segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Chave de ouro


Para abrir o ano de 2024, em esclarecimento simples, acerca do deslindar das trapaças da actual história dos povos, com os BRICs acrescentados de novos membros, em conluio contra os valores de ordem ética liberal do ocidente europeu e americano.

Jaime Nogueira Pinto assim o historia, com a sua chave de ouro do conhecimento eficiente e sem retórica a abrir-nos o ano, que os ajustamentos complementares de alguns seus Observadores vêm apoiar.

Um sinal dos tempos que aí vêm

A união dos BRICS, agora BRICS+5, é em si e por si sinal de um mundo onde mais depressa se sabe o que não se quer do que o que se quer.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 30 dez. 2023, 00:1919

Os BRICSBrasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (South Africa), até agora denominados pelas iniciais – vão, em Janeiro de 2024, ser reforçados por cinco novos membros: a Arábia Saudita, o Egipto, os Emiratos Árabes Unidos, a Etiópia e o Irão. A Argentina, cuja entrada também estava prevista, parece ter recuado, com a eleição de Javier Milei. São dez países importantes, cobrindo o chamado “Sul Global”, que vêm reforçar a multipolaridade do sistema internacional neste interregno que sucedeu à ordem liberal.

Uma coligação negativa?

Os BRICS passarão agora a ter, além da mais importante nação da América do Sul (o Brasil) e das duas maiores demografias mundiais (a China e a Índia), os maiores exportadores de petróleo (a Arábia Saudita, a Rússia e o Irão), o detentor do maior número de ogivas nucleares (a Rússia), o primeiro Estado da África do Norte (o Egipto) e dois países determinantes da África Subsariana (a África do Sul e a Etiópia).

É difícil encontrar entre todos estes países grandes denominadores comuns pela afirmativa: uns são democracias ocidentais, como o Brasil; outros, como a Arábia Saudita e o Irão, ­ são autocracias medio-orientais; a China é um Estado de partido único; a Índia é liderada por um nacional-populista e o Egipto tem um presidencialismo para-autoritário. O Brasil tem um presidente populista de esquerda; a Arábia Saudita lidera o sunismo e o Irão o xiismo; a China e a Índia são Estados rivais e inimigos tradicionais, mas nos BRICS parecem muito amigos e têm políticas semelhantes em relação ao outro membro fundador da organização: a Rússia. Os sauditas e os iranianos, inimigos de longa data, parecem também, ali, no melhor dos mundos.

Dito isto, e olhando as diligências dos países-membros da organização quanto à ordem económico-financeira internacional (e também à ordem política), a única coisa que parece unir antigos e novos BRICS é uma recusa da ordem liberal euroamericana. Uma ordem que, no pós-Guerra Fria, quis exportar globalmente, não só os seus valores éticos, mas a sua tradição democrática atlântica e os seus modelos de regime.

Era natural e compreensível que o “Sul Global” – ou o que se lhe quiser chamar – reagisse. E reagisse mal. A República Popular da China, como segundo poder mundial, não iria querer que Washington e Bruxelas lhe impusessem a democracia pluralista; a Índia de Modi, com os seus mais de 1420 milhões de habitantes de muitas e variadas raças, cores, religiões e tradições, só muito dificilmente se imaginaria como uma democracia liberal ao estilo americano; e poderiam Estados onde o Islão tradicional é a chave da legitimidade da dinastia, como a Arábia Saudita, seguir os chamados “valores ocidentais”?

Ou seja, a aspiração de exportação da democracia euroamericana, que surgia vencedora da Guerra Fria há trinta anos, foi uma ilusão e uma ilusão perigosa que, além de ter custado a vida a muitos milhares de soldados norte-americanos e a centenas de milhares de cidadãos dos países-alvo nas guerras perdidas do Iraque e do Afeganistão, esqueceu a grande regra das vitórias de 1945 e 1991: nunca fazer coligações ideológicas em confrontos globais.

Uma ordem global alternativa?

O tempo tem vindo a reforçar a velha ideia de que o interesse e a independência nacionais são os verdadeiros guias das políticas dos Estados; ou de que o interesse real, geopolítico, se impõe às ideologias; e a independência nacional, o trunfo decisivo dos Estados poderosos, terá de ser também o trunfo dos menos poderosos que queiram sobreviver no concerto mundial.

A breve história e a estrutura realista dos BRICS, agora aumentada, é um exemplo a observar com atenção para quem queira entender a realidade evolutiva do mundo e da ordem ou desordem internacionais sem os preconceitos ideológicos ou os maniqueísmos que sempre perturbam e prejudicam a visão correcta dos homens, das nações e da História.

A união dos BRICS, agora BRICS+5, é em si e por si um exemplo de um mundo em convulsão, onde mais depressa se sabe o que não se quer do que o que se quer.

Estarão os BRICS+5 preparados para, além de escaparem à ordem internacional liberal e até de a abalarem, constituir uma ordem global alternativa? O certo é que parte das pretensões levantadas por alguns representantes de países membros – como a criação de uma moeda de reserva alternativa ao dólar norte-americano – parecem, por enquanto, não passar de aspirações longínquas.

Na reunião deste ano, em Joanesburgo, entre 22 e 24 de Agosto, o tom do ministro indiano dos Negócios Estrangeiros era mais de queixa contra os “poucos privilegiados” que, na ordem económica internacional, “decidiam pela maioria”, do que o de quem quer apresentar uma agenda alternativa à do Ocidente. E tem sido essa a atitude de três dos cinco fundadores dos BRICS nos grandes conflitos: a Rússia e a China aproximaram-se na hostilidade aos Estados Unidos e aos europeus, activamente solidários com Kiev; mas a Índia, o Brasil e a África do Sul ficaram aquartelados numa neutralidade colaborante com todas as partes.

Na sua afirmação – e nas suas contradições, que não os impedem de estar unidos – os BRICS aparecem como um símbolo dos tempos que nos esperam no ano que aí vem; ano de alguns perigos, mas sobretudo de incerteza e ambiguidade entre os principais competidores do Grande Jogo do Mundo.

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COMENTÁRIOS (de 19)

Caetano Ramalho: Será a civilização ocidental a cavar a sua própria sepultura com a ideologia woke e a imigração descontrolada. Faltam-nos homens de visão a longo prazo e homens da categoria daqueles que emergiram no pós-segunda guerra. Somos governados por gente fraca,  demasiada ideologia de esquerda. Tudo isto se irá pagar caro nas próximas décadas. Na história nada é eterno. Civilizações nascem, florescem e morrem. A civilização ocidental está em queda, com uma gigantesca massa acéfala, em que as pessoas não reagem, não contestam, não querem saber. Esses países estão a impor-se gradualmente e de forma sólida, enquanto o governo português, a exemplo no mundo ocidental, preocupa-se se uma criança de 6 anos poderá utilizar a casa de banho com o género que se identifica. Tudo se pagará. Homens fracos, lideranças fracas, estão sempre condenadas ao fracasso das civilizações. Outros virão e tomarão o poder á sua maneira. São ciclos na história. Veja-se a queda do império romano a exemplo dos dias de hoje com a civilização ocidental.                 João Floriano: Com tantos motivos para desentendimento e divergência os BRICS + 5 ou melhor dizendo o Sul Global têm um grande objectivo comum: detonar o eixo euroamericano, a tradicional ordem mundial e instalar a NOM. Depois logo se vê o que vai acontecer porque deixando de haver o objectivo comum, em breve se voltarão uns contra os outros porque ódios de milhares de anos e fanatismos religiosos não desaparecem por magia. O futuro mundial parece envolvido em guerras inevitáveis.                madalena colaço: Partilho a visão de que a ideologia não se deve impor na ordem mundial. A realidade dos factos é o que verdadeiramente interessa. A título de exemplo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia deveria ser referida como a guerra entre EUA e a Rússia. A hegemonia ideológica de Biden e seus assessores, tinham por objectivo pôr a Rússia de joelhos. Julgaram que com as centenas de sanções a Rússia não aguentaria. Enganaram-se, pois Putin preparou-se, desde 2014, para algo semelhante, o exemplo de retirarem a Rússia do sistema Swift é demonstrativo. No dia seguinte à sanção Putin operava no sistema de pagamentos internacionais com a China. Cortar a ligação da Europa com a Rússia no fornecimento de gás foi também um dos objectivos dos EUA. Agora a Europa compra muito mais caro o gás liquefeito exportado do EUA. Quem de facto sofre, é a população ucraniana que está a servir de carne para canhão. O Ocidente obrigou Zelensky a continuar com a guerra em lugar de avançarem para negociações de paz. Boris J. então primeiro ministro  foi a Kiev dizer que ele tinha o suporte do Ocidente e que nada de se sentar à mesa das negociações. Apesar das diferenças abissais que assinala entre os países dos Brics o que de facto os une é não suportarem a ideologia que os EUA querem sempre impor ao mundo. A Europa, não passa de uma criança, que segue, sem crítica, tudo o que os EUA lhe impõe, veja-se a figura da senhora Ursula, que tudo faz o que Biden e assessores lhe mandam fazer.                  Manuel Bernardo: Neste final do Ano gostava que comentasse esta de António Costa :      Nos termos do artigo 44.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado em anexo ao Decreto-Lei n.º 4/2015, de 7 de janeiro, na sua redação actual, e nos termos das alíneas c) e f) do n.º 1 do artigo 200.º da Constituição, o Conselho de Ministros resolve:1 - Autorizar a disponibilização de um montante extraordinário de 34 000 000,00 EUR para apoio directo ao Orçamento Geral do Estado de Angola, a desembolsar até ao final do ano de 2023, destinado a contribuir para o restauro e apetrechamento da Fortaleza de São Francisco do Penedo, em Luanda, com vista à construção, naquele espaço, do Museu da Luta pela Libertação Nacional de Angola.2 - Determinar que os encargos financeiros decorrentes do número anterior são assegurados pelas verbas a inscrever no orçamento do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., por contrapartida de verbas a transferir pelo Ministério das Finanças.3 - Delegar, com faculdade de subdelegação, no membro do Governo responsável pela área dos negócios estrangeiros a competência para a prática de todos os actos subsequentes a realizar no âmbito da presente resolução, sem prejuízo das competências do membro do Governo responsável pela área das finanças relativas ao respetivo orçamento.4 - Estabelecer que a presente resolução produz efeitos a partir da data da sua aprovação.Presidência do Conselho de Ministros, 23 de novembro de 2023. - O Primeiro-Ministro, António Luís Santos da Costa. Bom Ano para si e família- Ab. MB           Rui Lima: Com mestria escolhe para última crónica do ano  o assunto que conta a luta pela liderança do mundo e as novas alianças. Defendo que o mundo ocidental devia-se adaptar-se a nova realidade  todo foi  feito com o princípio que o mundo ia ter os mesmos valores ia ser todo democrático no  nosso direito ,tratados e convenções  , os tribunais nacionais ou europeus assim o aplicam  devemos receber todo  o habitante  do planeta que não viva em democracia são os famosos refugiados , mais não podemos devolver um terrorista ou criminoso se o seu país de origem não tiver o nosso padrão de direitos humanos pode ser maltratado no regresso  , como 80% dos países do mundo não aplicam  os nossos princípios , quase todo o habitante da terra tem direito a casa e comida na Europa. Vendo essa aliança o seu primeiro objectivo  é  acabar com o privilégio exorbitante dos USA o “fabrico”   do dinheiro do mundo  querem estar fora do domínio do dólar, para já tarefa  é impossível  criar uma moeda alternativa  vão falhar  por razões diversas  na verdade o mundo funciona melhor e poupa dinheiro com uma só moeda com 2 ou 3 é pior para todos . Não existe moeda alternativa, fabricar uma não vai funcionar, muitos  falam do renmimbi por ser  da 2.ª economia do mundo além de ter hoje uma  cotação artificial  a China não tem um déficit  com o exterior ,  os USA distribui montanhas de dólares  a todos por  serem  deficitários essa é uma condição para ser moeda do mundo . Um mundo com a moeda de um país sem déficit  exterior seria um mundo em crise permanente,  a morte do dólar não será ainda neste século  a não ser que morram os USA .

 

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