domingo, 1 de dezembro de 2024

Sintoma


De que o bom senso não desapareceu totalmente. O que é preciso é que pessoas como o Dr. Jaime Nogueira Pinto permaneçam por cá longo tempo, com a nobreza e inteligência de uma postura modelar, que sirva de exemplo e de espírito pedagógico a apontar o caminho – da hombridade acima de tudo, e, naturalmente, do saber real.

O luto continua

Tudo leva crer que os grandes media, aparentemente intocados pelos sucessivos embates com a realidade, continuem a saltar de surpresa em surpresa e de luto em luto.

JAIME NOGUEIRA PINTO Colunista do Observador

OBSERVADOR, 30 nov. 2024, 00:1866

A 4, 11 e 18 de Dezembro vou falar aqui na Academia do Observador sobre “Quem foi Salazar?”; não para o defender, mas para olhar para a época (cá dentro e lá fora), e para a pessoa na época, longe das diabolizações – ou das beatificações – do costume.

Como alguns terão presente, já “defendi” Salazar, ou seja, já fui seu “advogado de defesa” num concurso que a RPT realizou entre Outubro de 2006 e Março de 2007 e que foi toda uma novela.

Os Grandes Portugueses era a edição nacional de um modelo criado pela BBC (The Greatest Britons of All Times) e exportado para o resto do mundo. A partir de uma lista de 100 personalidades, históricas e actuais, o público escolhia aquela que considerava “the greatest”. No Reino Unido ganhara Churchill, na Alemanha, Adenauer, nos Estados Unidos, Ronald Reagan, na África do Sul, Nelson Mandela. Aqui ganhou Salazar.

Salazar começou por não constar da “lista de sugestões” apresentada “aos portugueses” pela direcção do programa – lista que incluía, por exemplo, Álvaro Cunhal, Otelo Saraiva de Carvalho e António Variações –, sendo depois acrescentado à pressa, para não alimentar a inesperada polémica que a sua exclusão logo gerou. Das 100 personalidades iniciais chegava-se, por votação do público, a 10, e para cada uma dessas 10 a organização escolhia um advogado. Como, suponho, não havia muito quem quisesse ficar com Salazar e a organização do concurso me contactou, avancei.

Quando chegaram os resultados finais com as escolhas “dos portugueses” e António de Oliveira Salazar foi dado como vencedor com 41% dos votos, a surpresa e o luto invadiram o estúdio e o incómodo foi confrangedor. A sala onde havia todo um banquete preparado para festejar os 50 anos da RTP, que coincidiam com o fim do programa, foi fechada, e os croquetes, os rissóis, as empadas, as bebidas por lá ficaram ao abandono. Mesmo tratando-se de um concurso, como fora possível? Se o candidato não era sequer listável, quanto mais elegível, como fora possível?

Apesar de se tratar de um simples concurso, foi um primeiro embate dos media e de algumas forças vivas domésticas com “um outro país” que ousava escolher o inescolhível.

Good mourning again

The Spectator – que teve, quanto às últimas eleições americanas, a prudência que outras publicações do Reino Unido, como o Financial Times ou The Economist, abandonaram – pôde escrever em editorial na sua primeira edição pós-eleições, depois de um ano de derrotas para os governos e partidos no poder: “For Democrats it is mourning again in America”.

Este “novo luto” (mourning), continuava o Spectator, era a consequência de uma campanha eleitoral ou de um acompanhamento da campanha eleitoral baseado numa série de falsas evidências; e sobretudo “na loucura de querer impor aos eleitores aquilo que deviam pensar”.

A perda de contacto com a realidade, a abstracção dos interesses reais das pessoas a troco de uma versão mítica da verdade de elites que acham que pensam bem e conhecem melhor que os próprios os interesses de leitores, espectadores e eleitores, ou até que são donos de certas “minorias” e podem com isso condicionar as maiorias, é o que tem caracterizado o pensamento da Esquerda e de muito Centro na Euro-América. Ninguém gosta de ser tutelado. Ninguém gosta que lhe seja retirado da lista determinado candidato, literalmente ou por diabolização sistemática. O “povo” tem dessas coisas.

As coordenadas culturais e políticas deste pensamento estavam já estabelecidas como doutrina dominante desde o fim da Guerra Fria e da formulação do globalismo liberal-democrático por Fukuyama e outros. Mas foi a crise de 2008 que agudizou a distância entre os modernos optimates e o populo.

Maquiavel, o fundador da Ciência Política moderna, entendeu bem do que se tratava; não no Príncipe, mas nas suas obras maiores, escritas no exílio interno de San Casciano, onde defendeu os valores da Republica Romana – a Pátria e a Liberdade.

São estes valores, nas suas versões modernas, o valor da Liberdade da Nação e na Nação, que os americanos e os europeus estão a redescobrir pelas consequências da sua ausência nas suas vidas. Mas como os grandes media e algumas elites continuam aparentemente intocados pelos sucessivos embates com esta e outras realidades, o mais certo é que continuem a saltar de surpresa em surpresa e de luto em luto.

Salazar e o futuro

Salazar, que desconfiava da democracia partidária e do voto popular e que era avesso a arraiais e folclores, até ao folclore do fascismo, ele que das poucas coisas que previu foi a inevitabilidade da mudança de nome da Ponte Salazar num futuro não muito longínquo, também havia de ficar surpreendido com a sua própria vitória num concurso popular, depois da revolução e de anos de intensa retórica anti-fascista. O regresso da trilogia do Estado NovoDeus, Pátria e Família – também o intrigaria, sobretudo pelas novas roupagens que agora vestia. E o seu triunfo na América, país de que não gostava muito e que por isso fazia de conta que não percebia, também. Tanto mais pela mão de um político como Donald Trump, que, além da habitual suspeita, lhe causaria provavelmente uma certa perplexidade.

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COMENTÁRIOS (DE 66)

José B Dias: Incrível como o resultado de um concurso televisivo conseguiu levar ao cancelamento da comemoração do 50 Aniversário da RTP ... e o espírito que a tal levou continua vivo e pujante entre as mesmas pseudo elites!                   Fernando ce: Muito bom. A sua voz é indispensável nos dias que correm. Sou essencialmente uma pessoa de centro direita e não entendo como os partidos dessa área vivem com medo que lhes chamem reaccionários, de direita radical ou até fascistas, se defenderem aquilo que interessa à esmagadora maioria da população. Contemporizam com a agenda da esquerda woke, passe o pleonasmo, e de uma certa esquerda dita moderada e bem pensante que vive numa bolha de privilegiados na sua maior parte.                 Américo Silva: Salazar e o salazarismo ensinaram-me duas coisas hoje completamente esquecidas: silêncio e espírito de sacrifício. Quanto ao silêncio, Marcelo, Zelensky, as redes sociais, a publicidade e mais, provocam vertigens; o espírito de sacrifício é combatido desde a mais tenra idade, da creche à universidade, nas relações de trabalho, comerciais ou afectivas.                     Maria Nunes: Muito bom. É necessário ser corajoso para falar de Salazar, nos tempos que correm. Obrigada, JNP.                        Novo Assinante:Um fascista a falar de outro fascista.                       Manuel F: Obrigado por lembrar o concurso promovido pela RTP que elegeu o Salazar como a maior figura do País, foi bonito de se ver. Naturalmente falar do Salazar traz-nos recordações, aos mais velhos, que não fica mal referir a título de exemplo e comparação com os tempos actuais: Recordo-me que na minha aldeia, no interior do país já perto de Espanha, os trabalhadores agrícolas quando andavam no campo e queriam acender o cigarro “definitivos” olhavam para o lado, não viesse algum fiscal multá-los por estarem a usar isqueiro, em vez de fósforos. Isto era real, e refletia até onde chegava a acção das forças de fiscalização, sem dúvida dum exagero absurdo, principalmente visto com os olhos de hoje; Também me recordo que os motoristas, principalmente, de camiões, para não passarem junto ao posto da GNR de trânsito que ficava dentro da vila e na estrada nacional, andavam por atalhos com medo de serem multados, principalmente se tivessem o motor a gastar mais óleo do que o devido. Hoje, a toda a hora, tenho que reduzir a velocidade para deixar afastar viaturas que empestam o ar com óleo queimado a sair do tubo de escape, quer na cidade quer fora, e não há brigada de trânsito que veja essa vergonha, contudo os cretinos das manif sobre o ambiente, gritam sobre tudo e não apontam as situações mais gritantes como estas. Na minha juventude criticava o Salazar, enquanto o meu pai o defendia e hoje não posso deixar de o admirar, por muitos motivos, destacando, entre outros, a honestidade. Segundo li numa biografia do Dr. Salazar, habitando ele a residência de primeiro ministro em São Bento, reservava o primeiro piso para actos oficiais, sendo os encargos desse piso da conta do Estado e pelo segundo piso que ele habitava pagava uma renda ao Estado, certamente que hoje se passa o mesmo…                              GateKeeper: Top 5. E, caro Jaime, é para ficar. Parabéns.                        afonso moreira: O Salazar e o seu regime incomoda muita gente, pois sempre tentaram "escondê-lo", ao longo destes últimos 50 anos, porque simplesmente têm muito receio que o povo faça comparações com os governantes e elites que temos tido e os resultados desta governação. A liberdade claro que não é comparável. Mas, pergunte-se a um aldeão de Trás os Montes, Beiras, Alentejo, etc, que hoje são absolutamente livres, mas livres num deserto de pessoas, se não trocariam um pouco dessa liberdade por tantas outras coisas que os seus pais e avós já tiveram, aí, naquilo que sempre foi a sua terra? E tanta Terra deste país que foi simplesmente abandonada nestes últimos 50 anos! Bem haja a JNP, por ter a coragem e com a sua sabedoria, dar voz a tantos incorformados e não nostálgicos. Salazar não volta e o seu regime também não. Os tempos são outros e as pessoas também e devem ser tratadas como adultas.                     unknown unknown: As pessoas não aceitam a imposição de candidatos e uma maioria vai votar contra, somente para afirmar o direito a recusar as imposições das elites, vai acontecer isso com o Chega!                     Maria Emília Santos Santos: Excelente crónica! Precisamos de gente como o senhor que escreva coisas com nexo, a ver se alguma coisa de bom permanece, porque a verdade e a História estão sobejamente ameaçadas!                    Alfredo Freitas: Sou intrinsecamente de centro direita, sou conservador, gosto de disciplina em todas as actividades sociais, detesto arruaças, apoio as autoridades quando repõem a ordem democrática, acho que o Parlamento está longe de corresponder ao que penso ser a dignidade democracia que aquele lugar devia mostrar, acho a grande maioria dos parlamentares sem estatura intelectual, moral, cívica, cultural necessária para função, acho que são demais. Estou convencido que muitos portugueses eleitores do PSD e do CDS pensam assim, de modo que não consigo perceber porque é que estes partidos não respondem à letra aos partidos da esquerda, parece que têm vergonha de ser o que são, como não entendo o silêncio sem rebate e até algum escárnio às baboseiras do wokismo e não dizem, por exemplo, que se forem governo despedem imediatamente os chamados investigadores, bolseiros e quejandos que recebem ordenado do Estado anos a fio para propagarem estes disparates e denegrirem a nossa História, destruírem património nacional. As últimas eleições mostraram que, sociologicamente, a maioria dos Portugueses são de centro direita e que estão fartos de esquerdismo.                     Carlos Medeiros: Imagine-se se os governantes actuais tivessem de gerir e conduzir o País na segunda metade da década de 30, com uma sangrenta guerra civil aqui ao lado, um Franco implacável, e, durante a WW2 com as principais potências envolvidas numa feroz guerra mundial, um Churchill: pensava que um mundo era dele, queria roubar os Açores, um assassino em Moscovo ainda pior daquele que lá está hoje. Para não falar do imbróglio do volfrâmio que ia dando cabo do António. Se as meninas loiras da Europa e o pindérico bronzeado que ontem foi eleito presidente, tivessem de viver esses tempos BORRAVAM-SE TODOS DE MEDO.                     Nuno Abreu: Fico muito contente por saber que Jaime Nogueira Pinto vai explicar Salazar. Salazar para mim, pessoalmente foi um grande homem. Trabalhei para ele quando tinha dezanove anos. Desempregado, a morrer á fome, fui bater à porta da Assembleia da República pedindo para falar com ele. Fui recebido  por um funcionário que me marcou uma entrevista com o secretário particular dele, Dr Batalha Ribeiro, para dai a uma semana. Alguma vez isso era possível hoje? Passados quinze dias estava a tratar da sua correspondência particular, passando-me pela mão milhares de pedidos de auxílio que eram encaminhados para os diferentes ministérios para que dentro do possível fossem satisfeitos. Tem isso algo a ver com o procedimento de hoje dos nossos governantes? Claro que mais tarde tomei conhecimento de algumas injustiças praticadas pelo regime, nomeadamente a censura, a perseguição politica ou o para Angola em força, de que eu próprio fui objecto indo parar a Moçambique e alterando completamente o rumo da minha vida. Muito obrigado por falar de Salazar sem complexos, sem a azia destes esquerdalhos ressabiados por não conseguirem cometer os crimes que os comunistas cometem no mundo quando chegam ao poder!

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