Que P.N. não recebeu a protecção dos deuses com
a sua sabedoria orientadora, como os tais heróis épicos minuciosos, é mais do
estilo da irmã do Solnado, que gosta muito de dizer coisas, ou seja, “pois”,
embora me pareça que as coisas que Pedro
Nuno
diz, até bem prolixamente, estão mais viradas para o próximo futuro, e nós é
que confirmamos docilmente com o “pois” da nossa anuência pacífica a essas verdades
de duvidosa consecução, mas nunca se sabe se sim ou sopas, isto é, se se
realizarão, ou não, sob a sua protecção, digo governação, o futuro pertencendo
antes a Deus - ou mesmo ao Diabo, que também tem bons poderes nisso.
As coisas que contou Ulisses, ou o bardo
cego em vez dele, na pausa dos Feácios, passaram-se realmente anos antes, com
as emoções e acidentes respectivos a respeito dos feitos dele e dos mais
companheiros de armas, um tempo de memória que ocupa vários cantos da Odisseia, como informa PAULO RAMOS, as falas
entre o velho pai Príamo e o vingativo
Aquiles também se
reportam a um passado acidental, num espaço de tempo não de memória mas de contemporaneidade,
próprio da Ilíada, como informa
o mesmo Investigador, dando a
entender que o negócio discursivo de
PEDRO NUNES, de empáfia estridente, puramente de promessas, e portanto de hipotética
realização, aconselhariam antes o silêncio de oiro, de que também fala o nosso engenheiro
naval, embora estejamos gratos perante o que este disse, ao escrever tão
expressivamente sobre o que o imortalizou. Mas Pedro Nuno não se importa tanto com a imortalidade. Ele é mais
os trocos avultados que lhe conferirá a realização – não das promessas mas da
possibilidade de as aplicar (ou não, isso é supérfluo), na sua esfera futura de
serviço, por isso só faz isso – promessas – os sentimentos não tem que os
exprimir, as lutas são puramente consigo próprio, sobre a forma de alcançar o “pois!”
do seu alcance.
Não, PN não precisou sequer do auxílio dos deuses, armado ele próprio
em deus previdente e providente da nossa
corporação amante e obediente. (Excepto na coisa das greves).
Pedro Nuno e o manjar dos Feaces
Como dizia um heterodoxo engenheiro
naval muito cá de casa, "estar calado é a melhor m aneira de ter
razão". Deve ser por isso que Pedro Nuno fala, digamos, tão bem.
PAULO RAMOS Investigador no Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa e tradutor
OBSERVADOR, 27 jan. 2024, 00:1518
para o João Miguel, contador de histórias,
arqueiro da esperança
E eis que, ao 7º dia, Pedro Nuno,
o Soberbo – cônscio do
seu valor mas não do Salário Mínimo nem do de um bilhete de comboio –
devidamente alertado pela sua corte de assessores, anuiu a brevíssima
catábase e consentiu conviver com o povaréu e seus hábitos: sentado à roda da
caçarola, catou bagulho e escolheu os meninos que, prestando vassalagem e
prometendo fazerem para sempre parte da sua equipa no jogo das Escondidas e do
Mata, terão autorização para, a partir de Março, no recreio do Jardim Infantil,
folgar com os seus brinquedos.
Apesar dos esforçados gestos de larga
magnanimidade e dos avisos do seu cortejo de eunucos, Pedro Nuno passeou-se por entre torneios de
chinquilho, sandes de courato, farturas e bifanas de Vendas Novas com
indisfarçável fastio – a ruindade do cheiro a óleo e a povo entranha-se de tal
modo em fatinhos de fino corte e camisolas de gola alta que ele pressente já o
sono interrompido pelas sonoras protestações da senhora da 5àSec alertando “a
Catarina” para os inconvenientes do contubérnio, mesmo que apressado, com esse
tal do povo: mãos
gordurosas, palmadas nos costados e o segredo comungado de as palavras serem a
nossa antiga, sóbria e humílima vigília à cabeceira de um mundo que por vezes
compreendemos apenas em diferido.
Nesse mundo – o mundo de
Homero, no fundo – um homem usava palavras apenas para dar expressão a um
pensamento que, longamente ponderado, lograra alcançar; ou então para
apresentar um argumento, uma censura, ou para dar graças. Pedro Nuno, por seu turno, julgando tê-las seduzido com a velha
moeda da vergonha e do esquecimento, exaspera-se quando, ao invés dos seus
fabulosos domínios, elas denunciam a inutilidade de todas as suas
urgências.
Conhecesse ele o mundo dos poemas homéricos – um mundo governado por convenções a
que nem Príamo, na sua dor, nem Aquiles (cujas febris idas e vindas diante das
muralhas denunciam a sua interminável e inútil ira) sabem como escapar
– e talvez lograsse entrever, acima das convenções, aquela subtil
sugestão da possibilidade de nem tudo estar predeterminado; de por vezes as
coisas serem como são; de neste mundo, porventura também sujeito ao acaso, as
coisas nem sempre serem como deveriam ser por simplesmente acabarem por ser do
jeito que são.
É
num desses momentos que Príamo tem a ideia de procurar Aquiles não enquanto
rei, mas como pai,
assumindo o vínculo mais leve de ser simplesmente um homem; suspeita ele, e com razão, que Aquiles ficará
igualmente feliz por se libertar da obrigação de ser sempre um herói. Num
delicioso aparte, Príamo interroga-se se não será este alijamento das
convenções o verdadeiro resgate que ele poderá oferecer a Aquiles pelo corpo do
seu filho.
Se a Ilíada,
atravessando uma guerra, teima em mostrar-nos corpos de homens – no frenesim
da acção e na estranha serenidade da morte – e luta ofegantemente com os
valores que levam esses homens a agir e a morrer, a Odisseia, situada
no rescaldo da guerra, pode ser descrita como um poema sobre o espírito – uma
celebração das qualidades intelectuais e verbais de que talvez precisemos para
sobreviver naquele mundo que, em desconforto, regressa aos esquecidos hábitos
da paz.
Uma qualidade espiritual que a Odisseia admira
extravagantemente é a capacidade para contar uma boa história. (Se a
história é verdadeira ou falsa é uma questão que atribula este poema, que de
variadas maneiras se preocupa com aquilo que é, no fundo, uma questão
filosófica: como é que se pode
saber se algo é verdadeiro – a história que nos é contada por um completo
estranho, os protestos de uma esposa que afirma a sua fidelidade.) Por vezes,
é fácil esquecermos que quase todas as famosas aventuras que associamos a
Ulisses (os Ciclopes, Calipso,
Cila e Caríbdis, os Lotófagos) – nos são
narradas não pelo narrador invisível do poema, aquele “eu” que invoca a Musa no
primeiro verso, mas pelo próprio Ulisses acerca si mesmo. A certa
altura da sua viagem, ele arriba a uma
ilha habitada por refinados nativos e amantes do prazer, os Feaces,
e, uma noite, ao jantar, conta-lhes a história do seu regresso até àquele
momento, algo que ocupa quatro livros inteiros do poema de Homero.
Quase poderíamos dizer que
grande parte da Odisseia é
uma espécie de performance épica
dentro de uma epopeia, uma longa analepse em que o poeta e o herói são a mesma
pessoa. (Não será
talvez coincidência que tanto os bardos como os arqueiros – e que renomado
arqueiro é Ulisses! – precisem de um instrumento de cordas para alcançar as
suas proezas). A narrativa épica anseia por dar descanso às palavras
para que não encontra proveito nem uso fora desta solidão que nos impõe sempre
que trocamos as nossas mútuas ausências pelo atrevimento de ruinosas
esperanças.
As Histórias, por exemplo, começam com uma narrativa,
à laia de fábula, ilustrativa dos perigos da autofagia imperialista: a história de
Creso, aquele obscenamente rico rei da Lídia, “o primeiro bárbaro”, diz Heródoto, “a subjugar e a exigir tributo de
alguns Helenos” e que, hélas!, acabou também ele subjugado, cego pelo
seu sucesso, aos perigos que o rodeavam. Antes da grande batalha que
lhe custou o reino, tinha arrogantemente interpretado mal um pronunciamento do
oráculo de Delfos que deveria ter sido um aviso: “Se atacares a Pérsia, destruirás um grande império”. E realmente
destruiu – o seu próprio.
Pedro Nuno, cuja afeição por cordas em tensão é desconhecida, não
sabe que as ruínas são antigos locais de permanência e plenitude e por isso não
é fácil ter de nelas acoitar o nosso erro, a nossa efemeridade sem revolta,
pois é sobre inevitáveis ruínas também que se constrói a consciência dolorida
do corpo e do tempo.
Como dizia um heterodoxo engenheiro
naval muito cá de casa, estar calado é a melhor maneira
de ter razão. Deve ser por isso que Pedro Nuno fala,
digamos, tão bem.
ELEIÇÕES POLÍTICA PEDRO NUNO SANTOS
COMENTÁRIOS (DE 18)
Domingas Coutinho: Eça não escreveria com mais audácia. Alexandre
Barreira: Pois. Ao ler
este "relambório". Lembrei-me do grande Cipião. Será que ainda é vivo?
Tenho saudades das suas "lendas"....! João
Floriano: Pedro Nuno diz
sempre o mesmo em cada entrevista que dá, Vai ser bem difícil debater com ele,
do mesmo modo que é completamente impossível tourear um miúra que não quer sair
das tábuas. Poderá ser imponente, ter uma estampa notável, mas se se recusar a
enfrentar o toureiro ou o cavaleiro, de nada servirá e terá de ser recolhido
com a ajuda dos cabrestos. Sem querer de modo algum ser ofensivo é isso
mesmo que serão os debates de PNS quando o confrontarem com os seus inúmeros
fracassos enquanto governante. Onde PNS vê sucesso e lucros conseguidos pela
sua acção, o contribuinte vê milhões perdidos que nunca serão restituídos como
noutros países onde a direita ignóbil e repulsiva governa, mas onde o
contribuinte é respeitado. Por cá saiu-nos a sorte grande com um governo
de esquerda que não vai reembolsar a nação valente, imortal, falida e sem
saídas a não ser as dos que partem. PNS move-se verdadeiramente num campo para
além de arruinado pelo PM anterior, é igualmente um campo minado. Infelizmente
para ele e para nós, que podemos muito bem ter de o aturar como PM, e não
só a ele como ao seu séquito de extrema-esquerda, não há futuro quando se
pretende erguer um edifício sobre alicerces arruinados e ainda por cima uma
construção inspirada na visão errada do seu construtor e não nas adversas
condições que terá de enfrentar. Ulisses chegou a Ítaca. PNS não chega à sua Ítaca
de certeza absoluta. Naufraga pelo caminho e nós vamos ao fundo com ele. Vítor
Araújo: Uma maravilha! bento
guerra: "Cortejo
de eunucos"? PS! PS! PS! mais um: Interessante
e infelizmente bastante realista.
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