De inferioridade julgo que nos
acompanharam ao longo dos tempos, já por defeito da política educativa que não
só marginalizava o povo nas questões da literacia, como preservava a vaidade
das classes de estatuto superior, impondo preceitos não educativos: a educação,
não difundida no povo, também seria de fraca valia numa nobreza de exterior
exibicionista, indiferente a uma formação cultural mas não ao penacho de uma vaidade
tosca, desligada dos saberes que a revolução cultural europeia do século
iluminista, desencadeou, mas que a própria Igreja, por cá, preferiu ignorar, no
seu discurso beatífico contrário ao progresso impeditivo do preceito religioso
da justificação dos mundos. Tudo isso foi castrador para uma educação de
exigência acompanhante do progresso cultural, embora na época do Estado Novo,
as políticas educativas tendessem a uma ordem e a um progresso que beneficiou
muitos dos que desejavam mesmo estudar – e de que beneficiaram, por exemplo, os
estudantes ultramarinos, a quem o exame final liceal, de média de Bom
possibilitava estudos universitários metropolitanos, não só com a ausência de
propinas universitárias, mas com a isenção de pagamento das viagens, além das
bolsas de estudo concedidas aos bons alunos, para frequência na Sorbonne,
durante as férias. Mas a timidez intelectual, afinal, sempre foi um óbice entre
nós, que as políticas educativas pós-abrilinas, de abandalhamento escolar em
vários níveis, contribuíram para fazer progredir. Desejo, é claro, que textos
como este de JORGE BARRETO XAVIER, de estímulo ao brio próprio contribuam para modificar
o status. Contudo, julgo que tem de partir dos Governos a exigência para a
mudança, até mesmo nesse estimular de ambição e gosto próprio.
2025 – Dar o melhor de mim
Somos capazes de melhor do que o
desempenho demonstrado na pesquisa da OCDE. Vê-se em muitos lugares do mundo,
onde os Portugueses são respeitados em múltiplas funções, menos ou mais
especializadas.
JORGE BARRETO XAVIER Colunista do
Observador
OBSERVADOR, 23 dez.
2024, 00:183
Será que podemos fazer, a cada
momento, menos do que o melhor que podemos/sabemos? É uma questão que já tratei
e à qual regresso, a propósito do ano de 2025.
De facto, “dar o melhor de mim”, implica
querer fazê-lo, e… fazê-lo. O melhor que podemos, pode corresponder, se feito,
ao melhor que sabemos.
Entretanto, enquanto, a cada momento e
sempre, se podem colocar estas questões existenciais, agora, a sociedade
do entretenimento, amoleceu-nos. Preferimos ficar sentados num
qualquer sofá com o cérebro a mirrar à frente de um ecrã, a dar passos que
sabemos poder dar, mas, que não queremos. Um não querer vagamente consciente, porque a consciência, também ela,
diminui, amolecida.
Este amolecimento generalizado, tem
resultados diferentes, face aos perfis individuais e de grupo, e ao contexto
político, social, económico, cultural.
Em 2025, cada país, cada um de nós, vai
ter tendência para crescer, estagnar ou involuir, de acordo com muitos
parâmetros. Há um parâmetro determinante para perceber a tendência provável – as
“competências”.
A pesquisa da OCDE sobre as competências
dos adultos (entre os 16 e os 65 anos), recentemente tornada pública, com o
título: “Têm os adultos as
competências necessárias para ter sucesso num mundo em mudança?”, faz
saber que, entre os 31 países
desenvolvidos inquiridos, os adultos portugueses, no que a literacia, numeracia
e resolução adaptativa de problemas respeita, são os penúltimos, em performance
(piores, só os chilenos). In “Do adults
have the skills they need to thrive in a changing world?” © OECD 2024 , página
57.
Se
é verdade que Portugal demonstra melhores níveis de proficiência em adultos
jovens que em adultos mais velhos (o que é animador), também é verdade que se
compararmos níveis de proficiência nas mesmas idades e graus de formação com
outros países analisados, em geral, saímos a perder. 30% dos
adultos em Portugal obtiveram pontuações nos dois níveis mais baixos das
escalas de proficiência (média da OCDE: 18%). Em literacia, por exemplo, 42% dos Portugueses adultos obtiveram a
pontuação mais baixa, contra os 4% dos cidadãos dos países com melhor
desempenho. Não estamos a falar dos anos 60 do século passado. São resultados
de 2023.
Estes números, entre outras coisas,
significam que, mesmo se quisermos dar o melhor de nós próprios, o grau de
qualificação de uma parte significativa da nossa população adulta não lhe
permite responder de forma positiva à pergunta que serve de título à mencionada
pesquisa da OCDE. Um terço da
população adulta em Portugal não tem as competências necessárias para ter
sucesso num mundo em mudança.
E agora? Vamo-nos cobrir de vergonha?
Vamos baixar os braços? Encolher os ombros? Dizer que os dados estão errados?
Ou será que a atitude pode ser diferente?
Portugal é um país que ao
longo dos séculos se superou. Em diferentes situações, em desvantagem,
conseguiu impor-se. Com brio militar, com descobertas geográficas, com
afirmação intercontinental, da cultura, da ciência, da economia.
Hoje, os desafios do mundo em mudança —
como a IA e a manipulação genética, as tecnologias digitais, os problemas
ambientais, as novas guerras e doenças e as mesmas lutas por recursos naturais
e supremacia nos negócios — estão a definir as agendas.
Há
muitos cocidadãos nossos preparados para estes desafios. E muitos que precisam
de ser, rapidamente, preparados.
Somos capazes de melhor do que o
desempenho demonstrado na pesquisa da OCDE. Vê-se em muitos lugares do mundo, onde
os Portugueses são respeitados em múltiplas funções, menos ou mais
especializadas. Vê-se em Portugal, em
projectos de excelência.
Em 2025, “dar o melhor de mim” é um
propósito que vale a pena. Como dar menos do que o mais que
podemos/sabemos? Como melhorar o que podemos/sabemos?
Podemos construir, mesmo a partir de
recursos escassos, um destino colectivo mais justo, desenvolvido e competitivo,
se soubermos organizar a ordem das prioridades e remar para o mesmo lado,
melhorando, de forma acelerada, competências e, ao mesmo tempo, agindo – nas
nossas casas, nos nossos bairros, na nossa terra, na região, no país – o
edifício do desenvolvimento faz-se juntando as múltiplas peças do puzzle.
Partir em desvantagem, desde o século
XII, nunca nos impediu de chegar longe, pois não?
Votos de um bom Natal e de Novo Ano.
COMENTÁRIOS
José Costa: Os "analfabetos" mais preparados, fruto das
idiotices governativas.
Tim do A: O problema é que em Portugal temos o socialismo.
GateKeeper: Falar não
chega. Prometer, no geral, transforma-se numa falácia. Só o FAZER justifica o
"melhor de NÓS".
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