domingo, 14 de janeiro de 2024

De pessoas

 

De pessoas

Como Jaime Nogueira Pinto, honestas, cultas, patriotas, experientes, leais e despegadas de avidez pecuniária é que o país precisa para ser dirigido com a necessária lealdade, para continuar a sê-lo – digo, “país”.

Quem vai decidir por nós?

Queremos mesmo deixar questões fundamentais, a que alguns dirigentes comodamente chamam “de consciência”, à consciência de deputados cuja opinião desconhecemos?

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR; 13 jan. 2024, 00:1840

O meio século de regime desta Terceira República parece destinado a cumprir-se no manifesto incumprimento do terceiro D de Abril: o desenvolvimento. Crise no Serviço Nacional de Saúde, crise no Ensino, crise na Habitação, emigração de quadros jovens, agravamento das desigualdades económico-sociais e uma legião de pobres e sem-abrigo que não ficará atrás dos índices de miséria dos anos 50.

O poder da Esquerda

A isto junta-se uma série de escândalos de grande, média e pequena corrupção, desde um primeiro-ministro que já ficou atrás das grades, até às notas e anedotas que circulam pelos gabinetes de S. Bento. E como se não bastasse, nas empresas, trocámos industriais e capitalistas portugueses por accionistas anónimos estrangeiros – chineses, espanhóis, americanos. Não temos um único banco nem uma única grande indústria nas mãos de portugueses e ninguém na classe política, nos media de referência, na oligarquia desta Terceira República parece muito preocupado com isso.

Quem são os responsáveis? Os governantes, que são quem manda, e os governados, que são quem vota.

Mas há uns mais responsáveis que outros. Quem governa Portugal, desde há quase 50 anos, é a Esquerda, com escassos intervalos de centro-direita, basicamente passados a tentar tapar os buracos da Esquerda.

É preciso ter isto presente e saber o que se quer e o que não se quer, para daqui a dois meses não haver equívocos sobre tudo ou quase tudo.

É que, ao contrário do que disse Bill Clinton a George Bush-pai (“It’s the economy, stupid!”), desta vez não é a economia. Ou não é só a economia, já que a economia nacional – excluindo a tributação, os ruinosos rasgos nostálgicos de sobre-estatização, o desinvestimento nos serviços públicos e a falta de incentivo à iniciativa privada nacional, que não são de somenos – é mais depressa decidida em Bruxelas e em Frankfurt do que em Lisboa. Como já não há economias socialistas de direcção central, aqui, a margem de decisão será só se a nossa vai ser mais ou menos socialista, mais ou menos capitalista, mais ou menos liberal, mais ou menos caótica, mais ou menos condicionada pela conjuntura internacional e decidida pela Comissão Europeia – e pelo BCE.

Assim, na escolha eleitoral, devem sobretudo pesar questões políticas, como a independência e a identidade nacionais e a sua defesa, o entendimento da História, a liberdade de expressão, os valores de referência. Queremos viver numa comunidade política independente, num Estado nacional, com fronteiras, numa Europa de nações, ou queremos a abolição dessas fronteiras no federalismo europeu, etapa e via para o globalismo selvagem?

As questões “fracturantes”

E que valores queremos para a sociedade e para as famílias? Queremos descartar os velhos, oferecendo-lhes a morte? Evitar os nascituros, interrompendo-lhes voluntariamente a vida? Queremos o delirante encorajamento da ambiguidade e da transexualidade desde a infância por leis passadas à socapa por executivos em gestão?

Tudo isto tem sido obra da Esquerda, que deixou de se preocupar com aquilo que tradicionalmente a nobilitava – a justiça social e a causa dos trabalhadores, dos marginalizados, dos mais frágeis – para ir atrás de imaginativos “activismos” minoritários de entediadas elites urbano-depressivas. Numa sociedade onde, felizmente, ninguém é penalizado pela sua índole e pelos seus costumes, a maioria dos portugueses espera, pelo menos, não passar a ser perseguida pela sua, talvez pouco imaginativa, “normalidade” – esperança que poderá bem vir a ser vã.

E quanto à História? Vão continuar a chover subsídios aos historiadores e divulgadores da História nacional como uma crónica de esclavagismo e exploração, num masoquismo incontinente, pago pelos impostos de todos? E o Portugal do Estado Novo, vai ser contextualizado e olhado com verdade, no bem e no mal, ou vai continuar a ser divulgado como uma filial da Inquisição e do Terceiro Reich, responsável por todos os males, perante o angelical e impoluto regime que há 50 anos lhe sucedeu?

Este ano completam-se 500 anos sobre o nascimento de Camões e a morte de Vasco da Gama: que irão fazer para os celebrar os que designaram e financiaram uma comissão de festas para, de 2021 e até 2026, celebrar os 50 anos da revolução de Abril e do regime?

É em relação a estes pontos, éticos e ideológicos, que devemos medir e avaliar as agendas dos que se apresentam a voto nas eleições que se aproximam – julgando-os por isso e não pela simples enunciação, mais ou menos vocal, mais ou menos articulada, da sua maior ou menor vontade de combater o partido do governo. É tendo por eixo estes pontos que o eleitorado que se identifica com a Direita – ou mesmo com a não-Esquerda – deve orientar o seu voto, já que são eles que vão determinar a comunidade e a sociedade onde vamos viver – nós, os nossos filhos e os nossos netos.

O voto, o voto útil, já não deve servir só para recusar um mal maior, mas também combater males “subsidiários”, as tais questões fundamentais a que alguns responsáveis políticos escolhem chamar “questões de consciência”, deixando-as, numa cómoda ambiguidade, na mão dos representantes, para que decidam por nós segundo a sua inclinação pessoal.

Deveremos nós, os representados, que sabemos o que queremos e o que não queremos, passar uma procuração a deputados cuja opinião desconhecemos para que votem “em consciência” em questões fundamentais?

Se queremos viver numa comunidade mais segura e numa sociedade mais justa e melhor, não basta rejeitar o que está: temos o direito e o dever de exigir que nos apresentem propostas claras.

A SEXTA COLUNA    HISTÓRIA    CULTURA    POLÍTICA

COMENTÁRIOS (de 42)

Nuno Alves: Obrigado.              Rui Lima: Se os jovens partem, no passado era devido a ditadura a guerra agora é devido ao socialismo, sem jovens não há energia restam os velhos que são presa fácil do estado socialista compram-nos com alguns euros .               Paulo J Silva: Cristalino! Já nos começa a faltar tempo para mudarmos o rumo deste país. Dia 10 de março temos colectivamente mais uma oportunidade. Mas a cada oportunidade desperdiçada estaremos mais perto do ponto de não retorno. Não tenhamos a ilusão de que haverá sempre Portugal aconteça o que acontecer. A História mostra-nos que não é assim.  Actualmente, votar na esquerda é votar contra Portugal, é negar o nosso património cultural, é dizer não ao nosso futuro colectivo. Ana Luís da Silva: Artigo excelente, excelente!  Existe um entendimento por parte da classe política instalada de que o voto nas urnas é uma espécie de procuração de plenos poderes, um cheque em branco assinado, um casamento (por quatro ou cinco anos) com comunhão geral de bens de tipo patriarcal entre cidadãos e políticos em que aqueles se submetem a estes… fora as pancas partidárias muito específicas de cada um dos partidos. Não têm que dar cavaco a ninguém do que vão decidir e do que vai ter impacto nas nossas vidas normais. Voltando às pancas partidárias. Neste momento da corrida eleitoral temos a seguinte caricatura: PS: apresenta-se ao eleitorado como o Pai Natal de sempre. Todos os candidatos socialistas, aliás, ou militam na maçonaria ou licenciaram-se em distributivismo nas hostes juvenis do partido, ou seja, aprendem a banquetear-se com a riqueza que outros produzem e a distribuir as sobras pelos duendes (que somos nós, fique claro, os simples civis, que trabalhamos). Como sabe que provavelmente não vai poder continuar a governar, prepara-se para o “inverno” fora dos centros de poder, minando o futuro da governação com um frenesim legislativo e executivo de última hora que favoreça os compadres de sempre e condicione verbas dos orçamentos futuros à sua agenda, além de acelerarem a migração para os centros de decisão da administração pública e da sociedade civil onde sempre que possam farão mossa aos coitados que o povo eleger. AD: com um líder apoiado pelo “avozinho” (que veio para a ribalta apoiar o “neto”) e abandonado pelos “pais” (o partido em peso ou quase, que ficou a palitar os dentes  este tempo todo, em vez de afiar as espadas deixou-as rombas, para quem fazer oposição é uma maçada, tirando o tiro ao alvo ao CHEGA, e que só se mexe quando lhe cheira a sangue perto de eleições), o PSD tenta ressuscitar a Bela Adormecida AD, em busca da sua gloriosa coroa, que deixou de ser de ouro para passar a ser de latão, com dois partidos de arrasto que entretanto até já estavam honrosamente catalogados na secção histórica das bibliotecas. Entretido a recuperar do trauma, o “jovem” líder procura conquistar o beneplácito “paterno”, esquecendo que tem de convencer o país. À Direita: o CHEGA tira vantagem do desnorte do PSD, mas continua a ser trucidado por todos. De tanta tareia que levou, acabou por afinar a arte da sobrevivência tornando-se musculado, estóico e leal em redor do líder. Protesto sobre protesto, o CHEGA,  que é claro nos princípios, é confuso nas propostas. Está fadado para o combate, disso deu provas. Mas falta-lhe je ne sais quoi , talvez amadurecer para dar fruto?  À Esquerda: felizmente em queda livre o Livre, mas também o PCP, já nem o Bloco convence a malta nova arrevesada.  PAN: cavalga como um animal furioso a agenda progressista e assim pensa ir longe. Mais uma vez obrigada a Jaime Nogueira Pinto e ao Observador.             Coxinho: Claríssimo como água pura. Deputados escolhidos pelos partidos não representam a vontade dos eleitores: representam a vontade dos dirigentes dos partidos - o que na maioria dos casos é bem diferente. Reforma constitucional, precisa-se!                  vitor Manuel > bento guerra: Os "illuminati" do Estado Novo eram gente com experiência comprovada em grandes empresas como todos deviam saber. A seguir à Golpaça de quem queria transformar esta trampa no regime dos funcionários públicos como conseguiram, os ministérios da Indústria, Economia, Obras Públicas e outros eram ocupados por gente de muito nível profissional, ao contrário da que actualmente existe.                vitor Manuel: Mais um excelente contributo para que haja algum retrocesso nesta já longa marcha colectiva rumo à total decadência e que merecia uma bastante maior divulgação. Pergunto ao autor, que muito prezo, o que poderá fazer para conseguir chegar a mais milhões de portugueses. O País precisa de si.                Graciete Madeira: Mais um notável artigo de J. N. Pinto.             Domingas Coutinho: Texto excelente como sempre. Como muito bem referiu Nuno Melo recentemente, os portugueses devem escolher entre manter este estado de coisas ou mudar. Para isso há que infelizmente lembrar as políticas erradas que levaram a isto e apontar soluções. Já vimos que este PS inverte as prioridades: primeiro a pessoa que está à frente do Partido, depois o Partido e só depois o País.                Coxinho  > Rosa Silvestre: Porém, a avaliar pelo nível desastroso do nosso ensino, dentro de pouco tempo não haverá diferença entre mandar para fora "os mais jovens, os mais aguerridos, os mais ambiciosos", e os analfabetos que procuram aqui o sustento que lhes falta nos seus países de origem.             Rosa Silvestre: Há 60 anos que estamos a mandar para fora a nossa força de trabalho, os mais jovens, os mais aguerridos, os mais ambiciosos.            António Soares: Sempre lúcido, objectivo e patriótico. Bem haja.                Joana Quintela: Excelente reflexão! De grande ajuda! Espera-se que os candidatos também leiam este artigo e sejam claros!                 Maria Nunes: Excelente. Obrigada JNP. 

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