É nosso fado a
dependência, não a liberdade individual, que o Estado assim controla, a coberto
da tal “democracia” que ele representa, big
brother em astuta aparência de isenção.
Querem matar um jornal? Chamem o Estado
O destino do Estado, enquanto
proprietário ou financiador directo da comunicação social, é destruir “o quarto
poder”.
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 19
jan. 2024, 00:2234
Decorre por estes dias em Lisboa um congresso em que, segundo as
notícias, os jornalistas são convidados a resolver o seguinte “paradoxo”: a imprensa existe para servir o
“interesse público”, mas o “modelo capitalista que sustenta as empresas
jornalísticas impõe” o “primado do lucro financeiro”. De facto, o
paradoxo que daqui decorre é outro: como é que profissionais que dizem trabalhar para informar o público
podem estar, eles próprios, tão pouco informados?
A contradição entre interesse
público e lucro privado é, na imprensa como em outras actividades, uma
contradição falsa. Empresas financeiramente saudáveis são a maior
garantia de independência e desenvolvimento da comunicação social. Se um
jornal, rádio ou televisão der lucro, é porque teve a força necessária para
atrair leitores, ouvintes e espectadores, e também anunciantes e outros
parceiros. Só assim a imprensa pode ser o “quarto poder”. Nenhum poder é poder se estiver falido e dependente.
Mas não é assim que se encara a
imprensa em Portugal. Demasiada gente, perante as dificuldades de um grupo
de comunicação social, chama logo o Estado. Eis outro paradoxo, se quiserem
descobrir paradoxos. Estamos num país
onde foi o Estado,
depois das nacionalizações de 1975, quem levou ao descrédito e à ruína a grande
imprensa do século XX. Lembram-se
ou ouviram falar de O Século? O Século foi o mais influente e próspero jornal
diário que alguma vez existiu em
Portugal. Até ao dia em que passou a ser propriedade do Estado. Ao fim de dois anos, fechava. Como é possível, com esta história, falar da
propriedade ou do financiamento públicos como remédio para a comunicação
social?
Não, o problema aqui não é só o
Estado ser geralmente mau gestor. O problema é que Estado e comunicação social
não foram feitos para viver juntos. A
propriedade pública ou o financiamento público directo são fatais à imprensa.
No caso da propriedade, porque a
partir do momento em que direcções de jornais, rádios ou televisões são
nomeadas em conselho de ministros, não é possível levar a sério esses jornais,
rádios ou televisões: é que se a comunicação social não servir para escrutinar
com independência o Estado, o maior poder que existe na sociedade, então serve
para pouco. No caso do financiamento público directo, porque o
dinheiro do Estado, no caso da comunicação social, é tão nefasto como os trinta
dinheiros de Judas. Se o Estado
financia um jornal ou um grupo de comunicação social e não financia os outros,
está a viciar a concorrência e a lesar os jornais e grupos que não apoia. Se
financia a todos transversalmente, o seu critério de distribuição só pode ser o
do status quo, e essa é a melhor maneira de impedir a inovação e a reinvenção
da imprensa, e de garantir que a comunicação social acabará por consistir num
amontoado desesperado de zombies sem prestígio e sem público.
Sim, a comunicação social tem muitos
problemas, a começar pelos que decorrem do pouco dinamismo da economia
portuguesa. Mas o Estado proprietário ou
financiador directo não é a solução. O destino do Estado, enquanto proprietário
ou financiador directo, é destruir “o quarto poder”. Há, no entanto, outras coisas que o
Estado pode e deve fazer, como ontem lembrou António Carrapatoso no Observador:
por exemplo, instituir
autoridades reguladoras independentes para manter os mercados abertos, e
salvaguardar uma concorrência salutar.
Nada seria mais saudável para a
democracia e a liberdade em Portugal do que ter jornais, rádios e televisões
que dessem lucro. Teríamos enfim um verdadeiro “quarto poder”. É de
facto paradoxal que haja um congresso de jornalistas onde a verdadeira solução
seja vista como o problema.
COMUNICAÇÃO
SOCIAL MEDIA SOCIEDADE
COMENTÁRIOS (de 3e4)
Meio Vazio;
Congresso de "jornalistas"? Haverá
em Portugal um número suficiente que o permita? Não será de
"activistas"?
Pertinaz: É
um facto… com António Costa recuámos 50 anos… como é possível…??? Pede-se a
intervenção do Estado como nos tempos idos do PREC… nunca pensei que
chegaríamos aqui…!!! Fernando Cascais: Um homem muito rico comprou o jornal. Não acreditava em santas,
mas tinha uma fé inabalável em crocodilos voadores. O jornal seria o meio para
ele revelar ao mundo que os crocodilos voam. Na sua primeira reunião com o redactor
chefe do jornal pediu a este que escrevesse um artigo de opinião sobre o
exuberante voo dos crocodilos. O jornalista ficou atónito com o pedido sem
saber muito bem o que fazer, mas, ao segundo ronco do estômago escreveu o
artigo de opinião com o título: “Os crocodilos voam, mas voam baixinho”.
O jornalismo não é isento, verga-se a quem lhe paga o ordenado. Quem investe
no jornal define uma estratégia e aponta a um público alvo. O Observador é um
bom exemplo. Assumiu-se como um jornal de direita e apostou nos órfões leitores
de direita. Para tal apostou em jornalistas de direita e descartou “danieis
oliveiras”. O Correio da Manhã também é um bom exemplo apostando em quem gosta
de ler logo à primeira bica as letras gordas da notícia sobre a
mulher que espetou um garfo no olho do marido quando este estava deliciosamente
a masturbar-se na WC em frente a uma fotografia da vizinha. Analisando
friamente a situação na Global Media juntamente com uma esquimó a cheirar a
peixe dentro de um iglu na antártica, diria, que os jornalistas e funcionários
do grupo já perceberam que a empresa faliu e que vão ficar desempregados. A
única solução à vista é conseguirem o conforto do Estado através de subsídios
estatais para lhes garantirem o ordenado, ou, a solução de oiro que seria
passarem a funcionários públicos através da nacionalização da empresa. Outra
possibilidade seria os russos ou os angolanos comprarem o grupo para fazerem
propaganda às maravilhas das democracias autocráticas e nepotistas. Na Global
Media não houve estratégia por parte da administração e os jornalistas andavam
com rédea solta ao deus-dará. Obviamente que faliram. Resumindo, para um
jornal ter sucesso é preciso acertar com a estratégia editorial para ir de
encontro ao público alvo pretendido e escrever de vez em quando que os crocodilos
voam. A nacionalização destrói o jornalismo, a audácia e a criatividade. Para
quê o esforço e dar cabo dos neurónios se ao fim-do-mês o ordenado não falha.
Tim do Á: O Estado ter comunicação social é ditadura. Rui Lima: Completamente de acordo 👍🏻.
Hoje, salvo muito poucas excepções, temos uma CS completamente vendida à
ideologia woke, de esquerda e ao serviço do “focus group” do PS. Carlos
Chaves: Neste momento o “quarto poder”
está silenciado, ou melhor, só vende e sustenta a perigosa propaganda de
esquerda. Vendo bem nem sei se alguma
vez tivemos “quarto poder” em Portugal. Este é um dos graves problemas da nossa
débil democracia. A ERC não funciona é um braço comandado pelo governo
socialista, o peso da RTP neste sector é obsceno, mas os privados na CS também
não estão isentos de culpas, basta ver o caso da empresa de “sucesso” com o
slogan – “liberdade para pensar”! Autênticos papagaios do regime
socialista! Resumindo, o que se passa na CS é o resultado da estratégia
socialista que tem por objectivo final, o controlo absoluto da comunicação
social. Todos sabemos (se nada fizermos contra) qual vai ser o resultado.
Maria
Augusta Martins: Bom artigo a pôr dedos nas feridas. Um alerta para o "Observador" onde não faltam "yes
men" Ana Luís
da Silva: Excelente! Entregar a
comunicação social nas mãos do Estado equivale a colocar o carneiro na
boca do lobo. pedro dragone: É tão óbvio aquilo que o Rui Ramos escreve "que até
chateia". Se algumas empresas de media tiverem que desaparecer pois que
desapareçam. É a vida. É o mercado a funcionar e a seleccionar os melhores. Mais
vale menos empresas mas boas do que muitas e más, que se copiam umas às outras
não apenas no que noticiam mas também na mediocridade. PS: todas as empresas prestam
um serviço público. Todas. Um restaurante presta um serviço público, idem
uma sapataria, uma loja de móveis, um super mercado, uma clinica dentária, uma
transportadora, etc, etc, etc. Todas prestam um serviço público porque
aquilo que vendem, produto ou serviços, se destina a servir necessidades do
público, das pessoas em geral.
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