A mudança tornada
cada vez mais impossível, na questão do nosso status.
Cinco desejos para 2024
Sociedades mais exigentes que gerem políticos mais
capazes de encontrar soluções, para se inverter a dinâmica de nacionalismo e
conservadorismo que se está a instalar. Eis o que se deseja para 2024.
HELENA GARRIDO Colunista
OBSERVADOR, 02 jan. 2024, 00:2115
Uma sociedade com maior capacidade
crítica. Seria
a chave para muitos dos nossos problemas se a comunidade em que vivemos
começasse a ser mais informada, o que a tornaria mais exigente e menos
permeável à propaganda. Uma sociedade mais activa, com mais vontade
de ser livre e menos dependente do Estado, que percebesse que não existem uns
“eles” e uns “nós”, mas que todos somos “nós”, com capacidade de induzir
mudanças e criar uma classe política mais preocupada com os problemas concretos
dos cidadãos e menos focada em jogos de poder. Em que todos começassem a ser mais tolerantes com a opinião e a
forma de viver dos outros, rompendo-se a tendência de conservadorismo que se
instalou sob a máscara da inclusão.
Partidos capazes de atrair mais
qualidade. É
um lugar comum dizer que são os pilares de um regime democrático, mas
infelizmente estão muito doentes. Os partidos que alternam o poder em Portugal, PS e
PSD, parecem incapazes de atrair militantes que estejam focados no bem comum,
na resolução de problemas concretos, começando por conhecerem como é a vida do
cidadão comum. Viciaram-se
em jogos de poder, uns, enquanto outros olham para os partidos como uma forma
fácil de ascenderem numa carreira de dinheiro e poder. Os políticos estão em geral com uma imagem péssima
junto dos eleitores e, se não queremos rupturas, precisamos que sejam capazes
de mudar por sua iniciativa. É preciso que existam menos
dúvidas quanto aos seus comportamentos éticos e morais, depois de um tempo em
que se considerou que tudo cabia à Justiça para depois se queixaram de
justicialismo.
Um elevador social que funcione. Na governação ou nas empresas começamos a assistir a uma perpetuação das elites – “são
sempre os mesmos”, em linguagem
popular. Andaram nas mesmas escolas e
universidades, frequentam os mesmos círculos sociais, estão fechados sobre si
próprios, afastando-se cada vez mais da comunidade que os vai tratando como “eles”.
A diversidade social, de género, étnica e cultural traz
melhores soluções para os problemas e garante maior desenvolvimento. Se as elites funcionarem como uma
monarquia estaremos condenados ao subdesenvolvimento e, no limite, a rupturas
políticas e sociais. O facto de quem
tem dinheiro estar a colocar cada vez
mais os filhos em escolas privadas, e os
filhos de quem não tem dinheiro estarem cada vez mais condenados à falta de qualidade da educação pública, vai, aos
pouco, avariando o elevador social e impedindo a renovação das elites que todas
as sociedades precisam. Temos de ser capazes de inverter esta tendência.
Levar muito a sério as ameaças
ambientais. A retórica ambiental está em níveis máximos,
mas a prática parece tardar. O acordo
obtido na COP26, contra todas as expectativas, é um sinal de esperança, mas
agora é preciso ver se e como se concretiza. A velocidade com que
estamos a destruir o planeta é elevada e precisamos de levar muito a sério esse
combate. Por aqui, sozinhos, pouco podemos contribuir para inverter a situação.
Mas podemos fazer muito mais e não ficar enlevados com as energias renováveis –
é aliás tempo de olhar para os seus efeitos nefastos, que também os tem. Tem de se fazer uma aposta séria nos
transportes
públicos, que hoje
estão pior do que no passado. Temos de tratar urgentemente dos resíduos, temos de ter a coragem de reduzir o consumo de
plástico e, em suma, apostar na economia circular. Estes últimos anos foram anos perdidos.
Um mundo que continue livre e com menos
guerras. Os
reajustamentos geopolíticos a que estamos a assistir prometem um mundo que
ainda não sabemos bem como será. Mas as guerras na Ucrânia e
de Israel com o Hamas deixaram a Europa sob ameaça externa e interna. A tendência geral é de conflito e
insegurança no espaço europeu de uma União marcada por divisões e cada vez mais
burocratizada. As dinâmicas não são animadoras, mas é sempre possível
invertê-las com sociedades exigentes, conscientes dos desafios e capazes de
fazer as melhores escolhas para dirigir os seus países. As novas
gerações têm o direito de herdar um mundo tão aberto e livre como aquele em que
vivemos praticamente desde os finais do século XX.
Sim,
parece uma lista de desejos impossíveis. Mas se conseguirmos perceber os
problemas que enfrentamos temos uma parte do caminho percorrido para desejarmos
e encontrarmos as soluções.
Feliz Ano de 2024
ANO
NOVO SOCIEDADE PARTIDOS E
MOVIMENTOS ECONOMIA AMBIENTE CIÊNCIA
COMENTÁRIOS (de 16)
Ana Luís da Silva: Na sociedade portuguesa que mergulha na decadência aos
poucos (mas desde há muito), em que a deriva absoluta nos princípios tem sido
uma espécie de desígnio nacional (tratamento das crianças como
cobaias sociais, ditadura progressista imposta à sociedade avessa a tal na
aprovação da eutanásia e das barrigas de aluguer, impostos ao nível do
confisco, favorecimento dos amigos com o compadrio a chegar às mais altas
esferas dos estado, sobreposição da “panca” ideológica
ao bem comum, como o enterro de milhões na TAP, o fim das parcerias público-privadas
na saúde e o incentivo a uma imigração desregrada e criminosa, etc, etc) e com
a falta de ética e de caráter dos governantes que parecem vermes sem coluna
vertebral afundados em porca.ri-a agarrados ao poder como sanguessugas, não se
demitindo apesar de tudo e muito mais … o problema é o nacionalismo e o
conservadorismo?!! “Ai, ai,
minha rica senhora”, como diria a respeitável peixeira da terra do meu
pai…
José Carvalho > Ana Luís da Silva: Totalmente de acordo com o seu comentário.
Maria Pinto: Tirando o problema do nacionalismo e do
conservadorismo… todo o resto (saúde, educação, justiça, corrupção, violência a
aumentar e por aí vai ...) é um mar de rosas, um verdadeiro paraíso! A esquerda
é desonesta, ponto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário