segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Perenidade

 

No porquê dos ódios, que implica o primeiro texto. No porquê de certos silêncios, que revela o segundo.

I TEXTO: Referências passadistas a que tive acesso, que agradeço, sobretudo por constatar a constância no conceito de Igualdade entre os Homens, nas suas acções e reacções que a todos irmanam, em actualidade perene, quer no caso de ambições frustradas, como motivos das desavenças ou ódios, quer nas reacções de grosseria verbal em situações humilhantes, como se comprova com o primeiro texto, que põe em confronto Humberto Delgado e Salazar, justificando-se o motivo do anti salazarismo daquele por motivos pessoais de ambições frustradas.

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As verdadeiras razões que levaram alguns personagens a odiar Salazar, neste caso, apenas mais um, o General Coca-Cola!!!

A questão do ódio visceral contra Salazar também foi, por motivações diversas, característica comum a outras figuras previamente conotadas com o regime salazarista, nomeadamente Henrique Galvão e Humberto Delgado. Sobre este último, diz-nos o embaixador Carlos Fernandes que o seu ultra-salazarismo extinguiu-se por questões de ambição pessoal, já que lhe fora sucessivamente recusado o Governo de Angola, a administração dos Caminhos-de-Ferro e o Banco Nacional Ultramarino. Daí ter-se apresentado, em 1958, como candidato a Presidente da República pela oposição, passando então a apregoar-se como democrata por ressentimento ou simples oportunismo político. E quem «diria que, chegado ao Brasil em 1961, Delgado haveria de proclamar o seu visceral anticolonialismo, aliado ao anti-salazarismo!» (op. cit., pp. 202-204).

De resto, as veleidades teatrais de Humberto Delgado foram tantas, que não nos coibimos de transcrever este trecho deveras caricato no âmbito do assalto ao paquete Santa Maria por Henrique Galvão:

«Ao anoitecer, a bordo de um pequeno barco de pesca alugado pelos repórteres das revistas Life e Time, Humberto Delgado consegue encontrar o Santa Maria. “Bem-vindo, meu general”, recebe-o Miguel Urbano Rodrigues. Dezenas de turistas fotografam o momento. Mas quando Humberto Delgado sobe a bordo, o gancho de uma grua do navio solta-se, acerta-lhe nas costas e fica preso ao seu cinto elevando-o um pouco e tirando-lhe os pés do chão. O general, vestido de fato e gravata, agarra-se à escada e ameaça cair ao mar. Mas consegue recuperar o equilíbrio, solta um palavrão e põe as culpas no jornalista que o recebe: “Vou destruí-lo!”» (in Pedro Jorge Castro, O Inimigo n.º 1 de Salazar. Henrique Galvão, o líder do assalto ao Santa Maria e do sequestro de um avião da TAP, A Esfera dos Livros, 2010, pp. 175-176).

 

II Texto: (em Apoiantes de Pedro Passos Coelho):

Sobre as reacções de jornalistas ou governantes em caso de assassínios de diferente proveniência social – o termo “racismo” valorizado em função da pele, num malabarismo anti-racista de bom tom e conveniência receosa, jamais se admitindo tal designativo no caso da inversão colorida dos participantes assassinos.

 

Por VÍTOR RAINHO... "(...)Da mesma forma que adoro os mercados, também gosto muito de frequentar restaurantes ou bares, dos mais caros, excluindo a nouvelle cuisine, aos mais baratos. Gosto de ver o mundo tal como ele é. Vem esta conversa a propósito do que vejo ‘passar’ na comunicação social, seja pela boca de políticos, seja pela de comentadores e jornalistas supostamente isentos. A narrativa, uma palavra que detesto, mas dá jeito nestes momentos, parece saída de alguma república soviética ou de algum discípulo de Enver Hoxha. Vamos a dois casos concretos. Os jornalistas e comentadores, e não são todos, como é óbvio, adoram questionar o primeiro-ministro sobre a razão de ainda não ter ido à Cova da Moura visitar a família de Odair Moniz. Ontem, o forrobodó ainda foi maior, pois o Presidente – após ter ‘perdido’ o funeral do homem que enfrentou a Polícia e que acabou por morrer depois de um agente ter disparado dois tiros fatais – foi, finalmente, visitar o bairro e a família da vítima.

Por coincidência, alguns meios de comunicação social começaram a entrevistar o motorista, que só não morreu por acaso, depois de ter sido atacado por jovens ‘revoltados’ com a morte de Odair Moniz. Não sei se foi à TVI ou à TSF ou a outro meio, mas o motorista disse com todas as letras que o quiseram matar por ser branco. «Aos outros motoristas, que são negros, ninguém atacou». O homem, que ficou com queimaduras graves para sempre, confessou ainda que teve uma arma apontada à cabeça e que os selvagens não o queriam deixar sair, pois desejavam que morresse queimado. Seria de esperar que o SOS Racismo fizesse logo um comunicado, que os colectivos realizassem manifestações contra o racismo, que o Presidente, e todos os partidos, e não estamos a falar do Chega, fizessem declarações emotivas, de apoio ao profissional de transportes públicos.

Não vi se o Chega já disse alguma coisa, mas calculo que sim, pois todos os outros lhe estendem uma passadeira para poder aparecer a exigir justiça para o motorista.

E aqui vai a segunda pergunta: alguém perguntou ao Presidente da República – que já falou com a mãe do profissional da Carris – ao primeiro-ministro e aos líderes parlamentares se já foram visitar o motorista e a sua família? Não me parece. Alguém falou de racismo? Também não me parece. Mas voltemos à morte de Odair Moniz. Os protestos selvagens que se seguiram e que não mereceram a reprovação dos partidos e colectivos de extrema-esquerda, ficaram a dever-se à luta contra o acto racista do agente da PSP. Todos sabemos que a vida tem muitas ironias, mas o que dizer da ‘coincidência’ de o advogado do polícia que matou Odair ser o mesmo da família do agente que morreu à porta de uma discoteca na 24 de Julho, assassinado por três homens: um negro, um cigano e um estrangeiro? Alguém na altura disse que o agente foi morto por questões racistas? Alguém foi visitar a família do agente morto? Não seria de os políticos ganharem juízo e de deixarem-se de populismos? Eu acho que era uma boa ideia…(...)"

 

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