domingo, 29 de dezembro de 2024

A magia do pensamento

 

De rigor, precisão, qualidade referencial, visão crítica e humor próprio. JAIME NOGUEIRA PINTO, um cérebro imprescindível para nós.

Prognósticos, só para o ano

O fiasco das previsões no ano que passou deve alertar-nos para evitar, no ano que aí vem, o vício de confundir, por preconceito ideológico e maniqueísmo, o que é e o que gostaríamos que fosse.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 28 dez. 2024, 00:176

Na Sexta-Feira, 20 de Dezembro, o portal Politico percorria a lista de previsões falhadas para 2024, incidindo nas eleições americanas.

Começava com os comentadores que anteviam uma maçadoria sem precedentes para o tempo pré-eleitoral norte-americano… só para que o cruel destino lhes viesse arruinar a reputação com o atentado contra Trump, a decisão do “governo sombra” do Partido Democrata de substituir Biden por Kamala Harris, os insultos cruzados, as fake news e todo o folclórico entretenimento que viria animar a campanha.

John Harwood, um reputado jornalista, tinha também avançado com uma previsão, que mais do que uma previsão era uma certeza: Joe Biden nunca iria indultar Hunter Biden, e só consideravam essa possibilidade os que, por maldade intrínseca, não conseguiam conceber que alguém agisse de acordo com os seus princípios e se mantivesse fiel à palavra dada (“they can’t imagine someone acting in principle and keeping his word”). Infelizmente para Harwood – e felizmente para Hunter e Joe –, Biden, na hora da verdade, deixou que a (auto)indulgência e a (auto)misericórdia galgassem princípios e palavras de honra.

Mas foi quanto ao resultado da eleição que os analistas e as empresas de sondagens mais se excederam no erro. Rob Reiner, o realizador de A Few Good Men e The Wolf of Wall Street, escrevia poeticamente a 4 de Novembro, véspera da eleição: “De uma mulher todos nascemos; amanhã, de uma mulher, nascerá a nossa Democracia renovada” (“A woman gave birth to each and every one of us. Tomorrow a woman will give birth to a renewal of our Democracy”). Mas, lamentavelmente para Reiner – de resto, um bom realizador –, a mulher, Kamala, e o seu companheiro de lista, Tim Waltz, acabariam por não dar à luz o que quer que fosse… Eram, claramente, um erro de casting e tinham tudo para não levar a termo a gravidez.

No dia 1 de Janeiro de 2024, ainda antes da entrada na corrida do novo casal, Juan Antonio Williams, o comentador de esquerda de serviço da Fox, tinha escrito uma premonitória frase idiomática sobre Joe Biden algures entre os nossos “devagar se vai ao longe” e “ir pelo seguro” ( “Slow and steady wins the race”). Devagar, ainda podia ser uma característica do candidato, já a segurança e a estabilidade … Mas, enfim, para Juan Antonio havia ainda o contexto nacional, e o contexto nacional era seguro até, ou sobretudo, junto dos eleitores mais oscilantes:

“Com a Bolsa de Valores em alta, o desemprego baixo, os salários a subir, a inflação a abrandar […] Biden tem um pleno para vencer os swingvoters”.

Também a reputada The Economist Intelligence Unit apelava à inteligência dos seus subscritores para a única previsão lógica: “Biden vai ganhar a eleição, apesar dos desafios que enfrenta … Um factor a favor de Biden é a economia, que continua uma prioridade para os eleitores”.

Não contavam talvez nem com a inteligência dos eleitores nem com a oscilação dos mandantes do Partido Democrático, que resolveriam jogar pelo seguro, substituindo a meio da corrida o corredor de fundo.

No diário inglês Financial Times, Ed Luce, especialista em política americana, também avançava com outro vaticínio: “Trump vai ser condenado criminalmente, pelo menos num dos seus quatro processos, talvez em dois, antes da eleição”.

E assim por dianteLá como cá. Cá ainda pior, dada a total ausência de contraditório: primeiro com juras sobre a excelente condição do primeiro candidato, depois com encómios à futura, e praticamente certa, Administração Kamala – a primeira mulher, a primeira indo-afro-americana de classe média, à frente dos destinos da América, contra o diabólico e imprestável Trump que só contaria, quando tanto, com o voto dos brancos machos, assustados com a perda da hegemonia na América.

Até para o Ano

É à luz deste fiasco de previsões no ano que passou que devemos pensar no ano que aí vem, evitando o vício do costume: a confusão, por razões de preconceito ideológico e maniqueísmo, entre o que é e o que se gostaria que fosse.

A Esquerda, e o Centrão, que têm caído mais notoriamente no referido vício, desumanizaram de tal maneira Trump, Orbán, Le Pen ou Meloni, criando à sua volta uma teia maniqueísta de explicações conspiratórias e visões maléficas, que já não raciocinam normalmente quando estes políticos, os seus partidos ou as suas ideias entram em cena.

É compreensível. Na versão da Esquerda (que contaminou grande parte do Centro-direita com medo da Esquerda), se a democracia, o povo, a competição partidária, o voto, são coisas boas e Trump, Orbán, Le Pen, Meloni são maus, inimigos do povo, da democracia, dos partidos, não podem nem devem ganhar pelo voto do povo, em democracia.

Quando começam a ganhar e se começarem a ganhar é porque alguma coisa está mal ou a toldar a razão e a vontade do povo.

Mas além da Inteligência Artificial (IA) ou dos algoritmos manipulados dos Tik Toks e do Xs há também outro factor que não podemos menosprezar, embora custe às vezes medir onde chega: a Estupidez Natural (EN) de alguns protagonistas da classe política – ou da pré-classe política, como ainda na semana passada aqui, noObservador, Alberto Gonçalves relatava a propósito da competição para a presidência da Juventude Socialista.

Talvez devêssemos voltar ao sistema do mandarinato e fazer uns exames obrigatórios, como os da Quarta Classe e Admissão aos Liceus do “tempo do Fascismo”. Já não digo os do antigo Quinto Ano do Liceus, porque era capaz de o Parlamento ficar sem quórum.

Neste mundo inspirado numa convergência do pior do capitalismo financeiro e do wokismo académico, parece que a única constante é o “empoderamento” interessado de “minorias” e a alienação em relação à realidade e às pessoas comuns, por ignorância, por preconceito ideológico ou por uma combinação de ignorância e preconceito.

Arrisco, então, uma previsão para 2025 e para os anos vindouros: sendo claro que ninguém quer impor a própria realidade às famosas “minorias” e respectivas microfobias e susceptibilidades agressivas, também ninguém vai querer deixar-se governar e regular por elas.

Feliz Ano Novo

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COMENTÁRIOS (de 33)

Américo Silva: Talvez em 2025: Trump seja presidente dos USA. Marcelo fale cada vez menos. Professores, barcos, metro e comboios, façam greve. Autarcas façam fortunas. A União Europeia continue a afundar.               Carlos Chaves: Caríssimo Jaime Nogueira Pinto, desejo que a sua previsão se torne realidade! Já chega de wookismo, já chega de esquerda, já chega de mentira, já chega de manipulação e já chega de embrutecimento.                      Maria Nunes: JNP, obrigada e Feliz Ano Novo para si. Obrigada também pelos excelentes e imprescindíveis artigos com que nos brindou este ano.                       Fernando Prata: Excelente artigo. Gostei particularmente do final quanto ao exame do antigo Quinto Ano do Liceu, em que o parlamento poderia ficar sem quorum. De facto, esta dita geração mais bem preparada de sempre, é porventura, a mais ignorante de sempre, pelo que a previsão para o futuro do país é muito cinzenta, para não dizer negra.                    Jose Marques > Manuel Gonçalves: Ó Maneli, porque vedes "ode encomiástica" na crónica do JNP - onde só há denúncia das previsões 'alucinogénicas' dos esquerdalhos vesgos? Também vós só vedes da vista sinistra?                 klaus muller: O artigo, como sempre, é muito bom, mas aquela dos deputados terem de fazer Exame do 9º Ano é óptima. LOL.                João Floriano: Disputando o pódio dos videntes a búlgara Baba Vanga, promete meter Nostradamus em lugar secundário. Para quem gosta de previsões recomendo que aceda ao site: Previsões assustadoras da lendária adivinha Baba Vanga para 2025. Também encontrarão previsões  a longo prazo e os wokes, se a Baba Vanga tiver razão e acertar serão o nosso menor problema. O próximo ano poderá trazer uma guerra terrível na Europa, o aumento do poder russo e muitas catástrofes naturais. De hoje a um ano se ainda por cá andarmos logo falamos. Bom Ano para todos, para quem escreve as crónicas, quem as lê e quem as comenta. Para os tímidos que até gostam de ler mas não se atrevem a partilhar as suas opiniões muitas vezes interessantes, e trazendo diferentes abordagens, o meu convite à participação.              Nuno Abreu: Mais um bom desenho de uma esquerda dirigida por gente que culturalmente só conhece as obras de Lenine editadas pelo Avante, que de tão estático no tempo é o Atrasante!             Vasco Esteves: Descansem. As novas gerações, na sua maioria, odeiam o socialismo e o comunismo e estes vão desvanecer-se aos poucos. Juntamente com o descalabro da imigração descontrolada nos países ocidentais, a direita e extrema-direita vão ganhar nas eleições o controlo dos países e finalmente começar a limpeza dos esquerdolas e a expulsão dos imigrantes, dos quais os muçulmanos têm de ser os primeiros. Viva a liberdade . Abaixo o socialismo .               Manuel Magalhaes: Bom Ano Novo, Jaime, continua com os teus escritos pois eles ajudam-nos a ver o chão que temos debaixo dos pés… grande abraço!!!                   João Floriano > klaus muller: Caro klaus Não confunda exame do antigo quinto ano liceal com a fraca bagagem de conhecimentos que se traz no final do 9ºAno. Jaime Nogueira Pinto tem razão.                       HELENA MARIA VICENTE DE SÁ COUTO: Excelente artigo !                  Maria Emília Ranhada Santos: Concordo plenamente com tudo o que diz, mas para nos livrarmos da tirania das minorias temos que mudar a CS e os governantes! Eu acho que se fôssemos a votos, mesmo com esta CS de esquerda acérrima, os portugueses já não votavam mais, ou pelo menos a maioria, nos que pretendem a desordem e têm pouca massa encefálica! Assim sendo, esperamos seriamente, governantes inteligentes, íntegros e competentes

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