sábado, 27 de janeiro de 2024

Está no nosso fado


Feito de extrema pequenez, egoísta e peca. Desta vez prova-o a “irracionalidade” de Montenegro, seguindo em frente, numa vaidade indiferente a outras hipóteses que não sejam as das suas certezas, pobre tonto, apesar de haver quem bem o desmascare, como Rui Ramos e algum comentador afoito e sério.

O azar da AD

Perante as geringonças e os “casos” a que o poder socialista reduziu a política em Portugal, talvez fizesse sentido arriscar outra visão da vida pública. Talvez o país notasse a diferença.

RUI RAMOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 26 jan. 2024, 00:2261

Já tínhamos, entre as expressões proverbiais, o “azar dos Távoras”. É possível que ainda venhamos a ter o “azar da AD”. Na última semana, a infelicidade foi insistente. Antes da convenção, foi Nuno Melo a defender, muito seguro, que a AD, se não ganhasse, devia ajudar a manter o PS no poder, mesmo havendo maioria para outra solução. No dia da apresentação do programa económico, foi a investigação na Madeira, com o presidente do governo regional suspeito de corrupção, e os outros partidos a fazerem comparações com o caso de António Costa.

Nunca devemos subestimar os caprichos da fortuna. Napoleão preferia um general menos bom, mas com sorte, a um general excelente, mas azarado. Nesta história da AD, porém, não parece ter havido apenas infortúnio. Como todos vimos, Nuno Melo julgou estar a dizer exactamente o mesmo que Luís Montenegro. Como é possível, quando a AD e o Chega se acusam mutuamente de contribuir para o prolongamento do mando socialista, que os dirigentes da AD não tivessem arranjado meia hora para definirem uma posição conjunta e limpa sobre a hipótese de um governo minoritário do PS?

A mesma coisa na Madeira. Os dirigentes do PSD estabeleceram regras para candidatos a deputado comprometidos em processos judiciais. Mas perante o precedente da demissão de António Costa, não deveriam ter também um protocolo sobre como reagir no caso de titulares de cargos públicos? Isso ter-lhes-ia permitido agora tomar posição de acordo com essa regra, e não, como parece, serem obrigados a manifestar-se (ou a calar-se) em função de simples solidariedade partidária. Foi notória a alegria do PS, já a antecipar talvez algum pacto de silêncio sobre um assunto que, a crer nos cartazes, a AD ia usar.

Poder-se-ia chamar a isto, impreparação. Mas talvez não seja. Depois da convenção, Luís Montenegro continuou a recusar-se a responder directamente aos jornalistas sobre a viabilização de um governo socialista. Como explicar isto? É muito provável que os dirigentes da AD prevejam um futuro de confusão a seguir a 10 de Março. Acreditarão que lhes convém, por isso, estarem disponíveis para certos acordos?

É uma escolha. A fragmentação da Assembleia da República, a atenção judicial ao exercício do poder político, a estagnação económica, e a degradação dos serviços públicos tornaram tudo fluído em Portugal. Perante isto, os políticos têm duas opções. Ou fazem parte da indefinição e da incerteza, procurando estar à vontade para agarrar quaisquer oportunidades, mesmo as mais manhosas; ou tentam tornar-se focos de clareza e de direcção, e ir à frente dos acontecimentos, mesmo que isso limite as suas opções. Admito que sejam necessárias convicções fortes, e bastante confiança em si próprio e no país para optar pela segunda via. Mas perante as geringonças e os “casos” a que o poder socialista reduziu a política em Portugal, talvez fizesse sentido arriscar outra visão da vida pública. Talvez o país notasse a diferença. Talvez reagisse. Talvez, quem sabe, aderisse.

A melhor maneira de ter azar é entregarmo-nos à sorte. Foi o que a AD fez até agora. O que é pena, porque o programa económico apresentado esta semana é um bom mapa para começar a libertar Portugal da mão morta do poder socialista. Não está lá tudo, nem podia estar, mas está lá muito do que realisticamente se pode e deve fazer. Mas nem isso os seus dirigentes parecem capazes de pôr em relevo, inquietos apenas em “reconciliarem-se” com o eleitorado pensionista nos mesmos termos do poder e narrativa socialista, e por isso renegando até Pedro Passos Coelho – mais uma vez, para gáudio de Pedro Nuno Santos. O país precisa de uma alternativa conservadora-liberal. É de facto azar que aqueles que se propuseram protagonizá-la mostrem tão pouca convicção.

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COMENTÁRIOS (de 61)

Ana Luís da Silva:Excelente e corajosa reflexão. Parece que a AD trata com opacidade o eleitorado, à maneira do PS: como carneirada ou burricada (manada de burros) entretidos em seguir atrás da cenoura. Não clarifica como se vai relacionar com os socialistas caso estes venham a ganhar eleições. Num momento que é grave para o país, somos confrontados com a evidência de que temos que confiar cegamente numa AD acabada de nascer, que ainda não deu provas de nada, mas que acha que pode calar-se quanto às opções políticas de fundo enquanto anuncia medidas que, em abono da verdade, qualquer outro partido também pode implementar.

É tão simples. Ou apoiam ou não apoiam um governo minoritário dessa gente (no mínimo) incompetente que tem transformado Portugal num pântano. Só o CHEGA e André Ventura falam claro e e quanto a mim, neste momento, estão preparados para agregar  a “direita à direita do PS”.  Depois admirem-se se os portugueses mais jovens votam CHEGA. Podem não saber por onde vão (e se calhar até sabem), mas pelo menos sabem que não vão pelo socialismo.            Pontifex Maximus: O Rui Ramos é, obviamente, um homem bom e isso inibe-o de chamar  os bois pelos nomes. Não é falta de convicção o que afecta Montenegro e o rapaz de Guimarães, é outra coisa mais evidente: competência, meu caro Rui Ramos, é competência que falta a essa malta. Viu ontem o Ventura ser empurrado até ao abismo na CNN? Mas não caiu, e até resistiu a dizer ao entrevistador que ele tinha despido o fato de entrevistador e estava a abusar manifestamente da sua posição de jornalista e a ser mais que amigo do PS, tão descarado era nas opiniões que manifestava. Sim, aquilo não eram perguntas, eram comentários tipo Alberto dos Reis ao Código de Processo Civil, mas o. Ventura manteve-se sempre calmo e explicativo. E o povo pôde ouvir e perceber…                 Alexandre Barreira: Pois. Azar...azar....temos nós. Sermos esmifrados com impostos. Taxas e taxinhas de toda a ordem. E ainda por cima sermos gozados por esta maltinha....!                    João Floriano > Pedra Nussapato: Será porque ela existe e está em crescimento não só em Portugal como no resto da Europa? Será porque as políticas de esquerda não resolveram os gravíssimos problemas  que nos afligem? Será porque os programas dos partidos de esquerda representam mais do mesmo? Será porque não há da parte da esquerda qualquer ideia original a não ser impedir raivosamente que a direita consiga governar?                    Francisco Almeida: Dentro do PS e dentro do PSD há um elo de ligação que se chama Maçonaria. Na ausência de um líder forte, como foram Mário Soares, Sá Carneiro e até Cavaco Silva - este mais por ser um "outsider" - a tendência para os entendimentos tende a prevalecer.  É apenas curioso - e muito complicativo pensando apenas na governabilidade - que PNS ofereça menos perspectivas de aceitar um bloco central do que Montenegro, que recusa falar sobre o assunto e tem fumos de ligações à Maçonaria.           Paulo Silva: Caro RR, sim concordo plenamente com outra visão da vida pública e a alternativa, mas o que é isso de alternativa liberal-conservadora?… É um PSD a votar leis da Ideologia de Género?!… Em 5 décadas de um regime talhado para “abrir o caminho para uma sociedade socialista”, como fizeram questão de vincar os pais fundadores e os próceres do regime, desde quando quiseram dar espaço a tal alternativa?... Dizem que isto é uma espécie de democracia, e o azar do PSD e das AD’s é terem nascido nesta espécie de democracia. A abrilada deixou um partido no centro do regime, o PS, a quem a lei fundamental funciona como excelente meio para o peixe socialista poder nadar a seu bel prazer para todos os lados, deixando um PSD intoxicado com as águas do socialismo, a vir respirar à tona pedindo por reformas… Foi assim durante 50 anos. Nos últimos anos a coisa piorou e as direcçãos do PSD tendo perdido eleitorado para o PS, convenceram-se de que só o recuperariam usando a estratégia da camuflagem. Querem parecer o PS, e copiam o PS. Há muitos portugueses fartos do rame-rame. O «Chega!», como a forma da sua própria nomenclatura indica e não esconde, nasceu de um sentimento de cansaço e insatisfação que perpassa todos aqueles que têm preocupações censuradas pelo sistema ideológico dominante. Não nasceu de nenhum centro de estudos ou departamento universitário, mas a dita direita tradicional deveria ter aproveitado o boost que o «Chega!» lhe proporciona para romper com o fado socialista. E se há formação com força para encarnar o liberal-conservadorismo neste país é precisamente o «Chega!». Rio e Montenegro foram cobardes perante o assédio socialista, fizeram mal, (a menos que haja uma carta na manga).

joaquim zacarias: PSD após PPC, e PS desde sempre, são farinha do mesmo saco. Acabar com o bloco central de interesses e corrupção, só votando CH.              Rui Pedro Matos: O sr. Rui Ramos já escreve, alternativa conservadora-liberal. Está quase lá..... A alternativa é o lado direito do Hemiciclo, a ala do pensamento de direita, da iniciativa privada, na iniciativa individual e dos Valores: Deus, Pátria, Família e Trabalho.               Maria Cordes: Na mouche, o PSD quer estar bem com Deus e com o diabo, foi assim com Rio, que pendeu sempre para o lado do diabo, fazendo letra morta dos interesses do país, e é assim com Montenegro, menos ostensivo. Coluna vertical, homem de Sá de Miranda, de uma só face...  isso não está no ADN deste PSD. Os portugueses, apesar de desclassificados, da campanha para os embrutecer, nas escolas, e nos programas televisivos, têm a intuição dos inocentes, não acreditam, nesta AD, que cravou agora o último prego no caixão, ao não se demarcar de Albuquerque              J. D.L.: A maior parte dos políticos portugueses não têm dedicação exclusiva à causa pública. Muitos deles têm os seus negócios, os seus escritórios e o seus empregos, pelo que não admira que estejam sempre impreparados. Impreparados para a oposição. E ainda menos preparados para o governo (e para a câmara municipal, a junta de freguesia, etc).              Alberico Lopes: Que grande lição! Pena é que o Luiz Montenegro e a sua plêiade de coristas  não entenda a profundidade e clareza deste excelente texto              Vitor Batista > pedro dragone: Queres que eu vote nos laranjas ou nos vermelhos?ou vote ps?               Carlos Costa > Ana Luís da Silva: Já não sou jovem, mas vou votar CHEGA...            Carlos Real: O que se passa com a AD nao e azar. Todos sabemos que os chuchialistas sao os campeoes da corrupçao e do dinheiro sujo, simplesmente porque dominam os mais altos cargos do Estado e a maioria das camaras. O PSD tem o mesmo ADN. Veja-se a forma como Albuquerque fez a negociata com o PAN. Os negocios com a Construtora do Tamega. Como Montenegro recriou a velha AD dando ao CDS deputados virtuais, e uma coligaçao com o PPM que alcançou 260 votos nas ultimas eleiçoes. Ate um casamento costuma ter mais gente. Inacreditavel. Agora qualquer eleitor potencial da AD sabe que Montenegro e mais do mesmo. Nao existe diferença entre o PS e o PSD. Nem no nome. PSD significa PSDois.           Sérgio: Soberbo. É "azar" a somar a total falta de visão (do panorama actual) e incompetência! O PSD jamais deveria ter criado "linhas vermelhas e cercas sanitárias" ao Chega!, mas aos janados sebentos e mafiosos e imundos esquerdalhados.                  bento guerra > Luis Figueiredo: Não sei, mas julgo que os laranjas já perceberam que o Montenegro é um enorme erro de "casting" e de conversa. Ele disse que as centenas de milhares que votem Chega não contam. Já o PS tem o maior pantomineiro, depois do Sócrates               bento guerra: É possível que ,a 11 de Março, o Ventura ofereça a governação ao PSD, de acordo com balizas pré-estabelecidas. Na condição auto-infligida por Montenegro, de que não vai ser PM, mas "alguém"....Na entrevista à CNN ,o Ventura deu a entender que há gente no PSD com sentido das realidades e que não aceita o PS a governar "whatever it takes".               José cordeiro Cordeiro: Este é um país de políticos incompetentes, seja ele o quadrante em que se situam! Os poderes foram usurpados por gente corrupta e sem ética, daí a desmobilização do eleitorado. O futuro vai ser complicado!!!!

 

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