UM GRANDE TEXTO. UMA GRANDE OBRA.
E as invejas poluentes dos pequenos homens, nas
pequenas sociedades.
Memórias de um Governo “Cansado” e “Arrogante”
(Parte II)
Cavaco Silva relembra, nesta segunda
parte do artigo sobre os últimos anos do seu governo, de como o Presidente
Mário Soares lhe fez oposição. Mas há uma frase famosa que gostaria de não lhe
ter dito.
OBSERVADOR, 23
jan. 2024, 19:2679
Na Parte I deste artigo, que
publiquei na semana passada, demonstrei que a afirmação de afamados analistas e
cronistas políticos da nossa praça de que, nos últimos dois anos da minha
década como primeiro-ministro (1985-1995), o governo estava cansado, tinha sido
por muitos erradamente interpretada.
Sou
levado a crer que o mesmo aconteceu com a afirmação de que o governo fora
arrogante, o que muitos interpretaram em sentido pejorativo, ao contrário do
que era certamente a intenção dos afamados analistas. Em minha opinião, com a
expressão “governo arrogante”, queriam certamente significar, tal como consta
do Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências, que o executivo
revelara orgulho, não só pela obra realizada, mas também pela inteligência que
demonstrara na resposta aos ataques políticos da oposição.
Nos meus últimos anos como primeiro-ministro, o governo enfrentou
uma oposição bastante aguerrida por parte do PS, liderado por António Guterres,
que, com algumas excepções, se situou dentro das regras do combate político em
democracia.
Anormal
nesse período foi a acção do Presidente da República, Mário Soares, certamente incomodado com a dimensão da obra
realizada pelo governo. Abandonou explicitamente a posição de isenção e
independência em relação às forças político-partidárias e passou a ser parte activa
do jogo político, assumindo mesmo uma atitude destacada no ataque ao governo,
como foi reconhecido por toda a comunicação social. Já em fevereiro de 1993, o
semanário Expresso escrevera que o Presidente tinha a “aparente obsessão de
dizer preto quando o executivo diz branco”.
Mário
Soares violou
abertamente regras básicas de actuação de um Presidente constantes do parecer
“Os poderes do Presidente da República”, por ele próprio encomendado aos
constitucionalistas Gomes Canotilho e Vital Moreira, como: “Não fazer parte da
dialéctica maioria/oposição (…); não ser líder da oposição nem mover contra o
governo uma guerrilha institucional (…); e o dever de manter sempre um
distanciamento em relação à lógica político-partidária”.
Face a esta anormalidade, o governo e
o PSD foram forçados a encarar o Presidente como um adversário político e uma
“força de bloqueio”.
No entanto, sempre entendi que as
divergências políticas não deviam pôr em causa o respeito devido ao Presidente
Mário Soares, um político a quem o país muito devia na defesa do pluralismo
democrático e da adesão de Portugal às Comunidades Europeias e cuja reeleição,
em 1991, tinha sido, por minha proposta, apoiada pelo PSD. As minhas relações
pessoais com o Presidente foram sempre cordiais e de respeito mútuo. De acordo
com os critérios de avaliação predominantes no país, Mário Soares era de facto
um grande político.
Para mim, era claro que a oposição
explícita do Presidente afectaria negativamente a popularidade do governo.
Neste contexto, competindo-me como primeiro-ministro dirigir o funcionamento do
governo e a sua política, coordenar e orientar a ação dos ministros e manter a
coesão da equipa governamental, defini uma estratégia assente em dois pilares
fundamentais.
Em primeiro lugar, o governo continuaria a executar o seu programa e a
tomar as medidas estruturais necessárias ao progresso do país nas suas
diferentes dimensões e ignorava as críticas do Presidente. Com Sá Carneiro, eu
tinha aprendido que primeiro-ministro que se deixe guiar pela popularidade não
resolve os problemas do país.
Em segundo lugar, a resposta
a Mário Soares, na sua qualidade de adversário político, ficava a cargo do PSD
e do seu grupo parlamentar.
O desenvolvimento desta estratégia
resultou bastante bem, como ficou demonstrado na Parte I deste artigo,
publicado na semana passada. Os
afamados analistas e cronistas políticos têm, assim, razão para afirmar que o
governo revelou arrogância, ou melhor dizendo, orgulho pela forma como conduziu
os destinos do país nos últimos dois anos do seu mandato.
O desígnio que me movia, desde a tomada de posse como primeiro-ministro,
era o da transformação e modernização do país, de modo a prepará-lo para um
futuro de desenvolvimento económico, social e cultural e de aproximação aos
países mais avançados da União Europeia. Ganhar eleições podia ser uma
consequência da política do governo, mas não necessariamente. O desenvolvimento
do país exigia a tomada de medidas impopulares e a elas não devia fugir.
A intenção do Presidente de obstar
politicamente a acção do Governo ficou patente na pouca consistência da
justificação de alguns dos usos dos poderes que a Constituição lhe confere: o
direito de veto e de pedido de verificação da constitucionalidade de diplomas
do governo. Em 19 de dezembro de 1994, o Diário de Notícias escreveu: “Os vetos são mais uma peça entre muitas
outras que Soares vai montar, sempre nos bastidores, até ao final do seu
mandato, para desgastar a imagem do governo”.
Em
relação aos decretos submetidos a promulgação pelo Presidente, o governo
procurou ultrapassar os argumentos aduzidos para o exercício do veto através de
esclarecimentos enviados à Presidência da República. Em caso de insucesso, e
vetando o Presidente um diploma considerado importante para a realização do
programa do governo, o mesmo era transformado em proposta de lei à Assembleia
da República e, aí, era feito uso do poder da maioria parlamentar do PSD para
aprová-lo. No debate que tinha lugar, o governo era acusado de afrontar o
Presidente, mas pior do que esse ónus seria o executivo acomodar-se e não
aprovar as medidas indispensáveis à construção de um Portugal moderno e
desenvolvido.
Um
dos casos mais falados foi o veto, em agosto de 1993, da autorização
legislativa sobre o direito de asilo conferida ao governo pela Assembleia da
República, a qual era indispensável para impedir que entrassem no país milhares
de falsos exilados políticos, tal como estava a ser feito por vários países da
Comunidade Europeia. Como a situação requeria medidas urgentes, interrompi
as férias, convoquei uma reunião do Conselho de Ministros e o governo, para
ultrapassar o obstáculo criado pelo veto do Presidente. Foi solicitada uma
reunião extraordinária da Assembleia da República, interrompendo as férias dos
deputados, que teve lugar em 18 de Agosto, para debater e aprovar uma proposta
de lei sobre o asilo. Na reunião com o Presidente, que se seguiu a esta vitória
do governo, fiz o possível para não me apresentar com um ar arrogante.
Relativamente aos recursos do
Presidente da República ao Tribunal Constitucional para travar a acção do
governo, em agosto de 1993 o Tribunal não
deu acolhimento ao seu pedido de inconstitucionalidade de um diploma visando a
erradicação das barracas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e a
construção de habitações económicas. O mesmo tinha acontecido antes com as leis de actualização das propinas do ensino
superior, de alteração da lei da greve, da mobilidade dos funcionários públicos
e da transformação da Radiofusão Portuguesa em sociedade anónima, assim como
dos diplomas de extinção da empresa do Teatro Nacional de São Carlos e da Auditoria
Jurídica da Presidência do Conselho de Ministros.
Os analistas políticos de então acabaram
por reconhecer que, através do poder de veto e de envio de diplomas para o
Tribunal Constitucional, foram poucas as medidas relevantes para o progresso do
país cuja concretização foi impedida pela oposição política do
Presidente, o que deixou nos membros do governo um forte sentimento de orgulho,
que pode ter sido confundido com arrogância.
Em dezembro de 1993, quando faltavam
menos de 23 meses para o fim do meu mandato como primeiro-ministro, decidi
proceder a uma remodelação ministerial, envolvendo a substituição de quatro
ministros. Foi uma remodelação da qual hoje, olhando ao ainda governo do país
de maioria absoluta, que primou pelo seu próprio desmoronamento, sinto uma
certa arrogância, ou melhor dizendo, orgulho.
Personalidades independentes
partidariamente, consideradas de excelência nas suas áreas, aceitaram os meus
convites para ministro das Finanças e para ministro da Saúde (Eduardo Almeida
Catroga e Adalberto Paulo Mendo). Por outro lado, a comunicação social e o país
político foram apanhados de surpresa, tal como tinha acontecido em 2 de janeiro
de 1990, quando anunciei uma remodelação de cinco ministros. Como tive ocasião
de escrever em 2023, só um primeiro-ministro a quem seja reconhecida autoridade
e credibilidade consegue assegurar estas condições.
Mário Soares muito se esforçou para
desgastar a imagem do governo através do seu comportamento e atitudes, como a
comunicação social bem o ilustra.
Recordo três casos, de que já dei conta
na minha Autobiografia Política II, que levaram o PSD a concluir que o Presidente
Mário Soares era o verdadeiro chefe da oposição e a responder-lhe com
veemência, enquanto eu, como primeiro-ministro, ignorava, perante a comunicação
social, as dificuldades por ele criadas ao governo.
As presidências abertas do Presidente
pelo país para criticar o governo, foram, em 2000, objecto de um terrível
libelo acusatório por parte da sua própria assessora de imprensa, Estrela Serrano,
ao afirmar explicitamente que, na Presidência da República, havia uma
estratégia de desgaste do governo cuidadosamente delineada, que as
manifestações de grupos descontentes eram estimuladas e se lhes assegurava boa
cobertura mediática, e ao explicar como os jornalistas eram manipulados pelo
Presidente.
De referir também a conivência que a
Presidência da República desenvolveu com um semanário – que acabou por falir –
especializado em campanhas de mentiras e cabalas políticas, como foi mais tarde
reconhecido por um dos seus directores. Produziram algumas cócegas e incómodos
em membros do governo, mas não perturbaram aquilo que verdadeiramente nos movia: a execução do programa reformista
de transformação da sociedade portuguesa e desenvolvimento do país.
Pessoalmente, nunca tive apetência nem jeito para a arte de sedução dos
jornalistas.
Um segundo caso diz respeito às
notícias que, no verão de 1993, surgiram na comunicação social de que Mário
Soares, num jantar com amigos no restaurante Avis, discutira a hipótese de
demitir o governo, dissolver a Assembleia da República e convocar eleições
antecipadas.
Eu estava certo de que tal não iria
acontecer e afirmei a um semanário: “A hipótese de dissolução do
Parlamento é de tal forma absurda que tenho o direito de não lhe dedicar
qualquer atenção. Portugal tem um governo de maioria. Os nossos parceiros da
Europa comunitária, se nos ouvissem falar disso, pensariam que não estávamos
bons da cabeça”. Sabia, no entanto, que o objectivo do Presidente era criar um
clima de instabilidade política.
A Presidência da República foi
alimentando a notícia da possibilidade de dissolução até às eleições
autárquicas de dezembro de 1993, na convicção de uma hecatombe eleitoral do PSD
que, para sua grande desilusão, não aconteceu, contrariamente ao que também tem
sido afirmado por alguns dos afamados analistas e cronistas políticos.
Em 20 de dezembro, o semanário Expresso
escreveu em editorial: “Soares pode alimentar a ideia de que dissolverá o
Parlamento – mas não pode, na prática, concretizar essa intenção. A ideia da
dissolução serve ao Presidente porque, enquanto se pensar que isso pode
acontecer, ele estará no centro das atenções e será o fiel da balança do poder
político; pelo contrário, a partir do momento em que se perceber que Mário
Soares não tem condições para dissolver a Assembleia passará a ser visto como o
detentor de um poder formal, passando Cavaco Silva para primeiro plano”.
A seguir às eleições autárquicas, um
jornalista do Expresso escreveu: “Soares
não voltará a discutir a dissolução do Parlamento, sequer como hipótese, nos
próximos jantares com os seus amigos políticos. Se o fizer e houver notícia, o
Presidente da República corre o risco de manchar, por força de uma excessiva
fixação anticavaquista, a fase terminal do seu mandato. Só um resultado
desastroso para o PSD nas autárquicas – menos câmaras e muito menos votos do
que os que obteve nas eleições de 1989, a par de um crescimento avassalador do
PS – permitiria alimentar o rastilho da dissolução, ateado no famoso jantar do
Avis e mantido em fogo lento por opção deliberada do Presidente da República. Contados
os votos, nenhuma das premissas esperadas se verifica, pelo que o tema saiu da
agenda política logo na noite de domingo. Ficou assim desactivada a bomba atómica, segundo expressão do
próprio Mário Soares – o único poder efectivo de que dispunha para cortar o
passo a Cavaco Silva. Por isso, o Presidente da República perdeu as
eleições autárquicas, apesar de não ter sido candidato.”
Um
terceiro caso, que deve
ser lembrado, é o do congresso “Portugal: que futuro?”, organizado em maio de
1994 pelos “homens do Presidente”, com o patrocínio de Mário Soares, com o objectivo
primordial de atacar o governo, como foi reconhecido por toda a comunicação
social. No dia e hora a que o Presidente da República fazia
o discurso de abertura, criticando fortemente o governo, estava eu com a minha
mulher e o governador civil de Beja em Mértola, sentados descontraidamente na
esplanada de um café, saboreando caracóis cozidos e bebendo uma cerveja, depois
de ter visitado o Pulo do Lobo, no rio Guadiana.
No dia seguinte, fui ao Centro Cultural
de Belém onde tinha um batalhão de jornalistas à minha espera para que
comentasse o discurso de Mário Soares. Fiz um ar inocente, certamente
arrogante, e disse-lhes, para seu espanto, que desconhecia o teor do discurso
porque tinha estado no Pulo do Lobo e expliquei-lhes
que era uma garganta profunda e estreita cavada na rocha do leito do rio por
onde as águas se precipitavam em ruidoso turbilhão.
Este congresso, pela polémica que
gerou, acabou por ser politicamente benéfico para o governo, tendo irritado
profundamente o PS e o seu líder António Guterres, que se via substituído por
Mário Soares como líder da oposição. Um destacado dirigente do partido escreveu
no jornal Público, em 17 de maio, um artigo sobre o referido congresso em que
fez críticas contundentes ao Presidente, acusando-o mesmo de se imiscuir na
vida do PS, com o propósito de ajustar contas comigo.
No Conselho de Ministros seguinte, os
membros do governo apresentaram-se com um ar verdadeiramente divertido.
Contrariamente ao que tem sido afirmado
por afamados analistas e comentadores políticos, o PSD não foi derrotado nas
eleições de deputados ao Parlamento Europeu de junho de 1994. Depois de quase
nove anos consecutivos de Governo, obteve apenas menos 48 décimas do que o PS e
aumentou mesmo a percentagem em relação à eleição de 1989, o que criou uma
frustração indisfarçável nas forças da oposição ao governo.
As
eleições para o Parlamento Europeu implicaram a substituição do Ministro da
Agricultura. Apesar de faltarem
apenas 17 meses para completar o meu mandato como primeiro-ministro, o
engenheiro António Duarte Silva, uma personalidade independente de grande
valor, aceitou o meu convite para ocupar o lugar.
Em
setembro de 1994, o Presidente da República aproveitou a tentativa de repetição
do bloqueio da Ponte 25 de Abril que tinha sido feito em junho, como protesto
ao aumento das portagens, para atacar fortemente o governo. Era claro então que
as portagens eram uma arma de ataque político-partidário, com o apoio de alguma
comunicação social, como o provava a integração de deputados comunistas e
socialistas nas caravanas que procuravam atravessar a ponte sem pagar.
Nas minhas reuniões com Mário Soares,
em que este assunto foi discutido, adoptei, desconversando, uma estratégia que
o aborreceu. Insisti sempre que o Governo não interferia na luta
político-partidária e que, como lhe competia, continuava a trabalhar para
garantir a segurança interna e a tomar as medidas necessárias ao progresso do
país, mesmo que fossem impopulares, sem medo de desagradar a corporações e
grupos de interesse, porque a mudança não se fazia só com decisões políticas
simpáticas.
Por
outro lado, recusei-me sempre a fazer comentários públicos sobre as críticas do
Presidente ao governo sobre as tentativas de bloqueio da ponte, por mais
violentas e absurdas que fossem, enquanto as estruturas do PSD o acusavam de
constituir-se parte do jogo político, deixando de ser árbitro do sistema e assumindo-se
como contrapoder. Em 7 de dezembro de 1994, a Comissão Política do PSD emitiu
mesmo um comunicado em que rompeu com Mário Soares, considerando que a sua
falta de isenção tinha ultrapassado tudo o que se podia tolerar.
Recordo,
no entanto, que no anterior mês de setembro vivi um dos momentos de maior
alegria da minha vida política: a
inauguração da Escola Básica Integrada de Boliqueime, um contributo importante
para que as crianças da minha terra natal pudessem prosseguir os seus estudos.
Depois
de, em 23 de janeiro de 1995, ter anunciado publicamente que não me candidatava
a presidente do PSD no congresso marcado para fevereiro, continuando como
primeiro-ministro até ao fim da legislatura, mas não me candidatando a deputado
nas eleições legislativas que, de acordo com o calendário normal, teriam lugar
em outubro, Mário Soares desencadeou ainda uma jogada política sem qualquer
sentido para desgastar a imagem do governo e do PSD. Sobre ela, o jornal Diário
Notícias, em 28 de fevereiro, fez o título: “Soares faz render a incerteza”.
Decidiu
promover consultas formais aos partidos políticos, e às confederações sindicais
e patronais, para apurar se a minha decisão era razão para a dissolução do
Parlamento e convocação de eleições antecipadas. Em 6 de março, o Presidente,
vencido, emitiu um comunicado dizendo que não havia razões para a dissolução.
Os ataques do Presidente não impediram o
governo de continuar com o seu estilo arrogante, ou melhor dizendo, exibindo
orgulho, a executar as políticas reformistas previstas para a parte final da
legislatura, tendo a recuperação económica sustentável prosseguido a bom ritmo
no ano de 1994. A OCDE, no relatório
de 1995, reconhece explicitamente que Portugal fizera progressos notáveis
depois de 1985, reduzindo significativamente os seus diferenciais de rendimento
e produtividade relativamente aos outros países da União Europeia.
Na parte final do meu tempo como
primeiro-ministro, numa tentativa de acalmar os críticos de Mário Soares dentro
do PSD, fiz uma afirmação que muito o irritou: “Temos de ajudar o senhor
Presidente da República a acabar o seu mandato com dignidade”. Não a devia ter
feito.
Foi
em 1994, quando faltava cerca de um ano para o termo das minhas funções de
primeiro-ministro, que tive conhecimento de que o professor John Williamson,
num livro publicado pelo Institute for International
Economics de Washington, incluiu o meu nome na categoria de
destacados tecnopolíticos (technopols) mundiais,
definidos como os economistas que assumem o risco de cargos políticos e as
responsabilidades que isso acarreta.
Não me senti nada incomodado com essa
classificação. Talvez tenha mesmo sentido um certo orgulho pelo facto de a
minha forma de estar na política ter sido percebida noutras geografias. Cumprir
as promessas feitas, falar verdade aos portugueses, estudar profundamente os
dossiês, ser rigoroso na acção, trabalhar no duro.
De facto, sempre me vira como um
não-político no poder. Pessoalmente, o que me motivava era cumprir o programa
reformista do governo, fazer obra e contribuir para a aproximação de Portugal
aos países mais desenvolvidos da União Europeia. O sucesso governativo entendia-o em
termos de progresso do país nas suas diferentes dimensões e não tanto em termos
de resultados eleitorais e preservação do poder, como aliás defendi no
livro O Primeiro-Ministro e a Arte de Governar. Retinha na minha
cabeça a afirmação do professor Carlos da Mota Pinto de que, enquanto
governante, tinha sempre na algibeira a chave do seu automóvel. Tal como ele,
tinha à minha espera o lugar de professor universitário quando decidisse pôr
fim à carreira política.
Isto
explica a estratégia que adoptei de secundarização dos efeitos sobre a
popularidade do governo dos violentos ataques da oposição, em particular do
Presidente da República, nos últimos anos da legislatura. Apesar de todos os
seus esforços, a minha equipa ministerial manteve-se coesa e dinâmica até ao
último dia, e a obra realizada nos dois anos finais do meu mandato como
primeiro-ministro não receia ser comparada com a dos oito anos do ainda poder
socialista.
O trabalho de consulta dos meus
arquivos de há quase 30 anos para escrever este artigo não me deixou qualquer
cansaço, antes me divertiu e reavivou o sentimento de orgulho, erradamente
confundido com arrogância, pelo trabalho realizado pelos governos a que tive a
honra de presidir.
PS: A leitura da entrevista ao jornal
Público, publicada nos dias 28 e 29 de março de 1995, em que fui interrogado
por Vicente Jorge Silva, Jorge Wemans e Áurea Sampaio, talvez seja útil aos actuais
afamados analistas e cronistas que desejem voltar a falar sobre o “cansaço” e a
“arrogância” do governo nos meus últimos dois anos como primeiro-ministro.
POLÍTICA CAVACO
SILVA POLÍTICA INTERNA MÁRIO
SOARES PAÍS
COMENTÁRIOS (de 57)
Ana Maia: Chamou-me á atenção o facto de o governo interromper
as férias para resolver problemas de governo. Já os governos do Costa foram
ao contrário, metiam férias para fugir aos problemas. É também curioso que
tenha sido para resolver um problema de "portas abertas" que também o
Costa conseguiu arranjar mas que, pelos vistos já tinha sido tentado
anteriormente. Quanto ao Mário Soares, era
demasiado nova para me aperceber de certas coisas, mas pelos vistos a
política baixa e as facadas nas costas foram táticas muito aperfeiçoadas pelo
PS, de tal forma que hoje não sobrou nada para além das facadas constantes em
todos os que não comunguem a opinião c/o chefe, todos os que não sejam
"yes man". Não quero deixar
de salientar uma frase que podia ser um farol para os políticos actuais como
foi para o Passos Coelho e claramente deve ter passado de moda, afinal o
soarismo venceu: "Cumprir as promessas
feitas, falar verdade aos portugueses, estudar profundamente os dossiês, ser
rigoroso na acção, trabalhar no duro." joaquim zacarias: O professor CS esqueceu-se de referir, que em dez anos
em S.Bento, a PJ não descobriu nenhuma caixa de vinhos, com 75000 paus. Carlos
Chaves: Muito obrigado Professor Aníbal Cavaco Silva, magistrais estes seus dois
artigos! No tom, na informação que nos presta (relembra) e principalmente pela
enorme obra feita para nosso benefício como nação. “De acordo com os
critérios de avaliação predominantes no país, Mário Soares era de facto um
grande político.” Ora aqui está uma
declaração impossível de ver na boca da esquerda! Um
elogio a um adversário político. “Com Sá
Carneiro, eu tinha aprendido que primeiro-ministro que se deixe guiar pela
popularidade não resolve os problemas do país.” Marcelo,
ouviu? Ouviu bem a voz de quem fez e deixa marca? Você ficará no caixote do
lixo da história. “(…) estilo arrogante, ou
melhor dizendo, exibindo orgulho,(…)”E que orgulho, Portugal ter tido um
governante deste calibre! Domingas Coutinho: Com este testemunho se constata
inequivocamente a diferença entre PSD e PS sendo que um coloca em primeiro
lugar o País e o segundo o Partido. João
Alves: Cavaco sempre a
martelar certeiramente. A esquerdalhada até espuma de raiva cada vez que o professor
escreve um artigo destes. E eles contorcem-se de ódio não porque se sentem
injuriados mas porque sabem que a verdade os incomoda.
E a verdade é que em quase 9 anos de governo, Costa não tem nada para
mostrar. Esteve lá, esse bandido e os seus amigos, 9 anos sem fazer nada a não
ser servir-se a si, ao seu partido e a garantir que nunca de lá mais saía. Quando Sócrates estava no poder, toda a gente
sabia que aquela gente estava ali só para roubar mas ao menos via-se qualquer
coisa a ser feita. Já Costa comete um crime muito maior: o da inércia e
paralisação total do país enquanto o PS rouba e estende os seus tentáculos
sobre tudo o que pode. JOHN MARTINS: Se na primeira parte Cavaco
Silva mostrou ao ainda governo socialista de Costa o que é fazer e deixar obra,
digna de legado de um governante. Porque na verdade o que Costa deixa de
legado, é o país em estado de sítio e escândalos indignos. Já nesta segunda
parte Cavaco Silva mostra a argúcia política em lidar com Mário Soares,
autêntica força de bloqueio, só porque nunca conseguiu fazer nem uma décima
daquilo que Cavaco Silva fez pelo progresso do país. No entanto, Soares
fez-lhe um pequeno favor; nas eleições presidenciais de 2006 teve a amabilidade
de dar o golpe a Manuel Alegre concorrendo contra o camarada do seu próprio
partido...mas ficou atrás de Alegre, terminando humilhantemente, aí a sua
carreira política, e dando mais uma vez prova do bloqueio, a tudo
que não fosse seu. Cavaco esteve esplêndido na obra e igualmente no tacto
político. Álvaro
Venâncio: Muito obrigado, Professor Cavaco Silva pelo seu extraordinário contributo,
ímpar, para o progresso de Portugal. Maria Tubucci: Grande Cavaco e Único PR!
Excelente memória histórica, informando na 1ª pessoa a guerrilha movida por MS
ao seu governo. Tal como hoje, a guerrilha e manipulação é produzida pelos
avençados PS na CS, que se dizem “jornalistas”, mas estão lá para sujar o bom
nome e a honra das pessoas, incapazes que são de criticar o trabalho realizado,
só sabem fazer ataques de carácter. Assim, com a máquina da propaganda a
bombar na máxima potência os avençados fazem a lavagem ao cérebro dos
portugueses, para facilmente “conquistarem” o poder. Mas, acho que não há
bem, o deles, que sempre dure... João
Floriano: Achei a segunda parte mais interessante do que a primeira porque fala
do comportamento antagónico de Mário Soares e como todos os tiros foram de
pólvora seca e saíram pela culatra. Embora os protagonistas sejam diferentes,
há certas semelhanças entre o que se passou com AC e Marcelo Rebelo de Sousa.
No entanto Marcelo é muito diferente de Mário Soares porque permitiu demasiada
informalidade no seu relacionamento com S. Bento, com o objectivo de desanuviar
o ambiente. Só que AC não tem a folha de serviço de Cavaco como PM e ao
contrário deste, os mandatos de AC caracterizaram-se por falta de reformas e em
vez de convergência com os mais ricos da Europa tivemos sim divergência. Outra
diferença notável está na qualidade da equipa ministerial, muito superior em
Cavaco Silva, sem protagonismos de casos e casinhos. Não há dúvida que o PS tem
produzido um efeito de erosão na política portuguesa. Antonio
Carvalho: Vai ser interessante ver a versão Costa dos 8 anos em que esteve no governo
e nada fez além dos casos, casinhos e casões.. Para o fim de festa rematou com
os 75.000 André
Ondine: Dois textos muito importantes para reavivar a memória e para não deixar que
a tenebrosa máquina de propaganda dos habilidosos e carismáticos reescreva a história. Infelizmente, esta é uma tarefa
muito difícil. A máquina de propaganda está no partido, no comentário e nos
Media e é implacável com Cavaco Silva. Para cada Cavaco há cinquenta Marques
Lopes. No entanto, aqueles que não vivem de tachos e aqueles que não são
toldados pela cegueira habilidosa, sabem da importância de Cavaco e sabem que
está a anos-luz da mediocridade do bando do Habilidoso e agora do bando do
carismático. Cavaco Silva prestou importante e essencial serviço público enquanto PM.
Continua a prestar, tendo a coragem de ser verdadeiro perante o lamaçal Paixão
Martins. Devemos-lhe também isto.
Alexandra Ferraz: Já não temos governantes desta fibra, infelizmente... obrigada Professor
Cavaco Silva por ainda se dar ao incómodo de 'atirar pérolas a porcos'. Graças
a Deus que ainda tive a sorte de poder votar sempre no senhor e de apreciar as
lições de boa governança que deu a tantos políticos de faz-de-conta e a
analistas 'afamados' que andam ao sabor do vento. Mesmo 'cansado' e 'arrogante'
conseguiu conduzir o país a um estado de desenvolvimento e de crescimento da
economia que, desgraçadamente, nunca mais se igualou. Bem haja!!! António Santos: Grande Professor!! Fernando CE >Liberales Semper Erexitque: O bochechas ainda é hoje
perseguido por um famoso livro de Rui Mateus : “Contos proibidos , Crónicas de
um PS desconhecido”. Leia e/ou releia. António Soares > Marlene
Barnabé: A fome já vinha de trás, provocada pelas nacionalizações e falências de
empresas em catadupa, iniciadas nos governos de Vasco Gonçalves, o grande
inspirador de PNS. Pode querer enganar, a
mim você não engana, que vivi esses tempos. Vitor Batista: O melhor Estadista de sempre, ainda
assim há por aqui uns labregos que dizem que teve muito dinheiro da Europa, já
o Costa não, aquela famosa foto de mão erguidas e curvado a pedir para levantar
o cheque dizem que teve muito mais. Cisca Impllit: Cada vez mais percebo Cavaco
Silva, sempre teve visão e estatura políticas, e não é preciso
concordar com tudo. Mas, esses almoços do PR MS semanais para derrubar o PM CS, e
os anos seguintes até já na decrepitude a insistência numa
sobrevida política activa deram cabo de Mário Soares e em nada ajudaram
Portugal; diferentemente de alguns bons feitos como a ída à Fonte
Luminosa que antecedeu o 25 Novembro 75, insistência, entre outros, na
integração na CEE. João
Barreira: Lembro-me de o principal papel de Mário Soares como Presidente da República
ter sido fazer oposição ao Governo. Lembro-me também de que, como Ministro dos
Negócios Estrangeiros ter assinado o Acordo de Lusaka que definia a
descolonização das ex-colónias africanas. Ao contrário do que se propaganda, a
"exemplar" descolonização resultou em décadas de guerras civis, fome,
ditadura, corrupção. Lembro-me também de que, como Primeiro Ministro e na
sequência das políticas económicas marxistas, ter levado Portugal à beira da
bancarrota, tendo sido necessária a intervenção do FMI em 1981 e 83. Como
"grande socialista", Mário Soares foi eleito Presidente da
República com um "invejável" curriculum de asneiras políticas.
Neste cargo, para além de pavonear a sua arrogância e de se comportar como
pequeno ditador, em vez de garantir o correcto funcionamento das instituições
(que julgo ser a mais importante função do PR), passou a quase totalidade do
tempo a fazer oposição do Governo de Cavaco Silva. Não estaria a passar um
atestado de incompetência ao Secretário Geral do PS? Ou será que, segundo o
Princípio de Peter, já tinha atingido o topo da sua competência como líder da
oposição? Os 10 anos dos Governos do Prof. Cavaco Silva, foi o período de maior
desenvolvimento do País nos últimos 50, logo destruído pelo
"pântano" de Guterres, pela corrupção de Sócrates e pela
incompetência de Costa.
J. Gabriel > Liberales
Semper Erexitque; Ou tem falta de memória, ou é mal intencionado? Foi o
tempo de mais Obra pública que tanta falta fazia ao país, começou pela
estradas, NÃO FEZ TODAS, mas as principais, DINHEIRO, QUAL É O GOVERNO QUE MAIS
DINHEIRO TEM TIDO À DISPOSIÇÃO E QUE MENOS FEZ? Em oito quais são as obras
deste governo. A de que me lembro, é num país SEM ÁGUA deixar plantar 10 eta de
abacates, junto à 125 entre Lagos e Portimão,. Este é um bom exemplo de um bom
governo Fernando
CE: E o governo Costa
chegou a nomear um presidente da CGD em fim de julho, quase tudo em de férias
de verão, a ver se passava certamente, e que viria a desistir por não ser
possível aceitar as condições impostas por lei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário