vítimas civis na Faixa de Gaza. “Isto
significa que esta guerra vai acabar mais cedo do que Israel gostaria”,
atreve-se a antecipar o especialista, um cenário que contraria os discursos
públicos dos governantes israelitas.
▲ Manifestação pró-Palestina em Manchester, em novembro de 2023 ADAM
VAUGHAN/EPA
Neste momento, “Destruir o Hamas” é o
mote que guia a sociedade, os dirigentes políticos e as Forças de Defesa de
Israel, que já obtiveram pelo meio alguns sucessos. Mas, estrategicamente,
eliminar um grupo ideológico, militar e político com influência em países
hostis a Telavive pode ser “irrealista”. Ou, como apontou o Presidente francês,
demorar “dez anos” até ser completado.
CONFLITO
ISRAELO-PALESTINIANO MUNDO ISRAEL MÉDIO
ORIENTE PALESTINA
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