terça-feira, 23 de janeiro de 2024

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Estranho mundo esse, eleitor de Trump...

Acabou a "fase de grupos". New Hampshire é a "meia-final" do tudo ou nada entre Nikki Haley e Donald Trump

Com DeSantis de fora, Nikki Haley aposta tudo no estado onde os independentes também votam e parte para o ataque ao ex-Presidente. Trump desvaloriza e já está de olho na Carolina do Sul.

CÁTIA BRUNO: Texto

OBSERVADOR, 22 jan. 2024, 21:573

 “Conseguem ouvir este som?”, perguntou uma sorridente Nikki Haley à audiência de mais de mil pessoas que ocupavam o pavilhão gimnodesportivo do liceu de Exter, no New Hampshire, na noite deste domingo. “É o som de uma corrida a dois.”

O governador da Florida, Ron DeSantis, tinha anunciado a sua desistência das primárias republicanas algumas horas antes. O homem que se assumia como um “Trump sem dramas ficou pelo caminho, depois de ter apostado tudo na primeira paragem das primárias, o Iowa, e, mesmo assim, ter ficado a 30 pontos percentuais de distância de Donald Trump.

Agora, com o New Hampshire pela frente — onde a campanha de DeSantis praticamente não investiu —, o candidato percebeu que já não tinha hipóteses e decidiu antes declarar o apoio ao adversário, apesar das críticas que tinham trocado nos últimos dias.

 Ron DeSantis anunciou a desistência da corrida este domingo MICHAEL REYNOLDS/EPA

Nikki Haley pareceu ficar satisfeita com a notícia: “Bom, agora resta um tipo e uma senhora. Que ganhe a melhor mulher”, disse na primeira reacção aos jornalistas.

Quem ganha com a retirada de DeSantis?

Mas não é assim tão óbvio que a desistência de DeSantis beneficie Haley. Matthew Bartlett, estratega republicano do New Hampshire, diz ao Observador que se passa precisamente o oposto: “Ele rapidamente apoiou Trump, portanto os seus eleitores vão com ele. E, mais do que isso: isto contribui para a narrativa de que a nomeação de Trump é inevitável.”

“Desde 1976 que os eleitores do New Hampshire votam num candidato republicano diferente daquele que ganhou o Iowa. E só dois candidatos conseguiram obter a nomeação depois de perder o New Hampshire: Bob Dole em 1996 e George W. Bush em 2000.”

Jon McHenry, especialista em sondagens no Partido Republicano

Uma posição que não é, contudo, partilhada por todos. Jon McHenry, especialista do Partido Republicano em sondagens, afirma que a perceção pode ser outra: “Com DeSantis de fora e perante uma corrida de apenas duas pessoas, Donald Trump precisará de ter mais de 50% dos votos [no New Hampshire] para parecer que segue destacado”, avisa.

Certo é que este pequeno estado de 1,4 milhões de habitantes tem historicamente um grande peso na escolha dos republicanos para nomear um candidato a Presidente. “Desde 1976 que os eleitores do New Hampshire votam num candidato republicano diferente daquele que ganhou o Iowa. E só dois candidatos conseguiram obter a nomeação depois de perder o New Hampshire: Bob Dole em 1996 e George W. Bush em 2000”, lembra McHenry.

Por essa razão, o analista de estudos de opinião faz uma previsão: “O vencedor do New Hampshire está bem posicionado para conseguir a nomeação.”

New Hampshire, a última “oportunidade” para Nikki Haley

É por saber tudo isto que a segunda ronda desta terça-feira (quarta de madrugada em Portugal) das primárias republicanas, no New Hampshire, são um verdadeiro “tudo ou nada” para Nikki Haley.

 Nikki Haley tem feito uma campanha intensa no New Hampshire, gastando mais tempo e dinheiro do que Trump naquele estado

GETTY IMAGES

Não por acaso, a sua campanha investiu 30 milhões de dólares em anúncios políticos naquele estado, o dobro do que fez Trump, segundo dados da National Public Radio. E conta com apoios financeiros de peso: os irmãos Koch (doadores de peso no Partido Republicano) decidiram sustentar o super-PAC Americans for Prosperity Action, que está com a candidata. E isso tem-se traduzido numa campanha oleada naquele estado, com telefonemas e campanha porta-a-porta com os eleitores.

Há muito que Haley já tinha decidido apostar no New Hampshire. É um pequeno estado tradicionalmente moderado, com eleitores com um nível de educação acima da média e que se afirmam como pouco religiosos — demografias onde Haley tem habitualmente mais apoio do que Trump. Para além disso, tem uma primária aberta que permite a qualquer eleitor independente (ou seja, que não está oficialmente registado como ‘democrata’ ou ‘republicano’) votar na eleição republicana — e estes correspondem a cerca de 40% dos eleitores daquele estado. Para além disso, até 6 de outubro do ano passado (data-limite para o processo), cerca de quatro mil eleitores registados como democratas alteraram a sua afiliação para ‘independente’, o que lhes permite agora votarem nas primárias republicanas.

“O foco da antiga governadora Haley no New Hampshire foi uma escolha acertada”, considera o especialista em sondagens Jon McHenry. “Os eleitores independentes e o desejo de muitos deles de assistir a uma eleição que não seja uma repetição de Trump-Biden dá-lhe uma oportunidade nesta primária.” As sondagens continuam a apontar para uma vitória de Trump naquele estado, contudo, com uma média de 15 pontos percentuais de avanço face a Haley. “Mas este é o estado onde ela está mais próxima dele nas sondagens. Por isso, ainda há uma possibilidade de ele ser surpreendido”, nota McHenry.

“Creio que a esperança [de Haley] é vencer aqui e isso alterar as expectativas de toda a gente para o resto destas primárias. Só que, mesmo que ganhe, continua a precisar de muito mais para conseguir derrotar Trump.”

Christopher Galdieri, professor de Ciência Política da Universidade de Saint Anselm, no New Hampshire

Uma vez mais, o especialista local daquele estado, Matthew Bartlett, tem uma opinião diferente: “Sim, ela fez bem em focar-se no New Hampshire e fez uma campanha a sério, encontrando-se com eleitores em restaurantes, town halls e nas casas deles. Mas, infelizmente para ela, o ex-Presidente continua a dominar o espaço mediático e a base republicana. É praticamente impossível derrotá-lo em campanha, seja no New Hampshire, seja em qualquer outro lugar.”

Christopher Galdieri, académico que se dedica a estudar as primárias do New Hampshire, resume esta eleição como sendo “de alto risco” para Haley. “Creio que a esperança dela é vencer aqui e isso alterar as expectativas de toda a gente para o resto destas primárias”, resume o professor da Saint Anselm College, naquele estado. “Só que, mesmo que ganhe, continua a precisar de muito mais para conseguir derrotar Trump.”

Donald Trump, já de olho na Carolina do Sul, pressiona Haley a desistir

O antigo Presidente sabe que está confortável nas sondagens e que tem a vida muito mais facilitada do que Haley. Por isso, nos últimos dias, dedicou-se a tentar mostrar à adversária que, mesmo que tenha um resultado decente no New Hampshire, arrisca-se a ser humilhada a seguir.

O foco é a Carolina do Sul, estado da próxima fase das primárias (24 de fevereiro) e terra-natal da candidata, que já foi ali governadora. A campanha de Trump tem dito aos jornalistas à boca pequena que, se Haley não desistir da corrida depois do New Hampshire, vai ser “completamente envergonhada e arrasada” naquele estado. “A Carolina do Sul é o lugar onde os sonhos de Nikki Haley vão morrer”, disse mesmo Chris LaCivita, conselheiro do ex-Presidente.

 Donald Trump está à frente nas sondagens no New Hampshire, mas com uma margem mais curta do que noutros estados

THE WASHINGTON POST VIA GETTY IM

Para provar isto, Trump tem exibido os seus apoios de peso da política local da Carolina do Sul em vários comícios, como o atual governador Henry McMaster e, mais recentemente, o senador Tim Scott — o que representou um duro golpe para a campanha de Haley, já que Scott era visto como um republicano moderado. E a tudo isto se soma o facto de o ex-Presidente ser altamente popular naquele estado, que Mathew Bartlett define como “o estado mais trumpista das três primárias iniciais” (Iowa, New Hampshire e Carolina do Sul).

Por essa razão, o estratega republicano diz que a única hipótese para Haley é a de ter um “resultado histórico” no New Hampshire, que lhe dê “uma vaga de fundo e atenção nacional” a caminho da Carolina do Sul. “Mesmo assim, continua a ser um desafio”, vaticina. Já Jon McHenry considera que basta à candidata conseguir um segundo lugar com pouca distância de Trump no New Hampshire para poder continuar na corrida — “aí, os eleitores da Carolina do Sul vão repensar a sua escolha”, acredita.

Com corrida reduzida a dois, Haley parte para o ataque

Com a campanha das primárias republicanas a entrar numa fase decisiva mais cedo do que se antecipava, Nikki Haley também decidiu reajustar a estratégia. Até aqui, a antiga embaixadora da administração Trump nas Nações Unidas tinha optado por criticar pouco Donald Trump (dizendo que foi “o Presidente certo na altura certa”, anunciando que lhe concederia um indulto se fosse eleita e recusando comentar as 91 acusações judiciais de que é alvo). A maior crítica que se ouvira da ex-governadora foi a ideia de que “o caos segue Trump”.

“Ela tem de manter o apoio dos eleitores independentes, mas se quer ganhar também tem de garantir algum apoio dos republicanos e dos trumpistas. Haley tem sido esperta no contraste que tem feito a Trump e que tem sublinhado nos últimos dias, mas continuamos sem saber o que fará os eleitores de Trump deixarem-no e aproximarem-se dela — se é que algo os fará decidir isso sequer.”

Matthew Bartlett, estratega republicano do New Hampshire

Nos últimos dias, contudo, a candidata partiu para o ataque. Depois de o ex-Presidente ter feito um discurso num comício onde a confundiu com a ex-líder dos democratas no Senado, Nancy Pelosi, Haley pôs as garras de fora: “Ele disse que Joe Biden nos ia levar para uma Segunda Guerra Mundial — assumo que queria dizer Terceira. Ele disse que concorreu contra o Presidente Obama — isso nunca aconteceu. Ele disse que eu fui responsável por impedir a chegada dos seguranças ao Capitólio no 6 de janeiro, mas eu estava longe do Capitólio a 6 de janeiro”, elencou. “Se escolherem alguém que vai ter 80 anos quando ocupar a presidência, não se surpreendam quando a estabilidade mental dele começar a decair.”

O especialista em sondagens Jon McHenry explica que a mudança se dá agora por esta se ter tornado numa corrida apenas entre os dois: “Usando uma analogia desportiva: na Liga dos Campeões, é preciso primeiro focarmo-nos na fase de grupos e só depois preocuparmo-nos com o adversário das fases seguintes”, ilustra. “Agora que ela está nas ‘meias-finais’, pode finalmente virar a sua atenção e as suas críticas para Trump.” 

 O estado do New Hampshire conta com 40% de eleitores que se registam como 'independentes'. AFP VIA GETTY IMAGES

Há quem considere, no entanto, que até estes ataques têm ficado aquém: “Com todo o material que Trump dá aos adversários, desde o 6 de janeiro às acusações judiciais, é impressionante como as críticas dela continuam a ser suaves”, afirma o professor Galdieri. Mas o estratega republicano Bartlett explica que Haley está a caminhar sobre gelo fino: “Ela tem de manter o apoio dos eleitores independentes, mas se quer ganhar também tem de garantir algum apoio dos republicanos e dos trumpistas”, resume.

“Haley tem sido esperta no contraste que tem feito a Trump e que tem sublinhado nos últimos dias, mas continuamos sem saber o que fará os eleitores de Trump deixarem-no e aproximarem-se dela — se é que algo os fará decidir isso sequer”, acrescenta o especialista no terreno. Ou seja: esta terça-feira saberemos se Haley conseguiu fazer a quadratura do círculo que une independentes e republicanos à sua volta e surpreende todos. Ou, se em alternativa, Trump comprova uma vez mais o seu domínio incontestado sobre o Partido Republicano.

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COMENTÁRIOS
Margarida Rosa: Acho que o melhor é o Trump Acho que vai acabar por ganhar e Acho que é o que é preciso Margarida Rosa: Venha lá o Trump              Liberales Semper Erexitque: O americano é pragmático, é conhecido por isso. Ninguém dava nada por D. Trumpusconi politicamente falando em 2020 após a sua derrota tangencial e a sua exibição de mau perder golpista nunca vista na terra do tio Sam. Só que o vencedor foi e é tão mau presidente que os americanos sentem que precisam de Trump de volta, mesmo sabendo perfeitamente que ele não é um democrata. Só um imprevisto impedirá que Donald Trump regresse em 2025 à presidência dos EUA. O parodiante fascista Volodimiro da Ucrânia já captou isso, e está em "panic mode". Pode ser que, vendo-o a rastejar aos pés de Trump, o Brandão lhe corte já a mama.

 

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