terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O conflito Israel-Hamas


E as dúvidas sobre o desfecho.

I TEXTO: Em directo/ Forças israelitas matam comandante de unidade especial do Hamas que participou nos ataques de 7 de outubro

Adel Msmmah liderou ataque ao kibbutz de Kissufim, onde morreram pelo menos 16 pessoas. Telavive diz que terá morrido esta madrugada durante um ataque aéreo a Gaza.

 ANDRÉ FILIPE ANTUNES Texto

OBSERVADOR, 1/1/24

Actualizado há 9m

 Anadolu via Getty Images

Momentos-chave

Há 9mForças israelitas matam líder de unidade especial do Hamas que participou nos ataques de 7 de outubro

As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmam ter morto um importante líder militar do Hamas, responsável por comandar a força de elite Nukhba, dos radicais islâmicos, na sequência de um ataque aéreo no centro de Gaza esta madrugada.

Numa mensagem nas redes sociais, pode ler-se que Adel Msmmah participou nos ataques de 7 de outubro, comandando a referida unidade num ataque contra o kibbutz de Kissufim, que resultou na morte de pelo menos 16 pessoas.

“Depois disso, Msammah comandou os combates na Faixa de Gaza contra as nossas forças”, diz a IDF. O ataque que vitimou o líder militar do Hamas ocorreu na região de Deir al Balah.

II TEXTO:

"Irrealista", "nada fácil" e levará a uma "guerra prolongada". Vai Israel conseguir destruir o Hamas?

JOSÉ CARLOS DUARTE: Texto

Governo israelita estipulou que um dos objectivos da invasão terrestre a Gaza é destruir o Hamas. Especialistas ouvidos pelo Observador consideram que será muito difícil: e "preço a pagar será alto".

OBSERVADOR, 01 jan. 2024, 23:132

Índice

Destruir o Hamas: o desafio de que Israel não desiste

E o Hamas? Como reage?

O estado do conflito — a superioridade israelita e a resistência do Hamas

“Não há soluções mágicas, nem atalhos. Há apenas combates intensos e persistentes. E nós estamos muito, muito determinados.” Depois de ter visitado na terça-feira, dia 26, o norte da Faixa de Gaza, onde se encontrou com as tropas do país, o chefe do Estado-Maior General das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, avisava que o conflito na região ia “demorar muitos meses”. “Esta guerra é necessária e não tem objectivos fáceis de se alcançar”, realçava o líder militar, garantindo que serão usados “diferentes métodos” para conseguir concretizar a finalidade estabelecida por Telavive após os ataques perpetrados a 7 de outubro em território israelita: destruir e desmantelar o Hamas. 

Quase três meses depois dos ataques em Israel na madrugada de 7 de outubro, que causaram cerca de 1.200 vítimas mortais, as Forças de Defesa israelitas continuam empenhadas em destruir a liderança política e militar do HamasNão obstante, como reconheceu Herzi Halevi, a missão não se afigura fácil, mesmo que tenha havido promessas de “aumentar a presença militar”. Em simultâneo, o número de vítimas mortais não pára de subir na Faixa de Gaza: mais de 21 mil pessoas, a maioria delas civis, acabaram por morrer na sequência dos ataques israelitas.

NEWSLETTER

A catástrofe humanitária na região já levou inclusivamente a que os países aliados de Israel apelassem a que o governo do país repense a sua estratégia. Mas as autoridades israelitas insistem que o caminho que têm de seguir passa por destruir o Hamas — se bem que não estipulem como é que o vão percorrer. Do mesmo modo, o grupo islâmico, considerado terrorista pelo Ocidente, não se mostra disponível para enterrar o machado de guerra, continuando a defender-se de um adversário mais forte. Conta, no entanto, com duas vantagens: conhece bem o terreno e utiliza táticas inspiradas na guerrilha urbana que dificultam a vida às tropas de Telavive.

 Chefe das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, admite que conflito vai "durar muitos meses" ATEF SAFADI/EPA

No início de dezembro, já o Presidente francês, Emmanuel Macron, tinha apontado para a dificuldade de Israel em destruir o Hamas. “Acho que está a chegar o momento em que as autoridades israelitas têm de definir mais claramente qual é o seu objectivo. A destruição total do Hamas? Alguém acha isso possível? Se sim, a guerra vai durar dez anos”, advertiu o chefe de Estado, reconhecendo que a “segurança duradoura” de Israel não pode ser efectivada “à custa de vidas palestinianas” e do “ressentimento de toda a opinião pública da região”.

O gabinete de guerra parece indiferente à necessidade de alterar a estratégia. E a perceção de que é possível destruir o Hamas estende-se a grande parte a sociedade israelita. Uma sondagem publicada a 19 de dezembro pelo Instituto de Democracia de Israel mostra que cerca de dois terços da população acredita que é possível alcançar aquele objectivo.

Tendo a opinião pública ao seu lado, o governo de Israel parece “determinado” em continuar a destruir o Hamas, aparentemente indiferente aos custos humanos causadas na Faixa de Gaza. Ouvidos pelo Observador, quatro especialistas salientam que será complicado — alguns dizem mesmo impossível — atingir aquele objectivo, uma vez que o grupo islâmico não é apenas uma formação política com um braço armado: tem uma motivação ideológica por detrás, estando igualmente presente na Cisjordânia e noutras partes do Médio Oriente.

 “Irrealista.” É assim que Efrat Asif, membro do Instituto da Liberdade e Responsabilidade da Universidade israelita de Reichmman, descreve ao Observador o objectivo traçado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “O máximo que Israel pode aspirar é diminuir as capacidades militares do Hamas”, algo que o país, frisa o professor universitário, já conseguiu parcialmente atingir. “Mas não na extensão que se esperava originalmente.”

Segundo este especialista israelita, mesmo com a catástrofe humanitária que subsiste em toda a Faixa de Gaza, o Hamas ainda tem capacidades para “lançar rockets para as cidades israelitas e está a lutar de forma feroz contra as Forças de de Defesa de Israel, matando tropas israelitas numa base diária”. Assim sendo, Efrat Asif não tem dúvidas que, de momento, a invasão terrestre, começada cerca de três semanas depois do dia 7 de outubro, está “longe de alcançar” os objetivos delineados por Benjamin Netanyahu.

Por sua vez, Atalia Omer, professora universitária de Estudos da Religião, Conflito e da Paz na Universidade de Notre Dame (localizada no estado norte-americano do Indiana), considera que há “uma diferença” entre os “objectivos reais” de Israel e aqueles que são divulgados publicamente. Em declarações ao Observador, a especialista em conflitos do Médio Oriente preconiza que o Hamas “não pode ser destruído”, porque a ideia base da criação daquele grupo parte da “resistência”, encontrando sempre maneiras de se organizar.

 Manifestação no Líbano em solidariedade com os militantes do Hamas AFP VIA GETTY IMAGES

 “Não há uma solução militar, apenas uma política”, afirma Atalia Omer, esclarecendo que o Hamas engloba “muitas coisas” e não se reduz a um “braço armado”. Ainda que publicamente Israel anuncie que visa destruir aquele grupo islâmico, a especialista duvida que o gabinete de guerra israelita acredite que vai concretizar aquela missão. “Mas os seus reais objetivos parecem estar a ser cumpridos, nomeadamente a destruição da Faixa de Gaza”, atira, numa alusão à destruição do Estado Palestiniano, esta que será, de acordo com a especialista, a finalidade de Telavive.

Tamir Sorek, professor na Universidade Estatal da Pensilvânia especialista no conflito israelo-palestiniano, partilha ao Observador a opinião que Telavive “não a está a ter sucesso” em levar a cabo aquilo que se propôs no início da invasão terrestre. No entanto, o especialista, com origens árabes israelitas, ressalva logo a seguir que, “quanto mais dificuldades Israel tiver, mais aumenta o sofrimento da população de Gaza”. 

Apontado para uma “crise humanitária que está a ganhar dimensões catastróficas com fome e doenças”, Tamir Sorek admite, contrariamente a Atalia Omer e Efrat Asif, que “teoricamente” Israel até pode “matar os líderes do Hamas e destruir partes significativas das infraestruturas” do grupo islâmico. Ainda assim, o preço a pagar será muito alto: “Cria uma infraestrutura de ódio e vingança” que se manifestará a “longo prazo”. Neste contexto, o universitário questiona-se: “O que vai acontecer quando todos os líderes do Hamas forem mortos e todos os túneis forem destruídos?” 

 Ataques israelitas à Faixa de Gaza GETTY IMAGES

Com um raciocínio semelhante, Arman Mahmoudian, docente especialista no Médio Oriente na Universidade do Sul da Florida, refere ao Observador que Israel “não é incapaz” de desmantelar e destruir o Hamas, se bem que até ao momento “o objectivo das Forças de Defesa de Israel ainda não foi atingido”. “Até agora, os comandantes do Hamas estão vivos e os militantes continuam os seus ataques com rockets e morteiros contra Israel.”

Mesmo que até ao momento Telavive não tenha tido um retumbante sucesso militar, isso não significa que não o terá no futuro, defende Arman Mahmoudian, que coloca a tónica no “preço que Israel está disposto a pagar pela vitória”. “Materializar esses objectivos requer uma campanha militar prolongada, o que significa continuar a ter reservas prontas para combater e a imposição de uma pressão excessiva na economia israelita.”

O primeiro-ministro israelita frisou igualmente que a guerra exige que Israel “pague um preço elevado”, não só interna (com os custos que um conflito acarreta), como também externamente. Mas Telavive está disposto a pagá-lo, já que Benjamin Netanyahu reforçou que não há “outra escolha senão lutar”. “Será uma guerra longa até o Hamas ser eliminado e até restaurarmos a sua segurança. Vamos lutar com todas as forças até ao final, até a a vitória, até alcançarmos todos os objetivos: a destruição do Hamas, o retorno dos reféns e assegurar que Gaza nunca mais constituirá uma ameaça para o Estado de Israel.”

E o Hamas? Como reage?

Ciente de que os ataques de 7 de outubro causariam uma resposta por parte de Israel, o Hamas parece não dar sinais de desistir do conflito. Mantendo-se numa posição praticamente irredutível, o grupo islâmico mantém um trunfo: ainda tem reféns israelitas (e também de outras nacionalidades) em cativeiro. E já assegurou que apenas os libertará se se chegar a acordo para um cessar-fogo definitivo.

Possuindo um complexo industrial-militar poderoso, Telavive deverá continuar a infligir danos ao Hamas. Isso significa que a população civil também vai sofrer, dado que uma das estratégias do grupo islâmico passa por se disfarçar entre a população e construir túneis debaixo de locais como hospitais e campos de refugiados.

 Militantes do Hamas escondem-se em túneis, o que complica as operações das Forças de Defesa de Israel ANADOLU AGENCY VIA GETTY IMAGES

Mas terá o Hamas capacidade para sobreviver até que Israel o destrua? Efrat Asif diz que sim, recordando o “sistema extenso de túneis que foram construídos debaixo de Gaza”. Mas não é só isso: “Há o apoio da população local ao Hamas, que possui ainda uma estrutura de comando que permite que a organização funcione mesmo quando os comandantes são mortos”. 

Os militantes do Hamas sabem que podem ser mortos a qualquer momento, daí que tenham adoptado um sistema bastante fluido no que toca à liderança. Como sinalizou ao New York Times Azzam Tamimi, jornalista palestiniano e membro da Irmandade Muçulmana, a liderança do grupo islâmico sabe que “pode desaparecer a qualquer momento, porque pode ser morta, presa ou deportada”. Por consequência, foi desenvolvido “um mecanismo de transferência rápido” do controlo das operações.

Segundo o que relataram fontes militares e dos serviços de informações ao jornal norte-americano, as brigadas do braço armado do grupo islâmico estão divididas por batalhões, cujos membros estão espalhados pelos bairros da Faixa de GazaEsta micro-organização permite um conhecimento do terreno ímpar, o que facilita, por exemplo, emboscadas às tropas israelitas. Além disso, o Hamas possui ainda batalhões especializados em disparar mísseis antitanques, outros a construir túneis e ainda um ramo que se dedica à Força Aérea.

 As brigadas do braço armado do grupo islâmico estão divididas por batalhões, cujos membros estão espalhados pelos bairros da Faixa de Gaza. Esta micro-organização permite um conhecimento do terreno ímpar. ABIR SULTAN/EPA

Como realça o analista Elliot Chapman ao New York Times, todos estes factores levam a que Israel tenha praticamente de ir casa a casa para eliminar a totalidade dos membros do Hamas. Daí que Arman Mahmoudian sublinhe que “em teoria” o Hamas pode “resistir a uma guerra longa contra Israel”. “À medida que o conflito mude para um cenário de guerrilha urbana, a maior vantagem de Israel — as capacidades aéreas — tornam-se menos eficazes.

Até o chefe das Forças de Defesa de Israel reconheceu que a demolição das infraestruturas do Hamas “não pode ser feita através do ar”. “Estamos a fazer o uso profissional, racional e calculado dos recursos à nossa disposição e estamos preparados para a continuação dos combates em todas as arenas”, assegurou Herzi Halevi.

Contudo, a estratégia de guerrilha urbana poderá nem sempre resultar. Ao Observador, Arman Mahmoudian  recorda que a resistência do Hamas exige um “acesso contínuo e persistente a uma linha de fornecimento de armas”, o que parece ser “inviável” que o grupo islâmico mantenha, tendo ainda para mais em conta o cerco imposto à Faixa de Gaza. O especialista lembra também que um conflito prolongado originaria que os membros do braço armado “passassem longos períodos em túneis subterrâneos”, dependendo fortemente de combustível e de bombas de ar, de que “poderiam eventualmente ficar sem”.

Caso concentrem os recursos e os seus batalhões na guerrilha urbana, o docente da Universidade do Sul da Florida antevê um desfecho mais positivo para o Hamas. Como estão “familiarizados com a região”, os militantes do grupo islâmico “poderiam utilizar as ruínas de guerra em seu benefício, escondendo-se nelas”.

Numa guerra que está a dilacerar a Faixa de Gaza, Tamir Sorek não vê como provável que os palestinianos a residir na região aceitem a “submissão” a IsraelEles vão continuar a lutar”, vaticina o especialista, mesmo que seja “sob o nome do Hamas ou doutra designação”. “E não há razão para acreditar que o próximo movimento de vingança palestiniano não será menos violento e cruel” do que aconteceu a 7 de outubro, adverte.

Sofrendo com o conflito e com os efeitos do mesmo, a população civil de Gaza aponta o dedo a Israel, já que o Hamas está a “ganhar força” não só naquela região, como também na Cisjordânia, constata Atalia Omer. Uma sondagem publicada no início de dezembro pelo Centro Palestiniano de Pesquisa de Políticas apurou que o “apoio ao Hamas aumentou na Cisjordânia de 12% para 44% em três meses; na Faixa de Gaza o aumento passou de 38% para 42%”.

Apesar de a taxa de aprovação do Hamas ter aumentado, a sondagem mostra que “maioria da população quer da Cisjordânia, quer da Faixa de Gaza, não apoia o Hamas”, sendo que o centro de pesquisa escreve que o “apoio ao Hamas normalmente sobe temporariamente durante ou após uma guerra e depois regressa ao mesmo nível poucos meses depois da guerra”.

Outro dado importante da sondagem é que 70% dos 1231 inquiridos acreditam que “Israel vai falhar a alcançar o objetivo de erradicar o Hamas”. “Apenas 8% acreditam que vai ter sucesso e 21% afirma que Israel vai apenas enfraquecer o Hamas e a resistência”, lê-se. Para além disso, a maioria (53%) diz que o objectivo israelita é “destruir a Faixa de Gaza” e “matar e expulsar os residentes”, ao passo que 42% acredita que Telavive quer “vingar-se do Hamas e destrui-lo”.

No cenário em que Israel elimina a liderança político-militar do Hamas na Faixa de Gaza, há um problema que Telavive terá de enfrentar. É que alguns dos principais rostos (e também militantes) do grupo islâmico estão espalhados em países como o Líbano, o Qatar ou a Turquia, o que envolveria operações para matar os dirigentes no estrangeiro.

 Palestinianos não acreditam que Israel vai conseguir destruir o Hamas HANNIBAL HANSCHKE/EPA

Neste sentido, o Wall Street Journal apurou que a Mossad — os serviços de informações israelitas — já têm em marcha um plano para matar os líderes do Hamas noutros países. Porém, será difícil colocá-lo em prática — e poderá abrir uma verdadeira crise diplomática entre Israel e essas nações.  “A morte deles está marcada”, assinalou o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, acrescentando que a luta contra o grupo islâmico é “internacional”, incluindo os “terroristas em Gaza” e “aqueles que voam em aviões caros”.

O estado do conflito — a superioridade israelita e a resistência do Hamas

Se é certo que Israel ainda não cumpriu os principais dois objectivos a que se propôs (a destruição do Hamas e a libertação dos reféns), isso não significa necessariamente que o país esteja a perder o conflito. Muito pelo contrário. Há sinais de que a operação militar está a correr bem às Forças de Defesa de Israel, que, por exemplo, já asseguraram que controlam praticamente todo o norte da Faixa de Gaza, a primeira região a ser alvo da ofensiva terrestre, concentrando-se agora mais no centro e no sul da região.

Na lógica da destruição do Hamas, Telavive anunciou, no início de dezembro, que tinha matado metade dos dirigentes do Hamas, um feito que pode ser considerado uma vitória. No entanto, ainda estão à solta os três homens que Israel mais quer eliminar: o líder político do grupo em Gaza, Yahya Sinwar; o líder do braço armado, Mohammed Deif; e o número dois das tropas islâmicas, Marwan Issa.

 Líder político do grupo em Gaza, Yahya Sinwar, é um dos homens mais preocupados por Israel SOPA IMAGES/LIGHTROCKET VIA GETT

Até ao momento, as Forças de Defesa de Israel já destruíram alguns túneis e estimam ter eliminado oito mil militantes do Hamas — e muitos ficaram feridos ou tornaram-se prisioneiros de guerra. Em comparação, as baixas entre as tropas israelitas são muito menores. Desde o início da invasão terrestre, morreram cerca de 165 soldados israelitas e mais de dois mil ficaram feridos.

Como analisa o jornalista Anshel Pfeffer no jornal Hareetz, este é um sinal positivo para as Forças de Defesa de Israel:Destruíram cerca de metade da capacidade ofensiva do Hamas, enquanto as perdas não são tão pesadas quando se tem em consideração a complexidade e a ferocidade da guerrilha urbana”. Apesar das dificuldades, a superioridade de Telavive no campo de batalha é clara, ainda que o grupo islâmico até tenha conseguido resistir e utilize formas de contrariar a força israelita.

A superioridade militar israelita até pode estar a resultar, mas há dois factores lançam uma sombra de dúvida à invasão terrestre. A primeira está associada ao sofrimento da população civil — a ONU já comparou a Faixa de Gaza ao “inferno na terra”; a segunda com a estratégia, que é apenas baseada na ideia de destruir um grupo com ramificações militares, políticas e ideológicas, sem haver um plano claro para o futuro da região.

O que vai acontecer quando todos os líderes do Hamas forem mortos e todos os túneis forem destruídos? Israel não oferece qualquer visão que possa dar esperança à Palestina”, denuncia Tamir Sorek, que vai mais longe e atira: “O slogan de ‘Destruir o Hamas’ apenas serve para tapar a falta de visão israelita a longo prazo”. 

Não é só nos territórios palestinianos que esta “falta de visão a longo prazo” de Israel está a incomodar. Os aliados israelitas, em particular os Estados Unidos, estão a pressionar o governo israelita a tentar aceitar que uma Autoridade Palestiniana “revitalizada” governe a Faixa de Gaza após a guerra. Sem embargo, o plano não agrada a Israel, que defende que apenas as Forças de Defesa do país têm capacidade para o fazer.

No meio desta indefinição, Efrat Asif acredita que Israel está “sob uma pressão internacional enorme” para chegar a um cessar-fogo e minimizar o número de vítimas civis na Faixa de Gaza. “Isto significa que esta guerra vai acabar mais cedo do que Israel gostaria”, atreve-se a antecipar o especialista, um cenário que contraria os discursos públicos dos governantes israelitas.

 Manifestação pró-Palestina em Manchester, em novembro de 2023 ADAM VAUGHAN/EPA

Neste momento, “Destruir o Hamas” é o mote que guia a sociedade, os dirigentes políticos e as Forças de Defesa de Israel, que já obtiveram pelo meio alguns sucessos. Mas, estrategicamente, eliminar um grupo ideológico, militar e político com influência em países hostis a Telavive pode ser “irrealista”. Ou, como apontou o Presidente francês, demorar “dez anos” até ser completado.

CONFLITO ISRAELO-PALESTINIANO     MUNDO     ISRAEL     MÉDIO ORIENTE     PALESTINA

Nenhum comentário: