Quentes e boas são as explicações feitas
por JAIME NOGUEIRA PINTO a respeito
do
cariz auto lisonjeiro com que uma esquerda olorosa tem avassalado
os espaços civilizacionais que há muito se pretende benfazeja e superior em
esclarecimento e amplitude piedosa, por parcial que seja a tal piedade, com a contrapartida
da pecha acusadora sobre os tais que aprenderam a trabalhar para terem direito
ao seu estar no mundo. Uma sociedade a desfazer-se, sem aqueles valores antigos
de uma compostura e coesão indispensáveis para um singrar mais confiante, é
afinal a constante de uma vivência atrevida e provocatória, que se propõe democrática,
por carência de reais princípios. Mas JNP explica tudo, miudamente, com o seu saber
e clareza habituais. Também nos traça bem o perfil, o livro que ando a ler,
prenda de Natal do Luís – “OS POLÍTICOS E
A CRISE – DE SALAZAR A PASSOS COELHO” por JOSÉ FILIPE PINTO, bem revelador
dessas facetas de um povo culturalmente modesto e devotamente agarrado, desde os
tempos primeiros, a mitos de salvação, que afinal só o esforço e a competência
podem conquistar – repito, a salvação. Mas ainda só li a parte relativa a SALAZAR, que bem o
sabia. Como JNP, que sempre o soube.
Um novo ciclo?
Hoje as coisas mudaram, na Europa e
aqui. Só não mudou a patética reivindicação da Esquerda do monopólio da
“Democracia”.
JAIME NOGUEIRA
PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR,06
jan. 202
A Esquerda habituou-se e habituou-nos a ser, ou pelo menos a
parecer, o partido do povo, o partido da democracia, do progresso, da justiça
social, da modernidade, de todas as coisas boas. Em Portugal, particularmente, este discurso não foi difícil de
sustentar na segunda metade do século XX, sob o regime do Estado Novo, que
proibia os partidos políticos e as liberdades democráticas.
Democracia e Ditadura
É certo que o regime autoritário, nascido do pacto dos militares da
Ditadura Nacional com Salazar, viera substituir uma democracia que tinha muito
pouco de democrática; uma democracia instalada por um regicídio, em que votavam
7% dos cidadãos, só homens, e em que as eleições eram inevitavelmente ganhas
por um partido – o Partido Democrático –, primeiro de Afonso Costa e depois de
António Maria da Silva.
De
qualquer modo, a partir dos anos 50, o regime estava em séria perda de apoio e
popularidade, como mostrou o
sucesso de rua da candidatura de Humberto Delgado – um populista vindo da ala mais radical e
fascistizante do Estado Novo. Por essa época, as mudanças na Igreja
Católica e o aparecer de novas gerações sem memória da “balbúrdia
sanguinolenta” da Primeira República tornavam mais claras as grandes carências
e desigualdades sociais do país, que os sucessivos governos progressistas
também não tinham melhorado.
Salazar não procurava a popularidade. Nos anos trinta fizera algumas cedências
de estilo em manifestações multitudinárias ao modo dos fascismos europeus, seus
aliados na guerra de Espanha; mas, de resto, escolhia aquele
estilo do “sábio”, do “eremita”, do
“Professor”, longe das multidões. Apesar de haver uma acção importante
na criação de infraestruturas, na luta contra o analfabetismo, nas bases da
Educação popular e de estar em curso uma segunda revolução industrial, a
sensação de muitos era a de viver num país pobre sob uma velha autocracia
adormecida na ponta ocidental da Europa, apoiada pelos padres e pelos polícias.
Paradoxalmente, a guerra de
África em 1961, a guerra que levaria, treze anos depois, à crise no corpo de
oficiais e ao golpe militar de 25 de Abril, proporcionaria um tempo de
renovação do Regime. Vencida a conspiração dos generais em Abril de 1961, a guerra reunia à volta do Governo uma vaga
patriótica que ia dos republicanos coloniais à nova geração da direita
nacional, a geração que, nos anos 60, ia enfrentar a Esquerda nas universidades
e servir em África.
Após o desaparecimento de Salazar e a
vinda de Marcelo Caetano, em 1968-74, a Esquerda continuou com sucesso a
concentrar-se no poder cultural; e quando foi preciso encontrar uma ideologia
legitimadora, escolheu identificar-se em bloco com “a Democracia”,
independentemente das opções totalitárias, identificando a Direita com “a
Ditadura”, quando não com os totalitarismos fascista e nacional-socialista. Há
cinquenta anos que o faz.
Em 1974-75, as inventonas do 28 de
Setembro e do 11 de Março neutralizaram a direita “ultramarinista”. Depois
houve a manipulação pelos comunistas e esquerdistas de um MFA onde não
abundavam as “mentes brilhantes” e o tímido aparecimento de uma direita da
Esquerda que serviu de direita do Regime.
A
poucos anos da queda final do comunismo na Rússia e na Europa Oriental,
estivemos em risco de ter uma experiência comunista e esquerdista em Portugal;
risco que deixou marcas, mas a que escapámos graças ao povo do Norte e aos
pactos de Ialta. E, dirão alguns, também ao Dr. Soares; mas o Dr. Soares, como
outros democratas, só acordou para o perigo totalitário quando viu que era a
vítima seguinte. Antes disso, os “fascistas” estavam muito bem nas
democráticas prisões de Abril, que conseguiram a proeza de, em Outubro de 1974,
depois do 28 de Setembro, terem mais presos do que antes do golpe militar. Sem
contar o pessoal da PIDE-DGS.
Direita e Democracia
Hoje as coisas mudaram, na Europa e
aqui. Só não mudou a
patética reivindicação da Esquerda do monopólio da “Democracia”. E, no entanto, por diferentes razões –
imigração agressiva e descontrolada, identidades nacionais ameaçadas,
oligarquias partidárias instaladas, protesto – muitos eleitores europeus
(supomos que todos eles xenófobos, homofóbicos e portadores das mais
deploráveis e abjectas patologias) estão a votar democraticamente nos tais
partidos da direita nacional populista, a que chamam de “extrema-direita”,
“pós-fascistas” e de “direita radical”.
Aparentemente, os eleitores deixaram de se impressionar com os
adjectivos com que, à esquerda, os arautos de todas as democráticas virtudes os
continuam a mimar. De tal modo que em
alguns países europeus os ditos partidos “de extrema-direita” já estão no
governo e noutros deixou de se poder governar sem eles e muito menos contra
eles. E tudo isto sem golpes de Estado, sem autoritarismos, em democracia.
Vamos a ver como vai ser por cá e pelo mundo no ano que agora começa.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA POLÍTICA
COMENTÁRIOS (DE 32):
José Ferraz:
Vale a pena pagar
a assinatura só para ler JNP , obrigado Jorge Carvalho: O que não for escrito não existe. O intrépido JNP com o seu saber histórico
a sua lucidez e coragem deixa gravado na bruma do tempo a verdade real dos
acontecimentos nacionais e internacionais tão maltratados por uma comunicação
social servil e abjeCta. Obrigado JNP. Rui Lima: Os partidos da direIta nacional
são vítimas de uma perseguição total na Europa em nome da democracia , mas
chegados ao poder como em Itália estão maniatados e impedidos de governar pelos
tribunais nacionais e europeus. Na Europa nenhum país manda nas suas fronteiras
quem manda são povos vindos de longe invocando os seus diversos
direItos, na prática a Frontex funciona como ONG. A Europa é um
império sem poder militar que utiliza os tribunais e o dinheiro
ilimitado do BCE para impor a sua ideologia em desfavor das nações
e do povo da Europa. Elizabeth
Coelho: Excelente. Muito obrigada. João Floriano: Um novo ciclo onde? Na Europa há sinais de um novo
ciclo. Por cá não sei. Enquanto escrevo este comentário, o ruido de fundo é
o Congresso do PS. Não sei se estarão lá convidados do Bloco, do PCP e
dos restantes partidos liliputianos de esquerda sem nada de positivo para
oferecer aos portugueses mas muito úteis para o PS. Mas é certo que a
extrema-esquerda está unida com o PS e este unido à volta de um lider estranho,
amnésico, que hoje diz uma coisa e amanhã outra, que hoje se revela social
democrata moderado mas que pisca o olho aos radicais e fanáticos do Bloco e do
PCP, quando suspira pelos anos da geringonça como os amantes com recaídas. E
é natural que PNS olhe para uma nova geringonça como Gatsby olhava para a
luz verde porque no meio de tantos falhanços como governante na TAP, na Ferrovia,
na Habitação, as conversações para a formação da geringonça em 2015
correram-lhe muito bem. E a união à direita onde está? vitor Manuel: Este sim é um verdadeiro
Serviço Público, aquilo que nos transmite J. N. P. com imenso brilhantismo. Filipe
Paes de Vasconcellos: Tem toda a razão quando diz que Mário Soares e o seu PS só acordaram para o
perigo totalitário quando se deu o “caso República” e a “unicidade sindical “ ,
pois até lá andavam de braço dado ( e sei lá mais o quê) com o PC e as forças
democráticas anti fascistas e … Fernando
CE > Américo Silva: E quem inventou os gulags? Fernando CE: Sempre com muita qualidade e
não panfletário, como infelizmente rareia em muitas crónicas de gente à
direita. Eu que sempre fui de centro direita, começo a sentir a urgente necessidade
de se cortar com muitos complexos de esquerda, com que esta última infectou o
pensamento e o comportamento das pessoas do hemisfério político da Direita. João Amorim > Américo Silva: A sua perspetiva é a correcta,
mas é demasiado vaga a expressão “O Capital” para definir a oligarquia que hoje
inquestionavelmente domina o mundo. Essa oligarquia tem rostos, é dinástica
(no seu núcleo duro é constituída por famílias que, de há 200 anos para cá, têm
vindo a consolidar o seu poder - os Rothshild são os mais conhecidos ), mafiosa
e monopolista, corruptora dos poderes públicos, inimiga do mercado livre e da
concorrência, e tem vindo a arruinar no Ocidente (sobretudo nas últimas
décadas), por métodos sinuosos e ilícitos, as classes médias e a rede de
pequenas e médias empresas que sociológica e politicamente ainda constituem o
suporte das democracias liberais. Estão por detrás e acima da maçonaria,
que constitui o seu principal instrumento de domínio da sociedade e da
política. Foram eles que, na sombra, financiaram e promoveram as revoluções, francesa,
bolchevique e nacional-socialista. Sobre o financiamento massivo provindo
sobretudo dos EUA de que beneficiaram os bolcheviques e os nazis, é
imprescindível a leitura de duas obras do já falecido historiador de
nacionalidade britânica e professor da Universidade de Stanford (Instituto
Hoover), Antony Sutton, disponíveis na net (versões inglesa e francesa), “Wall Street e a Revolução Bolchevique”, e “Wall
Street e a ascensão de Hitler”.
João Ramos: Curto mas bom, a raiz do nosso mal está cá toda, é tão
simples quanto isto…
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