De que o bom senso não desapareceu totalmente. O que é preciso é que
pessoas como o Dr. Jaime Nogueira Pinto permaneçam por cá longo tempo, com a
nobreza e inteligência de uma postura modelar, que sirva de exemplo e de
espírito pedagógico a apontar o caminho – da hombridade acima de tudo, e,
naturalmente, do saber real.
O luto continua
Tudo leva crer que os grandes media,
aparentemente intocados pelos sucessivos embates com a realidade, continuem a
saltar de surpresa em surpresa e de luto em luto.
JAIME NOGUEIRA PINTO
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 30 nov. 2024, 00:1866
A 4, 11 e 18 de Dezembro vou falar
aqui na Academia do Observador sobre “Quem foi Salazar?”; não para o defender,
mas para olhar para a época (cá dentro e lá fora), e para a pessoa na época,
longe das diabolizações – ou das beatificações – do costume.
Como
alguns terão presente, já “defendi” Salazar, ou seja, já fui seu “advogado de
defesa” num concurso que a RPT realizou entre Outubro de 2006 e Março de 2007 e
que foi toda uma novela.
Os Grandes Portugueses era a
edição nacional de um modelo criado pela BBC (The Greatest Britons of All Times)
e exportado para o resto do mundo. A partir de uma lista de 100 personalidades,
históricas e actuais, o público escolhia aquela que considerava “the greatest”. No Reino
Unido ganhara Churchill, na Alemanha, Adenauer, nos Estados Unidos, Ronald
Reagan, na África do Sul, Nelson Mandela. Aqui ganhou Salazar.
Salazar começou por não constar da
“lista de sugestões” apresentada “aos portugueses” pela direcção do programa –
lista que incluía, por exemplo, Álvaro
Cunhal, Otelo Saraiva de Carvalho e
António Variações –, sendo depois acrescentado à pressa, para não alimentar
a inesperada polémica que a sua exclusão logo gerou. Das 100
personalidades iniciais chegava-se, por votação do público, a 10, e para cada
uma dessas 10 a organização escolhia um advogado. Como, suponho, não havia
muito quem quisesse ficar com Salazar e a organização do concurso me contactou,
avancei.
Quando chegaram os resultados finais com
as escolhas “dos portugueses” e António de Oliveira Salazar foi
dado como vencedor com 41% dos votos, a
surpresa e o luto invadiram o estúdio e o incómodo foi confrangedor. A sala onde havia todo um banquete
preparado para festejar os 50 anos da RTP, que coincidiam com o fim do
programa, foi fechada, e os croquetes, os rissóis, as empadas, as bebidas por
lá ficaram ao abandono. Mesmo tratando-se de um concurso, como fora possível?
Se o candidato não era sequer listável, quanto mais elegível, como fora
possível?
Apesar de se tratar de um simples concurso,
foi um primeiro embate dos media e
de algumas forças vivas domésticas com “um outro país” que ousava escolher o
inescolhível.
Good mourning again
The Spectator – que teve, quanto às
últimas eleições americanas, a prudência que outras publicações do Reino Unido,
como o Financial Times ou The Economist, abandonaram – pôde escrever em
editorial na sua primeira edição pós-eleições, depois de um ano de derrotas
para os governos e partidos no poder: “For Democrats it is mourning again in
America”.
Este “novo luto” (mourning), continuava
o Spectator, era a consequência de uma campanha eleitoral ou de um
acompanhamento da campanha eleitoral baseado numa série de falsas evidências; e
sobretudo “na loucura de querer impor aos eleitores aquilo que deviam pensar”.
A perda de contacto com a
realidade, a abstracção dos interesses reais das pessoas a troco de uma versão
mítica da verdade de elites que acham que pensam bem e conhecem melhor que os
próprios os interesses de leitores, espectadores e eleitores, ou até que são
donos de certas “minorias” e podem com isso condicionar as maiorias, é o que
tem caracterizado o pensamento da Esquerda e de muito Centro na Euro-América.
Ninguém gosta de ser tutelado. Ninguém gosta que lhe seja retirado da lista
determinado candidato, literalmente ou por diabolização sistemática. O “povo”
tem dessas coisas.
As coordenadas culturais e políticas
deste pensamento estavam já estabelecidas como doutrina dominante desde o fim
da Guerra Fria e da formulação
do globalismo liberal-democrático por Fukuyama e outros. Mas foi a crise de 2008 que agudizou a distância entre
os modernos optimates e o populo.
Maquiavel, o fundador da Ciência
Política moderna, entendeu bem do que se tratava; não no Príncipe, mas nas suas obras maiores, escritas no
exílio interno de San Casciano, onde defendeu os valores da Republica Romana –
a Pátria e a Liberdade.
São estes valores, nas suas versões
modernas, o valor da Liberdade da Nação e
na Nação, que os americanos e os europeus estão a redescobrir pelas consequências da sua ausência nas suas vidas. Mas como os
grandes media e algumas elites continuam aparentemente intocados pelos
sucessivos embates com esta e outras realidades, o mais certo é que continuem a
saltar de surpresa em surpresa e de luto em luto.
Salazar e o futuro
Salazar, que desconfiava da
democracia partidária e do voto popular e que era avesso a arraiais e
folclores, até ao folclore do fascismo, ele que das poucas coisas que previu
foi a inevitabilidade da mudança de nome da Ponte Salazar num futuro não muito
longínquo, também havia de ficar surpreendido com a sua própria vitória num
concurso popular, depois da revolução e de anos de intensa retórica
anti-fascista. O regresso da trilogia do Estado Novo – Deus, Pátria
e Família –
também o intrigaria, sobretudo pelas novas roupagens que agora vestia. E o seu triunfo na América, país de que não gostava
muito e que por isso fazia de conta que não percebia, também. Tanto mais pela
mão de um político como Donald
Trump, que, além da habitual suspeita, lhe
causaria provavelmente uma certa perplexidade.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA SALAZAR PAÍS
COMENTÁRIOS (DE 66)
José B Dias: Incrível como o resultado de
um concurso televisivo conseguiu levar ao cancelamento da comemoração do 50
Aniversário da RTP ... e o espírito que a tal levou continua vivo e pujante
entre as mesmas pseudo elites!
Fernando ce: Muito bom. A sua voz é indispensável nos dias que
correm. Sou essencialmente uma pessoa de centro direita e não entendo como os
partidos dessa área vivem com medo que lhes chamem reaccionários, de direita
radical ou até fascistas, se defenderem aquilo que interessa à esmagadora
maioria da população. Contemporizam com a agenda da esquerda woke, passe o pleonasmo, e de
uma certa esquerda dita moderada e bem pensante que vive numa bolha de
privilegiados na sua maior parte. Américo Silva: Salazar e o salazarismo
ensinaram-me duas coisas hoje completamente esquecidas: silêncio e espírito de
sacrifício. Quanto ao silêncio, Marcelo, Zelensky, as redes sociais, a publicidade e
mais, provocam vertigens; o espírito de sacrifício é combatido desde a mais
tenra idade, da creche à universidade, nas relações de trabalho, comerciais ou
afectivas. Maria
Nunes:
Muito bom. É
necessário ser corajoso para falar de Salazar, nos tempos que correm. Obrigada,
JNP. Novo Assinante:Um fascista a falar de outro
fascista. Manuel F: Obrigado por lembrar o
concurso promovido pela RTP que elegeu o Salazar como a maior figura do País,
foi bonito de se ver. Naturalmente falar do Salazar traz-nos recordações, aos
mais velhos, que não fica mal referir a título de exemplo e comparação com os
tempos actuais: Recordo-me que na minha aldeia, no interior do país já perto de
Espanha, os trabalhadores agrícolas quando andavam no campo e queriam acender o
cigarro “definitivos” olhavam para o lado, não viesse algum fiscal multá-los
por estarem a usar isqueiro, em vez de fósforos. Isto era real, e refletia até
onde chegava a acção das forças de fiscalização, sem dúvida dum exagero
absurdo, principalmente visto com os olhos de hoje; Também me recordo que os
motoristas, principalmente, de camiões, para não passarem junto ao posto da GNR
de trânsito que ficava dentro da vila e na estrada nacional, andavam por
atalhos com medo de serem multados, principalmente se tivessem o motor a gastar
mais óleo do que o devido. Hoje, a toda a hora, tenho que reduzir a velocidade
para deixar afastar viaturas que empestam o ar com óleo queimado a sair do tubo
de escape, quer na cidade quer fora, e não há brigada de trânsito que veja essa
vergonha, contudo os cretinos das manif sobre o ambiente, gritam sobre tudo e
não apontam as situações mais gritantes como estas. Na minha juventude
criticava o Salazar, enquanto o meu pai o defendia e hoje não posso deixar de o
admirar, por muitos motivos, destacando, entre outros, a honestidade. Segundo li numa biografia do
Dr. Salazar, habitando ele a residência de primeiro ministro em São Bento,
reservava o primeiro piso para actos oficiais, sendo os encargos desse piso da
conta do Estado e pelo segundo piso que ele habitava pagava uma renda ao
Estado, certamente que hoje se passa o mesmo… GateKeeper: Top 5. E, caro Jaime, é para
ficar. Parabéns. afonso
moreira: O Salazar e o seu regime incomoda muita gente, pois sempre tentaram
"escondê-lo", ao longo destes últimos 50 anos, porque simplesmente
têm muito receio que o povo faça comparações com os governantes e elites que
temos tido e os resultados desta governação. A liberdade claro que não é comparável. Mas,
pergunte-se a um aldeão de Trás os Montes, Beiras, Alentejo, etc, que hoje são
absolutamente livres, mas livres num deserto de pessoas, se não trocariam um
pouco dessa liberdade por tantas outras coisas que os seus pais e avós já
tiveram, aí, naquilo que sempre foi a sua terra? E tanta Terra deste país que
foi simplesmente abandonada nestes últimos 50 anos! Bem haja a JNP, por ter a coragem e com a sua
sabedoria, dar voz a tantos incorformados e não nostálgicos. Salazar não volta
e o seu regime também não. Os tempos são outros e as pessoas também e devem ser
tratadas como adultas. unknown unknown: As pessoas não aceitam a
imposição de candidatos e uma maioria vai votar contra, somente para afirmar o
direito a recusar as imposições das elites, vai acontecer isso com o Chega! Maria Emília Santos Santos: Excelente crónica! Precisamos
de gente como o senhor que escreva coisas com nexo, a ver se alguma coisa de
bom permanece, porque a verdade e a História estão sobejamente ameaçadas! Alfredo
Freitas: Sou intrinsecamente de centro direita, sou conservador, gosto de disciplina
em todas as actividades sociais, detesto arruaças, apoio as autoridades quando repõem
a ordem democrática, acho que o Parlamento está longe de corresponder ao que
penso ser a dignidade democracia que aquele lugar devia mostrar, acho a grande
maioria dos parlamentares sem estatura intelectual, moral, cívica, cultural
necessária para função, acho que são demais. Estou convencido que muitos
portugueses eleitores do PSD e do CDS pensam assim, de modo que não consigo
perceber porque é que estes partidos não respondem à letra aos partidos da
esquerda, parece que têm vergonha de ser o que são, como não entendo o silêncio
sem rebate e até algum escárnio às baboseiras do wokismo e não dizem, por
exemplo, que se forem governo despedem imediatamente os chamados
investigadores, bolseiros e quejandos que recebem ordenado do Estado anos a fio
para propagarem estes disparates e denegrirem a nossa História, destruírem
património nacional. As últimas eleições mostraram que, sociologicamente, a
maioria dos Portugueses são de centro direita e que estão fartos de
esquerdismo. Carlos
Medeiros: Imagine-se se os governantes actuais tivessem de gerir
e conduzir o País na segunda metade da década de 30, com uma sangrenta guerra
civil aqui ao lado, um Franco implacável, e, durante a WW2 com as principais
potências envolvidas numa feroz guerra mundial, um Churchill: pensava que um
mundo era dele, queria roubar os Açores, um assassino em Moscovo ainda pior
daquele que lá está hoje. Para não falar do imbróglio do volfrâmio que ia dando
cabo do António. Se as meninas loiras da Europa e o pindérico bronzeado que
ontem foi eleito presidente, tivessem de viver esses tempos BORRAVAM-SE TODOS
DE MEDO. Nuno
Abreu: Fico muito
contente por saber que Jaime Nogueira Pinto vai explicar Salazar. Salazar para
mim, pessoalmente foi um grande homem. Trabalhei para ele quando tinha dezanove
anos. Desempregado, a morrer á fome, fui bater à porta da Assembleia da
República pedindo para falar com ele. Fui recebido por um funcionário que me marcou uma
entrevista com o secretário particular dele, Dr Batalha Ribeiro, para dai a uma
semana. Alguma vez isso era possível hoje? Passados quinze dias estava a tratar
da sua correspondência particular, passando-me pela mão milhares de pedidos de
auxílio que eram encaminhados para os diferentes ministérios para que dentro do
possível fossem satisfeitos. Tem isso algo a ver com o procedimento de hoje dos
nossos governantes? Claro que mais tarde tomei conhecimento de algumas
injustiças praticadas pelo regime, nomeadamente a censura, a perseguição politica
ou o para Angola em força, de que eu próprio fui objecto indo parar a Moçambique
e alterando completamente o rumo da minha vida. Muito obrigado por falar de
Salazar sem complexos, sem a azia destes esquerdalhos ressabiados por não
conseguirem cometer os crimes que os comunistas cometem no mundo quando chegam
ao poder!
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