Estaremos definitivamente arrumados na questão da decência? Esperamos por
mais artigos sobre este tema escolar, que apela a que sejam responsabilizados e
punidos esses que sem escrúpulos nem vergonha provocam - com seriedade fúnebre,
como a tal IM - e com a conivência da nossa abulia malandra, todas as regras do
decoro e do respeito que as crianças merecem, e que não se podem defender
contra a ordinarice estabelecida como regra.
A lei das casas de banho não presta
O coro de críticas suscitado pela lei
não surpreende. O que é surpreendente é que ainda não tenha subido mais de tom
e vigor, face à surdez e ao facciosismo em que se entrincheiram os seus
promotores.
JOSÉ RIBEIRO E
CASTRO Advogado e cidadão
OBSERVADOR, 06
jan. 2024, 00:1424
Em
meados de Dezembro, na véspera de a Assembleia da República aprovar a
lei da ideologia de género nas escolas, o
líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, mostrou-se muito incomodado com as críticas:
fustigou de “fanáticos” os que se opõem à lei. Aparentemente,
respondia a críticas feitas, dias antes, por um grupo
de pais, professores, directores e psicólogos ao texto final dos projetos de
PS, PAN e BE, tomando posição sobre a legislação anunciada, “para
a qual ninguém mandatou ninguém, não estava no programa de nenhum partido e é
abusiva e perigosa”.
Brilhante
Dias atalhou que o articulado “não diz em parte alguma casas de banho
mistas” e apelou a olhar o tema “com a seriedade necessária”. Porém, a crítica do referido grupo de pais,
professores, directores e psicólogos nunca fala de “casas de
banho mistas”, nas declarações mais recentes e na
petição pública que
circula e para que remetem. São, aliás, inúmeras as posições tomadas contra
esta lei, como a
minha própria, que, em
lugar algum, aludem a “casas de banho mistas”. O líder parlamentar do PS
desconversou. Esqueceu-se da “seriedade necessária”, até porque a própria
simplificação populista das “casas de banho mistas” é fácil de
entender.
Do que se trata é de, nas escolas,
facultar o acesso às casas de banho do sexo oposto por aluno ou aluna que
declare identificar-se com o género oposto ao sexo natural: um rapaz que
declara identificar-se com o género feminino acede às casas de banho das
raparigas; uma rapariga que declara identificar-se com o género masculino acede
às casas de banho dos rapazes. O
mesmo se passará com os balneários. Estes caos
ou paródia gigantescos são o que consta do artigo (de redacção
medíocre) que Brilhante Dias leu e fingiu não entender no seu conteúdo e
efeitos: “As escolas devem garantir que a criança ou jovem, no
exercício dos seus direitos e tendo presente a sua vontade expressa,
aceda às casas de banho e balneários, assegurando o bem-estar de todos, procedendo
às adaptações que considere necessárias para o efeito.”
Traduzindo: (1) a lei cria em cada criança ou jovem o
direito subjectivo de aceder às casas de banho e balneários que queira, em
conformidade com a sua identidade de género autoatribuída, seguindo-se, acima
de tudo, a sua vontade expressa; (2) todas as escolas têm de, em posição subordinada, garantir o
exercício destes direitos inerentes à autodeterminação de género e desta emergentes; e (3), aberto este imbróglio, caberá às escolas assegurar “o bem-estar
de todos” e proceder às “adaptações que considere necessárias”. Os
directores de escolas e agrupamentos de escolas, que, como todos sabemos, já
tinham pouco que fazer, vão-se defrontar com um problema adicional criado pelo
legislador tão “generoso”, quanto lunático. Recordando-nos dessas
nossas idades e da dinâmica jovem, não é difícil antecipar choques e
abusos, seja por perturbação de género induzida, seja por pândega ou gesto de
afirmação. Lembram-se dos Climáxico?
Isso são os Climáxico sem lei a favor. Imaginem, agora, os Climáxico a esgrimir
a lei do seu lado.
O líder parlamentar do PS devia
entender, espontaneamente, a inquietação e oposição que este cenário provoca em
muitos pais, em lugar de os desconsiderar. E
intuir rapidamente que isto não pode ser. Se a lei visasse, como Brilhante Dias
disse, cuidar de “pessoas, de cidadãos, de famílias que precisam de facto
de um tratamento especial, de serem consideradas, sem com isso ferir
naturalmente os direitos de outros”, a lei teria feito isso mesmo: cometeria a
obrigação de as escolas acomodarem situações especiais dentro das
possibilidades existentes, sem criar o direito subjetivo de quem quer que
fosse. Mas a lei escolheu fazer desta maneira, porque é isso mesmo que a lei
quer, de acordo com o propósito dos seus mentores: afirmar a “autodeterminação
de género” e levá-la por diante revolucionariamente, seguindo a metodologia do
“aqui vai disto”.
A
lei da autodeterminação de identidade de género nas escolas é propícia a gerar
conflitos e confusões, porque é isso que os autores querem, como é próprio das
leis de confrontação social. Quer substituir o entendimento comum, com base
científica irrefutável, da humanidade composta de homem e mulher, segundo o
cariótipo natural que o determina, por uma fantasia delirante de cada um ser o
que quiser: a tal “autodeterminação”. E
olha as escolas, sem excepção, não por causa das crianças que têm problemas
(talvez 200) e necessitam de ser cuidadas, mas por causa
de todas as outras (1.600.000) a que querem levar a “nova doutrina”, segundo o
princípio de que “de pequenino é que se torce o pepino”.
A questão das casas de banho
e balneários é um mero pormenor que, pelo pitoresco, se colou como imagem de
marca de uma lei má, muito mais ampla e mais perversa, como procurarei mostrar
noutro texto.
Procurando “fanáticos”, Brilhante
Dias bem podia olhar à sua bancada ou outras da esquerda que promovem esta
legislação. No dia da aprovação do texto final, em plenário, a deputada
Isabel Moreira, carregou no dramático: “não mais um grupo muito
pequeno [de crianças e jovens] que precisa da nossa protecção
colectiva para existir, para não morrer, mas jovens e crianças que,
imagine-se, querem entrar pelas casas de banho adentro para violarem mulheres.” E
disparou ainda: “cá está a
extrema-direita pronta para fazer crer à comunidade que os grandes problemas
nacionais, dramas colectivos como a crise da banca de 2008 tiveram como
culpados imigrantes, negros, gays, lésbicas, ou um jovem trans. Toda a gente
sabe.”
Não
ouvi a ninguém, a não ser à deputada que assim falou, acusar que, por esta lei,
se iria violar mulheres nas escolas. Nem ouvi quem quer que fosse, a não
ser também à senhora deputada, culpar “imigrantes,
negros, gays, lésbicas, ou um jovem trans” de serem culpados da “crise
da banca de 2008”. É o modo estafado da ironia negra, para
esconder falta de argumentos sérios e atrair o odioso sobre as opiniões
contrárias. Tudo rematado pela habitual “fobização” da conversa, o tique
autoritário para trancar o debate: “Em que trevas anda tanta
transfobia?” Para os fanáticos da lei, os outros não têm opiniões, mas
“fobias”. Se isto não é extremismo…
A sociedade civil tem-se agitado,
inquieta, até porque há partidos políticos que têm obrigação de ser mais
vigorosos, firmes e claros nesta matéria da ideologia de género, mas têm ficado
muito aquém das suas obrigações, possibilidades e responsabilidades. Boa parte
da sociedade e da cidadania tem-se sentido abandonada. Por isso, têm circulado
várias petições que exprimem directamente o desagrado e a rejeição. Uma delas, que também assinei, “Não queremos que as
crianças e jovens sejam obrigados a partilhar os WCs e balneários com pessoas
fisicamente do sexo oposto”, foi assinada por 54.062 cidadãos (actualize,
aqui, o respectivo número).
Por que não os escutou, nem escuta a
Assembleia da República?
O coro de críticas suscitado
por esta lei não surpreende. O que é surpreendente é que ainda não tenha subido
mais de tom e de vigor, face à surdez e ao facciosismo em que se entrincheiram
os seus promotores, recorrendo frequentemente à negação. A negação surte ainda
algum efeito, por uma razão simples: são tão excessivas e extremistas as
medidas da lei, que custa até acreditar que seja verdade. Os autores
não hesitam em faltar sistematicamente à verdade. De
novo na questão das “casas de banho e balneários”, a deputada Isabel
Moreira afirmou, no plenário: “nada na lei diz que cada criança e jovem entra onde quer.” Não
é verdade. É uma falsidade, como já citei acima. A lei, na onda febril do
empoderamento, constitui em cada criança ou jovem esse direito subjectivo,
prevalecendo “a sua vontade expressa”. Clarinho, clarinho. Se a Assembleia
não o queria, não o teria escrito. Se o escreveu é porque o quer. A lei
não se importa com perturbar a paz escolar. A lei, na verdade, não presta.
TRANSGÉNERO SOCIEDADE EDUCAÇÃO
COMENTÁRIOS (de 24)
J. D.L.: Importante e lúcido artigo. Denúncia importante de mais uma
vergonha que o PS deu à luz. Manuel
Lourenço: Esta lei vai ser o princípio do fim do wokismo em Portugal. Malta de Rio
Maior toca a rufar os tambores e mocas. Carminda Damiao: A lei das casas de banho é uma
aberração e um perigo. Mas ainda me preocupa mais a introdução da ideologia nas
escolas, começando pelas creches, achando que uma criança de oito ou nove anos,
já sabe verdadeiramente que não pertence ao sexo com que nasceu, quando ela nem
sabe o que é sexo, para toda a gente ter que a tratar por outro nome e com a
agravante de os pais não se poderem opor. Os pais ficam de pés e mãos
atadas a ver os filhos serem usados como cobaias. Claro que o número de
crianças confusas irá subir duma forma exponencial (é isso que os promotores da
ideologia querem), mas daqui a uns anos o número de jovens que se sentem
arrependidos também subirá e muitos ficarão com a vida estragada pelas
mutilações que foram levados a fazer por pessoas sem escrúpulos. Lúcia Henriques: Lei feita para 200 crianças e jovens. Doravante
serão mais porque começam aos 3 anos, nas creches, a dizer-lhes que podem ser o
que quiserem e até trocam de roupa, pintam lábios, desenham bandeiras LGG...,
etc. Nokogiri: Na Assembleia da República
casas de banho unissexo, para o Brilhante pouco inteligente e Isabel Moreira
que sofre da cabeça coitada, aquele ódio que destila em cada palavra, vem de
uma contradição insanável com a própria criatura, quer estar no bem bom do PS,
porque ficaria sem empregozinho se fosse do BE, não tem cura.
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