De pessoas
Como Jaime Nogueira Pinto, honestas,
cultas, patriotas, experientes, leais e despegadas de avidez pecuniária é que o
país precisa para ser dirigido com a necessária lealdade, para continuar a
sê-lo – digo, “país”.
Quem vai decidir por nós?
Queremos mesmo deixar questões
fundamentais, a que alguns dirigentes comodamente chamam “de consciência”, à
consciência de deputados cuja opinião desconhecemos?
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do
Observador
OBSERVADOR; 13 jan. 2024, 00:1840
O
meio século de regime desta Terceira República parece destinado a cumprir-se no
manifesto incumprimento do terceiro D de Abril: o desenvolvimento. Crise no Serviço Nacional de Saúde, crise no
Ensino, crise na Habitação, emigração de quadros jovens, agravamento das
desigualdades económico-sociais e uma legião de pobres e sem-abrigo que não
ficará atrás dos índices de miséria dos anos 50.
O poder da Esquerda
A isto junta-se uma série de escândalos
de grande, média e pequena corrupção, desde um primeiro-ministro que já ficou
atrás das grades, até às notas e anedotas que circulam pelos gabinetes de S.
Bento. E como se não bastasse, nas
empresas, trocámos industriais e capitalistas portugueses por accionistas
anónimos estrangeiros – chineses, espanhóis, americanos. Não temos um único banco nem uma única
grande indústria nas mãos de portugueses
e ninguém na classe política, nos media de referência, na oligarquia
desta Terceira República parece muito preocupado com isso.
Quem são os responsáveis? Os
governantes, que são quem manda, e os governados, que são quem vota.
Mas há uns mais responsáveis que
outros. Quem governa Portugal, desde há quase 50 anos, é a Esquerda, com
escassos intervalos de centro-direita, basicamente passados a tentar tapar os
buracos da Esquerda.
É preciso ter isto presente e
saber o que se quer e o que não se quer, para daqui a dois meses não haver
equívocos sobre tudo ou quase tudo.
É que, ao contrário do que disse Bill Clinton a George Bush-pai (“It’s
the economy, stupid!”), desta vez
não é a economia. Ou não é só a economia, já que a economia nacional
– excluindo a tributação, os ruinosos rasgos nostálgicos de sobre-estatização,
o desinvestimento nos serviços públicos e a falta de incentivo à iniciativa
privada nacional, que não são de somenos – é
mais depressa decidida em Bruxelas e em Frankfurt do que em Lisboa. Como já não há economias socialistas de
direcção central, aqui, a margem de decisão será só se a nossa vai ser mais ou
menos socialista, mais ou menos capitalista, mais ou menos liberal, mais ou
menos caótica, mais ou menos condicionada pela conjuntura internacional e
decidida pela Comissão Europeia – e pelo BCE.
Assim, na escolha eleitoral, devem sobretudo pesar questões políticas, como a independência e a identidade nacionais e
a sua defesa, o entendimento da História, a liberdade de expressão, os valores
de referência. Queremos viver numa comunidade política independente, num
Estado nacional, com fronteiras, numa Europa de nações, ou queremos a abolição
dessas fronteiras no federalismo europeu, etapa e via para o globalismo
selvagem?
As questões “fracturantes”
E que valores queremos para a
sociedade e para as famílias? Queremos descartar os velhos, oferecendo-lhes a morte?
Evitar os nascituros, interrompendo-lhes voluntariamente a vida? Queremos o
delirante encorajamento da ambiguidade e da transexualidade desde a infância
por leis passadas à socapa por executivos em gestão?
Tudo isto tem sido obra da Esquerda, que deixou de se
preocupar com aquilo que tradicionalmente a nobilitava – a justiça social e a
causa dos trabalhadores, dos marginalizados, dos mais frágeis – para ir atrás
de imaginativos “activismos” minoritários de entediadas elites
urbano-depressivas. Numa
sociedade onde, felizmente, ninguém é penalizado pela sua índole e pelos seus
costumes, a maioria dos portugueses espera, pelo menos, não passar a ser
perseguida pela sua, talvez pouco imaginativa, “normalidade”
– esperança que poderá bem vir a ser vã.
E quanto à História? Vão continuar a chover subsídios aos
historiadores e divulgadores da História nacional como uma crónica de
esclavagismo e exploração, num masoquismo incontinente, pago pelos impostos de
todos? E o Portugal do Estado Novo, vai ser contextualizado e
olhado com verdade, no bem e no mal, ou vai continuar a ser divulgado como uma
filial da Inquisição e do Terceiro Reich, responsável por todos os males,
perante o angelical e impoluto regime
que há 50 anos lhe sucedeu?
Este ano completam-se 500 anos sobre
o nascimento de Camões e a morte de Vasco da Gama: que irão fazer para os celebrar os que
designaram e financiaram uma comissão de festas para, de 2021 e até 2026,
celebrar os 50 anos da revolução de Abril e do regime?
É em relação a estes pontos, éticos e
ideológicos, que devemos medir e avaliar as agendas dos que se apresentam a
voto nas eleições que se aproximam – julgando-os por isso e não pela simples
enunciação, mais ou menos vocal, mais ou menos articulada, da sua maior ou
menor vontade de combater o partido do governo. É tendo por eixo estes pontos que o eleitorado que se identifica com
a Direita – ou mesmo com a não-Esquerda – deve orientar o seu voto, já que são
eles que vão determinar a comunidade e a sociedade onde vamos viver – nós, os
nossos filhos e os nossos netos.
O voto, o voto útil, já não deve
servir só para recusar um mal maior, mas também combater males “subsidiários”,
as tais questões fundamentais a que alguns responsáveis políticos escolhem
chamar “questões de consciência”, deixando-as, numa cómoda ambiguidade, na mão
dos representantes, para que decidam por nós segundo a sua inclinação pessoal.
Deveremos nós, os representados, que
sabemos o que queremos e o que não queremos, passar uma procuração a deputados
cuja opinião desconhecemos para que votem “em consciência” em questões
fundamentais?
Se queremos viver numa comunidade mais
segura e numa sociedade mais justa e melhor, não basta rejeitar o que está:
temos o direito e o dever de exigir que nos apresentem propostas claras.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 42)
Nuno Alves: Obrigado. Rui Lima: Se os jovens partem, no passado era devido a ditadura a
guerra agora é devido ao socialismo, sem jovens não há energia restam os velhos
que são presa fácil do estado socialista compram-nos com alguns euros . Paulo J Silva: Cristalino! Já nos começa a faltar tempo para mudarmos
o rumo deste país. Dia 10 de março temos colectivamente mais uma oportunidade. Mas
a cada oportunidade desperdiçada estaremos mais perto do ponto de não retorno.
Não tenhamos a ilusão de que haverá sempre Portugal aconteça o que acontecer. A
História mostra-nos que não é assim. Actualmente, votar na esquerda é votar contra Portugal,
é negar o nosso património cultural, é dizer não ao nosso futuro colectivo. Ana Luís da Silva: Artigo
excelente, excelente! Existe um
entendimento por parte da classe política instalada de que o voto nas urnas é
uma espécie de procuração de plenos poderes, um cheque em branco assinado, um
casamento (por quatro ou cinco anos) com comunhão geral de bens de tipo
patriarcal entre cidadãos e políticos em que aqueles se submetem a estes… fora
as pancas partidárias muito específicas de cada um dos partidos. Não têm que dar cavaco a ninguém do que vão decidir e
do que vai ter impacto nas nossas vidas normais. Voltando às pancas partidárias. Neste momento da
corrida eleitoral temos a seguinte caricatura: PS: apresenta-se ao eleitorado como o Pai Natal de
sempre. Todos os candidatos socialistas, aliás, ou militam na maçonaria ou
licenciaram-se em distributivismo nas
hostes juvenis do partido, ou seja, aprendem a banquetear-se com a riqueza que
outros produzem e a distribuir as sobras pelos duendes (que
somos nós, fique claro, os simples civis, que trabalhamos). Como sabe que
provavelmente não vai poder continuar a governar, prepara-se para o “inverno”
fora dos centros de poder, minando o futuro da governação com um frenesim
legislativo e executivo de última hora que favoreça os compadres de sempre e
condicione verbas dos orçamentos futuros à sua agenda, além de acelerarem a
migração para os centros de decisão da administração pública e da sociedade
civil onde sempre que possam farão mossa aos coitados que o povo eleger. AD: com um líder apoiado pelo “avozinho” (que veio para
a ribalta apoiar o “neto”) e abandonado pelos “pais” (o partido em peso ou
quase, que ficou a palitar os dentes este tempo todo, em vez de afiar as
espadas deixou-as rombas, para quem fazer oposição é uma maçada, tirando o tiro
ao alvo ao CHEGA, e que só se mexe quando lhe cheira a sangue perto de eleições),
o PSD tenta ressuscitar a Bela Adormecida AD, em busca da sua gloriosa
coroa, que deixou de ser de ouro para passar a ser de latão, com dois partidos
de arrasto que entretanto até já estavam honrosamente catalogados na secção
histórica das bibliotecas. Entretido a recuperar do trauma, o “jovem”
líder procura conquistar o beneplácito “paterno”, esquecendo que tem de
convencer o país. À Direita:
o CHEGA tira vantagem do desnorte do PSD, mas
continua a ser trucidado por todos. De tanta tareia que levou, acabou por
afinar a arte da sobrevivência tornando-se musculado, estóico e leal em redor
do líder. Protesto sobre protesto, o CHEGA, que é claro nos princípios, é
confuso nas propostas. Está fadado para o combate, disso deu provas. Mas
falta-lhe je ne sais quoi , talvez
amadurecer para dar fruto? À
Esquerda: felizmente
em queda livre o Livre, mas também o PCP, já nem o Bloco convence a malta nova
arrevesada. PAN: cavalga como um animal furioso a agenda progressista e
assim pensa ir longe. Mais uma
vez obrigada a Jaime Nogueira Pinto e ao Observador. Coxinho: Claríssimo como água pura. Deputados escolhidos pelos
partidos não representam a vontade dos eleitores: representam a vontade dos
dirigentes dos partidos - o que na maioria dos casos é bem diferente. Reforma constitucional, precisa-se! vitor Manuel
> bento guerra: Os "illuminati" do Estado Novo eram gente com
experiência comprovada em grandes empresas como todos deviam saber. A seguir à
Golpaça de quem queria transformar esta trampa no regime dos funcionários
públicos como conseguiram, os ministérios da Indústria, Economia, Obras
Públicas e outros eram ocupados por gente de muito nível profissional, ao
contrário da que actualmente existe. vitor Manuel: Mais um excelente contributo para que haja
algum retrocesso nesta já longa marcha colectiva rumo à total decadência e que
merecia uma bastante maior divulgação. Pergunto ao autor, que muito prezo, o
que poderá fazer para conseguir chegar a mais milhões de portugueses. O País
precisa de si. Graciete
Madeira: Mais um
notável artigo de J. N. Pinto. Domingas Coutinho: Texto excelente como sempre. Como muito bem referiu
Nuno Melo recentemente, os portugueses devem escolher entre manter este estado
de coisas ou mudar. Para isso há que infelizmente lembrar as políticas erradas
que levaram a isto e apontar soluções. Já vimos que este PS inverte as
prioridades: primeiro a pessoa que está à frente do Partido, depois o Partido e
só depois o País. Coxinho
> Rosa Silvestre: Porém, a avaliar pelo nível desastroso do nosso ensino,
dentro de pouco tempo não haverá diferença entre mandar para fora "os mais
jovens, os mais aguerridos, os mais ambiciosos", e os analfabetos que
procuram aqui o sustento que lhes falta nos seus países de origem. Rosa Silvestre: Há 60 anos que estamos a mandar para fora a nossa força
de trabalho, os mais jovens, os mais aguerridos, os mais ambiciosos. António Soares: Sempre lúcido, objectivo e patriótico. Bem haja. Joana Quintela: Excelente reflexão! De grande ajuda! Espera-se que os
candidatos também leiam este artigo e sejam claros! Maria Nunes: Excelente. Obrigada JNP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário