Estranho mundo esse, eleitor de Trump...
Acabou a "fase de grupos". New
Hampshire é a "meia-final" do tudo ou nada entre Nikki Haley e
Donald Trump
Com DeSantis de fora, Nikki Haley aposta
tudo no estado onde os independentes também votam e parte para o ataque ao
ex-Presidente. Trump desvaloriza e já está de olho na Carolina do Sul.
OBSERVADOR, 22
jan. 2024, 21:573
“Conseguem ouvir este som?”, perguntou
uma sorridente Nikki Haley à audiência de mais de mil pessoas que ocupavam o
pavilhão gimnodesportivo do liceu de Exter, no New Hampshire, na noite deste
domingo. “É o som de uma corrida
a dois.”
O governador da Florida, Ron
DeSantis, tinha anunciado a sua desistência das primárias republicanas algumas
horas antes. O homem que se
assumia como um “Trump sem dramas” ficou
pelo caminho, depois de ter apostado tudo na primeira paragem das primárias, o
Iowa, e, mesmo assim, ter ficado a 30
pontos percentuais de distância de Donald Trump.
Agora, com o New Hampshire pela
frente — onde a campanha de DeSantis praticamente não investiu —, o candidato
percebeu que já não tinha hipóteses e decidiu antes declarar o apoio ao
adversário, apesar das críticas que tinham trocado nos últimos dias.
▲ Ron
DeSantis anunciou a desistência da corrida este domingo MICHAEL REYNOLDS/EPA
Nikki Haley pareceu ficar satisfeita com
a notícia: “Bom, agora resta um tipo e uma senhora. Que ganhe a melhor mulher”,
disse na primeira reacção aos jornalistas.
Quem
ganha com a retirada de DeSantis?
Mas não é assim tão óbvio que a desistência
de DeSantis beneficie Haley. Matthew Bartlett, estratega republicano do New
Hampshire, diz ao Observador que se passa precisamente o oposto: “Ele rapidamente apoiou Trump, portanto os
seus eleitores vão com ele. E, mais do que isso: isto contribui para a
narrativa de que a nomeação de Trump é inevitável.”
“Desde 1976 que os eleitores do New
Hampshire votam num candidato republicano diferente daquele que ganhou o Iowa. E só dois candidatos conseguiram obter a
nomeação depois de perder o New Hampshire: Bob Dole em 1996 e George W. Bush
em 2000.”
Jon McHenry, especialista em sondagens no Partido Republicano
Uma posição que não é, contudo,
partilhada por todos. Jon McHenry, especialista do Partido Republicano
em sondagens, afirma que a perceção pode ser outra: “Com DeSantis de fora e perante uma
corrida de apenas duas pessoas, Donald Trump precisará de ter mais de 50% dos
votos [no New Hampshire] para parecer que segue destacado”, avisa.
Certo é que este pequeno estado de
1,4 milhões de habitantes tem historicamente um grande peso na escolha dos
republicanos para nomear um candidato a Presidente. “Desde 1976 que os
eleitores do New Hampshire votam num candidato republicano diferente daquele
que ganhou o Iowa. E só dois candidatos conseguiram obter a nomeação
depois de perder o New Hampshire: Bob Dole em 1996 e George W. Bush em 2000”,
lembra McHenry.
Por essa razão, o analista de estudos de
opinião faz uma previsão: “O vencedor do New Hampshire está bem posicionado
para conseguir a nomeação.”
New Hampshire, a última “oportunidade”
para Nikki Haley
É por saber tudo isto que a segunda
ronda desta terça-feira (quarta de madrugada em Portugal) das primárias
republicanas, no New Hampshire, são um verdadeiro “tudo ou nada” para
Nikki Haley.
▲ Nikki
Haley tem feito uma campanha intensa no New Hampshire, gastando mais tempo e
dinheiro do que Trump naquele estado
GETTY IMAGES
Não
por acaso, a sua campanha investiu 30 milhões de dólares em anúncios políticos
naquele estado, o dobro do que fez Trump, segundo dados da National Public Radio. E conta com apoios
financeiros de peso: os irmãos Koch (doadores de peso no Partido Republicano)
decidiram sustentar o super-PAC Americans for Prosperity Action, que está com a
candidata. E isso tem-se traduzido numa campanha oleada naquele estado, com
telefonemas e campanha porta-a-porta com os eleitores.
Há
muito que Haley já tinha decidido apostar no New Hampshire. É um pequeno estado tradicionalmente
moderado, com eleitores com um nível de educação acima da média e que se
afirmam como pouco religiosos — demografias onde Haley tem habitualmente mais
apoio do que Trump. Para além disso, tem uma primária aberta que
permite a qualquer eleitor independente (ou seja, que não está
oficialmente registado como ‘democrata’ ou ‘republicano’) votar na eleição
republicana — e estes correspondem a cerca de 40% dos eleitores daquele
estado. Para além disso, até 6 de outubro do ano passado (data-limite para
o processo), cerca de quatro mil eleitores registados como democratas alteraram
a sua afiliação para ‘independente’, o que lhes permite agora votarem nas
primárias republicanas.
“O
foco da antiga governadora Haley no New Hampshire foi uma escolha acertada”, considera
o especialista em sondagens Jon McHenry. “Os
eleitores independentes e o desejo de muitos deles de assistir a uma
eleição que não seja uma repetição de Trump-Biden dá-lhe uma oportunidade
nesta primária.” As sondagens continuam a apontar para uma vitória de Trump naquele estado,
contudo, com uma média de 15 pontos percentuais de avanço face a Haley. “Mas este é
o estado onde ela está mais próxima dele nas sondagens. Por isso, ainda há
uma possibilidade de ele ser surpreendido”, nota McHenry.
“Creio que a esperança [de Haley] é
vencer aqui e isso alterar as expectativas de toda a gente para o resto destas
primárias. Só que, mesmo que ganhe,
continua a precisar de muito mais para conseguir derrotar Trump.”
Christopher Galdieri, professor de Ciência
Política da Universidade de Saint Anselm, no New Hampshire
Uma vez mais, o especialista local
daquele estado, Matthew Bartlett, tem uma opinião diferente: “Sim, ela fez bem em focar-se no New
Hampshire e fez uma campanha a sério, encontrando-se com eleitores em
restaurantes, town halls e nas casas deles. Mas, infelizmente para
ela, o ex-Presidente continua a dominar o espaço mediático e a base
republicana. É praticamente impossível derrotá-lo em campanha, seja no New
Hampshire, seja em qualquer outro lugar.”
Christopher Galdieri, académico que se
dedica a estudar as primárias do New Hampshire, resume esta eleição como sendo “de alto risco” para Haley. “Creio que a
esperança dela é vencer aqui e isso alterar as expectativas de toda a gente
para o resto destas primárias”, resume o professor da Saint Anselm
College, naquele estado. “Só que,
mesmo que ganhe, continua a precisar de muito mais para conseguir derrotar
Trump.”
Donald Trump, já de olho na Carolina
do Sul, pressiona Haley a desistir
O
antigo Presidente sabe que está confortável nas sondagens e que tem a vida
muito mais facilitada do que Haley. Por isso, nos últimos dias, dedicou-se a
tentar mostrar à adversária que, mesmo que tenha um resultado decente no New
Hampshire, arrisca-se a ser humilhada a seguir.
O
foco é a Carolina do Sul, estado da próxima fase das primárias (24 de
fevereiro) e terra-natal da candidata, que já foi ali governadora. A campanha
de Trump tem dito aos jornalistas à
boca pequena que, se Haley não desistir da corrida depois do New Hampshire, vai
ser “completamente envergonhada e arrasada” naquele estado. “A
Carolina do Sul é o lugar onde os sonhos de Nikki Haley vão morrer”, disse mesmo Chris LaCivita, conselheiro do ex-Presidente.
▲ Donald
Trump está à frente nas sondagens no New Hampshire, mas com uma margem mais
curta do que noutros estados
THE WASHINGTON POST VIA GETTY IM
Para provar isto, Trump tem exibido os
seus apoios de peso da política local da Carolina do Sul em vários
comícios, como o atual governador Henry McMaster e, mais recentemente, o senador
Tim Scott — o que representou um duro golpe para a campanha de Haley, já
que Scott era visto como um republicano moderado. E a tudo isto se soma o facto
de o ex-Presidente ser altamente popular naquele estado, que Mathew Bartlett
define como “o estado mais trumpista das três primárias iniciais” (Iowa,
New Hampshire e Carolina do Sul).
Por essa razão, o estratega republicano
diz que a única hipótese para Haley é a de ter um “resultado histórico” no New
Hampshire, que lhe dê “uma vaga de fundo e atenção nacional” a caminho da
Carolina do Sul. “Mesmo assim, continua a ser um desafio”, vaticina. Já Jon
McHenry considera que basta à candidata conseguir um segundo lugar com pouca
distância de Trump no New Hampshire para poder continuar na corrida — “aí, os eleitores da Carolina do Sul vão
repensar a sua escolha”, acredita.
Com corrida reduzida a dois, Haley parte
para o ataque
Com a campanha das primárias
republicanas a entrar numa fase decisiva mais cedo do que se antecipava, Nikki
Haley também decidiu reajustar a estratégia. Até aqui, a antiga embaixadora da administração Trump nas Nações
Unidas tinha optado por criticar pouco Donald Trump (dizendo que foi
“o Presidente certo na altura certa”, anunciando que lhe concederia um indulto
se fosse eleita e recusando comentar as 91 acusações judiciais de que é alvo).
A maior crítica que se ouvira da ex-governadora foi a ideia de que “o
caos segue Trump”.
“Ela tem de manter o apoio dos eleitores
independentes, mas se quer ganhar também tem de garantir algum apoio dos
republicanos e dos trumpistas. Haley
tem sido esperta no contraste que tem feito a Trump e que tem sublinhado nos
últimos dias, mas continuamos sem saber o que fará os eleitores de Trump
deixarem-no e aproximarem-se dela — se é que algo os fará decidir
isso sequer.”
Matthew Bartlett, estratega republicano
do New Hampshire
Nos últimos dias, contudo, a candidata
partiu para o ataque. Depois de o ex-Presidente ter feito um discurso num
comício onde a confundiu com a ex-líder dos democratas no Senado, Nancy Pelosi,
Haley pôs as garras de fora: “Ele
disse que Joe Biden nos ia levar para uma Segunda Guerra Mundial — assumo que
queria dizer Terceira. Ele disse que concorreu contra o Presidente Obama — isso
nunca aconteceu. Ele disse que eu fui responsável por impedir a chegada dos
seguranças ao Capitólio no 6 de janeiro, mas eu estava longe do Capitólio a 6
de janeiro”, elencou. “Se escolherem alguém que vai ter 80 anos quando
ocupar a presidência, não se surpreendam quando a estabilidade mental dele
começar a decair.”
O especialista em sondagens Jon McHenry
explica que a mudança se dá agora por esta se ter tornado numa corrida apenas
entre os dois: “Usando uma analogia desportiva: na Liga dos Campeões, é preciso
primeiro focarmo-nos na fase de grupos e só depois preocuparmo-nos com o
adversário das fases seguintes”, ilustra. “Agora
que ela está nas ‘meias-finais’, pode finalmente virar a sua atenção e as
suas críticas para Trump.”
▲ O estado
do New Hampshire conta com 40% de eleitores que se registam como
'independentes'. AFP VIA GETTY IMAGES
Há quem considere, no entanto, que até
estes ataques têm ficado aquém: “Com
todo o material que Trump dá aos adversários, desde o 6 de janeiro às acusações
judiciais, é impressionante como as críticas dela continuam a ser suaves”,
afirma o professor Galdieri. Mas o estratega republicano Bartlett explica
que Haley está a caminhar sobre gelo fino: “Ela tem de manter o apoio dos
eleitores independentes, mas se quer ganhar também tem de garantir algum apoio
dos republicanos e dos trumpistas”, resume.
“Haley
tem sido esperta no contraste que tem feito a Trump e que tem sublinhado nos
últimos dias, mas continuamos sem saber o que fará os eleitores de Trump
deixarem-no e aproximarem-se dela — se é que algo os fará decidir isso
sequer”, acrescenta o especialista no terreno. Ou seja: esta terça-feira saberemos se Haley conseguiu fazer a
quadratura do círculo que une independentes e republicanos à sua volta e
surpreende todos. Ou, se em alternativa, Trump comprova uma vez mais o seu
domínio incontestado sobre o Partido Republicano.
ELEIÇÕES
EUA ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO PARTIDO
REPUBLICANO DONALD TRUMP
COMENTÁRIOS
Margarida Rosa: Acho
que o melhor é o Trump Acho que vai acabar por ganhar e Acho que é o que é
preciso Margarida Rosa: Venha
lá o Trump Liberales
Semper Erexitque: O
americano é pragmático, é conhecido por isso. Ninguém dava nada por D.
Trumpusconi politicamente falando em 2020 após a sua derrota tangencial e a sua
exibição de mau perder golpista nunca vista na terra do tio Sam. Só que o
vencedor foi e é tão mau presidente que os americanos sentem que precisam de
Trump de volta, mesmo sabendo perfeitamente que ele não é um democrata. Só um
imprevisto impedirá que Donald Trump regresse em 2025 à presidência dos EUA. O
parodiante fascista Volodimiro da Ucrânia já captou isso, e está em "panic
mode". Pode ser que, vendo-o a rastejar aos pés de Trump, o Brandão lhe
corte já a mama.
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