De rigor, precisão, qualidade referencial, visão
crítica e humor próprio. JAIME NOGUEIRA PINTO, um cérebro imprescindível para
nós.
Prognósticos, só para o ano
O fiasco das previsões no ano que
passou deve alertar-nos para evitar, no ano que aí vem, o vício de confundir,
por preconceito ideológico e maniqueísmo, o que é e o que gostaríamos que
fosse.
JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 28 dez. 2024, 00:176
Na Sexta-Feira, 20 de Dezembro, o
portal Politico percorria a
lista de previsões falhadas para 2024, incidindo nas eleições
americanas.
Começava com os comentadores que anteviam uma maçadoria sem precedentes para o
tempo pré-eleitoral norte-americano… só para que o cruel destino lhes
viesse arruinar a reputação com o atentado contra Trump, a
decisão do “governo sombra” do Partido Democrata de substituir Biden por Kamala
Harris, os insultos cruzados, as fake news e todo
o folclórico entretenimento que viria animar a campanha.
John
Harwood, um reputado jornalista, tinha também avançado com
uma previsão, que mais do que uma previsão era uma certeza: Joe
Biden nunca iria indultar Hunter Biden, e só consideravam essa possibilidade os
que, por maldade intrínseca, não conseguiam conceber que alguém agisse de
acordo com os seus princípios e se mantivesse fiel à palavra dada (“they can’t imagine someone acting in
principle and keeping his word”). Infelizmente para Harwood – e felizmente para
Hunter e Joe –, Biden, na hora da verdade, deixou que a
(auto)indulgência e a (auto)misericórdia galgassem princípios e palavras de
honra.
Mas
foi quanto ao resultado da eleição que os analistas e as empresas de sondagens
mais se excederam no erro. Rob Reiner, o realizador de A Few Good
Men e The Wolf of Wall Street, escrevia
poeticamente a 4 de Novembro, véspera da eleição: “De uma
mulher todos nascemos; amanhã, de uma mulher, nascerá a nossa Democracia
renovada” (“A woman gave
birth to each and every one of us. Tomorrow a woman will give birth to a
renewal of our Democracy”). Mas, lamentavelmente para Reiner – de
resto, um bom realizador –, a mulher, Kamala, e o seu companheiro de lista, Tim
Waltz, acabariam por não dar à luz o que quer que fosse… Eram,
claramente, um erro de casting e
tinham tudo para não levar a termo a gravidez.
No dia 1 de Janeiro de 2024, ainda
antes da entrada na corrida do novo casal, Juan Antonio Williams, o
comentador de esquerda de serviço da Fox, tinha escrito uma premonitória frase idiomática sobre Joe Biden
algures entre os nossos “devagar se vai ao longe” e “ir pelo seguro” ( “Slow and steady wins the race”). Devagar,
ainda podia ser uma característica do candidato, já a segurança e a
estabilidade … Mas, enfim, para Juan Antonio havia ainda o contexto
nacional,
e o contexto nacional era seguro até, ou sobretudo, junto dos eleitores mais
oscilantes:
“Com a Bolsa de Valores em alta,
o desemprego baixo, os salários a subir, a inflação a abrandar […] Biden tem um
pleno para vencer os swingvoters”.
Também a reputada The
Economist Intelligence Unit apelava à inteligência dos seus subscritores para a
única previsão lógica: “Biden vai
ganhar a eleição, apesar dos desafios que enfrenta … Um factor a favor de Biden é a economia, que continua uma
prioridade para os eleitores”.
Não contavam talvez nem com a
inteligência dos eleitores nem com a oscilação dos mandantes do Partido
Democrático, que resolveriam jogar pelo seguro, substituindo a meio
da corrida o corredor de fundo.
No diário inglês Financial Times, Ed Luce, especialista em política
americana, também avançava com outro vaticínio: “Trump
vai ser condenado criminalmente, pelo menos num dos seus quatro processos,
talvez em dois, antes da eleição”.
E assim por diante … Lá como cá. Cá ainda pior, dada a total
ausência de contraditório: primeiro com juras sobre a excelente condição do
primeiro candidato, depois com encómios à futura, e praticamente certa,
Administração Kamala – a primeira mulher, a primeira indo-afro-americana de
classe média, à frente dos destinos da América, contra o diabólico e
imprestável Trump que só contaria, quando tanto, com o voto dos brancos machos,
assustados com a perda da hegemonia na América.
Até para o Ano
É à luz deste fiasco de previsões no
ano que passou que devemos pensar no ano que aí vem, evitando o vício do
costume: a confusão, por razões de preconceito ideológico e maniqueísmo, entre
o que é e o que se gostaria que fosse.
A
Esquerda, e o Centrão, que têm caído mais notoriamente no referido vício,
desumanizaram de tal maneira Trump, Orbán, Le Pen ou Meloni, criando à sua
volta uma teia maniqueísta de explicações conspiratórias e visões maléficas,
que já não raciocinam normalmente quando estes políticos, os seus partidos ou
as suas ideias entram em cena.
É compreensível. Na versão da
Esquerda (que contaminou grande parte do Centro-direita com medo da Esquerda),
se a democracia, o povo, a competição partidária, o voto, são coisas boas e
Trump, Orbán, Le Pen, Meloni são maus, inimigos do povo, da democracia, dos
partidos, não podem nem devem ganhar pelo voto do povo, em democracia.
Quando começam a ganhar e se começarem a ganhar é porque alguma
coisa está mal ou a toldar a razão e a vontade do povo.
Mas além da Inteligência Artificial (IA) ou dos algoritmos
manipulados dos Tik Toks e do Xs há também outro factor que não podemos
menosprezar, embora custe às vezes medir onde chega: a Estupidez Natural (EN) de alguns protagonistas da classe
política – ou da pré-classe política, como ainda na semana passada aqui, noObservador,
Alberto Gonçalves relatava a propósito da competição para a presidência
da Juventude Socialista.
Talvez devêssemos voltar ao
sistema do mandarinato e fazer uns exames obrigatórios, como os da Quarta
Classe e Admissão aos Liceus do “tempo do Fascismo”. Já não digo os do antigo
Quinto Ano do Liceus, porque era capaz de o Parlamento ficar sem quórum.
Neste mundo inspirado numa convergência do pior do capitalismo financeiro e do wokismo académico, parece que a única
constante é o “empoderamento” interessado
de “minorias” e a alienação em relação à realidade e às pessoas comuns, por
ignorância, por preconceito ideológico ou por uma combinação de ignorância e
preconceito.
Arrisco, então, uma previsão para 2025 e para os anos vindouros: sendo claro que ninguém quer impor a
própria realidade às famosas “minorias” e respectivas microfobias e
susceptibilidades agressivas, também
ninguém vai querer deixar-se governar e regular por elas.
Feliz Ano Novo
A SEXTA COLUNA HISTÓRIA CULTURA RELAÇÕES INTERNACIONAIS POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 33)
Américo Silva: Talvez em 2025: Trump seja presidente dos USA. Marcelo fale cada vez menos. Professores, barcos, metro e
comboios, façam greve. Autarcas façam fortunas. A União Europeia continue a afundar. Carlos Chaves: Caríssimo Jaime Nogueira
Pinto, desejo que a sua previsão se torne realidade! Já chega de wookismo, já
chega de esquerda, já chega de mentira, já chega de manipulação e já chega de
embrutecimento. Maria
Nunes:
JNP, obrigada e
Feliz Ano Novo para si. Obrigada também pelos excelentes e imprescindíveis
artigos com que nos brindou este ano. Fernando
Prata: Excelente artigo. Gostei particularmente do final quanto ao exame do antigo
Quinto Ano do Liceu, em que o parlamento poderia ficar sem quorum. De facto,
esta dita geração mais bem preparada de sempre, é porventura, a mais ignorante
de sempre, pelo que a previsão para o futuro do país é muito cinzenta, para não
dizer negra. Jose
Marques > Manuel Gonçalves: Ó Maneli, porque vedes
"ode encomiástica" na crónica do JNP - onde só há denúncia das
previsões 'alucinogénicas' dos esquerdalhos vesgos? Também vós só vedes da
vista sinistra? klaus
muller: O artigo, como sempre, é muito bom, mas aquela dos deputados terem de fazer
Exame do 9º Ano é óptima. LOL.
João Floriano: Disputando o pódio dos videntes a búlgara Baba Vanga,
promete meter Nostradamus em lugar secundário. Para quem gosta de previsões
recomendo que aceda ao site: Previsões assustadoras da lendária adivinha Baba
Vanga para 2025. Também encontrarão previsões a longo prazo e os wokes,
se a Baba Vanga tiver razão e acertar serão o nosso menor problema. O próximo
ano poderá trazer uma guerra terrível na Europa, o aumento do poder russo e
muitas catástrofes naturais. De hoje a um ano se ainda por cá andarmos logo
falamos. Bom Ano para todos, para quem escreve as crónicas, quem as lê e quem
as comenta. Para os tímidos que até gostam de ler mas não se atrevem a
partilhar as suas opiniões muitas vezes interessantes, e trazendo diferentes
abordagens, o meu convite à participação. Nuno
Abreu: Mais um bom desenho de uma esquerda dirigida por gente que culturalmente só
conhece as obras de Lenine editadas pelo Avante, que de tão estático no tempo é
o Atrasante! Vasco
Esteves: Descansem. As novas gerações, na sua maioria, odeiam o socialismo e o
comunismo e estes vão desvanecer-se aos poucos. Juntamente com o descalabro da
imigração descontrolada nos países ocidentais, a direita e extrema-direita vão
ganhar nas eleições o controlo dos países e finalmente começar a limpeza dos
esquerdolas e a expulsão dos imigrantes, dos quais os muçulmanos têm de ser os
primeiros. Viva a liberdade . Abaixo o socialismo . Manuel
Magalhaes: Bom Ano Novo, Jaime, continua com os teus escritos pois eles ajudam-nos a
ver o chão que temos debaixo dos pés… grande abraço!!! João
Floriano > klaus muller: Caro klaus Não confunda exame
do antigo quinto ano liceal com a fraca bagagem de conhecimentos que se traz no
final do 9ºAno. Jaime Nogueira Pinto tem razão.
HELENA
MARIA VICENTE DE SÁ COUTO: Excelente artigo !
Maria Emília Ranhada Santos: Concordo
plenamente com tudo o que diz, mas para nos livrarmos da tirania das minorias
temos que mudar a CS e os governantes! Eu acho que se fôssemos a votos, mesmo
com esta CS de esquerda acérrima, os portugueses já não votavam mais, ou pelo
menos a maioria, nos que pretendem a desordem e têm pouca massa encefálica!
Assim sendo, esperamos seriamente, governantes inteligentes, íntegros e
competentes
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